domingo, 15 de janeiro de 2006

O queijo no rio

Certo dia, ainda de madrugada, iam os de Fajão para a feira do Mont’Alto. Quando iam a passar na ponte de Cartamilo, que então era de madeira, viram a Lua reflectida na água, (por acaso era lua-cheia), e vai um aqui assim:
Olhem que belo queijo lá está em baixo! E se nós o fôssemos buscar?
- Mas é que vamos mesmo, disse o Pascoal.
- Mas como?

- É fácil. Eu penduro-me aqui nas grades da ponte, tu penduras-te nos meus pés, e assim por diante, até que o último chega lá abaixo e apanha o queijo.

Boa ideia!- aprovaram todos.
Quando já faltava só um para chegar ao queijo, diz lá de cima o Pascoal:
« Eh! rapazes, segurem-se lá, que quero cuspir nas mãos!»
Largou as mãos para cuspir, e cairam todos ao rio.
E o pior é que, como estavam todos a prumo, ficaram com as pernas todas embaralhadas ;
queriam sair, mas não sabiam quais eram as pernas de cada um, de modo que ficaram pr’ali...
Por acaso adregou de passar na ponte um almocreve. O almocreve, quando viu aquele monte de homens no rio, perguntou o que era aquilo.
Eles contaram-lhe o sucedido, e que não podiam sair dali porque não sabiam quais eram as pernas de cada um.

Diz o almocreve: Quanto dão vocês a quem vos diga quais são as vossas pernas?

- Trinta mil réis e uma carga de presuntos ( era o dinheiro de Fajão ).

Então ele não esperou por mais nada. Tirou o arrocho da carga da mula e começou a bater nas pernas de uns e outros. Ui! – gritava um. -« Tire, que essa é sua», respondia o almocreve. Batia noutra, - Ui! - «Tire, que essa é sua».
E assim, um a um, tirou-os todos.


Contos de Fajão

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