quarta-feira, 30 de abril de 2008

"histórias que pertencem à História"

COMO PARTICIPEI NA COLUNA DE SALGUEIRO MAIA NA MADRUGADA DO 25 DE ABRIL DE 1974

Transcrição de alguns posts de uma série publicada no Absorto em Março/Abril de 2004 com algumas pequenas precisões e um parêntese final.

A espera sem fim

"Nessa espera sem fim da madrugada de 24 de Abril de 1974 a certa altura alguém me acordou com incontida emoção. Tinha passado a canção.

Era mesmo a sério. A noite ia alta. Saímos os três. Eu e o João Mário Anjos metemo-nos no carro do António Dias que, conduzido por ele, caminhou para a 2ª Circular a caminho do Campo Grande. O António Milhomens saiu para a baixa da cidade.

O nosso objectivo era tomar posição dentro do 2º GCAM (2º Grupo de Companhias de Administração Militar) o mais cedo possível. Mas, ao contrário do que aconselhava a prudência, não o fizemos logo. Antes fomos dar uma volta de carro pelas redondezas a ver o que se estaria a passar na EPAM.

Passamos defronte da EPAM (Escola Prática de Administração Militar) e conseguimos ver o Teixeirinha junto ao muro, equipado de arreios, preparado para integrar o grupo que ocuparia a RTP. Não observamos nenhum outro sinal da acção iminente.

Regressamos à 2ª Circular para reforçar a observação do movimento começando a desconfiar que ia ser um novo 16 de Março. Um fracasso. Encetamos, de novo, o caminho do quartel do Campo Grande. Ao entrar no Campo Grande surgiu, inesperadamente, diante de nós, uma coluna militar.

Finalmente sinais de acção

Retenho muito viva na memória a imagem do carro do combate que encabeçava a coluna a irromper diante de nós. Tinha surgido na escuridão da noite uma coluna militar que tomaria a direcção do centro da cidade. Vislumbramos um carro "nívea" da polícia na penumbra que não esboçou qualquer movimento.

O Campo Grande não era como hoje. Havia um desnível e o carro de combate que vinha na nossa direcção deu um salto rápido para tomar contacto de novo com o chão. Foi uma espécie de salto mágico que desde esse momento, com frequência, me assalta a memória. A comoção que sentimos é indescritível. Era um sonho que se tornara realidade. Fomos, certamente, os únicos que assistimos e registamos, ao vivo, esse momento. Esta é a primeira vez que ele é relatado.

Soubemos, mais tarde, que aquela era a coluna, oriunda de Santarém, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia. Naquele momento colocava-se a opção de cumprir o nosso objectivo e entrar no quartel do Campo Grande ou seguir atrás daquela surpresa entusiasmante.

Na peugada da coluna de Salgueiro Maia

Perante o dilema de entrar, de imediato, no Quartel do Campo Grande ou seguir atrás da coluna militar tomamos a opção de perseguir a coluna. Mas antes deixamos o João Mário Anjos no quartel. Eu com o António Dias ao volante do Datsun 1200, matrícula HA-79-46, segui atrás da coluna de Salgueiro Maia.

A caminho da Avenida da República pensei com os meus botões na fraqueza aparente da força militar que havia de ser decisiva no destino do 25 de Abril. Um soldado que era visível num dos carros apresentava um aspecto de uma fragilidade impressionante. Era uma coluna militar pouco convincente, pelo aspecto exterior, ostentando sinais de fraca capacidade militar.

Na Avenida da Liberdade lembro-me de ter visto um polícia tomar a iniciativa de mandar parar um ou outro carro para não perturbar o avanço da coluna. Seriam 4 horas da madrugada e saíam clientes do "Cantinho do Artista" no Parque Mayer.

Éramos, certamente, os únicos perseguidores e acompanhantes exteriores daquela força e queríamos viver os acontecimentos ao vivo.

Rua do Arsenal

Tomada a decisão de ver com os próprios olhos o desenvolvimento da acção militar fomos sempre atrás da coluna atravessando a baixa no sentido do Terreiro do Paço. Chegada à Rua do Arsenal a coluna parou. Os tanques posicionaram-se no terreno.

Havia um vaso de guerra no Tejo e a discussão era se estava a favor ou contra o movimento revoltoso. Decidimos que chegara a hora de abandonar o local pois não era aquela a nossa guerra. Não podíamos ficar mais tempo sacrificando a nossa própria missão.

Ultrapassamos a coluna facilmente e seguimos em frente. Sempre fiquei com a convicção que a vitória da Revolução foi decidida na Rua do Arsenal antes dos acontecimentos do Largo do Carmo.O povo ainda não tinha descido à rua.

Estávamos na fase das puras operações militares, propriamente ditas, sem as quais não seria possível desencadear o verdadeiro processo político que precipitaria a queda do regime. Afinal as forças armadas estavam a prestar um serviço público que poderia redundar num pesadelo para os seus protagonistas.

O renascimento da liberdade

Era a velha questão da liberdade que se jogava naquelas horas. Participei, com os meus dois camaradas, João Mário e António, num daqueles momentos raros da história das nações em que algo de essencial muda.

