quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A Ferradura

Há alguns anos, no “Boletim Municipal” do Fundão, lia-se sobre Janeiro de Cima:
“Inserida na zona do Pinhal e banhada pelo rio Zêzere, é uma pequena e bonita povoação de difícil acesso, cujo principal encanto reside na permanência de um cariz primitivo de grande interesse e na paisagem que proporciona a quem dela se aproxima.

Rodeada de cabeços nus e de alguns penhascos, torna-se difícil distinguir as serras propriamente ditas de entre uma grande profusão de colinas, lombas, barrancos, cabeços e valeiros, numa estranha sucessão de curvas suaves e graciosas, onde o rio e a montanha se unem”.

A espiral do tempo

"A gente se quiser até com os olhos vê."
Sr. André, Aldeia Velha

Na serra todos os relógios pararam, mas o mecanismo das horas não se deteve. A espiral do tempo arrastou-nos até ao fim do milénio.
Olhemos para trás antes de começar uma nova era.

O Passado
Do passado restam-nos apenas velhos objectos com as suas histórias cruzadas e algumas recordações numa gaveta qualquer. E no entanto, no recanto puro da memória, guardamos saudade a esses tempos que foram difíceis.
Alguém sabe que lembrança guardarão os nossos filhos destes dias desvairados que lhes damos a viver?
A nossa civilização chegou à sua última encruzilhada: agora, ou consumimos o que resta do planeta ou reciclamos quase todos os nossos hábitos e atitudes.
Olhemos de novo para trás, a colher os últimos ensinamentos, antes de nos aventurarmos para lá da curva da estrada.
O passado não é uma história de encantar. Houve miséria, por vezes fome; e aos filhos da Serra sempre coube, nas alturas da crise, o ingrato papel de espelho onde se reflectiam, ampliadas, as agruras e injustiças do Mundo
Mas a vida simples das gentes serranas encerra uma lição de harmonia, sóbria dignidade e utilização comedida dos recursos, que pode ser o ponto de partida para uma reflexão sobre as características mais perversas da nossa própria Sociedade de Consumo.
Reparemos, por exemplo, no modo como todos os utensílios eram remendados, reaproveitados ou reutilizados em novos contextos. Nada se desperdiçava ou deitava fora; não havia tanto lixo nem se acumulavam objectos supérfluos.

A Arte de Remendar
Cada utensílio era um bem raro, feito com suor do rosto ou comprado à custa de grandes sacrifícios; seria por isso normal que durasse uma vida.
Os sarrões, as gamelas e os funis remendados, a louça quebrada e depois reparada com gatos - estes objectos, depois de passarem de mão em mão, falam-nos agora de um tempo em que poupar era tão normal quanto, hoje em dia, gastar e consumir indiscriminadamente.

A Arte de Improvisar

Por vezes havia que improvisar, com grande dose de imaginação, os utensílios que faltavam ou as ferramentas a que a bolsa não chegava - um serrote, uma escumadeira, um fumigador, um funil, etc.
Assim se cumpria, com bastante mais eficiência do que nos dias de hoje, uma das principais leis do universo.

Objectos com Múltiplas Utilizações
A alenterna de ir regar o milho à noite era a mesma com que se aluminavam as casas; na panela de ferro em que se fazia comida do porco, coziam-se depois as farinheiras; o balde de transportar a vianda do animal também servia para tirar a água do poço; no banco onde se matava o bicho, se mandava sentar o padre pela Páscoa; a cesta onde se acartava esterco servia às vezes de berço a um filho recém-nascido; com a sertã de fritar as filhós faziam-se candeias de quatro torcidas, nos lagares; a gaveta da broa era usada como assento na cozinha; um garfo de ferreiro fazia também as vezes de palito e de arpão para as enguias; com uma bilha de carvoeiro se aquecia a cama no Inverno; numa mala de carpinteiro se guardavam os tarecos para emigrar; os gasómetros das minas também aluminavam as casas dos mineiros; no "cesto de romaria" se enviavam encomendas para Lisboa; a gamela da broa era a mesma da migadura para a sopa ou para as galinhas.

O Futuro
Terras de pão que só dão silvas; levadas atulhadas de cascalho; muros derrubados; portas que dão para casas vazias; telhados que caem para dentro; varandas que apodrecem, debruçadas sobre ruas desertas; pinheiros onde antes havia mato para gado; fogos; eucaliptos depois dos fogos; ribeiras secas; erosão - cresceu um enorme deserto nos escombros da nossa memória colectiva e paira sobre ele a recordação de tempos que foram difíceis.

Mas a Serra é um segredo bem guardado pelas suas gentes. O seu coração ainda bate em todos estes objectos e fotografias que balançam em frente aos nossos olhos. Há neles uma lógica que se esconde e revela, um jogo contraditório de sombras e de luzes; há, já não miséria, mas beleza e harmonia à espera do novo século que se aproxima.

Saberemos nós construir os alicerces desses dias futuros sobre as raízes sãs dos dias passados? As próximas gerações comerão o pão que nós amassarmos.


Dr.Paulo Ramalho, "Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor"

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Al mirall mogut

...Al mirall mogut.
Ouvi a expressão em língua catalã...numa das ruelas do Bairro Gótico...Nesse labirinto de línguas...o significado carecia de importância para mim...Perguntei, pois, a um amigo barcelonês o que queria dizer. « No espelho que se mexeu »...como era o caso, de uma expressão muito pouco corrente, segundo parece, embora ao mesmo tempo me parecesse demasiado longa, a grande distância do momento em que a ouvira pela primeira vez, e que agora essa expressão levava muito tempo a ribombar continuamente no meu interior.
Al mirall mogut, tiro e queda.
A primeira parte, al mirall, que eu julgava ser uma única palavra, significava impulso, salto para cima...
A última parte, mogut, significava a queda, queda repentina e instantânea...


Al mirall mogut, Bashkim Shehu, AUTODAFE 1, Cartografia Do Exílio, pp 101-102

chip

...porcaria de Tempo: tens tudo concentrado num chip: contactos, emoções, afectos, mensagens...
sou, agora, um barco sem bússola: e se rebenta uma tempestade...?...
asas do desejo

O Juiz de Fajão, na Relação do Porto

Um dia mataram um homem na serra da Rocha, e o Juiz de Fajão, que andava Por ali à caça, viu quem o matou.
Mas como esse homem andava de mal com certo indivíduo, puseram as culpas a esse com quem ele andava de mal.

No tribunal, as testemunhas juraram que tinha sido esse fulano o assassino..
O Juiz de Fajão tinha visto, mas não podia ser ao mesmo tempo testemunha e juiz. Tinha de julgar conforme a prova testemunhal, mas também não queria condenar um inocente e deixar em liberdade o assasssino.

Então lavrou a seguinte sentença:


Julgo que bem julgo,
posto que bem mal julgado está!
Vi que não vi, morra que não morra!
Dêem o nó na corda que não corra.
E, lida a sentença, aconselhou o réu a recorrer para a Relação.
Foi o processo para a Relação do Porto, e de lá devolveram-no alegando que não entendiam os dizeres daquela sentença, especialmente aquele «chés-bés, Maria põe palha». Que era melhor lá ir.
Depois entrou, mas ninguém lhe deu cadeira para se sentar. Então ele não se desmanchou; pegou no capote, dobrou-o muito bem dobrado e sentou-se em cima dele.
Perguntaram-lhe então o que queria dizer a sentença, e ele explicou:

«Julgo bem julgo,» porque julguei conforme a prova testemunhal.» «Posto que bem mal julgado está», porque eu vi que o réu está inocente». «Vi, que não vi», porque vi quem matou mas não posso ser Juiz e testemunha». «Morra que não morra, dêem o nó na corda que não corra», porque ele não deve morrer visto que está inocente».

E pergunta o presidente da Relação:

- Então o que é isto que aqui está: «chés-bés, Maria põe palha»?
- Pois os senhores não sabem o que é chés-bés? Até um rapazito sabe o que isso é. Olhe, quando eu entrei estava ali um à porta; se o mandarem chamar, ele diz o que isso é.
Foram chamar o rapazito, e perguntaram-lhe o que quer dizer «chés-bés». Ele respondeu logo: Quer dizer etc., etc.
O Juiz da Relação não se deu por vencido, e perguntou ao Juiz de Fajão:


- Então e isto que aqui está: «Maria põe palha»?

- Sabe, Sr. Dr. Juiz, é que nós lá em Fajão temos falta de azeite para nos alumiarmos, e então deitamos palhas na fogueira para podermos escrever.
Quando a chama vai a apagar-se tem de se dizer: Maria, põe palha! O Juiz da Relação disse então:
- Pois se lá não têm azeite, mande cá uma almotolia que eu dou-lhe o azeite. « Então o senhor Juiz não leva o capote?»
- O Juiz de Fajão nunca levou cadeira donde se assentou.


* A almotolia do azeite
Como o Juiz da Relação do Porto disse ao Juiz de Fajão que mandasse lá uma almotolia, que ele lha enchia de azeite para se alumiar, o Juiz de Fajão, que não era trouxa nenhum, mandou fazer uma almotolia grande, capaz de encher o chedeiro dum carro de bois.
Chamou os latoeiros da terra e dos arredores, e quando a almotolia estava pronta, puseram-na em cima dum carro de bois e lá vão com ela para o Porto.

Chegados ali, bateram à porta do Juiz da Relação, dizendo que iam buscar a almotolia de azeite que estava prometida desde o dia tantos de tal.
A criada, que veio à porta, ficou arrelampada , e foi lá dentro dizer ao patrão: Estão ali uns homens, mandados do Sr. Juiz de Fajão, dizendo que vêm buscar a almotolia de azeite que lhe tinha prometido no dia tantos de tal; mas é uma almotolia que enche o carro!

Ora o Juiz da Relação não tinha dito qual o tamanho da almotolia, e para não dar parte de fraco teve de mandar pedir azeite emprestado para encher a almotolia do Juiz de Fajão.


Contos de Fajão, Monsenhor Nunes Pereira

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Sistema Operativo

La monja webmaster del Vaticano: "No sabemos qué sistema operativo usa Dios, pero nosotros usamos Linux"

Prémio "Pirata da Educação"

(Figura mais sinistra para a Educação em 2006)
Prémio "Pirata da Educação" FAÇA AQUI A SUA ESCOLHA

"a construção de um professor"

Formar profissionais capazes de criar situações de aprendizagem deveria ser o eixo central da maior parte dos programas de formação inicial e continuada dos professores da pré-escola à universidade. Tal visão porém ainda está muito longe do verdadeiro sentido que se deve dar ao termo tornar-se professor.

Uma série de estudos sociológicos demonstram uma clara evolução das profissões: enfermeiros, assistentes sociais, jornalistas e ... professores. Assim, frente aos inúmeros desafios da transformação necessária dos sistemas educacionais o papel do professor deve evoluir de mero executante para o de profissional.

O presente artigo procura refletir um pouco estas transformações necessárias a partir de minha experiência individual e particular como docente. A intenção é desvelar qual é o papel do professor em sala de aula, comprometido com a ação educativa.
sultados exatamente como os esperados. Percebi então, a complexidade do ser professor, do estar em sala de aula e o tamanho da responsabilidade que colocam em nossos ombros. Diante destas constatações, surgiram algumas questões: qual é o papel do professor na ação educativa? E, como deve ser (formado) esse professor?

São questões difíceis de serem respondidas. Principalmente, porque em educação não existem receitas e/ou fórmulas mágicas. Porém, cabe aqui uma reflexão mais profunda sobre estas questões.

Em busca do entendimento de alguns conceitos importantes

Antes de partir para uma reflexão mais profunda, é preciso entender o termo educação. Para Libâneo deve-se reconhecer

`` no conceito de educação a idéia de que o acontecer educativo corresponde à ação e ao resultado de um processo de formação dos sujeitos ao longo das idades para se tornarem adultos, pelo que adquirem capacidades e qualidades humanas para o enfrentamento de exigências postas por determinado contexto social ``(1998, p.65).

A partir disso, é possível vislumbrar uma série de definições para o conceito de educação e quase todas são unânimes num aspecto importante: a educação é vista como um processo de desenvolvimento que se dá num `continuum'.

O problema reside nas formas como cada uma dessas concepções encara o processo. As visões atualmente em voga - e que permeiam o sistema educativo institucionalizado - tendem a conceber a educação não como algo que possa surgir da relação HOMEM X MUNDO, mas trabalham a educação como um produto, onde é necessário lidar com competências e planificações capazes de levar a um resultado previamente sabido e calculado.

