terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

“Lucinda dos Feijões de Peraboa”

É uma figura habitual na Praça da Covilhã há mais de 40 anos e conhecida na cidade como a “Lucinda dos Feijões de Peraboa”. Muitas histórias para contar

O JEITO para o negócio conduziu Lucinda Tomé para a comercialização de feijão. De olhos castanhos vivos, esta simpática senhora, de personalidade forte é sobejamente conhecida na cidade da Covilhã como a “Lucinda dos Feijões de Peraboa”. Quarenta anos passados entre a praça da Covilhã e Peraboa, terra natal que a viu crescer, Lucinda Tomé é a última negociante de feijões de Peraboa.

O sonho pela sua emancipação monetária foi sempre um dos seus projectos. Começou por ir vender os seus produtos hortícolas à praça da Covilhã. Rapidamente, criou uma clientela, que designa de “cinco estrelas”. O sucesso e a vontade de vencer depressa se revelaram. Do feijão ao grão, passando pelo milho, foram as sementes deste negócio promissor. Recorda, com nostalgia, o ambiente da praça da Covilhã, cheio de vendedoras de toda a região: “os pisos do Mercado Municipal eram poucos para acolher tanta gente”.

Das suas memórias, lembra-se do preço do primeiro litro de feijão que vendeu, pouco mais do que alguns escudos. As lembranças soltam-se neste livro de recordações e com algum sorriso vai dizendo: “A primeira vez que fui vender à praça tive de levar o burro”. Mais tarde, vieram as camionetas e com o progresso dos transportes, o conforto. O mercado da cidade serrana era uma das poucas alternativas que as pessoas tinham para escoar os produtos que a terra dava. Nessa altura tinha que se levantar à uma da manhã para chegar às seis horas à Covilhã. “A camioneta tinha que passar pelas quintas e parar em muitos locais. Ao final do dia, o cansaço era tanto que eu e mais a minha companheira Maria Mendes, dormíamos, embrulhadas em sacas à porta da praça, valentes sonecas”, disse.

Fala com grande carinho das clientes e das amigas que tem conquistado. “Tenho clientes habituais que antigamente eram crianças e agora são pais de família”, contou Lucinda.

Aos 62 anos, gostaria de continuar a vender o famoso feijão Catarino na praça apesar do receio das grandes superfícies comerciais. Considera que estes centros têm sido algo responsáveis pela diminuição deste comércio tradicional que sempre pontuou pela qualidade dos seus produtos. “Actualmente a praça está quase reduzida a metade”, lamenta. “Era aqui na praça que se ouviam as sirenes das fábricas, que se falava da vida política e social da cidade. A Covilhã descentralizou privilegiando a periferia. No entanto, os resistentes vão continuando na Praça sabendo, talvez que um dia o mercado da Covilhã possa desaparecer. Mesmo assim, Lucinda Tomé pretende permanecer com o seu negócio até que a saúde a ajude, e durante três dias da semana, o feijão é rei.
Jornal do Fundão - Edição on-line paga c/data 15.02.07 - Secção Regional

Sem comentários: