quarta-feira, 6 de setembro de 2006

"Educação, uma doença crónica"

(...)"Paralelamente ao imenso, devastador e pavoroso currículo oficial ministrado pelos agentes educativos, irrompe subrepticiamente um outro "currículo oculto" que interpreta, altera, subverte, distorce os objectivos do primeiro de acordo com a focalização dos professores, muitos deles desprovidos de tecnologia adequada, sem capacidade de excentração ou transcendência em relação ao âmbito teórico, processos metodológicos e instrumentos do seu próprio trabalho: imersos inconscientemente nos condicionamentos que operam sobre a sua competência e performance, tornan-se ingenuamente a "carne para canhão" e ao mesmo tempo e paradoxalmente, os agentes secretos do sistema oculto - vítimas desprovidas e simultaneamente carrascos desprevenidos e desavisados.
Existem pois dois sistemas... Duas escolas... Dois tipo de objectivos... Dois tipos de currículos... Dois tipos de professores: os primeiros explícitos; os segundos ocultos. Os agentes educativos lúcidos vivem uma situação trágica e paradoxal porque não podem sobreviver moralmente sem acreditar na Educação, mas porque são lúcidos, também não podem acreditar neste Sistema Educativo.
A escola actual esquizofrenizou-se em isotopias horizontais e verticais irredutíveis..."(...)

(...) "A acrescentar ao desalento dos docentes, as escolas estão a ser invadidas por uma horda de novos bárbaros desordeiros, egoístas, hedonistas, ambiciosos, perturbados, sem ideal nem projecto de vida que não seja o privilégio - são os alunos. Os professores demasiado molestados já por uma profissão desgastante, sem reforços, mortos pelas rotinas repetitivas, cristalizados pelas velhas tradições escolares, privados de prestígio pessoal e realização profissional, feridos de desalento, perdem todo o sentido da sua profissão."(...)


Educação, uma doença crónica
António M. Correia / Terras da Beira

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