Esta visão é claramente perceptível nas novas diretrizes curriculares dos cursos superiores de Comunicação Social. Homologadas meio na surdina em abril de 2001, tais diretrizes privilegiam a formação técnica e consideram as práticas que exijam reflexão, planejamento e pesquisa como entraves à formação de um profissional voltado para o mercado.

Assim, se entendemos que a prática educativa tende a ser vista como um produto, como o final de um processo elaborado e organizado, com um fim estabelecido onde o aluno deve chegar enquanto fruto de competências trabalhadas, poderemos partir para um outro ponto de reflexão: a própria profissão docente, uma vez que , segundo Sacristán (In Nóvoa: 1995), o discurso pedagógico dominante hiper-responsabiliza os professores em relação à prática pedagógica e à qualidade de ensino. Embora isso apenas reflita a realidade de um sistema centrado na figura do professor como condutor visível da ação educativa.

Reflete também como a sociedade atual afeta a escola, transferindo a esta e, principalmente, aos professores, um número cada vez maior de funções, às quais muitas vezes não estão preparados e/ou não possuem a competência necessária para exercê-las e, muitas vezes, são funções não relacionadas diretamente com a nossa profissão. É preciso ter clareza das funções do professor para não sujeitar-se à desprofissionalização. E isso tende a ser um problema quando não se foi preparado para ser professor, como é o caso específico dos profissionais que se tornam professores nos cursos de Comunicação Social, em suas diferentes habilitações.

Ampliando a idéia de prática educativa

Ensinar é uma prática social ou, como Freire (1974) imaginava, uma ação cultural, pois se concretiza na interação entre professores e alunos, refletindo a cultura e o contextos sociais a que pertencem.

Assim, não se pode reduzir o conceito da prática educativa às ações de responsabilidade do professor e que, normalmente, ocorrem em sala de aula. O ato de educar, a ação educativa, transcende às ações dos professores e extrapola os limites físicos da sala de aula. Sacristán (1995) procura definir melhor esta visão a partir da análise das ``práticas aninhadas''.

Tal análise é esclarecedora na medida em que sistematiza a real dimensão da prática educativa e delimita como cada parte deste sistema afeta a prática em sala de aula - ação do professor. Podemos observar, nesse esquema:

a) a existência de uma prática de caráter antropológico, anterior e paralela à escola;

b) as práticas institucionais desenvolvendo-se nesse ambiente cultural onde a escola se inscreve;

c) existência de práticas concorrentes que, embora não sejam da esfera pedagógica, afetam de forma marcante a ação educativa.

Pensar numa prática de caráter antropológico é interessante pois, embora a prática educativa seja anterior à formalização do conhecimento, alguns especialistas, ao refletirem sobre a relação prática X conhecimento, simplesmente ignoram tal fato.

É preciso perceber a existência de uma cultura - sobreposta ao pedagógico e influenciando diretamente na prática pedagógica. Esta cultura será mais importante, do que a própria formação técnica, para o entendimento correto desta prática. Bourdieu define essa cultura como um habitus, ou:

``como um conjunto de esquemas que permite engendrar uma infinidade de práticas adaptadas a situações sempre renovadas sem nunca se constituir em princípios explícitos'' (BOURDIEU In PERRENOUD, 1997, p.39)

ou um

``sistema de disposições duradouras e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona, em cada momento, como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações, e torna possível a concretização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os problemas da mesma natureza''. (p.40)

Isto é, embora se deixe de lado tal discussão, não podemos perder de vista a pluralidade de indivíduos presentes na sala de aula. Cada aluno é um sujeito diferente e o professor também é um sujeito muito específico que, embora tenha freqüentado um curso de formação, possui uma base antropológica (cultural) que poderá afetar o seu desempenho.

Ampliando a discussão iniciada com Sacristán (1995), se pensarmos melhor sobre as chamadas ``práticas institucionalizadas'', poderemos concluir que os professores possuem uma autonomia relativa na medida em que dependem de coordenadas político - administrativas reguladoras tanto do sistema educativo, como da própria escola. Isso derruba velhas idéias que definem a profissão professor como algo carismático e idílico e, em alguns casos, como uma ``tabula rasa'' que será organizada e construída conforme a performance pessoal de cada um - como se o resultado e o sucesso na carreira docente dependesse de uma predisposição à profissão.

Ser professor

Ser professor significa tomar decisões pessoais e individuais constantes, porém sempre reguladas por normas coletivas, as quais são elaboradas por outros profissionais ou regulamentos institucionais.

E, embora se exija dos professores uma capacidade criativa e de tomada de decisões, boa parte dessa energia acaba por ser direcionada na busca de solução de problemas de adequação com as normas estabelecidas exteriormente.

Voltando às nossas questões iniciais, podemos deduzir que, embora o docente não possa definir a ação educativa (enquanto construção autônoma), há a possibilidade da refletir sobre o papel que ocupa neste processo. Mas, sozinho não é capaz de afetá-lo.

Dessa, forma, uma de nossas maiores angústias, pode ser respondida quando se entende a competência docente como algo não traduzível por técnicas ou habilidades. O professor não é um técnico. Assim como ser jornalista não é ser técnico. É ser antes de tudo um sujeito integrado com o mundo e sabedor de seu papel social.

Ser professor significa, antes de tudo, ser um sujeito capaz de utilizar o seu conhecimento e a sua experiência para desenvolver-se em contextos pedagógicos práticos preexistentes. Isso nos leva à visão do professor como um intelectual, o que implicará em maior abertura para se discutir as ações educativas. Além disso envolve a discussão e elaboração de novos processos de formação, inclusive de se estabelecerem novas habilidades e saberes para esse novo profissional.

Ao atuar como professor o jornalista também estaria desenvolvendo a ampliação dos conceitos e sentidos dados à profissão, vista até aqui como um saber eminentemente técnico.

Entretanto, cabe aqui uma ressalva para não incorrermos num erro. Se entendemos que o professor não é um técnico, isto é, que os atuais processos de formação de professores pecam por darem ênfase exagerada aos processos técnico-metodológicos, não estamos dizendo que a prática educativa pode vir a ser construída apenas a partir da experiência. Pelo contrário, embora não se possa estabelecer uma supremacia da teoria sobre a prática ou vice-versa, tanto uma como outra são de extrema importância para o processo de ensino.

O processo deve sempre ser pensado como um processo de: ação - reflexão - ação. Não podemos imaginar uma ação educativa criada puramente a partir da experiência, muito menos como a mera tradução do saber científico. Sacristán (1995) fala, se possível, de um ensino encarado como resultado de um empenhamento moral e ético, onde o professor e o aluno saibam exatamente quais são seus papéis e, o primeiro, tenha consciência de seu inevitável poder.

Retomando a idéia do professor intelectual talvez o maior desafio seja transformar os atuais cursos de comunicação na tentativa da construção de um profissional mais completo. Tais cursos preparam os alunos para algo idealizado onde, todos as metodologias são possíveis e positivas, o processo de aprendizagem dá-se sempre de forma linear e inteligente, todas as escolas possuem boas instalações e equipamentos.

Prepara-se para uma escola ideal, mas muito longe do ``mundo real'' onde quase nunca as condições mais básicas para a ação educativa estão presentes. `` A formação do professor se faz, ainda hoje, com base em estudos e modelos do passado baseados numa realidade ideal que nunca se concretizou'' (RIBAS, 2000, p. 35).

Formação docente e profissionalização

Perrenoud (1997) traz à tona uma nova questão, intimamente ligada às outras aqui colocadas: será que os professores não são ``profissionais'' no sentido correto do termo? Se dissermos não, poderemos levar à idéia de que, atualmente, os professores são amadores, que ora podem ser benevolentes demais, ora são cruéis e sem medidas corretas de avaliação e cobrança. E isso não é verdade.

Quando falamos de profissionalização devemos ter em mente a busca da ampliação deste conceito e isso pressupõe que, na profissão professor, se pensa numa substituição de regras e técnicas preestabelecidas por estratégias orientadas, mais objetivas e por uma ética - ou empenhamento moral.

O conhecimento já não pode mais ser considerado como fragmentado, estático - passível de ser sempre controlado por regras imutáveis e predeterminadas - mas deve ser (re)pensado como um processo em construção. Diante da imensa e incessante evolução técnico-científica, o conhecimento e a forma como o tratamos deve mudar.

Houve uma quebra de paradigma no momento em que começamos a perceber que a ciência não está baseada em verdade imutáveis. Como o processo é constante, sempre há a possibilidade da contradição e o surgimento de novas descobertas. O atual sistema de formação de professores não acompanha nem dá conta desta nova realidade.

Perrenoud (1997)) afirma não ser preciso ir muito longe na busca de uma solução para esta nova etapa de profissionalização. Quando olhamos para os níveis do percurso escolar, podemos observar que, no ensino fundamental, os professores, em sua maioria, não ficam mais presos à aplicação de metodologias, com uso de técnicas e truques, mas buscam a construção de processos didáticos orientados globalmente porém adaptados à diversidade dos alunos, ao seu nível e às condições materiais e morais do trabalho.

Entretanto, quanto mais nos aproximamos dos graus superiores da escolarização menos qualificação pedagógica os professores possuem, embora se exija destes maior conhecimento acadêmico - domínio dos saberes científicos. Isto significa que estes inventam suas próprias práticas. O problema é, a partir de qual qualificação didática?

Isso reflete negativamente na ação educativa, pois a grande maioria dos professores desse nível, não possui experiências pessoais do ensino numa sala de aula. Aí, fazem o que é mais comum, vivem de velhas recordações - como o professor do começo desse texto que se espelhava nos velhos mestres... Mesmo os docentes que passam por cursos de formação, acabam, de certa forma, sendo atingidos por esse efeito, pois em algum momento terão professores que não o foram na prática.

Uma atividade não se profissionaliza além de um certo limite, muitas vezes porque há um certo comodismo com a situação de desigualdade. Para ele, a educação hoje funciona assim. Há um conformismo generalizado com o fato de que parte da sociedade passará pela escola sem uma formação adequada, muitas vezes sem o mínimo necessário.

Numa idéia próxima às abordagens socioculturais, vê-se na sociedade atual uma cumplicidade com a manutenção do status quo, o qual leva a maioria a permanecer à margem do poder e da superação de suas realidades.

Para Perrenoud (1997) a profissionalização só será um progresso quando, do ponto de vista social, o aumento do nível de instrução geral se tornar prioritário, numa tentativa de acelerar uma evolução global da sociedade.

A escola não pode permanecer na forma que se apresenta hoje. É preciso repensar a formação do professor, sempre imaginado um processo de formação ampla e continuada. Porém, esta não deve ser baseada em pequenos treinamentos ou períodos de reciclagem, mas efetivamente contínua, sem prejudicar o trabalho com os alunos e gerando resultados positivos e diretos na prática dos professores.

É necessário a adoção de uma postura mais ``realista e inovadora''. Onde, se possível, deve-se pensar um processo de formação de profissionais capaz de garantir um conhecimento mais crítico, uma visão mais ampla dos códigos e elementos culturais, bem como uma melhoria da percepção do espaço visual e corporal dos sujeitos e um domínio amplo de metodologias mais apropriadas para lidar com a diversidade, bem como uma capacidade de maior diferenciação das intervenções e de gestão.

Além disso, esse processo deve habilitar o professor a, de forma autônoma, utilizar-se dos instrumentos e práticas de avaliação formativa e, por fim, que este professor tenha a capacidade do diálogo, em qualquer nível.

A formação deve também garantir a própria ação educativa, (re)construindo-a a partir das reais necessidades do grupo, considerando que, embora se deseje trabalhar todos os conteúdos estabelecidos e se busque lançar mão das mais modernas e criativas tecnologias educativas, um professor não consegue dar conta do todo preestabelecido.

Nessa formação tem que ficar claro que relação de ensino é uma relação do âmbito do desejo. Ela deve, necessariamente, ser entremeada por jogos de sedução e manipulações. É preciso provocar o desejo no outro. O aluno deve ser visto como um sujeito de corpo inteiro, que tem sua identidade, sua cultura, necessidades e interesses e a classe é um lugar de grande diversidade e pluralismo. Não podemos olhar para um grupo de alunos como se todos fossem exatamente iguais. Exemplos claros podem ser vistos nos cursos de Comunicação Social, em disciplinas do chamado núcleo comum, como Fotografia - a minha área de docência - cujo programa deve ser adaptado a cada uma das habilitações existentes. Além disso, temos alunos de diferentes origens sociais, culturais e econômicas o que nos dá classes com uma heterogeneidade de habitus e diretamente influenciando o processo de aprendizagem.

