quarta-feira, 2 de maio de 2007

Um rio de revolta

Palavras para uma tia Das terras em que andei quando menino

Não consigo aceitar a ideia de que de acordo com esse estado de coisas poderia acabar por morrer!,...
Como se me tirassem das mãos um livro que estou a ler com infinita curiosidade. É inconcebível. Mas se fosse apenas isso não seria grave, o mal é que também deixaria de haver outros livros, a vida como códice único.
A vida é ainda medieval./... Continuo igual ao que sempre fui, oscilando entre a ira e o riso que as coisas me provocam, sem meio-termo.../ Ou me enfureço ou me rio, ou ambas as coisas ao mesmo tempo, e ambas no meu íntimo. Não mudo. A doença devia fazer-me mudar, ser mais reflexivo e mais morno. Contudo, a doença não me enfurece nem me faz rir. Se continua a avançar, se se confirma (volto a fazer figas), ir-me-ei observando. Estou assustado.

Do Livro de Javier Marías "Todas as Almas" pp 39-41

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