Freguesia de Sobral
Freguesia situada na margem esquerda do rio Zêzere, Sobral dista perto de 12 km da sede do concelho. É constituída por dez povoações: Faval, Leiria de Cima, Leiria do Meio, Pessilgal, Roda de Baixo, Roda de Cima, Sabugal, Sobral de Baixo, Sobral de Cima e Casalinho e pelos seguintes lugares: Póvoa de Minal, Mourelo, Ninho do Corvo, Val da Constância, Fundo do Val, Picorreia, Sobreirinho e Val da Carreira.
A freguesia de Sobral foi criada em 9 de Julho de 1803, depois de os lugares acima mencionados serem desanexados da freguesia de Álvaro, à qual desde sempre haviam pertencido. Após a erecção da paróquia, passou a ser um curato e uma comenda da Ordem de Malta. Era, portanto, do grão-priorado do Crato, que foi em 1834 anexo ao patriarcado.
A sua primeira igreja paroquial, desde logo dedicada a São João Baptista, foi erigida em 1806. Defeitos de construção e de conservação levaram-na à ruína, pelo que, já na segunda metade deste século, foi necessário proceder à edificação de um novo templo, com características que correspondessem às necessidades dos paroquianos. A nova igreja, ampla, bem iluminada e de linhas harmoniosas, foi solenemente inaugurada em 1969 pelo bispo D. Agostinho Lopes de Moura. O seu custo terá rondado os 700.000 escudos, avultada quantia para a época, que diz bem do querer e da religiosidade dos habitantes da freguesia.
Todo este povo sobralense nutre uma arreigada devoção pelo seu orago, a quem dedica duas alegres e concorridas festas. Acontecimentos de certo relevo local, atraem não só os filhos da terra, mas também inúmeros habitantes de freguesias vizinhas.
Sabe-se que S. João preside às festas mais populares de muitas regiões do nosso País. Nem nas brumas da memória se pode encontrar a data em que algumas terras começaram a festejar o santo mais popular de todos os três (Santo António, S. João e S. Pedro). Nem parece que, como acontece em Sobral, algum dia deixem de o fazer. A véspera do dia de S. João é memorável. Em todo o lado, novos e velhos percorrem as ruas cantando e rindo, esquecendo as desgraças e tristezas da vida quotidiana. E cantam-se versos tais como: “Já não há frade nem freira / nem órgão nem organista / nem Santo mais festejado / que o nosso S. João Baptista.
Na sua “Monografia de Oleiros”, Gil Luís Garcia conta-nos que “na véspera da festa, o rapazio correu montes e vales juntando lenha, alecrim e rosmaninho para ao pôr do sol se fazerem as fogueiras nas diversas ruas ou lugares a que eles pertencem. Ao anoitecer, montes de lenha aguardam que algum morador, quebrando a ansiedade geral, lhes lance o fogo. Quando as chamas se erguem altaneiras salta-se a fogueira e junto de algumas assam-se sardinhas, há broa e vinho. Com o esmorecer das fogueiras, as pessoas dirigem-se, então, para o arraial onde a alegria e o bailarico vai durar até às tantas”.
A maneira como o S. João é festejado em Sobral não difere em quase nada das fórmulas que há muito tempo se impuseram nas províncias onde as festas sanjoaninas são consideradas mais famosas: Minho e Douro Litoral. Cá como lá, a alegria vai perdurar a noite inteira, sono ou cansaço não existe. E o povo de Sobral canta, vibra, dança. É aproveitar, sabe-se lá se para o ano estaremos vivos: Quero cantar e bailar / divertir-me a todo o pano / quem sabe quem chegará / deste Baptista a um ano.
Nem toda a gente aguentará a noite inteira, mas os que resistem, quanto mais próxima está a madrugada, mais alto se ouvem as suas vozes, tão forte é a satisfação. Há mais estrelas no Céu, há mais alegria na Terra: Se o João soubesse / quando era o seu dia / Baixava do Céu à Terra / com prazer e alegria.
Entretanto, já o sol raia, a manhã do dia de S. João chegou. É hora de o acordar: Desperta, João, desperta / que já chegou o teu dia / vem ver como te festejam / com amor e alegria. Este povo de Sobral sabe cantar e rir. Como ninguém. Venera e festeja o seu Padroeiro e não se esquece que assim tem de ser, porque é mau cristão todo aquele que não se lembra de S. João, do Santo Maior: O Baptista é um cravo / colidinho no craveiro / quem vos não festejar / não é cristão verdadeiro.
De entre os diversos párocos que presidiram aos destinos da paróquia de Sobral, um houve que se distinguiu: o Pe. João Honório Barata. Sacerdote exemplar e modelo do pároco imbuído de virtudes superiores, foi cura de Sobral entre os anos de 1814 e 1828. Daqui seguiu para a freguesia de Cernache do Bonjardim, onde se manteve até 1834 como vigário, vivendo o resto dos seus dias foragido e perseguido pela justiça, como verdadeiro malfeitor que nunca o foi.
Sobral tem alguns dos seus motivos de maior interesse turístico girando à volta do rio Zêzere: a albufeira da Barragem de Santa Luzia, a praia fluvial, etc. O Zêzere divide o concelho de Oleiros do da Pampilhosa da Serra, excepto nas freguesias de Amieira, Cambas, Madeirã e Sobral. Com a sua origem na serra da Estrela, no sítio de Vale da Loba, perto de Alfaiates, percorre em linha recta uma imensidão de quilómetros, seguindo depois um extenso percurso de grandes e contínuas tortuosidades.
Por areais corre o Zêzere, plácido e ameno, até à povoação de Barco, no extremo do concelho da Covilhã. Porém, dali para baixo desce tão precipitadamente e num leito tão estreito que não permite cultura alguma, a não ser em poucas terras nos limites do Carregal, Janeiro e Cambas. Antigamente, nas encostas que guarnecem o rio havia azereiras - árvores de forma arredondada, de copa com grandes cachos de flores brancas.
Segundo se crê, houve no Sobral, em tempos muito recuados, um revestimento vegetal onde predominava o sobreiro, daí o seu topónimo.
ANAFRE
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