A mudança do destino da vida de toda uma comunidade e de um povo. Um daqueles momentos raros de fusão em que um regime, que no dia anterior parecia inexpugnável, cai fulminado como se nunca tivesse tido apoiantes e seguidores.

Assistimos e participamos, ao vivo, a uma página ímpar da nossa história, aos últimos minutos de um regime de opressão e ao renascimento de um regime de liberdade. Estamos todos vivos e os nossos nomes são verdadeiros: António Cavalheiro Dias, João Mário Anjos e Eduardo Graça.

De saída daquela situação de acompanhantes anónimos da coluna militar, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, ainda nos cruzamos com a coluna de Cavalaria 7 que vinha ao encontro dos revoltosos. Era comandada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, meu conterrâneo, que ainda outro dia vi num pequeno café da minha cidade de Faro. Ironia da história: Salgueiro Maia, o vencedor, está morto e Junqueira dos Reis, o vencido, está vivo.

O caminho de regresso ao nosso objectivo passou pela Ajuda onde o pessoal da Polícia Militar (PM) discutia o que fazer na entrada de Monsanto.

Ao longo desta digressão pela cidade sempre pensei que a desproporção de forças era demasiado grande, enorme e arrasadora, e que a coluna revoltosa não seria capaz de resistir a um ataque determinado. Receie que fosse destroçada em poucos minutos.

Salgueiro Maia

Afinal o Capitão Salgueiro Maia era um homem de coragem. No confronto decisivo da Rua do Arsenal foi o sangue frio de Salgueiro Maia que tornou vitoriosa a revolução. A sua impassividade e serenidade face à força inimiga obrigou a que o soldado atirador, sob ordens de um subordinado do brigadeiro, não fosse capaz de premir o gatilho. A serenidade do Capitão Salgueiro Maia sabendo que tinha a sua cabeça na mira do atirador congelou a situação.

Acredito pelo que presenciei que só a conjugação da coragem do Comandante da força revoltosa de Santarém, o embaraço do comandante da força do regime e a recusa do soldado em disparar permitiram o desenlace feliz daquela situação que, no plano militar, era absolutamente desfavorável aos revoltosos.

Assim se decidiu o destino da revolução. Entretanto tínhamos prosseguido o nosso caminho e entramos pacificamente no 2º GCAM.

[Segundo uma transcrição das comunicações entre as forças da situação, referentes às 08h05 da manhã de 25 de Abril, Marcelo Caetano perguntado pelo PR (Américo Tomás) acerca do que se passava, disse que “tinha muita esperança nos Pattons do RC7”. (Os Pattons eram os carros de combate do regimento de Cavalaria 7, integrados na força comandada pelo Brigadeiro Reis e pelo Coronel Romeira contra o Capitão Salgueiro Maia). Todas as comunicações, posteriormente conhecidas, confirmam a importância do confronto entre as forças do regime (RC7) e as forças da Cavalaria de Santarém comandadas por Salgueiro Maia na Rua do Arsenal/Terreiro do Paço, confirmando, plenamente, as nossas impressões escritas em Abril de 2004. Na publicação que citamos, “ A fita do tempo da revolução – a noite que mudou Portugal”, publicada em Setembro de 2004, a certa altura, na hora acima referida, surge a seguinte frase referindo-se ao ministro do exército Luz Cunha e aos acontecimentos em curso naquela zona da cidade: “Considera o Ministro esta acção muito importante no aspecto psicológico.”]
eduardo graça

terça-feira, 29 de abril de 2008

Salgueiro Maia por Carlos Cravo


O verdadeiro Protagonista do 25 de Abril.

porque Salgueiro Maia foi um Homem bom. íntegro. puro.
por ideais se movia...

"Otelo, Vítor Alves e Vasco Lourenço – os Três do 25 de Abril"

Entrevista de Ana Sá Lopes e António Melo

Esta entrevista foi realizada em Abril de 2004, tendo sido conduzida pelos jornalistas Ana Sá Lopes e António Melo. Devido à sua extensão nunca foi publicada na íntegra, tal como aqui e agora se faz. Nela os três operacionais do 25 de Abril contam as vicissitudes de um percurso que se iniciou em Setembro de 1973, quando Vasco Lourenço clamou «Isto só lá vai com um golpe militar!», e teve o seu desfecho ao meio-dia de 23 de Abril de 1974. Nesse dia, de um cansado duplicador, Otelo retirou as derradeiras instruções, que enviou às unidades do Movimento: ao som do «Grândola, Vila Morena», às 03h00, na Rádio Renascença, saem para cumprir as missões que lhes foram destinadas.

A partir daí os dados estavam lançados. É esse período que aqui recordam os três principais protagonistas desse processo que pôs fim ao regime do Estado Novo, uma ditadura constitucional que durava desde 1933.

