sábado, 12 de maio de 2007

O "pensamento" da Al-Qaeda

A mente da Al-Qaeda (1a. Parte)
Harald Doornbos
Resumo: Militantes e simpatizantes da Al-Qaeda revelam como funciona o "pensamento" da organização terrorista, demonstrando que a insanidade é seu guia máximo.
© 2004 MidiaSemMascara.org

Parece lógico: retire as suas tropas do Iraque e Al-Qaeda "te apaga" da sua lista. Esta idéia, porém, ignora a existência da luta entre "os escravos de Deus" e "os de Satã".
Isto é raro, mas eu posso encontrar a Al-Qaeda. Após deixar a pequena rua no bairro F-8 de Islamabad, e caminhar 300 metros, estou em frente ao apartamento de Khalid Khawaja, um amigo de Osama Bin Laden e suspeito da morte do jornalista americano Daniel Pearl. Khawaja (um paquistanês de 52 anos, ex-colaborador do serviço secreto paquistanês – ISI - e ex-oficial da força aérea), esteve na prisão durante algum tempo. Mas isso não o impediu de falar. Certamente não.
Entusiasmado, me espera à porta de seu apartamento. Antes de eu poder dizer alguma coisa, ele começa: «Os atentados em Madri são um enorme sucesso. Olho por olho, dente por dente. O governo espanhol se retira do Iraque. Eu te digo: este é apenas o começo da vitória, assim como no tempo da nossa luta contra os russos no Afeganistão. Ainda virão centenas de atentados na Europa, ainda centenas de Madris. Vocês não podem nos derrotar, porque nós temos uma ideologia superior. O que vocês propõem? O que vocês defendem? Seus soldados não têm coração para o seu trabalho, lutam por dinheiro e são, portanto, apenas assassinos profissionais. Nós lutamos por Deus e por Deus apenas».
A fim de evitar a sua mulher, mãe e filhas, nós vamos sentar na sala de visitas de seu lar. Khawaja ordena a um serviçal que sirva chá e bolo. Eu o deixo ver um exemplar do semanário Newsweek, onde estão fotos do atentado em Madrid. Aço retorcido, corpos, pessoas a lamentar. Eu vejo loucura, inocentes, terror. Khawaja, não : «Eu vejo os verdadeiros responsáveis por isso», diz ele. «A América, os judeus, Satanás». Enquanto Khawaja folheia através das páginas e observa fotos, pergunto: «O que a Europa precisa fazer a fim de no futuro evitar tal espécie de terror?». «Madrid foi o resultado da luta entre os escravos de Deus e vocês, escravos de Satã. Entreguem-se a Deus e os atentados param», diz Khawaja.
«Mas religião entre nós não é importante e ninguém quer virar muçulmano».
«Veja, este é o seu grande problema. É o poder que satanás tem sobre vós. O islamismo também lhes dá direito à liberdade. Ninguém merece ser governado pelo Demônio. Aceitem Maomé, que a paz esteja com ele, como o último profeta e como o mensageiro de Deus. Nós os ajudaremos a alcançar a justiça. Tempo virá em que nós os libertaremos de seus senhores e da democracia. Os homens não têm o direito de governar, este pertence somente a Deus”.
A luta entre o bem e o mal, Deus e Satanás, verdade e mentira e fiéis e cruzados é a idéia central na Al-Qaeda. Eles se consideram idealistas, quase utopistas que nada mais querem fazer do que o bem, através da implementação da lei de Deus na terra.
Como isso é possível, perguntam-se constantemente, se o resto do mundo não quer aceitar Alá como seu salvador? Mesmo muitos muçulmanos não se interessam. Os governos da Arábia Saudita, Egito, Jordânia, Turquia, Paquistão são todos pró-americanos e servem a Satanás. Também os da Líbia, Síria e o Iraque de Saddam são satânicos. Inimigos da América é verdade, mas seculares. Quase tão ruins.
O sentimento de estar sozinho no mundo não desespera os seus membros mas lhes dá precisamente mais força. Freqüentemente lembram do ano 622, quando durante a hijrah (migração), segundo o Corão, o profeta Maomé foi expulso da cidade de Meca pelas autoridades e exilado em Medina. Dois anos depois a administração de Meca enviou um exército a fim de assassinar Maomé e centenas de seus seguidores. Mas o exército de Maomé venceu essa batalha em Badr. Seis anos depois Maomé conquistou Meca e o islamismo foi garantido. Então não é ocasional que os autores do 11 de setembro, antes de atingirem as Torres Gêmeas, receberam a tarefa de recitar precisamente aqueles versos do Alcorão que se relacionam com aquela batalha em Badr.
«Este campo de batalha dá enorme inspiração à Al-Qaeda», segundo o autor Yosri Fouda, ele mesmo um muçulmano, que escreveu um livro sobre os dois terroristas que prepararam o 11 de setembro. «Eles se vêem como um pequeno grupo de guerreiros que, assim como no tempo de Maomé, contra todas as expectativas alcançaram a vitória e promoveram o islã».
