"O Natal é a festa mais bela do cristianismo. Nesta época do ano, em todos os lugares habitados pelos cristãos, se confeccionam presépios cujo objetivo é comemorar a chegada de Jesus Cristo ao mundo. Sua aparência, as vezes exageradamente enriquecida, não nos recorda o humilde estábulo pastoril de Belém, que nos contam as Sagradas Escrituras; porém é uma forma do artesanato e dos espectadores ressaltarem o feito e o significado do nascimento do Menino Jesus.
Na Polônia, as tradições natalinas seguem profundamente vivas até o dia de hoje. Uma das mais expressivas é a confecção e colocação de presépios em casas, igrejas, nas praças das cidades, bem como nas vitrines das lojas, dos escritórios, etc.
Comumente, num estábulo de pequenas madeiras e teto de palha, se colocava a figura do recém nascido Menino Jesus deitado no presépio, juntamente com sua Mãe e com são José. Atrás destes se encontravam as figuras da mula, do boi, e em frente os pastores cercados por suas ovelhas. A estas figuras básicas se foram acrescentando outras, segundo a fantasia do seu criador e foram também se introduzindo mecanismos para fazê-las móveis.
Os significados de todos estes presépios, mais ou menos enriquecidos, eram um só: todos os personagens chegam para render-se à honra da criança recém nascida.
Guiados pelo desejo de aproximar o povo ao significado do Natal, os padres franciscanos tiveram a idéia de colocar presépios nas igrejas, realizar representações de fantoches, bem como atuações representadas por atores amadores, os quais geralmente eram os próprios monges. Nestas representações foram introduzidas uma grande variedade de elementos laicos, textos rimados, alegres e maliciosos, que com o tempo foram se distanciando do conteúdo essencial da representação. Na variedade dos personagens, dos gestos e dos textos se podem reconhecer muitos elementos bastante tradicionais, enraizados nos tempos pagãos. Estes elementos, assim como a hilaridade que despertavam entre os espectadores, levaram a que no século XVIII as autoridades eclesiásticas proibissem que se fizessem as representações nas igrejas. Esse feito, antes faze-las desaparecer, as enriqueceram ainda mais. Os atores ou titereiros saíram as ruas a mostrar sua arte nas praças diante das igrejas ou nas casas dos ricos burgueses.
O progressivo aumento da popularidade destas representações, assim como a difusão do teatro que ia de casa em casa, ocasionou a formação de grupos de atores, assim como a construção de um teatro-presépio tridimensional para as representações dos fantoches. Ambos fenômenos se deram independentemente.
Ainda se têm conservado alguns dos presépios mais antigos na coleção do Museu Etnográfico de Cracóvia, os quais apresentam a forma de simples edifícios com um cenário eo meio, em cima do qual vão duas ou, às vezes, três torres. Mas com o tempo eles foram se embelezando, agregando-lhes uma quantidade maior de torres, balaustradas, pisos e, sobretudo isso, cores obtidas com papel brilhante. Neles se podem notar certos elementos da arquitetura oriental como elevação das torres ou papéis colocados imitando mosaicos. Nos vilarejos, os presépios costumavam ser de pequena dimensão, posto que havia que transladar-los a distâncias maiores. Ao contrário das cidades, onde seu transporte já era facilidado.
Um fenômeno particular foram os presépios feitos em Cracóvia. Durante o século XIX e começo do século XX onde, em sua maioria, trabalhadores de construção civil eram os construtores de presépios; pelo motivo de que na época de inverno não tinham muito trabalho e se viam na necessidade de buscar um trabalho adicional. E estes, para embelezar os seus presépios, começaram a introduzir neles elementos arquitetônicos das construções tradicionais de Cracóvia. Estes foram, então, tomando a forma de um conglomerado específico de torres, claustros, terraços, áticos, janelas, pórticos, etc., onde se colocavam os personagens legendários de Cracóvia, assim como figuras históricas relacionadas com os acontecimentos ao curso da vida local e nacional.
Nos anos trinta deste século, o costume de construir presépios começou a desaparecer, o que preocupou a muitos amantes das tradições de Cracóvia. Surgiu então a idéia de organizar um concurso que promoveria os presépios mais belos, dando assim impulso aos criadores para manter vivo o costume. O efeito foi excelente. O primeiro concurso se realizou no ano de 1937, e os seguintes nos anos consecutivos, com exceção do período de Segunda Guerra Mundial. No ano de 1992 se realizou o concurso de número 50. Um observador sagaz distinguirá, nos presépios, as mudanças paulatinas que através dos anos se produziram em sua construção. Bem como notará a mão e estilo de seus criadores individuais. Estes são artesãos, artistas, amadores, pessoas de diversas profissões, assim como jovens e crianças.
A exposição dos presépios reúne milhares de visitantes que, ano após ano, vem admirar a arte e o trabalho de seus criadores. Estes são expostos não somente em Cracóvia, mas em outras cidades do país e do estrangeiro, despertando sempre grande interesse e admiração. Cracóvia é uma cidade de grande interesse histórico e artístico na Polônia. É a antiga capital do país, uma cidade carregada de história, cheia de igrejas e palácios, como o Castelo Real e uma das mais antigas universidades da Europa. Cidade de cientistas e artistas, cidade de numerosas recordações históricas, de museus, centros culturais e artísticos. Entre eles se encontram o Museu Etnográfico, fundado no ano de 1911 e possuidor de uma rica coleção da cultura popular polonesa e de todo o mundo, que felizmente sobreviveu a duas guerras mundiais."
(Este texto acompanhava a exposição de presépios poloneses apresentados ao público brasileiro no Bosque do Papa João Paulo II em Curitiba de 8 de janeiro de 2002 até 7 de fevereiro de 2002)
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