sábado, 24 de maio de 2008

Caudilho

Estará por aí a nascer um caudilho


Pobre país que se habitua a viver com as estatísticas que o mostram campeão das desigualdades. E pouco importa ser o primeiro na União Europeia, ou ultrapassar os norte-americanos, bem mais importante é saber que não sabemos fazer o caminho para inverter a situação.

E este pobre país nem pode queixar-se, apenas, do Poder Executivo e do Poder Legislativo. A desigualdade não se resolve por decreto. Somos nós todos, cidadãos de meia-tijela, que aceitamos viver assim. Há cinco séculos demos novos mundos ao Mundo, saindo de barco à procura do desconhecido, mas hoje não somos sequer capazes de dar a nós próprios a vontade de ter novas ideias. Ideias que façam a diferença, que nos transformem em gente mais justa e mais solidária. Queremos ser ricos e ponto final.

Precisamos de políticos com coragem e sabedoria para propor um outro modelo de sociedade aos portugueses. Um modelo onde ninguém tenha de deixar de sonhar em ser rico, onde ninguém seja impedido de lá chegar com trabalho, com mérito ou com sorte, mas em que não aceitemos que alguém viva sem nada tendo nós muito de sobra.

Cada vez mais, a inteligência colectiva de uma sociedade revela-se na forma como distribui a sua riqueza e não na capacidade de a fazer crescer. Até porque a riqueza bem distribuída potencia a criação de mais riqueza. É assim e não ao contrário, como nos têm dito os centralistas do regime de há muitos anos para cá.

A globalização teve o grande mérito de dar a centenas de milhões de seres humanos a capacidade de consumir, mas neste modelo de sociedade que se espalha pelo Mundo fica mais difícil ser pobre. O dinheiro circula hoje com mais facilidade, mas os direitos não são para todos.

A crise, que é financeira e nasceu na América, não afecta os que mais têm. Lá, como cá, são os pobres quem já não tem dinheiro para pagar as favas. Falhada a ideia de criar estados socialistas, caído o muro de Berlim, os socialismos mais democráticos aproximaram-se do Centro. E aproximaram-se de tal forma que se confundem muitas vezes com os partidos de Direita. Não é uma coisa portuguesa, é do mundo ocidental, muito à imagem do Tio Sam em que os republicanos são de Direita e os democratas são um pouquinho menos.

É a Esquerda que tem de procurar novas soluções. Se isso não acontecer, vão crescer os populismos e não estaremos muito longe de viver as tragédias dos sul-americanos que, fartos da realidade, acreditam em todo o tipo de promessas.

Quantos mais são os deserdados do regime, maiores são as possibilidades de Portugal ser governado um dia por um caudilho tipo Hugo Chávez. Num país de corporações e de egoísmos, basta que alguém prometa tudo a toda a gente.

Paulo Baldaia escreve no JN, semanalmente, aos sábados

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