Ao longo da entrevista abordam-se os seguintes temas:

- A prisão de Vasco Lourenço e o fracasso do 16 de Março

- As lições do 16 de Março e o Programa do MFA

- O programa, Spínola e a operação militar

- Neutralização da PIDE e o Regimento de Comandos

- Ligações partidárias e internacionais

P. — A 9 de Março de 1974, com a prisão de Vasco Lourenço, o governo de Caetano fica com a convicção de ter decapitado o movimento dos capitães. Afinal, o processo continuou?

Vasco Lourenço — Não sou eu quem pode responder a isso. Mas convém recordar que tínhamos a estrutura da ligação operacional. Saímos da reunião de 5 de Março [Cascais] com a tarefa de preparar o programa político, fazer o golpe de Estado e estabelecer a ligação com o Costa Gomes e o Spínola, os dois generais escolhidos pelo Movimento.

P. — Não houve a intenção dos seus camaradas de o manterem cá, «sequestrado», para a transmissão de poderes?

V. Lourenço — Houve um rapto, que nada teve a ver com uma transmissão de poderes. Eu estava detido na Trafaria, mas as coisas cá fora continuavam e eles melhor do que eu podem contar isso.

Vítor Alves — A direcção era composta por três elementos, com a detenção do Vasco, ficámos dois. Em caso de percalço, a substituição do Vasco estava assegurada pelo Sousa e Castro.

V. Lourenço — O Sousa e Castro era um dos elementos principais que eu tinha na Coordenadora para ligação às unidades. A ideia que eu tenho é que se decidiu acelerar a preparação do golpe. Isto para dar resposta a uma coisa que para nós era fundamental: solidariedade em relação a qualquer um que sofresse retaliações por parte do poder.

P. — Com a prisão de Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho passa a estar conectado às unidades, enquanto Vítor Alves mantém as ligações com os ramos das Forças Armadas e coordena o programa político?

Otelo — Em Óbidos [1 de Dezembro de 1973], abandonada a fase de movimento dos capitães, passa-se à segunda fase, que é a do movimento de oficiais das Forças Armadas. Há a perspectiva de alargamento a outras patentes, a majores, a coronéis, oficiais superiores, até generais. Elegemos a Comissão Coordenadora executiva na clandestinidade, que tinha 19 membros, três por arma ou serviço militar, de preferência na seguinte ordem: um oficial superior, um capitão e um subalterno. Por exemplo, são representantes de Infantaria o major Hugo dos Santos, o capitão Vasco Lourenço e o tenente Marques Júnior. Hugo dos Santos, mobilizado para o Ultramar, deixa essas funções e é substituído pelo Vítor Alves. No dia 1 de Dezembro distribuem-se funções e no dia 5 de Dezembro, na Costa da Caparica, elegem-se as subcomissões executivas para os três ramos. Eu fiquei no secretariado, com o major José Maria Azevedo e o capitão Torres, ambos da Administração Militar.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Capitão Salgueiro Maia - Biografia

Fernando José Salgueiro Maia (Castelo de Vide, 1 de Julho de 1944Santarém, 4 de Abril de 1992), militar português.

Biografia

Salgueiro Maia, como se tornou conhecido, foi um dos distintos capitães do Exército Português que liderou as forças revolucionárias durante a Revolução dos Cravos, que marcou o final da ditadura. Filho de Francisco da Luz Maia, ferroviário, e de Francisca Silvéria Salgueiro, frequentou a escola primária em São Torcato, Coruche, mudando-se mais tarde para Tomar, vindo a concluír o ensino secundário no Liceu Nacional de Leiria. Licenciou-se em Ciências Sociais e Políticas e em Ciências Etnológicas e Antropológicas.

Em Outubro de 1964, ingressa na Academia Militar, em Lisboa e, dois anos depois, apresenta-se na Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, para frequentar o tirocínio. Em 1968 é integrado na 9ª Companhia de Comandos, e parte para o Norte de Moçambique, em plena Guerra Colonial, cuja participação lhe valeu a promoção a Capitão, já em 1970. A Julho do ano seguinte, embarca para a Guiné, só regressando a Portugal em 1973, onde seria colocado na EPC.

Por esta altura iniciam-se as reuniões clandestinas do Movimento das Forças Armadas e, Salgueiro Maia, como Delegado de Cavalaria, integra a Comissão Coordenadora do Movimento. Depois do 16 de Março de 1974 e do «Levantamento das Caldas», foi Salgueiro Maia, a 25 de Abril desse ano, quem comandou a coluna de carros de combate que, vinda de Santarém, montou cerco aos ministérios do Terreiro do Paço forçando, já no final da tarde, a rendição de Marcello Caetano, no Quartel do Carmo, que entregou a pasta do governo a António de Spínola. Salgueiro Maia escoltou Marcello Caetano ao avião que o transportaria para o exílio no Brasil.

A 25 de Novembro de 1975 sai da EPC, comandando um grupo de carros às ordens do Presidente da República. Será transferido para os Açores, só voltando a Santarém em 1979, onde ficou a comandar o Presídio Militar de Santa Margarida. Em 1984 regressa à EPC.

Em 1983 recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em 1992, a título póstumo, o grau de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada e em 2007 a Medalha de Ouro de Santarém.