Deve-se ressaltar ainda que a ação educativa é complexa e, mesmo que se faça necessário um planejamento prévio das ações, o tempo real é diferente. Embora nós desejássemos alunos criativos, cooperativos e ativos, eles não são sempre assim. Na sala de aula veremos conflitos, alunos aborrecidos e cheios de mecanismos de fuga e de defesa.

O processo de formação de um professor intelectual pode ser organizado a partir da participação em grupos de debates e sessões de leitura. Mesmo não gostando de receitas ou modelos, Perrenoud (2001) imagina que o processo de formação poderia ser construído com base em ``paradigmas elucidativos''.

Estes paradigmas seriam estabelecidos a partir das teorias de comunicação; de referências psicanalíticas e orientação psicossociológica ( dinâmicas de grupos, liderança, redes de comunicação, atitudes); noções profundas de antropologia social e cultural; formação sobre os objetivos pedagógicos e avaliativos; elementos de sociologia da educação; e, por fim com uma reflexão epistemológica e didática sobre as aprendizagens e o ensino em comunicação.

Isso nos leva em direção ao modelo do

``professor profissional ou reflexivo onde a dialética entre teoria e prática é substituída por um ir e vir entre PRÁTICA - TEORIA - PRÁTICA. O professor torna-se um profissional reflexivo, capaz de analisar as suas próprias práticas, de resolver problemas, de inventar estratégias. Sua formação apóia-se nas contribuições dos praticantes e dos pesquisadores, ela visa a desenvolver no professor uma abordagem das situações vividas do tipo AÇÃO - CONHECIMENTO - PROBLEMA, utilizando conjuntamente prática e teoria para construir no professor capacidades de análise de suas práticas e de metacognição.'' (ALTET In PERRENOUD, 2001, p. 26)

Outros modelos poderiam ser sugeridos, mas o que talvez seja mais evidente é pensar este processo de formação como a possibilidade de uma reflexão consciente sobre a ação educativa.

Considerações Finais

O ensino (ação educativa) não deve ser colocado como algo apenas da esfera da escola (enquanto instituição organizada e voltada para a educação). O processo de ensino permeia todos os níveis de nossas vidas e da sociedade e, ao olharmos para qual é o papel do professor em sala de aula, devemos ter em mente não mais a idéia de formação de sujeitos aptos a atenderem às exigências do mercado - como mão-de-obra especializada e/ou consumidor.

Significa perceber o processo de ensino com um processo de construção - através da ação reflexiva - de um sujeito completo, um homem consciente de seu papel social, mais tolerante e respeitador das diferenças, que sabe coexistir... e que traz em si a consciência transitiva (Paulo Freire) da superação, da mudança e do agir.

Como Paulo Freire dizia, temos que nos lembrar que toda ação educativa deve ser feita no sentido de levar o homem a refletir sobre seu papel no mundo e assim, ser capaz de mudar este mundo e a si próprio.


"Reflexões sobre o ser professor: a construção de um professor intelectual"
Jorge Carlos Felz Ferreira - Especialista em Comunicação - PUCSP, mestrando em Comunicação Social pela UMESP. Jornalista e fotógrafo, foi Coordenador do Curso de comunicação da FAESA (ES), onde trabalha desde 1996.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

O nosso serviço nacional de saúde

..MEDICOS EM PORTUGAL!.... Divulguem a palhaçada deste "nosso" serviço
nacional de saúde.

"No dia 03/10/2006 num daqueles programas da manhã da SIC ou TVI
esteve como convidado um senhor, humilde, a contar uma história que
ultrapassa a compreensão:
Faz três anos ficou COMPLETAMENTE CEGO fazendo uns trabalhos de
soldadura. Fartou-se de ir a os médicos do serviço nacional de saúde,
médicos e mais médicos, horas e horas de espera para as consultas,
etc. Os médicos tinham dito que o caso não tinha cura, e que só
poderia ser observado para obter ALGUMA MELHORIA em Cuba ou Espanha.
Resumindo: ele é pobre, e o nosso serviço nacional de saúde não se
preocupou em canalizar o homem para ser visto no estrangeiro (é um
direito consagrado). Ele queria suicidar-se, pois não queria mais viver
assim. Por coisas da vida, o seu filho é casado com uma UCRANIANA, (um
país pobre??? !) e ela através de familiares na UCRANIA tentou levar o
sogro por CONTA DELES PROPRIOS para ver se poderia haver esperança.
CONCLUSÃO:
Ele chegou à UCRANIA de manhã e foi levado de IMEDIATO para o serviço
médico para dar entrada. NESSE MESMO DIA . Às duas da tarde, fez uma
cirurgia com LASER. ACONTECEU UM MILAGRE!!!
Quando ele acabou a sessão laser, JA ESTAVA A VER O MÉDICO.
MILAGRE?????? NÃO!!! A ISTO CHAMA-SE MEDICINA E
TECNOLOGIA!!!
EU ACRESCENTARIA QUE ALÉM DE SE EXERCER MEDICINA , HÁ RESPEITO PELO "SER
HUMANO". AS PESSOAS SÃO RESPEITADAS COMO TAL.
EM PORTUGAL O DESGRAÇADO NUNCA MAIS RECUPERARIA A VISÃO! TRES ANOS CEGO
E RECUPEROU A VISTA EM MINUTOS!!!!! O homem chorava ao contar isto (ele chegou
de lá há cerca de um mês)

MAIS... NÃO PAGARAM NADA........ RIGOROSAMENTE NADA
SÓ pagou as gotas que tem que deitar nos olhos! O homem ainda foi falar
ao Ministério da Saúde (Português), mais foi deitar água num cesto...

Que vergonha este nosso s.n.s. (serviço nacional de saúde) !!! que
deveria ser escrito com maiúsculas ( S.N.S.), mas não merece sê-lo.

Divulguem. É PRECISO QUE OS NOSSOS GOVERNANTES SE SINTAM ENVERGONHADOS.

TALVEZ ASSIM TOMEM MEDIDAS, PARA QUE TODOS TENHAMOS DIREITO A
SER TRATADOS
DIGNAMENTE NAS HORAS EM QUE MAIS INFELIZES NOS SENTIMOS - QUANDO NOS FALTA A
SAÚDE.

Nota muito Importante
Acrescento que a vacina para o Cancro do cólon do útero que em Portugal
foi colocada agora a venda pelo preço de + ou - 500€ . "Exemplo de
referencia em França é gratuita ".
Realmente ... que País o nosso!


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Los defensores de los derechos humanos piden la libertad del bloguero egipcio encarcelado

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Ella es la mujer más sexy del planeta, según Playboy

sábado, 24 de fevereiro de 2007

"Estão a destruir a escola pública de qualidade e a contribuir para a destruição do Interior"

MÁRIO NOGUEIRA
«Ministério está a ameaçar qualidade da escola pública»

O coordenador do Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC) acusa o secretário de Estado da Educação de falta de cultura democrática e de não saber lidar com as organizações sindicais. Mário Nogueira considera que as políticas da actual equipa do Ministério “ameaçam a qualidade da escola pública” e que o Governo está “a atacar tudo o que mexe no Interior”

JORNAL DO FUNDÃO – Que comentário lhe merecem as críticas feitas pelo secretário de Estado da Educação em entrevista ao JF?

MÁRIO NOGUEIRA – Faz parte da índole daquele senhor secretário de Estado, e que, aliás, é visível nas relações que tem com parceiros educativos e organizações sindicais, lidar mal com as regras da democracia. Para se ser membro de um governo num país democrático, como o nosso, tem que se saber funcionar em democracia e ele tem essa dificuldade. É natural que ache que os sindicatos estão a mais, quando criticam o que ele faz. Em relação a esse secretário de Estado, há, aliás, uma coisa que é consensual. Todos têm má opinião sobre esse secretário de Estado, mas um dia destes ele sai e a Educação ficará melhor do que tem estado com ele. Com aquilo que está a fazer, esta equipa ministerial está condenada ao fracasso e ficará numa das páginas mais negras da história da Educação em Portugal.

Mas não faltam vozes a acusar os sindicatos de funcionarem como travão à mudança....

Nós somos de facto contrários às mudanças quando elas são para pior. São necessárias mudanças, temos inclusivamente várias propostas concretas mas que têm sido completamente ignoradas pelo Ministério da Educação. Não estamos contra as aulas de substituição, nem contra as actividades de enriquecimento curricular. Estamos sim contra a forma como elas foram implementadas. As escolas têm que ter competência para se organizarem.

A ministra tem dito publicamente que devem ser as escolas a organizar-se nessa matéria....

Um Ministério da Educação que se acha no direito de fazer um despacho a dizer qual é o tamanho dos cacifos que as escolas devem ter reconhece qualquer autonomia às escolas? Nesta questão da substituição de professores, o Ministério limitou-se a criar nas escolas uma espécie de piquete como existem nos serviços de água, de electricidade e dos telefones. Os professores têm a sua componente lectiva e uma outra não lectiva para trabalho no estabelecimento, algumas delas para substituição.

Qual é a opinião do sindicato sobre as aulas de substituição?

Não somos contra as aulas de substituição. Defendemos é que deve respeitar-se o que a lei dizia, como acontecia aliás, nalgumas escolas. Quando os professores precisam de faltar devem comunicar às escolas até à véspera para a escola se organizar e a substituição ser feita preferencialmente por alguém do grupo disciplinar ou da turma. A substituição deve ser considerada serviço lectivo. A lei dizia que as substituições são serviço extraordinário, como alías acontece noutros países da Europa, mas o Ministério tentou fazer crer que é uma responsabilidade dos professores para não pagar esse serviço.

Além das três sentenças que deram aos professores, há outros processos em apreciação nos tribunais?

Neste momento haverá 30 a 40 processos em tribunal e bastam mais duas sentenças positivas para que, a partir daí, todos os professores, poderem reclamar à sua escola, no espaço de um ano, o pagamento desse serviço.

Se os tribunais vierem a dar razão aos professores em relação às aulas de substituição que verba poderá estar em causa a nível nacional?

Penso que serão alguns milhões de euros. Na entrevista ao JF, o secretário de Estado desvaloriza esta questão e os próprios tribunais, porque tirando aquilo que ele faz todo o resto não vale, esquecendo-se que se houver mais duas sentenças no mesmo sentido, milhares e milhares de professores reclamarão o pagamento de trabalho extraordinário desde Setembro de 2005 até 19 de Janeiro de 2007.

Como justifica o facto de tão poucas escolas terem avançado com aulas de substituição antes de toda esta polémica?

Não basta haver profesores é preciso também haver condições para o efeito. E da parte de outras equipas do Ministério da Educação nunca houve a preocupação de que funcionassem.

Mas a actual teve essa preocupação e o resultado foi o que se viu...

As aulas de substituição não devem funcionar ao arrepio das leis e de qualquer forma. Nos períodos das aulas de substituição a indisciplina dos alunos aumenta de uma forma brutal. A forma como tudo isto foi organizado não teve em conta as dinâmicas de trabalho nas escolas. Um dos problemas desta equipa ministerial é não ter menhum educador de infância, nem um professor do ensino básico ou secundário. Tem três professores do ensino superior, entre os quais a ministra que é investigadora, mas falta quem conheça, de facto, as escolas.

O Sindicato não reconhece valor a nenhuma das medidas da actual equipa do Ministério da Educação?

Reconhecemos a bondade de algumas ideias e intenções, mas como a equipa ministerial desconhece as escolas, não têm depois aplicação na maoria dos casos. A abertura de novos cursos tecnológicos nas escolas no âmbito do programa Novas Oportunidades é uma mudança positiva mas não foi feita por esta equipa ministerial. É uma medida do governo de Durão Barroso. É positiva, mas subsiste um problema. Utilizam-se esses cursos para combater o insucesso escolar e evitar o abandono. Esses cursos são olhados como uma coisa desvalorizada. Somos a favor destes cursos mas em circunstâncias de igualdade. Hoje há alunos que não vão para estes cursos técnicos porque são encarados como uma coisa de segunda.

As relações das organizações sindicais com a actual equipa do Ministério da Educação são mais difíceis do que com as anteriores?

