quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

12 caricaturas que estão abalando o mundo

Em nações ocidentais, liberdade de religião, expressão e de imprensa são diferentes aspectos da mesma liberdade. Na América, isso é fundamental. A Primeira Emenda une essas liberdades em um fundamento de direito para indivíduos acreditarem, cultuarem, pensarem e falarem de acordo com suas convicções. Como o crescente furor internacional sobre 12 caricaturas dinamarquesas demonstra, muitos muçulmanos no mundo islâmico não vêem a liberdade da mesma maneira. Quatro meses atrás, um jornal dinamarquês publicou charges que mostravam Maomé com variados graus de irreverência, incluindo uma na qual ele veste uma bomba em forma de turbante na cabeça, com um pavio. Tal caricatura é compreensivelmente ofensiva a devotos muçulmanos. O Alcorão desencoraja imagens artísticas no geral, e a tradição islâmica proíbe descrições de Maomé e outros respeitados como profetas. A charge do turbante-bomba conduz um insulto adicional: a implicação que o Islã em sua essência é violento e terrorista. Se somente os muçulmanos ofendidos pudessem protestar para o jornal – e deixar por isso mesmo. Ao invés disso, muitas pessoas através de muito do mundo islâmico têm se expressado furiosamente contra toda a nação da Dinamarca, boicotando seus produtos e – em poucos lugares – ameaçando cidadãos. A fúria agora foi estendida para a Noruega, França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha e Suíça, onde outros jornais imprimiram as mesmas caricaturas em solidariedade com a publicação dinamarquesa. Nos territórios palestinos, a Brigada dos Mártires de al-Aqsa alertou suecos e dinamarqueses para deixarem Gaza e a Margem Ocidental – “ou mais”. Homens armados em Gaza ameaçaram seqüestrar franceses, noruegueses, dinamarqueses e alemães ao menos que seus governos peçam desculpas pelas charges. Perderam eles a ironia? Em alguns países árabes, judeus são rotineiramente descritos em impressões como criaturas sub-humanas ou diabólicas. A preocupação sobre sensibilidades ofendidas pode ser notavelmente unilateral nesse mundo. A caricatura ilumina profundas diferenças entre o Ocidente e tradicionais sociedades islâmicas. Os muçulmanos protestantes consideram nações inteiras como responsáveis pelas ações dos jornais. Em muito do Oriente Médio, isso pode fazer sentido, porque os governos dessa região freqüentemente controlam a imprensa. Em lugares como Dinamarca e França, entretanto, isso simplesmente não ocorre. Mais fundamentalmente, liberdade de imprensa no Ocidente vence tabus de religiões sobre expressão. Na Europa Ocidental, assim como na América, cidadãos gozam de um alto grau de liberdade religiosa. Mas isso não inclui um direito de nunca ser ofendido ou ter a crença de alguém desafiada. Enfaticamente, isso não inclui ter uma religião privilegiada em detrimento das outras. Em um país livre, até mesmo discurso de blasfêmia é protegido – e o assunto, a ser contradito por fiéis. Sociedades islâmicas tendem a rejeitar tal ilimitada liberdade de expressão. Isso é assunto deles. Mas exigir que nações ocidentais rejeitem isso, também, é um passo em direção a um perigoso novo solo.
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