Em 1989 foi-lhe diagnosticada uma doença cancerosa que, apesar das intervenções cirúrgicas no ano seguinte e em 1991, o vitimaria a 4 de Abril de 1992.

Frases e momentos para a História...

Madrugada de 25 de Abril de 74, parada da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém:

"Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui."

Todos os 240 homens que ouviram estas palavras, ditas da forma serena mas firme, tão característica de Salgueiro Maia, formaram de imediato à sua frente.Depois seguíram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura.

"Roubado" no Portuga - Coruche

"Na véspera das operações militares de 25 de Novembro de 1975"

José Niza conta que havia no local um equipamento de transmissões do Exército


Na véspera do 25 de Novembro de 1975, numa altura de grande instabilidade e com o Exército dividido, Salgueiro Maia disponibilizou-se para entregar armas no PS de Santarém. A história é contada pelo ex-dirigente socialista, José Niza.


Sobre Salgueiro Maia, que só conheceu depois do 25 de Abril e que morava perto da sua casa em Santarém, diz: “Era muito determinado mas demasiado radical. Não era de meias tintas quando achava que tinha razão”. Mas elogia-lhe a coragem e a dignidade. “Foi muito injustiçado. Não se pode aceitar que uma pessoa daquelas, depois daquilo que fez, tivesse sido colocada, por exemplo, a comandar o Presídio Militar. Ou que o tivessem mandado para os Açores. Trataram-no muito mal. Mas ele nunca se lamentou. Foi uma pena ter morrido tão cedo”.
“Salgueiro Maia quis entregar cento e cinquenta G3 na sede do PS de Santarém”

"O testemunho de Garcia Correia"

Garcia Correia recorda como viveu o golpe militar que libertou o país da ditadura

“Salgueiro Maia foi o homem certo no lugar certo

Garcia Correia tinha 34 anos em 25 de Abril de 1974. Era o oficial mais antigo afecto ao movimento das forças armadas a prestar serviço na Escola Prática de Cavalaria. Teoricamente poderia ter comandado a coluna militar que marchou sobre Lisboa. Mas Salgueiro Maia não abdicou de liderar os homens que conhecia bem e com que lidava no dia a dia. Garcia Correia, que tinha regressado poucos meses antes de África, ficou em Santarém a comandar a unidade militar e a preparar a resistência, caso as coisas corressem mal.

Onde estava na madrugada de 25 de Abril de 1974?

Estava na Escola Prática de Cavalaria (EPC), aqui em Santarém. Era capitão e fui um dos elementos que trabalhou, fez o possível, para que o 25 de Abril viesse a acontecer.

Qual foi a sua missão em concreto?

Estava num destacamento onde é hoje a PSP a comandar um curso de sargentos milicianos, que tinham acabado de ser incorporados, e que no dia seguinte mandámos para casa. Tinha contacto com os outros oficiais que estavam na EPC e partilhava com eles todas as informações. Como já sabíamos que a EPC ia sair sob o comando do capitão Salgueiro Maia, nessa noite combinámos levar o segundo comandante a jantar a minha casa. O comandante não estava e os outros oficiais superiores, majores e tenentes-coronéis, viviam em Santarém e não estavam no quartel.

Esses oficiais não desconfiavam de nada?

Não. Durante o jantar fui dizendo ao segundo comandante o que estava para acontecer, sem especificar datas, e perguntei-lhe se ficaria do nosso lado. Estava a tentar aliciá-lo, é esta a palavra possível, para que também viesse para o movimento dos capitães e tentar o golpe de Estado.

Qual foi a resposta?

Foi sempre dizendo que não. Na Escola Prática estavam a aguardar que desse um sinal para lá por telefone, para saber se o senhor dizia sim ou não. Ele achava que era uma criancice, que nós éramos muito novos… A certa altura telefonam-me para casa a perguntar: então? Respondi que o senhor estava intransigente e disseram-me para o levar porque estava na hora de o confrontar com os factos. E assim foi. Quando regressámos ao quartel o senhor depara com um oficial de dia que não era o que se tinha apresentado de manhã. É então que lhe explicamos que o que eu lhe tinha dito em minha casa já estava a acontecer.

E manteve a posição de não aderir ao golpe?

Manteve-se intransigente. Dissemos-lhe que ou se punha do nosso lado e assumia responsabilidades como comandante, ou então a partir desse momento mandávamos nós. Mais alguma conversa e o Salgueiro Maia disse que não valia a pena falar mais. Eu fiquei com o segundo comandante na unidade, enquanto eles foram preparar o resto da coluna para arrancar para Lisboa.

Os soldados já sabiam o que ia acontecer?

Havia oficiais e sargentos que sabiam. O pessoal estava mais ou menos sensibilizado mas não corríamos o risco de dizer a toda a gente. Aliás esse jantar em minha casa não foi só para tentar convencer o segundo comandante como para libertar a EPC de oficiais não aderentes para se poder trabalhar à vontade. Havia soldados e cabos a trabalhar nas viaturas, a prepará-las, mas sem saber para quê. Mais tarde Salgueiro Maia explicou na parada o que ia acontecer e perguntou quem queria ir. Que eu saiba ninguém saiu. Antes pelo contrário, sobrava gente. Não puderam ir todos.

Essa adesão não terá derivado também do espírito militar de subordinação aos oficiais?

Alguns talvez. Mas não muitos. O capitão Salgueiro Maia explicou bem que iam para Lisboa para derrubar o Governo. E que só ia quem queria.

O senhor ficou no quartel?

Sim.

Teve pena de não alinhar nessa aventura?

Tive pena, porque era o capitão mais antigo. Mas tinha vindo de Angola em Janeiro, o Maia já cá estava e a tropa era a que ele comandava na Escola Prática. Eu estava num destacamento a comandar o curso de sargentos milicianos. E ele fez muita questão em ir com a tropa que comandava para Lisboa. Perante isso não havia necessidade de estarmos a dirimir e eu fiquei como segundo comandante.

Qual foi o seu papel?

A minha responsabilidade foi, juntamente com o capitão Correia Bernardo, montar o sistema de defesa de Santarém no caso de insucesso. Porque um mês antes tinha falhado o golpe das Caldas, a 16 de Março. Aprendemos alguma coisa com isso. Se as coisas corressem mal tínhamos um dispositivo nos pontos altos da cidade, com carros de combate e auto-metralhadoras, para proteger a coluna numa eventual retirada.

Seria uma resistência que não duraria muito tempo.

Tínhamos essa consciência. Mas também estávamos confiantes que essa resistência seria suficiente, pelos contactos que tínhamos com outras unidades que haviam garantido que aderiam ao golpe e que certamente viriam em nosso apoio.

Há quanto tempo sabia que se preparava esse golpe militar?

Comecei a pertencer ao Movimento das Forças Armadas ainda em Angola. Acabei a minha terceira comissão em Dezembro de 1973 e apresento-me em 8 Janeiro de 1974 em Santarém. Naturalmente continuei aí também dentro do movimento. No 16 de Março, quando se dá o golpe das Caldas, já sabíamos que se ia fazer alguma coisa. Só não sabíamos quando. Estávamos a aguardar uma ordem de operações que estava a ser feita. Definia o que cada unidade ia fazer e a que horas.

O golpe das Caldas foi uma acção desgarrada do movimento das forças armadas?

Pode-se dizer que sim. Até porque tínhamos contactos com oficiais das Caldas que conhecíamos pessoalmente a quem dissemos para não sair, porque sabíamos que outras unidades não iriam sair. Na altura não tínhamos condições para apoiar. Por exemplo: só depois fomos a Santa Margarida buscar munições. Havia uma série de condicionalismos...

Esse golpe falhado podia ter deitado tudo a perder?

Até certa medida deitou. O poder da altura tomou uma série de medidas que não tomaria. Prendeu-os a todos, mandou oficiais para os Açores, redistribuiu oficiais que suspeitavam que estavam dentro do movimento por outras unidades. Tivemos que reajustar quase todo o dispositivo.

Como é que funcionava a partilha de informação e a coordenação entre todos numa época em que não havia telemóveis nem Internet?

Muitas vezes era através de contactos directos. Tínhamos reuniões clandestinas em vários sítios. Embora também fosse possível por telefone, pois nessa altura ainda não se pensava em escutas.

Falou com a sua esposa sobre o que se ia passar?

A minha mulher estava a par de tudo. Disse-lhe que ia ser nesse dia. Quando sentiu as auto-metralhadoras a passar meteu-se no carro e foi para Alpiarça, para casa dos pais, porque não sabia o que ia acontecer.

Quais eram os seus sentimentos nessa madrugada?

Eram de optimismo. Sentia que as forças armadas, salvo algumas excepções, estavam em consonância para derrubar o regime. Tinha alguma esperança que fosse bem sucedido.

Sabiam bem o terreno que pisavam?

Sabíamos que era uma missão arriscada, que podia virar-se ao contrário. Bastava que aqueles oficiais ou sargentos que tinham os carros de combate em Lisboa tivessem obedecido às ordens do brigadeiro e disparado contra a força do Maia para aquilo ser um banho de sangue. Mas tínhamos contactos com eles de forma a evitar isso. E funcionou.

Esse terá sido o momento nevrálgico que podia ter virado o rumo à História.

Sim, porque a partir daí começa a juntar-se o povo, a população, o que moraliza as nossas forças. É a partir daí que o Maia recebe ordens para se dirigir para o Carmo, onde estava Marcelo Caetano. Já com carros de combate que não tinha quando saiu de Santarém, pois daqui só levou auto-metralhadoras. Os carros de combate que leva para o Carmo são do Regimento de Cavalaria 7, que não dispararam contra ele e reverteram para o nosso lado.

Como é que foram as comemorações, a ressaca desse dia?

Quando soubemos que tínhamos ganho, que tinha corrido tudo bem, foi um alívio.

E o regresso da coluna militar a Santarém?

Nunca tinha visto tanta gente junta a dar vivas à revolução, aos militares da Escola Prática de Cavalaria e ao capitão Salgueiro Maia. Juntaram-se nessa manhã, dois dias depois da revolução, milhares de pessoas junto à EPC e à câmara.

