sábado, 7 de janeiro de 2006

A Comarca de Arganil

“O jornal, quando bem orientado, é não só o padrão que serve para aferir a ilustração e educação de um povo, mas também o instrumento propulsor do seu engrandecimento e da sua instrução.
É a alavanca que o impele na senda das mais importantes conquistas e da realização dos mais soberbos ideais”.
É esta definição de jornal que surge no programa da primeira edição da “Comarca de Arganil”, que data de 1 de Janeiro de 1901.


Nessa altura, o proprietário e editor responsável pela publicação era A .José Rodrigues. No mesmo programa fala-se do papel da Imprensa periódica, segundo o qual “é- deve ser- missionária do bem. Principalmente quando desligada de todos os compromissos políticos e partidários. A missão do jornal é a mais importante e, também, a mais eficaz; é profícua e fecunda, na sociedade moderna, porque ele é então a voz imparcial e desapaixonada da localidade onde se hospedou para traduzir os desejos e advogar as necessidades do povo, de que se tornou a um tempo procurador e arauto”.

Foi , ainda, no ano de 1901, mais precisamente a 9 de Março que “A Comarca de Arganil” fez chegar uma nova actividade àquela terra, a das artes gráficas, uma vez que esta publicação sempre foi composta e impressa na vila.

O fundador da “Comarca de Arganil” foi Eugénio Moreira, e a linha orientadora da publicação foi ele que a traçou, logo no primeiro número, quando afirmou que o seu jornal “múltiplo e variado nos assuntos que trata, a todos proporciona alguns momentos de satisfação. Todas as causas justas têm nele um defensor desinteressado; todos os oprimidos, um campeão; todos os necessitados, um solicitador; todos os beneméritos, uma tuba da fama; todos os desvalidos, um protector infatigável”.

Segundo um editorial, datado de 5 de Dezembro de 2000, Eugénio Moreira “veio como pagador do caminho de ferro (...) mas a sua veia jornalística, já antes experimentada noutra localidade beirã e parece que sem sucesso, levou-o a criar nesta terra um jornal a que deu o nome de “A Comarca de Arganil”.

No mesmo texto, o actual director da publicação, Jorge Moreira da Costa Pereira, neto mais velho do fundador, escreve que, “ainda hoje, sem interrupções, “ A Comarca de Arganil” continua a sua senda de informar especialmente em favor do Regionalismo, fim fundamental para que foi criado e que estamos dispostos a continuar, assim como já o fizeram os seus sucessores”.

Francisco Carvalho da Cruz trabalhou na “Comarca” durante 56 anos, e começou como aprendiz de tipógrafo quando tinha apenas 10 . Foi compositor manual, impressor tipográfico, linotipista, mecânico, ajudante de várias funções, chefe de oficinas, redactor, chefe de redacção, director adjunto, director e até gerente.

Na primeira edição de Dezembro de 2000 passou o testemunho a Jorge Moreira da Costa Pereira.

Apesar de, como diz o poeta, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, a “Comarca” prosseguiu a mesma orientação , dando voz às populações da sua área e prometendo estar atenta às “realidades (e dificuldades) trazidas pela globalização”, conforme escreveu o seu actual director e sócio-gerente, Jorge Moreira da Costa Pereira, no estatuto editorial de 13 de Março de 2001.

No ano passado, a “ Comarca” comemorou o seu primeiro centenário. Uma efeméride, cujas celebrações se prolongaram durante três meses e às quais a Câmara Municipal de Arganil se quis associar, atribuindo à publicação a Medalha de Ouro do Concelho.

Ao comemorar 100 anos de existência, “A Comarca de Arganil” recebeu várias mensagens de felicitações, nomeadamente a de Almeida Santos, presidente da Assembleia da República, na qual dizia que “Cem anos é, como diria Guerra Junqueiro, um “bem bonito rol”. Poucos órgãos da Imprensa Regional podem vangloriar-se de tão dilatada vitalidade. Essa razão de mérito - só tendo-o podia durar tanto - bastava-me para felicitar calorosamente os que fundaram, dirigiram, fizeram, dirigem e fazem “A Comarca de Arganil”. Mas há mais. Sou da região. Habituei-me a lê-la desde pequeno. Ainda leio. Só que eu envelheci, ela não! “A Comarca de Arganil” presta um relevante serviço aos seus leitores. Que por muito mais longo tempo continue a prestar.”

Ainda na mesma edição, Carlos Maia Teixeira, escreveu a propósito deste aniversário que “viver a Monarquia, a 1» República, o Estado Novo, a Revolução de Abril e chegar ao novo milénio atravessando duas Guerras Mundiais, o fascismo e a guerra colonial e de tudo isto fazer fé é, só por si, substantivo quanto baste para colocar “A Comarca de Arganil” entre os mais importantes jornais regionais de Portugal”.

Ana Cristina Cruz, Memórias com História

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