Esta equipa ministerial não respeita os professores nem aqueles que os representam. O sr. secretário de Estado diz que o Sindicato de Professores da Região Centro anda há 30 anos a dizer mal dos ministérios. Entre, outras ignorâncias, desconhece que temos 24 anos de vida, confundindo-nos com outra qualquer entidade, provavelmente com algum partido de extrema direita por onde andou. Ao contrário do que ele diz, muitos contributos temos dado para outras equipas ministeriais.

Quer falar de algum deles?

Por exemplo a anterior revisão do estatuto da carreira docente, em 98, uma matéria extremamente sensível, terminou com um acordo negocial entre a equipa ministerial e a FENPROF, o que é uma impossibilidade com a actual equipa. Havia uma relação de respeito.

E agora não há?

Não. A lei diz, por exemplo, que o calendário e metodologia das negociações devem ser acordada entre as partes, mas este Ministério limita-se a chamar os sindicatos. É a primeira ilegalidade, mas há mais. Não respeita os prazos para entrega de documentos para as reuniões. Numa reunião sobre o processo de revisão chegou ao ponto de querer discutir documentos que só nos pretendia facultar à saída. Claro que não aceitámos e essa reunião não se realizou. Há uma postura, completamente, anti-democrática.

Como decorreu a negociação do processo de revisão do estatuto?

Se pegarmos naquilo que era o primeiro documento do Ministério da Educação em sede de revisão de estatuto e no decreto lei que saiu a 19 de Janeiro, verificamos que retiraram apenas aquilo que a lei não permitia que lá estivesse, como penalizar mães por licença de maternidade e penalizar professores por lhes morrer um familiar directo. O Ministério não abre mão das suas propostas em nada. Não flexibiliza, ameaça e chantageia. Enquanto em Espanha e França se desenvolvem campanhas de valorização dos professores, em Portugal fazem-se campanhas injuriosas contra os professores e a que não são alheios fenómenos de indisciplina e violência acrescidos nas escolas.

Quais foram até agora os momentos mais difíceis?

Esta equipa declarou guerra aos professores.E os professores sentem-se enxovalhados, ofendidos, não reconhecidos. Um dos momentos mais difíceis foi o processo de negociação do estatuto e em que, pela primeira vez, foi possível unir 14 organizações sindicais tão diversas (Plataforma Sindical dos Professores). Chegámos a ser ameaçados de ser chutados para fora da carreira. Isto não é forma de negociar e só acontece nas ditaduras e em regimes democráticos em que o poder tem maioria absoluta e confunde isso com o quero, posso e mando. É a arrogância absoluta. Quem leu a entrevista do secretário de Estado percebe que, para ele, apenas existe ele e mais ninguém. Nem professores, nem sindicatos, nem políticos. Nada. À volta dele é um deserto. Provavelmente no Ministério da Educação é assim... mas como está num regime democrático tem que ter um relacionamento com as organizações sindicais.

O que é que é necessário fazer para a Educação ter melhores resultados?

Não é verdade que Portugal invista na educação o mesmo que os restantes parceiros. Em Portugal a Educação já representou cerca de 6% do PIB, mas actualmente representa menos de 4%. Este ano o governo baixou em 4,5% o Orçamento para a Educação e boa parte (343 milhões de euros) dessa quebra foi em salários na Educação. É preciso investir na Educação, reordenar a rede com base nas necessidades, intervir ao nível dos currículos, adaptar medidas de inclusão e apostar na formação e actualização de professores.

No campo da formação de professores, quais são os maiores problemas?

A formação de professores em Portugal está nas horas da morte. São necessárias mudanças profundas. É preciso fiscalizar e exigir que algumas instituições elevem o nível e a qualidade que promovem na formação inicial. O diagnóstico está feito mas falta a coragem política para enfrentar a realidade e propor medidas às instituições que promovem essa formação. Optou--se por criar um exame para os jovens que acabam de ingressar na profissão e não é aceitável. Se a formação é má é preciso acabar com aquilo que é negativo.

Que alternativa o SPRC propõe para as actividades de enriquecimento curricular?

Somos favoráveis a essas actividades, mas não concordamos que se chame actividades de enriquecimento curricular a actividades que decorrem num horário que deve ser de ocupação de tempos livres. Na entrevista ao JF, o secretário de Estado da Educação disse que há quatro anos atrás, cerca de 300 mil alunos ficavam sem fazer nada depois das aulas e que actualmente estão a aprender graças aos prolongamentos, mas a verdade é que, qualquer dia, as nossas crianças não têm tempo para brincar.

Relativamente à língua estrangeira e como é uma actividade facultativa, há alunos que têm e outros que não, o que gerará desigualdades e dificuldades no segundo ciclo.

As divergências resultam então da forma como as medidas são aplicadas?

Faz-se sempre a opção pelo mais desqualificado, pelo mais barato e não se têm em conta as pessoas. Temos propostas, mas se as apresentamos fazem logo o contrário porque não têm capacidade prática para ouvir ninguém. O conhecimento do sistema não existe apenas nos governantes, que por vezes são bem alheios àquilo que se passa.

No caso das actividades de enriquecimento curricular o que é deveria ser feito?

Quem pode enriquecer o currículo é o professor responsável pela gestão desse currículo mas o que acontece na maioria dos casos são professores contratados pelas autarquias ou por empresas particulares e que nem têm contacto com os restantes professores. A componente de apoio às famílias é fundamental. É a chamada resposta social, que a escola não dá. O Ministério da Educação, se quisesse, tinha um excelente exemplo para ir buscar à educação pré-escolar, onde já existe desde 1998 e foi criada por um governo socialista. Permite que os jardins de infância tenham prolongamento. Temos denunciado à Inspecção-Geral de Trabalho e das Finanças a exploração brutal e desenfreada de professores contratados a quatro, cinco ou seis euros por hora para as actividades de enriquecimento curricular. Claro que tudo isto só possível num país com 40 mil professores desempregados.

Quantos estão desempregados na Região Centro?

Entre oito e dez mil.

O secretário de Estado da Educação responsabiliza também os sindicatos pelos maus resultados da educação em Portugal...

O Sindicao de Professores da Região Centro denuncia os problemas mas sempre que faz uma crítica apresenta uma proposta. Por isso é que somos um sindicato que recebe cartas de reconhecimento e pedidos de apoio da Unesco, da Organização Internacional do Trabalho, da Inspecção- -Geral de Educação, da Assembleia da República, do presidente da Comissão de Educação, António José Seguro. Enviamos as nossas propostas para a comissão de educação e posso dizer-lhe que algumas delas têm tido grande aceitação.

Como é que o SPRC encara o anunciado encerramento de mais 900 escolas no país, no próximo ano lectivo?

Nós não somos contra o encerramento de escolas, mas o encerramento de uma escola implica questões relacionadas com as condições de acolhimento, de transporte, etc. Diz-se que as escolas abaixo de dez alunos são para fechar, mas é preciso justificar o motivo por que encerram. E no terreno quem conhece a realidade são as autarquias. Pediu-se às câmara para elaborarem as cartas educativas, mas depois não se respeitam e passa-se por cima do que está previsto.

Que importância têm as Cartas Educativas?

Depois de aprovadas, homologadas e publicadas têm o peso de um Plano Director Municipal e têm que ser respeitadas. Não se percebe portanto como é que um Ministério da Educação decide encerrar escolas que não estavam previstas. Há problemas gravíssimos de falta de condições. Há transportes de nove lugares que levam 13 e 14 crianças. Há táxis que só podem levar três meninos, mas levam sete e oito. E todas estas situações aconteceram no ano em que o governo aprovou legislação sobre as novas regras de transportes escolares. Isto é uma vergonha. Há meninos que comem em espaços que eram currais de animais. A escola deve ser também um espaço de construção do ser humano, um espaço de civilidade e de cidadania.

Na Região Centro, quantas escolas fecharam as portas nos últimos anos?

Só nos últimos dois anos, fecharam 48% dos estabelecimentos de ensino do primeiro ciclo. E das 900 que estão para fechar no próximo ano lectivo, 600 são na Região Centro. Em apenas dois anos fecharam 1100 escolas, num parque escolar com 2.200. Estão a encerrar escolas, como estão a encerrar maternidades, postos de polícia. O Governo está a atacar tudo o que mexe no Interior.

Quantos postos de trabalho foram extintos com o encerramento dessas escolas?

Muitos. O encerramento de escolas não tem a ver com a melhoria da resposta, mas com razões meramente economicistas. A construção de uma sociedade mais justa e igual começa na escola, mas até nisso este Ministério e em particular este secretário de Estado da Educação têm sido responsáveis por contrariarem a construção dessa escola inclusiva.

Porquê?

Basta ver o que está a acontecer com a educação especial, com o corte de milhares de apoios aos alunos. Ao pretender sinalizar as crianças que terão direito a apoio com base numa classificação médica, deixará de fora milhares de crianças, que para poderem aprender em igualdade de circunstâncias com as outras teriam de ter apoio. Também nisto o Ministério da Educação está a tomar medidas que terão consequências muito negativas no futuro da sociedade em Portugal.

Mas há associações de pais que elogiam a coragem desta equipa...

Quando se tem pela frente um precipício e se continua a avançar é preciso, de facto, ter coragem... Este Ministério da Educação já conseguiu a maior manifestação de professores alguma vez realizada em Portugal, dois dias de greve com elevada adesão, o maior abaixo assinado de sempre com 65 mil assinaturas. As reuniões de sindicato estão a ter níveis de participação como nunca, apesar de este secretário de Estado ter feito um despacho a proibir os professores de participar em reuniões sindicais fora dos seus locais de trabalho, despacho esse que acabou por ser suspenso pelo Tribunal Administrativo de Lisboa.

Que acções estão programadas?

É natural que muito em breve tenhamos acções específicas no âmbito dos professores até porque a FENPROF tem o seu congresso marcado para Abril. Dia 2 de Março, participaremos com 600 professores da Região Centro na grande manifestação que a CGTP promove em Lisboa. Para os sindicatos os problemas não se resumem às questões corporativas, temos a preocupação de defender uma escola pública de qualidade e para todos.

Acha que a escola pública está a ser ameaçada?

Aquilo que estão a fazer aos professores, à educação especial é pôr em causa a escola pública. Aquilo que estão a fazer com o encerramento de escolas no interior é uma questão de política geral porque estão a encerrar escolas como estão a encerrar centros de saúde, maternidades, postos de polícia, os postos dos correios e agora até se ameaça encerrar algumas freguesias.

O interior precisa é de meios para que se possa desenvolver e um dos meios fundamentais para o desenvolvimento é a escola pública, com qualidade, com professores bem formados e valorizados. Este governo, este Ministério e este secretário de Estado da Educação estão precisamente a fazer o contrário. Estão a destruir a escola pública de qualidade e a contribuir para a destruição do Interior.

Jornal do Fundão, Secção Entrevista, edição on-line paga C/data de 22/02/07

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

eLearning e eEuropa

"...O primeiro e mais urgente desses objectivos consiste em explorar logo que possível as oportunidades oferecidas pela nova economia, nomeadamente a Internet. Para o conseguir, os chefes de Estado e de governo convidaram o Conselho e a Comissão a montar "…um plano de acção abrangente eEuropa… utilizando um método aberto de coordenação baseado na aferição das iniciativas nacionais, em combinação com a recente iniciativa eEuropa da Comissão e com a sua comunicação "Estratégias de criação de empregos na sociedade da informação"./...
http://europa.eu.int/ISPO/docs/policy/docs/COM(2000)318/pt.pdf

Com um pé na Mongólia e outro na China

Zamen Uud's train station
http://www.thymos.com/

Welcome to MiningWorld Mongolia 2008


distance-education

http://www.pactworld.org/programs

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

...saindo da vila de Oleiros

..."Ainda que já fora deste distrito metalífero, porém a pouca distância do Zezere, devo referir que saindo da vila de Oleiros caminho de Proença a nova, no sítio chamado o Alto de Fernão Porco, junto à estrada há um grande poço antigo, e junto a ele grandes montes de entulho chamam a esta mina a Cova da Moura. Na encosta do monte e nas suas fraldas há notícia de se terem achado pedaços de quartzo com folhetas de ouro
encravado; e contam que um deste pedaços fora vendido a um ourives pelo preço de 14600 (?).
Quando não tivéssemos achado neste distrito todos os jazigos metálicos, que ficam acima apontados bastavam para fazermos juízo da sua riqueza tantos restos de antiga mineração, quais os mencionados. Estou convencido por estudo e longa experiência que onde aparece uma beta possante, de certo há muitas outras que a acompanham ou
cruzam. Igualmente onde houver qualquer mineração cartaginesa ou romana de alguma consideração podemos estar certos que os jazigos são ricos; porque esses povos não podiam lavrar minas com proveito e duração, que não fossem ricas e abundosas, pela ignorância da engenharia subterrânea, montanística, emetalurgia própria; por não terem as máquinas de extração e esgoto, que hoje possuímos, e pela falta da pólvora para trocar e dar fogo às rochas e matrizes, sem oque pouco se cava em cada ano, ese pouco sai muito dispendioso. Acrescentamos que os mineiros de então, escravos ou criminosos forçados, nem sabiam minas porque o não tinham aprendido; nem podiam ter zelo e atividade: acrescentamos de novo que grande parte destas antigas minas podem ser
desentulhadas, e lavradas outra vez com muito proveito, porque seus jazigos metálicos por via de regra estão intactos desde onível da galeria de esgoto para baixo; eos poços e galerias, existentes são já outras tantas lavras de socorro, de que podemos deitar mão para a nova lavra.
Seria muito interessante e curioso que se fizesse oquadro topográfico de todas essas escavações antigas, que se acham a cada passo pelo nosso Portugal, a que os rústicos chamam furnas, fojos e covas de mouras encantadas; não só a bem da arqueologia lusitânica; mas principalmente para nos servirem de indícios certos, ede estímulo para novos descobertos, e para nova mineração, tanto proveitosa para nós, que havia sido para esses povos industriosos e ricos. Das que tenho visitado, e das muitas outras de que tenho notícias certas ficam fora de toda a dúvida as noticias históricas, que há cerca das grandes riquezas subterrâneas da Espanha, e principalmente da Galícia, Lusitânia e Turdetânia, de cujas porções reformou o nosso Portugal, nos deixaram Políbio, Strabo, Dioscórides, Plínio, Justino e outros. Por uma longa série de séculos, foi Portugal provavelmente para os fenícios, e é certo, para os cartagineses e romanos, o que hoje é para nós o Brasil, e para os espanhóis, o Peru e México. Mas para aproveitarmos estes preciosos dons da providência são precisos ciência, zelo e cabedais. E por que não teremos? Virá tempo em que acordaremos da profunda modorra, em que temos jazido. É de esperar que nessa paternidade mais instruída, será também mais ativa e corajosa. Haja energia e boa vontade, e seremos ricos e felizes (mas desgraçadamente chegamos os portugueses àsituação dos romanos em tempo de Tito Lívio; pois se nós podemos dizer o mesmo que este historiador diria dos seus: “Adhoc tempora perventum est, quitbus nec vitia nostra, nec remedia pati popumus”).

Os minerais são uma fonte de conhecimento e de riquezas: As ...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

ciberdependência

The Internet Addiction Test is the first validated and reliable measure of addictive use of the Internet.
Internet Addiction Test (IAT)

“Lucinda dos Feijões de Peraboa”

É uma figura habitual na Praça da Covilhã há mais de 40 anos e conhecida na cidade como a “Lucinda dos Feijões de Peraboa”. Muitas histórias para contar

O JEITO para o negócio conduziu Lucinda Tomé para a comercialização de feijão. De olhos castanhos vivos, esta simpática senhora, de personalidade forte é sobejamente conhecida na cidade da Covilhã como a “Lucinda dos Feijões de Peraboa”. Quarenta anos passados entre a praça da Covilhã e Peraboa, terra natal que a viu crescer, Lucinda Tomé é a última negociante de feijões de Peraboa.

O sonho pela sua emancipação monetária foi sempre um dos seus projectos. Começou por ir vender os seus produtos hortícolas à praça da Covilhã. Rapidamente, criou uma clientela, que designa de “cinco estrelas”. O sucesso e a vontade de vencer depressa se revelaram. Do feijão ao grão, passando pelo milho, foram as sementes deste negócio promissor. Recorda, com nostalgia, o ambiente da praça da Covilhã, cheio de vendedoras de toda a região: “os pisos do Mercado Municipal eram poucos para acolher tanta gente”.

Das suas memórias, lembra-se do preço do primeiro litro de feijão que vendeu, pouco mais do que alguns escudos. As lembranças soltam-se neste livro de recordações e com algum sorriso vai dizendo: “A primeira vez que fui vender à praça tive de levar o burro”. Mais tarde, vieram as camionetas e com o progresso dos transportes, o conforto. O mercado da cidade serrana era uma das poucas alternativas que as pessoas tinham para escoar os produtos que a terra dava. Nessa altura tinha que se levantar à uma da manhã para chegar às seis horas à Covilhã. “A camioneta tinha que passar pelas quintas e parar em muitos locais. Ao final do dia, o cansaço era tanto que eu e mais a minha companheira Maria Mendes, dormíamos, embrulhadas em sacas à porta da praça, valentes sonecas”, disse.

Fala com grande carinho das clientes e das amigas que tem conquistado. “Tenho clientes habituais que antigamente eram crianças e agora são pais de família”, contou Lucinda.

Aos 62 anos, gostaria de continuar a vender o famoso feijão Catarino na praça apesar do receio das grandes superfícies comerciais. Considera que estes centros têm sido algo responsáveis pela diminuição deste comércio tradicional que sempre pontuou pela qualidade dos seus produtos. “Actualmente a praça está quase reduzida a metade”, lamenta. “Era aqui na praça que se ouviam as sirenes das fábricas, que se falava da vida política e social da cidade. A Covilhã descentralizou privilegiando a periferia. No entanto, os resistentes vão continuando na Praça sabendo, talvez que um dia o mercado da Covilhã possa desaparecer. Mesmo assim, Lucinda Tomé pretende permanecer com o seu negócio até que a saúde a ajude, e durante três dias da semana, o feijão é rei.
Jornal do Fundão - Edição on-line paga c/data 15.02.07 - Secção Regional

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Testemunhos

"Quando era a época das castanhas comia-mo-las assadas à lareira; por vezes a fome era tanta que eu engolia umas cruas, outras a escaldar, outras ainda com camisa, algumas até marchavam com casca, só com medo que os meus irmãos tirassem mais do que eu.
De vez em quando um deles berrava:
- Mãe, o Fernando está a comer as castanhas com camisa!
E, eu com a boca cheia, fazia que não. Entretanto ia enchendo os bolsos para depois".

Fernando Pimenta, Cerdeira

Dr. Paulo Ramalho, Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor

"Havia um velho do Vale Derradeiro que andava a regatear os preços na feira do Mont´Alto. Alguém viu e disse:
- Deixa lá o velho do Vale Derradeiro, que se lhe deres um pontapé no migalheiro chega para pagar a tenda e o tendeiro.
Ora, uns ladrões ouviram isto e logo resolveram ir a casa dele, mas revolveram tudo sem encontrar o dito dinheiro. Então, ameaçaram-no de morte e ele, coitado, teve de dizer que as suas poupanças estavam escondidas no corticito. Eles foram lá e levaram-lhe tudo, tudo, quanto tinha."

História recolhida na Malhada Chã

Dr. Paulo Ramalho, Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor

"Vira-se no Colmeal um que já morreu para o Padre que, coitado, também já morreu:
- Ó Senhor Padre, ficou-me um bocado de carne de porco espetada nos dentes desde o Entrudo até agora. Será pecado comê-la na Quaresma?
Responde-lhe o Padre:
- Bem, homem... se ela já lá está suponho que não será pecado...
Vai ele e atira-lhe:
- Então olhe, muito obrigado pelo indulto. É que eu tenho um presunto espetado nos dentes da forquilha e estou com umas ganas de comer nele..."

História contada por Maria da Luz, da Aldeia Velha, Colmeal

Dr. Paulo Ramalho, Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor

"Estas salas (...) eram caiadas e nessas paredes já muito antigas havia sempre muitos buracos, que davam sempre um aspecto de penúria, pelo que as pessoas, em especial nas quadras festivas, usavam forrar as paredes com papel de jornais que se iam pedir a uns senhores que eram assinantes da Comarca de Arganil, que sempre os guardavam, para esse fim. Assim as paredes eram vestidas com esses jornais, tornando-se limpas e airosas, mas não por muito tempo, uma vez que os jornais eram colados com farinha amassada, que também servia de alimento para os ratos, que logo se encarregavam de destruir toda essa decoração."

António Santos Vicente "Vida e Tradições das Aldeias Serranas"

(...) "Ia a passar coberto de suor, dei as boas tardes a uma vaga forma feminina sentada à entrada da sua furna de troglodita, e recebo, juntamente com o troco de salvação, este juro imprevisto:
- O senhor vai alagado! Quer beber uma pinga? Ele é arreganhado, mas para um remedeio...
- Bem haja...
- Prove, ao menos. Nós achamo-lo bom, porque não temos outro...
Azedo como rabo-de gato, realmente, mas dado com a infinita doçura deste santo povo (...) a quem nenhum desterro, nenhum abandono, nenhuma incultura, nenhuma pobreza consegue avinagrar o coração."

Miguel Torga, "Diário IX" (Piódão, 16 de Dezembro de 1962

"O quarto tinha as paredes forradas com jornais velhos, luxo com que distinguiam o hóspede...
Deitei-me, e passado pouco tempo, qualquer coisa a mexer entre a parede e os jornais produzia uns ruídos que não me deixavam adormecer.
Chamei o meu anfitrião (...) e contei-lhe o que se passava.
Veio e descobriu: - São os ratos, que querem furar os papéis.
Saiu, foi agarrar um gato e deixou-o fechado no quarto de sentinela."

Vasco de Campos, "Serra! Caminhos de um Médico"

"Certo dia, na altura do racionamento (1945/46), vinha o Ti Alberto das bandas do Soeirinho com dois quilos de "açúcar ilegal" dentro da maleta de relojoeiro, eis senão quando topa com a Guarda, que logo o manda parar e pede para abrir aquela estranha mala metálica.
- Com que então açúcar! -Diz-lhe, triunfante, o cabo.
- Que, senhor guarda - responde ele logo. - É potassa!
E assim, por entre sorrisos cúmplices, se saiu o "Ti Alberto relojoeiro" desta embrulhada, continuando sem mais delongas o seu caminho."

História recolhida nos Cepos

Dr. Paulo Ramalho,Tempos Difíceis- Tradição e Mudança na Serra do Açor

Interminavelmente

E não me admiraria nada , a continuar este Inverno do nosso descontentamento, que um dia destes caia o governo.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Covadonga

..."‑ Velho lobo do Hermínio, aproxima‑te - disse Pelágio em tom de gracejo, como que tentando afastar as tristes idéias que lhe oprimiam o espírito. ‑ Que buscas a tais desoras? Tiveste, acaso, em sonhos saudades das barrocas das tuas serras nevadas, e creste que Covadonga era o antro de teu irmão, o javali?

‑ O caçador das montanhas ‑ replicou o lusitano, na sua linguagem pinturesca de bárbaro ‑ não estaria aqui, se a saudade dos lugares em que nasceu lhe morasse no coração. Os homens de além do mar mataram‑lhe ou cativaram‑lhe mulher e filhos quando estes, por seu mal, num dia em que ele perseguia nos cimos da serra os lobos ferozes, ousaram descer com o rebanho aos vales do Munda. Por isso te segui eu, ó godo: tu derramas o sangue dos homens de além do mar, e eu quero derramá‑lo também.

‑ A que vens, pois aqui? ‑ replicou Pelágio, a quem as palavras do celta traziam de novo ao espírito a lembrança de que também ele era, talvez, órfão de irmã querida.

‑ A dizer‑te que um desconhecido chegou ao vale. Repete não sei que nome godo, como o teu; de Hermengarda, me parece. Pede para te falar.

‑ Onde está ele? ‑ exclamou Pelágio, em cujos olhos brilhara a esperança misturada de temor. ‑ Que venha! oh, que venha breve!

E, alevantando‑se, encaminhou‑se ligeiro para a entrada da gru­ta, de onde Gutislo outra vez desaparecera. Antes, porém, que aí chegasse, um velho, cujos trajos desordenados, rotos e cobertos de lodo davam indícios de ter atravessado largo espaço das serranias, entrou na caverna e, arrojando‑se aos pés do duque de Cantábria, rompeu em soluços, sem poder proferir palavra.

Num relance Pelágio o conhecera.

‑ Aldefonso! onde está Hermengarda? Bucelário! onde está a filha do teu patrono?

O velho tentou responder; porém não pôde, e continuou a soluçar.

‑ Entendo‑te: é morta! Nunca mais te verei, minha pobre irmã! ‑ murmurou o mancebo, escondendo o rosto entre as mãos.

Ao gardingo, que durante esta cena se conservara imóvel, fugiu um gemido abafado. Depois, levou o punho cerrado à fronte, como se quisesse conter aí uma idéia dolorosa que tentava resfolegar.

Houve largo espaço de temeroso silêncio. O velho quebrou‑o por fim:

‑ Não; não é morta! Mas, porventura, ainda o seu fado é mais horrível. Jaz cativa em poder dos infiéis. Não me foi dado salvá‑la, e não quis morrer sem vos dar esta nova cruel. Agora...

Um brado de Pelágio atalhou as palavras do bucelário sufocadas pelo choro.

‑ As minhas armas e o meu cavalo! Que me dêem o meu franquisque! Velho vilíssimo, já que não soubeste deixar‑te despe­daçar junto dela, dize, ao menos, onde poderei encontrar os pagãos que cativaram Hermengarda.

Lavado em lágrimas, o ancião narrou‑lhe em breves palavras os sucessos que se haviam passado no mosteiro da Virgem Dolorosa. Ele tinha feito tudo para a resolver a tentar a fuga. "Ainda na cripta fatal ‑ concluiu Aldefonso ‑ através das grades que me embargavam os passos, por vós, pelas cinzas de vosso pai, lhe supli­quei de joelhos que me acompanhasse. Os velhos bucelários de Favila, no meio do tumulto, a teriam, talvez, posto em salvo! Sorriu, porém, das minhas esperanças e conservou‑se firme no seu propósito. Mas Deus tinha ordenado que, em vez de obter o martírio, caísse nas mãos dos agarenos. De todos os que vínhamos em sua guarda, só eu, acaso, pude escapar, misturado com os soldados da Transfretana. Assim, segui por algum tempo os árabes, que se encaminham para o lado de Segisamon. Ao anoitecer, embrenhei‑me nas montanhas. Um pastor que encontrei me serviu de guia, até que cheguei aos pés de meu senhor para lhe pedir a morte e para lhe jurar que estou inocente."

‑ De pé, cavaleiros! Aos infiéis, em nome de Cristo! ‑ gritou o duque de Cantábria, com uma voz que retumbou nas profundezas da caverna."...


Eurico, o Presbítero, Alexandre Herculano
Fonte: HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. 7ed. São Paulo : Ática, 1988 .
Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa
Texto-base digitalizado por: Paula Regina Cícero Yort

A nova arquitectura portuguesa

http://www.fotogramas.orange.es/fotogramas.jpg
..." Os corpos animais, atómicos, não possuem essa possibilidade de subtrair o seu circuito imaginário à fulguração. O trovão da natureza mata os fulminados e despe-os."...
pp 81 Vida Secreta, Pascal Quignard

O espelho de Alice e o "xadrez da blogosfera"

"Agora, olhe bem para mim. Sou uma pessoa que falou com o Rei, eu pessoalmente. Pode ser que você jamais veja outro assim. E para lhe mostrar que não sou nenhum orgulhoso, pode apertar minha mão! - E aqui rasgou a boca num sorriso que ia de uma orelha a outra, inclinando-se para a frente (pouco faltando para uma possível queda do muro e estendendo a mão para Alice. Ela segurou-a, olhando para ele um tanto apreensiva. "Se sorrir mais um pouco" - pensou - "os dois cantos da boca vão se encontrar atrás. E aí não sei o que pode acontecer com sua cabeça. É capaz de cair."
Alice no País das Maravilhas, Lewis Carrol, 1980.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

uma nova atitude

As coisas têm de mudar, dizem as novas correntes da Educação.
Aqui está um exemplo da NOVA ATITUDE que os professores têm de adoptar, a bem dos tempos modernos.

Avaliação de um exercício nos tempos que correm...
(Orientado para professores que têm de mudar... e cumprir as políticas da Srª Ministra...)

QUESTÃO PROPOSTA:

6 + 7 = ?

A . EXERCÍCIO FEITO PELO ALUNO:

6 + 7 = 18

B . ANÁLISE:

A grafia do número seis está absolutamente correcta;

O mesmo se pode concluir quanto ao número sete ;

O sinal operacional + indica-nos, correctamente, que se trata de uma adição;

Quanto ao resultado , verifica-se que o primeiro algarismo (1) está correctamente escrito - corresponde ao primeiro algarismo da soma pedida. O segundo algarismo pode muito bem ser entendido como um três escrito simetricamente - repare-se na simetria, considerando-se um eixo vertical! Assim, o aluno enriqueceu o exercício recorrendo a outros conhecimentos. A sua intenção era, portanto, boa.

C . AVALIAÇÃO:

Do conjunto de considerações tecidas nesta análise, podemos concluir que:

A atitude do aluno foi positiva: ele tentou!

Os procedimentos estão correctamente encadeados : os elementos estão dispostos pela ordem precisa. Nos conceitos, só se enganou (?) num dos seis elementos que formam o exercício, o que é perfeitamente negligenciável.

Na verdade, o aluno acrescentou uma mais-valia ao exercício ao trazer para a proposta de resolução outros conceitos estudados – as simetrias... - realçando as conexões matemáticas que sempre coexistem em qualquer exercício...

Em consequência, podemos atribuir-lhe um...

..."EXCELENTE"...


recebido por e-mail

da planta Zenzereiro

http://pampilhosaimagens.no.sapo.pt/DORNELAS/P5310114.JPG
Conhecido pelos nomes de Zacor e Ozecaro, pelos latinos, o nome Zêzere, dizem, vem da planta Zenzereiro que tem um aspecto forte e resistente e floresce só nesta região junto ao Rio. Árvore grande e copada, os Zenzereiros têm folhas muito verdes, cujas flores são brancas e exalam um aroma agradável que inunda o espaço em seu redor. O mais antigo e corpulento encontra-se junto ao Muro da Quinta pertencente à família Rendoças Granados em Pedrogão Pequeno.

Frank Gehry

Experience Music Project, at Seattle, Washington, 1999 to 2000. Fishdance Restaurant, at Kobe, Japan, 1986 to 1989. Gehry House, at Santa Monica, California, 1979 and 1987. Goldwyn Branch Library, at Hollywood, CA, 1982. Guggenheim Museum Bilbao, at Bilbao, Spain, 1997.

"representation of sexuality"

A history of pornography
A thorough overview with many references.
Sexoteric Blog

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

O Carnaval

1 - A origem do Carnaval
O CARNAVAL
São várias as versões sobre a origem da palavra CARNAVAL. No dialeto milanês CARNEVALE quer dizer: "o tempo em que se tira o uso da carne", pois o CARNAVAL é propriamente a noite anterior à quarta-feira de cinzas.
OS CARNAVAIS FAMOSOS
Os realizados em Veneza, Nice, o de Florença, Nápoles, Alemanha, Rio de Janeiro, Olinda e principalmente o de Salvador.
O SIGNIFICADO DO CARNAVAL
É A MAIOR MANIFESTAÇÃO DE CULTURA POPULAR DO BRASIL, ao lado do futebol. Misto de folguedo, festa e espetáculo teatral, que envolve arte e folclore. Na sua origem, o CARNAVAL surge como uma festa de rua. Porém, na maioria das grandes capitais, acabou alizados antes da QUARESMA.
NA ITÁLIA
Os italianos então adotaram a palavra CARNEVALE "abstenção da carne", sugerindo que se poderia fazer CARNAVAL, ou o que passasse pelas suas cabeças, antes da QUARESMA, numa espécie de abuso da carne, do carnal.
2 - O entrudo
EM PORTUGAL
A festa chegou a Portugal nos séculos XV e XVI recebendo o nome de ENTRUDO, isto é, introdução à QUARESMA, através de uma brincadeira agressiva e pesada.
O ENTRUDO
O evento tinha uma característica essencialmente gastronômica e era marcado por um divertimento, entremeado com alguma violência. Fazia-se esferas de cera bem finas com o interior cheio de água-de-cheiro e depois atirava-se nas pessoas. Os mais ousados, no entanto, começaram a injetar no interior das "laranjinhas" ou "limões-de-cheiro" substâncias mau cheirosas e impróprias e a festa foi perdendo sua alegria. Foi exatamente esse ENTRUDO violento que aportou no Brasil.
A GUERRA DO ENTRUDO
Na segunda metade do século XIX, o jornal Diário da Bahia e a Igreja Católica criticavam e pediam providências às autoridades policiais contra o ENTRUDO. Quando aproximava-se o domingo anterior à QUARESMA, todo mundo ENTRUDAVA. Apareciam pelas ruas em forma de bandos os "CARETAS" envoltos em cobertas, esteiras de catolé, folhas de árvores e abadá - uma espécie de camisa de manga curta que os negros usavam sendo bastante folgada atingindo a curva dos joelhos. O pano de saco de farinha de trigo era o preferido para a confecção do abadá. No ENTRUDO molhava-se quantos andassem pelas ruas, invadia-se casas para jogar água em alguém, não importava que fosse gente doente ou idosa.
3 - Do Entrudo ao Carnaval
EM 1853
O ENTRUDO passou a ser reprimido, mas apesar das ordens policiais, as "laranjinhas" e gamelas com água continuavam existindo, principalmente no bairro da Sé. Foi exatamente neste período que o CARNAVAL começou a se originar de forma diferente, dividindo em duas classes: o CARNAVAL DE SALÃO e o CARNAVAL DE RUA. CARNAVAL DE SALÃO tinha a participação de brancos e de mulatos de classe média. E o CARNAVAL DE RUA contava com os negros e os mulatos pobres.
EM 1860
O Teatro São João, que ficava na Praça Castro Alves, realiza na NOITE DE SÁBADO um arrojado baile de mascarados de CARNAVAL, iniciando com músicas baseadas em trechos da ópera italiana "LA TRAVIATA", seguida por valsas, polcas e quadrilhas. O evento contava com a participação das pessoas de bom nível social, que trocavam os bailes realizados em suas casas, pelo do Teatro São João.
O PERIGO
Na época havia o "perigo" do homem formado e do negociante serem vistos mascarados e em razão disso, as casas de fantasias e cabeleireiros como os famosos "PINELLI" e "BALALAIA" mantinham especialistas em disfarces, com maquiagem e máscaras.
O CARNAVAL NOS BAIRROS
Como os bailes carnavalescos não estavam ao alcance de todos, nem de acordo com a moral de muitos, era necessário estimular a sua ida para a rua. Várias comissões passaram a ser nomeadas pelo chefe de polícia e a comissão central juntamente com diversas outras comissões paroquianas, que distribuíam máscaras, facilitavam a aquisição de outros adereços, bem como a providência de banda de música para quem quisesse brincar o CARNAVAL. Os comerciantes logo aderiram à idéia de olho no melhor faturamento, e começaram a adotar o CARNAVAL em substituição ao ENTRUDO.
EM 1870
Os mascarados avulsos, estimulados pela polícia e os bailes públicos começaram a ganhar terreno, embora as manifestações do ENTRUDO ainda se mantivessem vivas. O ambiente para a realização do CARNAVAL passou a ficar melhor com o surgimento do BANDO ANUNCIADOR, que saía às ruas convidando todos para os festejos.
ORGANIZAÇÃO E COMPETIÇÃO
Nos clubes e teatros, foram surgindo competições entre os grupos e famílias que ostentavam roupas e jóias para mostrar quais associações e entidades eram mais elegantes e grã-finas. O pioneiro Teatro São João passou a organizar seus bailes com UM ANO DE ANTECEDÊNCIA.
EM 1878