O Mirante - Semanário Regional

domingo, 27 de abril de 2008

«Eu cá é que não casava com um militar»

Capitães de Abril
Natércia Salgueiro Maia
Extracto de um artigo publicado pela revista Grande Reportagem no dia 24 de Abril de 2004, relatando a sua experiência de vida e como viveu o dia 25 de Abril de 1974.
[25-04-2004]

(…)Razão tinha a mãe, operária de Minde, conhecedoras das maleitas do coração, que não se cansou de a avisar:«Eu cá é que não casava com um militar». Em tempo de guerra, farda é alvo.

Porém, a fazer ouvidos moucos à razão não há como o amor, campeão com medalhas e louvores. Foi à primeira vista, o deles. Criada num colégio de freiras, em Torres Novas, Natércia nunca soube o que era bailar mascarada. No Carnaval, «época de pecado», as freiras benziam-se e punham trancas na porta: não havia quem pusesse o pé na rua.

Ia a casa um fim-de-semana por mês, e isso era uma lufada de liberdade. O avô, José da Silva, ferrador de ofício, autodidacta e «do contra» por paixão, era um revolucionário de espírito, sempre pronto a contrariar os ensinamentos das eternas noivas de Cristo.

Mas só quando foi estudar para Lisboa, com os livros da Faculdade de Ciências debaixo do braço, é que a rapariga percebeu que os males do País não se esgotavam nas mulheres de Minde, toda a vida a alombar na fábrica, a olear os rins em vénias aos patrões. Abriu os olhos.(…)

P.S. de João Manuel Querido
:
O Capitão Salgueiro Maia era visita assídua de Minde, recordo-me muito bem de me cruzar com ele, acompanhado pela esposa, quando, adolescente, ia a pé para a missa dominical.

Neste dia, fez trinta anos que um homem que aqui viveu realizou a viagem mais longa da sua vida, uma viagem que permitiu p.e. este Portal agora existir e eu estar aqui a escrever sem receio de ir passar a noite "fora de casa".

A LIBERDADE é o melhor bem que possuímos e só quando estamos privados dela é que lhe damos valor. Parafraseando Ermelinda Duarte: «uma criança dizia, dizia - quando fôr grande não vou combater - Como ela somos livres, somos livres de DIZER

Minde já tem uma rua com o seu nome, no Bairro das Saramagas, se não estou em erro.

O Jardim dos cravos vermelhos

Um jardim de homenagem a Salgueiro Maia (...) em Santarém, no local onde o militar foi recebido pela população em 1974, após ter liderado o golpe que a 25 de Abril derrubou a ditadura do Estado Novo. (...)

O jardim foi plantado junto à entrada de Santarém pela Estrada Nacional 3 e irá receber uma estátua do militar cuja localização anterior constituiu durante muitos anos um local de homenagem aos "Capitães de Abril", informa a Lusa.

Anteriormente, o monumento estava localizado junto a um veículo militar, no Largo Cândido dos Reis, mas as obras de requalificação do espaço durante o mandato anterior obrigaram à sua remoção para um armazém da Câmara Municipal de Santarém.

Aí ficou durante ano e meio até que o actual executivo camarário decidiu colocar a estátua no mesmo sítio onde Salgueiro Maia foi recebido pela população de Santarém como herói popular da Revolução de 25 de Abril de 1974, quando regressava de Lisboa.(...)
Comemorações do 25 de Abril de 1974

"O renovado museu Salgueiro Maia"

Escola Prática de Cavalaria "despede-se" de Santarém

Os militares da Escola Prática de Cavalaria despediram-se formalmente de Santarém, mas assumiram o compromisso de deixar na cidade espólio suficiente para o futuro museu Salgueiro Maia, em memória do 25 de Abril.

Numa parada e num desfile pelas ruas de Santarém, a unidade militar despediu-se da cidade que a acolheu durante 50 anos, preparando-se para concretizar a transferência para Abrantes, no âmbito da remodelação orgânica do Exército.

Segundo o tenente-coronel Tiago Vasconcelos, comandante da EPC, a transferência deve-se à "mudança do modelo organizacional do exército" e à falta de recursos humanos provocada pelo fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO).

Esta situação "impôs a necessidade de uma nova estrutura orgânica do Exército" e com a "profissionalização do contingente", as hierarquias militares decidiram concentrar várias estruturas de formação do Exército na zona de Abrantes, perto do Polígono de Tancos e de Santa Margarida.

Numa cerimónia oficial agendada para segunda-feira, a direcção da EPC toma o seu lugar no quartel de Abrantes e a transferência dos equipamentos deverá estar concluída até ao final do ano.

No entanto, está prevista a assinatura para breve de um protocolo com a Câmara de Santarém, onde será deixado equipamento para o renovado museu Salgueiro Maia, que evoca a memória do 25 de Abril e o papel da coluna militar da EPC que era liderado por aquele "capitão de Abril".

