sábado, 20 de outubro de 2007

Fim-de-semana


Freguesia situada junto ao rio Zêzere, Janeiro de Cima dista 45 quilómetros da sede do concelho. Está localizada num dos extremos do município e confina com o concelho de Pampilhosa da Serra. Ocupa uma área de 11,92 quilómetros quadrados.
Há alguns anos, no “Boletim Municipal” do Fundão, lia-se sobre Janeiro de Cima:
“Inserida na zona do Pinhal e banhada pelo rio Zêzere, é uma pequena e bonita povoação de difícil acesso, cujo principal encanto reside na permanência de um cariz primitivo de grande interesse e na paisagem que proporciona a quem dela se aproxima. Rodeada de cabeços nus e de alguns penhascos, torna-se difícil distinguir as serras propriamente ditas de entre uma grande profusão de colinas, lombas, barrancos, cabeços e valeiros, numa estranha sucessão de curvas suaves e graciosas, onde o rio e a montanha se unem”.

União foi o que existiu durante séculos entre Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo, freguesia pertencente ao vizinho concelho de Pampilhosa da Serra. Estas duas freguesias andaram ligadas durante muito tempo e ambas fizeram parte integrante do mesmo concelho até aos meados do século XIX. A mais antiga é Janeiro de Baixo, que já existia ao tempo do arrolamento paroquial de 1320, aparecendo a sua igreja taxada em 80 libras. Esta freguesia viria a tornar-se um importante centro religioso de uma extensa área de aquém e além Zêzere, do qual por desagregações sucessivas se constituíram as freguesias de Janeiro de Cima, Bogas de Baixo e Orvalho.

Janeiro de Cima foi um curato anexo à vigairaria de Janeiro de Baixo e da apresentação do vigário. O cura, como o próprio escrevia nas “Memórias Paroquiais” de 1758, tinha “de renda todos os anos vinte e sete alqueires de pão, metade centeio e metade trigo, quinze almudes de vinho, dois alqueires de azeite, nove mil réis em dinheiro e o pé de altar”. A freguesia não tinha donatários, sendo da coroa, e fazia parte da comenda de S. Domingos de Janeiro de Baixo e Santa Maria da Covilhã.

Sobre a sua igreja, relatava o Pe. José Pereira: “tem quatro altares: o da capela-mor, aonde está colocada a Senhora da Assunção, e Santa Rita e o Santíssimo Sacramento; e os outros três é um do santo Cristo, outro de Santo Amaro, outro da Senhora do Rosário. E não tem mais do que a Irmandade das benditas Almas”. E continuava: Tem uma ermida do Divino Espírito Santo longe do dito lugar cinco ou seis tiros de uma bala, e pertence ao mesmo povo. Não acode a ela romagem em tempo algum do ano, só o mesmo povo costuma todos os anos em domingos desde a Páscoa e até ao dia do mesmo Espírito Santo fazer-lhe sua festa cantada a leigal, e no mesmo dia do Espírito Santo dar um bodo a quem se acha presente, que vem a ser dois bolos, quatro copos de vinho, dois covilhetes de tremoços”.

Notáveis são as diversas informações que fornece sobre o “rio desta terra”. A começar pelo nome do mesmo, que faz derivar de Júlio César, por este general romano “ter habitado” ou acampado nalgum ponto estratégico do rio. Também “é certo que em algum tempo se tirou ouro ou outros metais de suas areias e voltas deste rio, e a razão é por ainda se conhecerem as levadas que vêm do mesmo rio por penhas e terras fragosas mais de duas léguas e estarem muitos sítios cavados e demolidos, as quais minas dizem alguns que foram feitas pelos mouros, outros dizem que pelos romanos, e ainda no tempo presente costumam algumas pessoas tirar fagulhas de ouro do mesmo rio, digo, de suas areias”.

Janeiro de Cima tem nos últimos tempos exercido uma grande atracção turística.

Um dos principais pólos de interesse é a sua arquitectura típica com ruas muito estreitas, calcetadas com pedras do rio. Conservam-se ainda muitas casas de pedra nua, sem reboco.
O outro forte atractivo desta terra gira em torno de velhas tradições que vai mantendo, especialmente as relacionadas com a preparação do linho. Tradição multissecular destas gentes, a cultura do linho encontra-se novamente bem viva, depois de um longo período de adormecimento. Assim, o linho voltou a ser amaçado, tascado, assedado, estripado, fiado, dobado, corado, enovelado, pesado, urdido e tecido para dar origem a lindíssimas colchas e outras peças de linho.

Mas, muito mais há para descobrir por parte de quem se deslocar a Janeiro de Cima e, como alguém disse, puder “aproveitar, enquanto é tempo, os arquivos vivos, autênticos e fidedignos, depositários deste tesouro simples e rústico, natural e verdadeiro, profundo e surpreendente que é a nossa aldeia entre o pinhal e o rio”.

Uma aldeia onde ainda há pouco os moradores usavam “barca de passagem” para atravessar o rio.
Uma aldeia onde, a cada passo, deparamos com saudações como “Bom dia, Deus te guarde” e “A paz do Senhor seja contigo”.

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