Para a Al-Qaeda, judeus e cristãos são o povo do Livro. Mas entende que os judeus o eram somente quando existiam profetas e ancestrais como Abraão e Moisés. Com o nascimento do profeta Jesus, era lógico que os judeus se tornassem cristãos. Ser judeu depois de Jesus é, portanto, um pecado. Por seu lado, os cristãos cometem a mesma falta por não aceitarem o último profeta, Maomé. Então são todos, judeus e cristãos, pecadores e atrasados. E nós ainda não falamos sobre os hinduístas, budistas, etc., ou, pior ainda, comunistas.
Khalid Khawaja se detém para orar. Ele volta dentro de dez minutos. Eu lhe digo que nós temos um sério problema, que nos encontramos numa encruzilhada. Porque quase ninguém no Ocidente quer abolir a democracia e substituí-la pela interpretação divina de Bin Laden. «Oh, sim, nós temos um problema, está claro. Essa é uma luta entre Deus e Satanás. Vocês poderiam nos matar, mas assim nos dariam precisamente o que queremos: a morte, o além. Mas se nós os matamos, nós sabemos que vocês não querem a morte. Vocês amam a vida, nós a morte. A vida para nós é como um banheiro. Não significa nada. Na realidade de Deus ela é um segundo. A vida não foi feita para ser vivida, mas para servir como um teste para o além. Fazer o bem agora leva ao Paraíso. Nós vivemos para o Além».
«Então retirar as tropas do Iraque não é o suficiente?»
«Não, naturalmente não», exclama Khawaja, «olhe para o novo governo espanhol. Eles são socialistas. Bah, esses nós combatemos no Afeganistão. Bush ou Clinton? Não importa. Eu prefiro Bush, porque ele é crente. Bush é contra homossexuais. Tornaram-se todos loucos nos Estados Unidos com aqueles casamentos? Nós temos a pena de morte para os sodomitas. Se Bush abolir a Constituição americana e substituí-la pelos Dez Mandamentos, poderemos começar a conversar. Mas isso ele não quer. Finalmente não interessa quem está no governo nos Estados Unidos, Espanha ou Holanda. O Islã diz que não se deve escolher entre dois tipos de mal. Se você o fizer, torna-se uma parte de Satanás».
«Então a Espanha pode esperar mais atentados?»
«A Espanha já foi islamita», diz Khawaja. «Nós queremos restaurar o califado (união de todas as nações islâmicas em um Estado sob as leis de Deus, da Espanha até a Indonésia). Todos os muçulmanos devem morar num só reino, como antes. Para isso nós podemos nos levantar, com armas nucleares, bombas eletrônicas, gases venenosos, contra os infiéis. Escute, cada faraó tem um Moisés. Nós não pararemos até que cada faraó, em todo o planeta, seja derrotado. Se todo o mundo já for muçulmano, mas se a imagem dourada de Tutancamón ainda estiver inteira no Egito, então iremos destruí-la. É escandaloso que as pessoas ponham valor numa imagem. Matéria não necessita de amor nem de cuidado. Trata-se de amor a Deus e ao semelhante».
Com Alá como Deus perfeito e o Alcorão como único livro sagrado no mundo, assim raciocina a Al-Qaeda, serão alcançadas a paz mundial, harmonia e justiça, quando todos sobre a Terra forem muçulmanos. Bin Laden usou em 2003 um texto do Alcorão para deixar claro que a luta durará «até que nenhum fitnah (infiel e adorador de outro deus que não seja Alá) exista e que somente Alá seja adorado». A injustiça continuará a reinar sobre a terra enquanto Satanás não for totalmente destruído, e todos não forem escravos de Deus.
O resultado deste pensamento é que os atentados de Madri são um ato de paz. Eles quebram a base de poder de Satanás, através do que a paz mundial será alcançada.
Quando a Al-Qaeda, em novembro de 2002, participou por escrito numa ampla discussão entre intelectuais ocidentais e sauditas, os seguidores de Bin Laden justificaram o terror não com argumentos políticos, mas religiosos. Eles escreveram: «Nós os chamamos a fazer parte do Islã, uma religião de unidade e inocência, uma religião de completo amor ao todo-poderoso Alá, ao qual tudo é entregue. É uma pena comunicar que vocês (o Ocidente) sejam a pior terra da História da humanidade. Vocês não respeitam as leis de Deus, mas as suas. Vocês dançam e produzem álcool, jogam e praticam juros. Prostituição e homossexualidade imperam. Vocês devem estar orgulhosos da propagação do HIV e da Sida. Orgulhosos do seu presidente Bill Clinton, que cometeu adultério e foi punido apenas com uma audiência».
Esqueça, portanto, a maneira através da qual olhamos para conflitos e debates. Esquerda contra direita, América contra Europa, nova contra velha Europa, Estado contra indivíduo, pobreza contra riqueza: todos são conceitos inúteis quando se tenta entender e analisar a Al-Qaeda.

Publicado originalmente por groene.nl
Tradução: Marcus Pinheiro de Castro.

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