"Será com grande tranquilidade que depositaremos em Santarém parte do nosso espólio e do nosso património simbólico" para "preservar a memória desse patriotismo", afirmou Tiago Vasconcelos.

Actualmente, existia um pequeno núcleo museológico na EPC de homenagem ao 25 de Abril, mas a autarquia quer aumentar significativamente esse património para honrar devidamente a memória desses militares.

Para Natércia Maia, viúva de Salgueiro Maia, a criação de um museu aberto ao público é bem-vinda, até porque "é importante para Santarém manter esses valores bem vivos".

Por seu turno, o presidente da Câmara local, Francisco Moita Flores, considerou que esta cerimónia de despedida se insere num "quadro de saudade", até porque "Santarém não gosta da partida" de uma instituição que é "parte da identidade" da própria cidade.

"Vivemos num tempo em que o economicismo" das instituições "vale mais do que uma multidão de afectos", afirmou.

No futuro, o museu Salgueiro Maia "será a aposta que une dois caminhos: o de Santarém e o da Escola Prática de Cavalaria", sublinhou Moita Flores.

Ao longo dos anos, a EPC "formou soldados", mas também "enformou a cidadania das gentes", seja durante a Guerra Colonial ou na madrugada de 25 de Abril, através da coluna de Salgueiro Maia.

A EPC deu um "contributo cívico" que o país não deve esquecer, também pela "honradez completa" dos militares que a serviram, acrescentou Moita Flores.

No seu discurso, o autarca agradeceu ainda "o pedaço de história que (os militares da EPC) ofereceram à cidade".

No que diz respeito aos usos futuros do quartel da EPC, várias informações apontam para a instalação em Santarém de uma unidade da GNR, após obras de adaptação dos edifícios.

No entanto, a autarquia não quer que os 30 hectares da EPC, localizados numa das zonas mais nobres da cidade, sejam alvo de qualquer tipo de especulação imobiliária.

"A Câmara tem uma palavra a dizer sobre o uso desta zona", afirmou Moita Flores.

A intenção de transferir a EPC de Santarém para Abrantes remontava ao ano 2000, no quadro de um projecto de reorganização das escolas práticas do Exército.

Criada em 1890, a EPC começou por ser instalada em Vila Viçosa, de onde saiu em 1900 para Torres Novas.

Só em 1955, o quartel foi transferido para Santarém, ocupando edifícios militares que já haviam servido para acolher estruturas de Infantaria, Caçadores e Cavalaria.

Agência LUSA
2006-11-17

sábado, 26 de abril de 2008

"Havia em ti o herói que não se integra"

"Os acontecimentos daqueles dias"

O 25 de Abril
O Fim da Ditadura
11 de Março de 1975
25 DE NOVEMBRO DE 1975
A História do 25 de Abril
SALGUEIRO MAIA
A origem do Cravo como símbolo da Revolução


Alfândega da Fé

O "Conquistador do Sonho Inconquistado"

"A uma das janelas do Quartel do Carmo, o capitão Maia utiliza o megafone para se fazer ouvir pelos homens que comandava."
O sítio do VIRIATO

Será que valeu a pena tanto sacrifício deste Homem para se conquistar a liberdade?


Ser fiel a Salgueiro Maia

É com emoção que estou aqui para homenagear Salgueiro Maia, o símbolo mais puro do 25 de Abril e o seu herói mais incómodo. Incómodo pelo seu apelo à liberdade e pelo seu desapego do poder. Incómodo porque derrubou uma ditadura, ajudou a construir a democracia, arriscou sempre tudo e nunca quis nada para si, nem cargos, nem benesses nem honrarias.
Quando outros não acreditavam, ele acreditou. Quando outros tinham medo de ousar, ele ousou. Quando outros diziam que era impossível, ele partiu de Santarém, mal equipado e mal armado, mas “claro no pensar, claro no sentir e claro no querer”. E assim mostrou que com vontade e coragem é possível, por vezes, na História, concretizar a utopia.
O legado que ele nos deixou é o legado do seu sonho. O legado da sua coragem e da sua tolerância. Porque ele foi grande na decisão com que venceu, mas também na nobreza com que tratou os vencidos. E grande continuou, na modéstia com que se retirou de cena e na forma como desprezou a inveja e a mesquinhez, sorrindo por alto e por cima a vexames e humilhações que lhe fizeram. Várias vezes o ouvi dizer: - Qualquer dia sou acusado de estar implicado no 25 de Abril.

Herói incómodo. Homem de rigor moral e de exigência ética. A melhor forma de evocarmos Salgueiro Maia é não nos deixarmos acomodar. É sermos capazes de ser incómodos como ele foi, na defesa da dimensão ética e social do 25 de Abril. Porque o 25 de Abril não se fez apenas para restaurar as liberdades formais. Fez-se para construir uma democracia em que os direitos políticos sejam inseparáveis dos direitos sociais: o direito à saúde, à habitação, ao ensino, à cultura, ao trabalho. Todos esses direitos estão consagrados na Constituição. Pode haver diferentes concepções no modo de os concretizar, mas não se pode esquecer nem esvaziar o seu conteúdo, sob pena de enfraquecer os direitos políticos e a própria democracia.
Quero deixar aqui um apelo e um alerta: ser fiel à memória de Salgueiro Maia é dizer aqui hoje que não se pode desmantelar o Serviço Nacional de Saúde, não se pode abrir a porta a um sistema de saúde privada para ricos e a um sistema público para pobres. E também não podem privatizar-se serviços públicos que fazem parte da própria essência do Estado. Ser fiel à memória de Salgueiro Maia é combater com eficácia a corrupção e não permitir que interesses económicos ou mediáticos se sobreponham ao poder legítimo democrático.