Neste ano o grupo de CARNAVAL DE RUA, "OS CAVALEIROS DA NOITE", aparecia pela primeira vez num salão em grande forma, no Teatro São João, causando um verdadeiro "ti, ti, ti", e a aparição acabou se transformando num costume.
EM 1880
Esse ano chegou com mais bailes na cidade. Salvador tinha aproximadamente 120 mil habitantes, a população mais densa do Brasil, e concentrava bons recursos financeiros e grande poder político. Havia, portanto, dinheiro, poder e fartura, e todo esse esplendor passou então a ser retratado nos salões e bailes de CARNAVAL. Vale lembrar que as roupas, adereços, enfeites, chapéus, bebidas, jóias, sapatos e meias usadas nas festas eram importadas das melhores casas de PARIS e LONDRES.
O CAMPO GRANDE - A PASSARELA OFICIAL
Ao mesmo tempo, palanques e bandas de música proliferavam por toda a cidade. Surgiam também vários clubes uniformizados, como os "ZÉ PEREIRA", "OS COMILÕES" e "OS ENGENHEIROS", fantasiados com "CABEÇORRAS" e outras máscaras. Como as comemorações cresciam, convencionou-se que o Campo Grande, ainda um terreno baldio, seria o lugar para os MASCARADOS se reunirem nos dias de CARNAVAL e, de lá, saírem em bandos.
EM 1882
Foi neste ano que o COMÉRCIO iniciou o costume de fechar as portas na TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL, a partir das 13 horas. O CARNAVAL DE MÁSCARAS e o DESFILE DOS CLUBES, ficavam então, mais animados depois das 14 horas.
4 - O 1º Carnaval
DO ENTRUDO AO CARNAVAL
Cinco anos antes da Proclamação da República a Cidade do Salvador, habitada por cerca de 170 mil pessoas, organizou o seu primeiro grande CARNAVAL DE RUA. Era uma festa com grande influência européia, como quase tudo o que existia no Brasil naquela época, com muito luxo, requinte e comentários elogiosos. Fortemente influenciado pelo requintado CARNAVAL DE VENEZA, na Itália, e mesclando a presença de tipos do popular CARNAVAL DE NICE, na França, o CARNAVAL DE SALVADOR deu o primeiro passo rumo à popularização com a participação de muita gente nas ruas.
COMO ERA A CIDADE - 1884
Esse ano é considerado como o 1º ANO DO CARNAVAL, do modo como ele é comemorado hoje. O CARNAVAL de 1884 pegou Salvador num período de crescimento rápido, provocado pelo progresso da agricultura em outras regiões e pelas exigências de um melhor ordenamento do espaço urbano. Respirava-se progresso por todo canto e os comerciantes já utilizavam a PUBLICIDADE nos jornais durante a festa. Tanto as pessoas que se fantasiavam, como as que esperavam o cortejo, vestiam-se a rigor, algumas em ternos de linho, polainas e chapéus.
SURGE O CLUBE CARNAVALESCO CRUZ VERMELHA
Fundado em 1º de março de 1833, o CLUBE CRUZ VERMELHA só veio a participar do CARNAVAL em 1884. O clube organizou um cortejo com rapazes e moças ricamente trajados e a novidade foi apresença de um CARRO ALEGÓRICO, com o tema "CRÍTICA AO JOGO DE LOTERIA", ricamente decorado com peças importadas da EUROPA. O cortejo saiu de uma das ruas do Comércio, subiu a Montanha, passou em frente à Barroquinha, rua Direita do Palácio (rua Chile), Direita da Misericórdia, Direita do Colégio e retornou rumo ao Politeama de Baixo (Instituto Feminino). A iniciativa foi um verdadeiro SUCESSO e ganhou milhares de aplausos e pétalas de flores dos populares que se encontravam nas ruas. O CRUZ VERMELHA mudou basicamente o CARNAVAL.
SURGE O CLUBE CARNAVALESCO FANTOCHES DA EUTERPE
Fundado em 9 de março de 1884, por um grupo de jovens da antiga Sociedade Euterpe esse clube carnavalesco foi apelidado de "FANTOCHES". O grupo era encabeçado por quatro figuras da alta sociedade: Antônio Carlos Magalhães Costa (bisavô de ACM), João Vaz Agostinho, Francisco Saraiva e Luís Tarqüínio. (seu primeiro presidente)
EM 1885 - A DISPUTA MAIOR
Começou, então na imprensa a grande disputa entre os FANTOCHES e o CRUZ VERMELHA. O DIÁRIO DE NOTÍCIAS, o jornal mais influente da época publicou, a pedido do CRUZ VERMELHA, um anúncio de UM QUARTO DE PÁGINA descrevendo a sua passeata. O FANTOCHES reagiu publicando no mesmo jornal o seu programa de festas em TRÊS COLUNAS. No CARNAVAL ambos foram às ruas com temas maravilhosos e indumentárias vindas da Europa. O carro-chefe do CRUZ VERMELHA apresentava "A FAMA" e o Fantoches "A EUROPA". Desfilaram também o "SACA ROLHAS", "OS CAVALHEIROS DE MALTA", o "CLUBE DOS CACETES", o "GRUPO DOS NENÊS", o "CAVALHEIROS DE VENEZA", o "CAVALHEIROS DE CUPIDO", o "COMPANHEIROS DO SILÊNCIO", o "CLUBE DAS PETAS", o "CLUBE DAS FITAS", o "CLUBE DA POBREZA", o "CRÍTICOS CARNAVALESCOS", o "DIÁRIO DAS PETAS", e a "COMISSÃO DO PILAR".
POVO É QUEM JULGAVA
Na época, não havia uma comissão julgadora para estabelecer quem vencia os desfiles e o julgamento era determinado pela imprensa, que media a aprovação da população através dos APLAUSOS. O CRUZ VERMELHA, mais popular sempre vencia, pois o FANTOCHES, mais ligado à aristocracia, tinha uma torcida bem menor. Todas as outras entidades representavam a classe média.
EM 1886
Os negociantes resolvem não mais abrir o comércio na TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL. Os presidentes dos grandes clubes reuniram-se na ASSOCIAÇÃO COMERCIAL com o objetivo de estudar um ITINERÁRIO ÚNICO para todos os préstitos.
5 - O grande carnaval da abolição
EM 1888 - O ANO DA ABOLIÇÃO
O CARNAVAL desse ano foi um dos maiores e mais famosos da história. O CRUZ VERMELHA e o FANTOCHES, irmanados pela vontade de fazer algo definitivo, deram em conjunto um grandioso BAILE NO POLITEAMA. Chegou, enfim, o dia do grande domingo de CARNAVAL. E havia muita gente pelas ruas e nas janelas, e o que mais imperava na cidade, era a ansiedade. O primeiro préstito a surgir foi o CRUZ VERMELHA com tanta coordenação, esplendor e luxo, que a multidão vibrava atirando flores sobre os carros. O segundo a desfilar foi o préstito do FANTOCHES, com a sua magnífica decoração dos carros alegóricos, graça, luxo e gosto artístico, que justificava o delírio de todos. Resultado: FANTOCHES e CRUZ VERMELHA desfilando sobre chuvas de rosas. O CARNAVAL já era uma verdadeira atração, uma realidade conseguida com muita luta e anos de esperança e já se podia, enfim, afirmar que o vencera definitivamente o ENTRUDO.
EM 1894
CARNAVAL era eminentemente da elite dos clubes CRUZ VERMELHA, FANTOCHES e outros, que desfilavam pelas ruas e freqüentavam os bailes dos Teatros São João e Politeama. A população pobre continuava a fazer apenas algumas manifestações.
EM 1895 - SURGE O PRIMEIRO AFOXÉ
Os negros nagôs organizaram o primeiro AFOXÉ, o "EMBAIXADA AFRICANA", que desfilou com roupas e objetos de adorno importados da ÁFRICA.
EM 1896
Surge o segundo AFOXÉ, o "PÂNDEGOS DA ÁFRICA", organizado também por negros. Os grupos representavam casas de culto de herança africana e saíam às ruas cantando e recitando seqüências de músicas e letras. Os AFOXÉS exibiam-se na BAIXA DOS SAPATEIROS, TABOÃO, BARROQUINHA e PELOURINHO. Enquanto os GRANDES CLUBES desfilavam em ÁREAS MAIS NOBRES.
6 - O Carnaval do início do século
EM 1900 - SURGE O CLUBE CARNAVALESCO INOCENTES EM PROGRESSO

É fundado por dissidentes do CRUZ VERMELHA o clube carnavalesco "OS INOCENTES EM PROGRESSO". O nome do clube foi inspirado em um bando de meninos que passava no local cantando e tocando em latas.
EM 1905
Neste momento verificava-se na cidade uma divisão espacial muito séria. Um AFOXÉ rompeu este tácito compromisso e subiu a Barroquinha e a Ladeira de São Bento, gerando protestos, em que se lastimou a QUEBRA deste pacto, não escrito, da DIVISÃO ESPACIAL DE CLASSES E DE RITMOS no CARNAVAL.
EM 1937
Primeiro ano de realização da "MICARETA" em Feira de Santana. A ornamentação de Salvador não se perdia completamente, era carregada pelos responsáveis do tríduo momesco para o interior.
7 - Surge um novo Afoxé
No ano do IV CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DO SALVADOR, foi fundado pelos estivadores do Porto de Salvador o afoxé "FILHOS DE GANDHY", como forma de homenagear o grande líder pacifista indiano assassinado em 1948, o Mahatma Ghandy.
8 - O Trio Elétrico
EM 1950 - SURGE A DUPLA ELÉTRICA
Após observarem o desfile da famosa "VASSOURINHA", entidade carnavalesca de Pernambuco que tocava frevo na Rua Chile, e empolgados com a receptividade do bloco junto ao público, a DUPLA ELÉTRICA resolveu restaurar um velho Ford 1929, guardado numa garagem, e, no CARNAVAL do mesmo ano, saiu às ruas tocando seus "PAUS LÉTRICOS" em cima do carro, com o som ampliado por alto-falantes. A apresentação aconteceu às CINCO HORAS DA TARDE DO DOMINGO DE CARNAVAL, arrastando uma multidão pelas ruas do centro da cidade.
EM 1951 - SURGE O TRIO ELÉTRICO
O nome "TRIO ELÉTRICO" surge somente nesse ano, quando, pela primeira vez, apresentou-se no CARNAVAL um conjunto de TRÊS INSTRUMENTISTAS. A dupla havia convidado o amigo e músico TEMÍSTOCLES ARAGÃO para integrar o TRIO que neste ano, saiu para tocar nas ruas de Salvador numa "PICK UP CHRYSLER", modelo Fargo, maior que a "FOBICA" do ano anterior, em cujas laterais se liam em duas placas: "O TRIO ELÉTRICO".
OS INSTRUMENTISTAS
OSMAR tocava a famosa "GUITARRA BAIANA", de som agudo. DODÔ era responsável pelo "VIOLÃO-PAU-ELÉTRICO", de som grave. E ARAGÃO tocava o "TRIOLIM", como era conhecido o violão tenor, de som médio. E assim estava formado o trio musical mais famoso do CARNAVAL DE SALVADOR.
EM 1953
O poder público municipal resolve abolir a tradição, ameaçando o comércio do acarajé porque, tomando uma atitude não bem esclarecida, resolveu proibir qualquer tipo de fritura na via pública, invocando preceitos higiênicos. A partir daí o baiano não podia mais comer acarajé cheiroso e quentinho nos dias de CARNAVAL.
EM 1958 - A "FAXINA DO GARCIA"

Antes o que existia era uma festa local, chamada de a "FAXINA DO GARCIA". Neste ano os moradores conseguiram então do prefeito o asfaltamento de toda a área e passaram a realizar a "MUDANÇA", que mais tarde, com a política, veio denominar-se de "MUDANÇA DO GARCIA", saindo às ruas com críticas ao prefeito, governador e outras autoridades.
9 - O Rei Momo
EM 1961
É colocada em prática a idéia do desfile do REI MOMO de rua. O primeiro REI MOMO foi o motorista de táxi e funcionário público FERREIRINHA.
EM 1962

Neste ano surge o primeiro grande BLOCO DE CARNAVAL, denominado "OS INTERNACIONAIS", composto apenas por homens. Nesta época, a todo instante "pipocava" um trio elétrico novo, mas os blocos iam para as ruas acompanhados somente de BATERIAS OU GRUPOS DE PERCUSSÃO. Surgiram também as famosas "CORDAS" e as "MORTALHAS" para brincar o CARNAVAL.
EM 1965
O "LANÇA PERFUME" surge no Carnaval do Rio de Janeiro em 1906 e em 1927, é lançado numa embalagem metálica. No ano seguinte, o uso do lança perfume passou a ter outros objetivos. Em 1965 seu uso é proibido através de decreto presidencial, que definiu a medida tachando o lança perfume de "IMORAL E RECONHECIDAMENTE PERIGOSO À SAÚDE".
A DÉCADA DE 70
Os anos 70 fizeram com que o apogeu do CARNAVAL DE SALVADOR fosse a PRAÇA CASTRO ALVES, onde todas as pessoas se encontravam e se permitiam fazer TUDO. Foi a época da liberação cultural, social e sexual.
10 - A evolução do Trio Elétrico
Até os anos 70, os TRIOS ELÉTRICOS eram mais veículos alegóricos, ornamentados quase que exclusivamente com BOCAS SEDAN de alto-falantes. Os amplificadores eram todos com válvulas e, em cima do TRIO, ficavam apenas músicos com a guitarra baiana, o baixo e a guitarra, não existindo ainda a figura do vocalista. Ainda nos anos 70, os "NOVOS BÁRBAROS" ousaram e colocaram algumas caixas de som no TRIO, além de equipamentos transistorizados. BABY CONSUELO surge cantando pela primeira vez com um microfone ligado ao cabo de uma guitarra.
EM 1970
A música carnavalesca "COLOMBINA" é reconhecida oficialmente como o Hino do CARNAVAL DE SALVADOR.
Colombina
de Armando Sá e Miguel Brito
Colombina eu te amei
Mas você não quis
Eu fui para você
Um pierrô feliz

Os confetes dourados
Que alguém de atirou
Não fui eu quem jogou
Não fui eu quem jogou.
EM 1972
A Bahiatursa passa a administrar em parceria com a Prefeitura o CARNAVAL DE SALVADOR.

