quinta-feira, 16 de julho de 2009

a linguagem e a experiência de dois artistas


Dois formadores ensinam como se trabalha o xisto

São de Janeiro de Cima, concelho do Fundão, e têm sido solicitados para dar formação profissional em xisto um pouco por todo o pais. Muitos são os que têm aprendido com eles um saber antigo

Fomos encontrar os protagonistas desta reportagem com, claro, as mãos a trabalhar o xisto. Até porque desde que optaram por se especializar nesta arte, muito do seu tempo é gasto no trabalhar desta pedra.

Vitor Corte, de 35 anos, e António Silva, de 38 anos, são dois pedreiros de Janeiro de Cima, concelho do Fundão, e detentores de um curso de formação de formadores que lhes permite dar aulas de formação profissional na arte de trabalhar o xisto. São os únicos, formadores desta aréa, numa região onde o xisto foi a matéria‑prima de excelência para a construção de habitações durante largos perìodos de tempo. Depois, o cimento e os tijolos substituíram o barra e as lajes de xisto e as aldeias foram adquirindo uma outra configuração, talvez mais moderna, mas não mais bonita.

Porém, hoje, esta antiga técnica de construir com xisto está novamente a conhecer algum desenvolvimento quer devido a iniciativas particulares em construir casas tipicas para habitação própria, quer de acções de reabilitação, decorrentes do "Plano das Aldeias do Xisto", que contempla 23 aldeias de 13 concelhos do Pinhal Interior. Formar pedreiros na arte de trabalhar o xisto é uma das tarefas que estes dois pedreiros desempenham e as solicitações não têm faltado para darem aulas de formação um pouco por todo o país. De resto, Vitor Corte está a dar aulas de formação todas as sextas‑feiras em Pedrògão Pequeno (Sertã) até ao dia 18 de Junho. O formador nas artes de construir com xisto revela que esta paixão surgiu "pelo gosto por este material e também para manter a tradição que hà aqui em Janeiro de Cima". A técnica de trabalhar o xisto aprendeu‑a "com pessoas de mais idade. Também fomos tomando conhecimento de outras técnicas que não eram utilizadas antigamente. Depois transportamos algumas técnicas antigas para os dias de hoje. Por exemplo, a mistura do cimento com o barro. Antigamente era só o barro e o xisto", refere.

O trabalho com os velhos mestres determinou o apuramento da técnica e deu‑Ihes bases sólidas para aliar os modernos materiais de construção com o saber secular de construir casas em xisto. O resultado é que, depois de aperfeiçoada a técnica de trabalhar o xisto, esta dupla teve a iniciativa de se inscrever numa acção de formação para formadores e conseguiram ver a sua vertente de trabalho ser validada para âmbito de formação ao tirarem o curso de formação de formadores, através da associação Pinus Verde, nesta vertente considerada inédita.

"Agora temos um bocadinho de trabalho. Somos solicitados para dar formação au nivel das aldeias onde se fazem cursos nesta àrea. Já estivemos em Miranda do Corvo, Lousã, Pedrógão...", diz Vitor Corte. Uma opinião partilhada por António Silva, que adianta que "estamos já a especializar pessoas nesta àrea, pessoas que não percebiam nada do assunto e que agora jà conseguem fazer algumas coisas na àrea do xisto".

No ramo, são os únicos que desempenham estas função de formadores nas artes do xisto, dizendo que "estamos inscritos na bolsa nacional de formadores e onde já se constou que já tentaram arranjar alguém para dar outros cursos, mas não conseguiram, por não haver ninguém ligado a esta àrea''.

Fruto desta "raridade", os dois pedreiros, podem ver a considerar a dedicação exclusiva à formação: " se chegássemos ao ponto de termos muitas solicitações, deixávamos a contrução e dedicávamo‑nos sò a isto. Mas só se valesse a pena, claro", diz António Silva.

Por enquanto ainda não se podem dar ao luxo de deixar os seus empregos na construção civil. Dizem que o dinheiro que ganham com a formação não lhes permite, por ora, pôr, sequer, tal hipótese.

Eles são pedreiros, tal como a grande maioria dos formandos, o que torna a acção de transmissão de conhecimentos muito mais simples, pois a linguagem e a experiência permitem a aproximação. O trahalho desenvolvido por estes profissionais vai sair enriquecido e contribuir, assim, para a beneficiação do patrimònio das aldeias. E, disso tivemos exemplo numa visita a alguns dos trabalhos de recuperação que foram feitos em Janeiro de Cima, com a decisiva ajuda destes dois pedreiros, cujas fotos acima publicadas dão testemunho.

Nuno Francisco - JF n°3010

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