Herói incómodo. Porque Salgueiro Maia queria uma democracia de valores e um Portugal mais limpo, mais justo e mais solidário. Neste tempo de inversão da História e subversão da memória, a atribuição pela Câmara Municipal de Santarém da medalha de oiro da cidade, a título póstumo, a Salgueiro Maia é em si mesma um acto de cultura democrática. Neste tempo de tanto egoísmo e tanta acomodação, ser fiel ao legado de Salgueiro Maia é ser inconformista como ele foi. Inconformismo contra a degenerescência de valores éticos, políticos e até nacionais. Inconformismo contra as tentativas de rever a História, de branquear o que não pode ser branqueado e de ressuscitar fantasmas que não podem ser ressuscitados.

Creio que Salgueiro Maia, mais do que lembrar o passado, gostaria que pensássemos nos seus filhos e em todos aqueles que ainda não eram nascidos em 25 de Abril de 1974. Porque foi por eles que ele arrancou de Santarém. Foi para eles que se fez a revolução. É por eles que temos de continuar a ser incómodos e inconformistas. Com esperança e confiança no futuro livre e democrático de Portugal. Porque essa foi a causa pela qual, há 33 anos, Salgueiro Maia saiu de Santarém para conquistar a vitória e entrar na modernidade.

Homenagem de Manuel Alegre a Salgueiro Maia por ocasião da entrega da medalha de oiro da cidade de Santarém a Natércia Maia

sexta-feira, 25 de abril de 2008

"Capitão! Meu Capitão!"




A (minha) homenagem possível, entre a "raiva e o silêncio", hoje em Castelo de Vide. Passados 34 anos, fui ver a campa rasa do homem que "Na madrugada de 25 de Abril de 1974 numa das paradas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém disse: "Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegamos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui" 240 homens ouviram estas palavras serenas mas firmes e formaram de imediato à sua frente, seguiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura."

Capitão Salgueiro Maia


Entrevista exclusiva do capitão Salgueiro Maia à revista Fatos e Fotos (1974).


Otelo Saraiva de Carvalho e as FP-25

"Se tivéssemos tido calma", observou quarta-feira o comandante Pedro Serradas Duarte - ex-director do departamento operacional da DINFO, organização que antecedeu o actual Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) -, o adiamento da chamada "Operação Orion" teria permitido obter "meios de prova" para formalizar "uma acusação mais sólida" contra os membros daquela organização terrorista.
Prisão de Otelo deveria ter sido adiada por meses

34 anos depois

Dossier IIª República - Coord. de Fernando Ribeiro de Melo. Lisboa, Afrodite, 1976, 2 vols.

"Nesta obra são compilados os mais significativos documentos políticos, militares e diplomas legais publicados durante os anos de 1974 e 1975. Os textos são apresentados por ordem cronológica pelo que o 1º volume diz respeito a 1974 e o 2º volume a 1975.Transcrevemos aqui o sumário publicado no início de cada um dos volumes."

I - O MFA E OS OUTROS - AS PALAVRAS E OS ACTOS

II - UMA ESTRUTURA CONSTITUCIONAL PROVISÓRIA

III - A DESCOLONIZAÇÃO

IV - LIBERDADES E DIREITOS FUNDAMENTAIS

V - EXTINÇÃO DO FASCISMO E SANEAMENTO

VI - UMA NOVA POLÍTICA ECONÓMICA E SOCIAL

1 - Do 25 de Abril ao 11 de Março: "corrigir desiquilíbrios"

2 - O 11 de Março: projecto de construção do socialismo

3 - Trabalho e Previdência

4 - Habitação

5 - Reorganização ou reforma agrária?

VII - EDUCAÇÃO E ENSINO


1975 - vol. 2


I - O PODER POLÍTICO-MlILITAR - AS DIVISÕES

II - ESTRUTURA E ACTOS DO PODER

III - DESCOLONlZAÇÃO

IV - LIBERDADES E DIRElTOS FUNDAMENTAIS

V - EXTINÇÃO DO FASCISMO E SANEAMENTO

VI - A NOVA POLÍTICA ECONÓMICA E SOCIAL

1 - A intervenção do Estado na Economia

2 - Trabalho e Previdência

3 - Habitação

4 - Agricultura

VII EDUCAÇÃO

Centro de Documentação 25 de Abril © 1996
Suporte: cd25a@ci.uc.pt
www.uc.pt/cd25a
Colaboração do CD25A e do IHTI coordenada por Natércia Coimbra e Joaquim Ramos de Carvalho