EM 1974

Como se não bastasse tanta mudança, uma mais radical ocorreu no CARNAVAL DE 74, com o surgimento do bloco afro "ILÊ AIYÊ". A entidade que deu início ao processo de reafricanização da festa, contribuiu para a aparição do afoxé "BADAUÊ" e o renascimento do afoxé "FILHOS DE GANDHY". Era o começo do crescimento cultural do Carnaval de Salvador; que passou a enfatizar os conflitos e a protestar contra o preconceito de cor.
EM 1975
Desfilam neste ano no "CIRCUITO CENTRO" 59 blocos, 19 cordões, 9 escolas de samba, 5 afoxés e 3 clubes alegóricos. A primeira tentativa de realizar um concurso para a escolha do Rei Momo não obteve sucesso. Surge a W.R. Produções "O TRIO ELÉTRICO DODÔ E OSMAR" comemora o JUBILEU DE PRATA e retorna definitivamente à cena carnavalesca após um período de 14 anos afastado. O trio volta com uma nova formação incluindo o músico ARMANDINHO, filho de OSMAR, e muda o nome para "TRIO ELÉTRICO DE ARMANDINHO, DODÔ E OSMAR".
EM 1976
Ano em que deixou de ser usada a "MÁSCARA", introduzida no CARNAVAL DE SALVADOR desde 1834, uma forte influência francesa. Adereço indispensável para complementar as fantasias carnavalescas, a "MÁSCARA", também serviu para esconder dos olhares conhecidos e indiscretos a vergonha de um rosto eufórico. "Você me conhece" ??? Surge o trio elétrico "NOVOS BAIANOS", introduzindo junto com o "TRIO DE ARMANDINHO", o "SWING BAIANO".
EM 1977
O APACHES DO TORORÓ, bloco de índio surgido em 1969, já em processo de decadência, é literalmente invadido, em pleno desfile, por um pelotão de policiais, culminando na prisão de centenas de componentes. Neste ano desfilaram pela última vez as ESCOLAS DE SAMBA que participavam do CARNAVAL DE SALVADOR.
EM 1978
Apesar dos blocos de trio terem surgidos no início dos anos 70, é neste ano com o bloco "CAMALEÃO", que inicia-se a superação do amadorismo vigente entre os primeiros blocos de trio, representando, assim, um marco na emergência destes novos atores do CARNAVAL DE SALVADOR.
EM 1979
Dá-se o encontro entre o AFOXÉ e o TRIO ELÉTRICO, a partir da música, "ASSIM PINTOU MOÇAMBIQUE", de MORAES MOREIRA e ANTÔNIO RISÉRIO. Todo esse processo do "AFOXÉ ELETRIZADO" desembocou na música baiana atual.
11- O Carnaval Moderno
NA DÉCADA DE 80
# No início dos anos 80, a transformação do CARNAVAL DE SALVADOR se intensificou mais ainda e coube ao pessoal do bloco "TRAZ OS MONTES", introduzir algumas inovações, tais como: MONTAGEM DE UM TRIO ELÉTRICO COM EQUIPAMENTOS TRANSISTORIZADOS.
# INSTALAÇÃO DE AR CONDICIONADO PARA REFRIGERAR E MANTER OS EQUIPAMENTOS NUMA TEMPERATURA SUPORTÁVEL.
# RETIRADA POR COMPLETO DAS BOCAS SEDAN DE ALTO-FALANTES.
# INSTALAÇÃO DE CAIXAS DE SOM DE FORMA RETANGULAR.
# ELIMINAÇÃO DA TRADICIONAL PERCUSSÃO, QUE FICAVA NAS PARTES LATERAIS DO TRIO.
# INSERÇÃO DE UMA BANDA COM BATERIA, CANTOR E OUTROS MÚSICOS EM CIMA DO CAMINHÃO.

Todas estas inovações foram inspiradas e aperfeiçoadas no trabalho desenvolvido pelos "NOVOS BÁRBAROS" nos anos 70.
EM 1981
O BLOCO EVA, surgido em 1980 e considerado uma das entidades mais irreverentes e inovadoras do CARNAVAL DE SALVADOR, decide radicalizar ainda mais do que o "TRAZ OS MONTES" e contrata profissionais da área de engenharia para assinarem o cálculo estrutural do NOVO TRIO e de todo o sistema de sonorização que importou dos Estados Unidos, como uma nova mesa de som, além de vários periféricos necessários para o perfeito funcionamento do trio e da banda. Com todas estas iniciativas, o EVA fez com que todos os outros blocos fossem obrigados a investir também em seus trios. O público e a crítica passaram a notar claramente a diferença gritante entre os equipamentos usados pelo EVA e pelas demais entidades e a exigência dos cantores e das bandas também aumenta. O trio elétrico "TRAZ OS MONTES", mais potente do que no ano anterior, em lugar dos 3 MIL WATTS que garantiram o título de "campeão" em 80, foi às ruas com 15 MIL WATTS, dando condições à "BANDA SCORPIUS" de mostrar seu potencial. O "TRAZ OS MONTES" promove um desfile no Farol da Barra para o lançamento do novo "TRIO ELÉTRICO SHOW". O governador assina o Decreto n.º 27.811/81, que determina a suspensão do expediente nas repartições públicas estaduais, além da SEGUNDA E TERÇA-FEIRA, também na SEXTA-FEIRA DA SEMANA ANTERIOR.
EM 1982
Houve tanta gente nas ruas de Salvador que os tradicionais freqüentadores da Praça Castro Alves (intelectuais, profissionais liberais e travestis) ficaram irritadíssimos com a invasão do tradicional reduto liberal. Início do desaparecimento da mortalha como indumentária carnavalesca com a opção do short, bermuda ou macacão, que inclusive dominou os blocos mais avançados.
EM 1983
O CARNAVAL era tratado por áreas ou departamentos isolados, carecendo de integração, quer seja no âmbito de cada órgão, ou no relacionamento entre os mesmos. A partir deste ano, surgiram de 30 a 40 novos ritmos, segundo a W.R. Produções.
EM 1984
Através do Decreto n.º 6985/84, o prefeito cria o GRUPO EXECUTIVO DO CARNAVAL - GEC, com a finalidade de adotar medidas necessárias à realização dos festejos carnavalescos. O CARNAVAL começa a ser pensado como um produto de mercado e é o início da profissionalização e comercialização da festa. Criação de novos espaços físicos para o CARNAVAL, tendo como primeira opção o espaço do FAROL DA BARRA. São instaladas no CAMPO GRANDE as primeiras estruturas metálicas para camarotes e arquibancadas. Ano dos "CEM ANOS DE FOLIA" e para melhor fixação e definição do evento em nível de massas, optou-se pela feitura de uma marca que traduzisse o espírito histórico e comemorativo da festa. Utilizando uma mistura de tipologias, típica dos panfletos da época, a marca tem como elemento básico a figura do CORINGA, personagem que engloba diversos caracteres típicos do CARNAVAL DE SALVADOR e resume em si a história e o espírito da festa.
EM 1985
A Prefeitura de Salvador estabelece decreto fixando normas para o FLUXO DAS ENTIDADES CARNAVALESCAS.
EM 1987
O REI MOMO FERREIRINHA adoece e a comissão responsável pelo evento resolve colocar o seu filho como substituto para desfilar, sendo que o mesmo só desfilou nos anos 88 e 89.
EM 1988
Pela primeira vez, um BLOCO AFRO de grande porte, o OLODUM, desfila na BARRA. É fundada a ASSOCIAÇÃO DE BLOCOS DE TRIO - A.B.T.
12 - A folia de hoje
NA DÉCADA DE 90
A característica da década de 90 é marcada pela preocupação nas contratações das bandas, a questão da segurança, do conforto interno, da indumentária e do "DESIGN" dos trios. Inúmeros profissionais da área de engenharia e arquitetura passam a criar projetos para os TRIOS ELÉTRICOS.
EM 1990
O prefeito de Salvador sanciona a Lei de 4.274/90, que cria o CONSELHO MUNICIPAL DO CARNAVAL, entidade representativa dos seguimentos carnavalescos, órgãos públicos e da sociedade. A RÁDIO EXCELSIOR deixa de realizar o DESFILE DO REI MOMO, e a patente é adquirida pelo HOTEL DA BAHIA e pela FEDERAÇÃO DOS CLUBES CARNAVALESCOS. Surgem os chamados BLOCOS ALTERNATIVOS assumem-se como OPÇÃO de diversão aos dias do tradicional desfile de blocos nos principais circuitos, de DOMINGO A TERÇA-FEIRA.
EM 1991
No dia 02.01 é instalado na Câmara Municipal o CONSELHO MUNICIPAL DO CARNAVAL - COMCAR. Em 07.01 o COMCAR realiza a sua primeira reunião ordinária na sede da Fundação Gregório de Mattos, da Prefeitura de Salvador. É sancionada a Lei n.º 4.322/91, PROIBINDO a realização de shows de bandas e trios elétricos na área do Farol da Barra e nas ruas adjacentes ANTES DO PERÍODO OFICIAL DO CARNAVAL. A Prefeitura de Salvador não faz a decoração de rua, sob o pretexto de falta de recursos, e o Governo do Estado assume as despesas da festa.
EM 1992
Diante da demanda, a COORDENAÇÃO DO CARNAVAL decide incorporar o BAIRRO DE ONDINA como novo espaço destinado ao CARNAVAL. Mais um ano sem a participação da Prefeitura na decoração do CARNAVAL, novamente assumida pelo Governo do Estado. A Câmara Municipal de Salvador promulga e publica a Lei n.º 4.538/92 - regulamentando os Artigos 260 e 261 da Lei Orgânica do Município - que diz respeito a ORGANIZAÇÃO DO CARNAVAL - e revoga as disposições em contrário, especialmente a Lei n.º 4.274/90.
EM 1993
O CARNAVAL é impulsionado por uma onda que marcou a sua história e o posicionou em um novo patamar de diferenciação dos festejos carnavalescos de todo o país. Foi potencializado pela explosão nacional da "AXÉ MUSIC" pelos êxitos dos empresários ligados aos BLOCOS DE TRIOS, que alcançaram novos níveis de profissionalização e montaram verdadeiras "MÁQUINAS DE FAZER SUCESSO". A Câmara Municipal de Olinda adota a Lei de Reserva de Mercado do Frevo e proíbe a execução e qualquer acorde musical que lembrasse de longe o "AXÉ MUSIC". Ressurge o "ABADÁ" como nova indumentária carnavalesca.
EM 1994
O CARNAVAL passa a ser trabalhado o ano inteiro. O desfile oficial foi regulamentado a partir de debates entre os diversos segmentos e órgãos envolvidos com a festa. Todos os serviços passam a ser contratados mediante LICITAÇÃO PÚBLICA, (algumas de abrangência nacional). É estabelecido o CONCURSO PÚBLICO para seleção das atrações, por currículo e por apresentação. O espaço físico Barra/Ondina, recebe um tratamento diferenciado com a montagem de infra-estrutura necessária ao funcionamento e à consolidação da área.
EM 1996
O CARNAVAL DE SALVADOR ganhou o mundo através da "INTERNET", possibilitando às populações de 135 países o acesso às informações básicas da folia momesca. · Nasce o CARNAVAL DO CENTRO HISTÓRICO / PELOURINHO e ruas adjacentes, a partir da necessidade e da preocupação em preservar a história e a cultura dos CARNAVAIS DE ANTIGAMENTE.
Pesquisa - Marlene Martins - poetisa
Indiana University