No Arquivo Real não existe nenhum foral antigo, encontrando-se, porém, no Livro Preto da Catedral de Coimbra a fls. 225 e verso, datado de 25 de Setembro de 1114, concedido pelo Bispo de Coimbra, D. Gonçalo, dado que até esta data a vila pertencia à mitra de Coimbra por doação de D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques).
No final do século XII era a vila e seu termo pertença de uns fidalgos de apelido Uzbertes, tendo continuado na posse de um seu descendente: Afonso Pires de Arganil. Este fidalgo passou a maior parte da sua vida no estrangeiro ao serviço de D. Pedro, filho de D. Sancho I, tendo sido ele que se deslocou a Coimbra, por ordem do seu senhor, para entregar as Relíquias dos Cinco Mártires de Marrocos, em Santa Cruz.
Seguiu-se-lhe seu filho Pedro Afonso de Arganil e Samora e mais tarde a neta, D. Marinha Afonso, casada com o poeta e guerreiro Fernão Rodrigues Redondo.
Por falta de descendentes, D. Afonso IV, por permuta, conseguiu integrar Arganil na posse do seu reino e, dividindo-o, reservou para si a parte que abrangia Pombeiro da Beira e, em 1354, incluiu o remanescente no dote que D. Maria, filha natural de D. Pedro I, levou ao casar-se com Fernando de Aragão. Como também este casal não teve descendência foi Arganil reincorporada na coroa, que colocou, quase de seguida, sob a alçada de D. Beatriz, filha do rei D. Fernando e de Leonor de Teles.
Em 1355 o rei D. Afonso IV entregou a Martim Lourenço da Cunha, por permuta, a parte que havia conservado para si, dando, deste modo, origem ao senhorio de Pombeiro da Beira.
Depois da morte da rainha de Castela, D. João I doou o senhorio Arganil a Martim Vasques da Cunha, seu partidário, ligado aos de Pombeiro da Beira e de Tábua, tendo posteriormente, apesar de ter ataiçoado o Mestre de Aviz, conseguido autorização para trocar o senhorio de Arganil com o Cabido de Coimbra pelas terras de Belmonte e S. Romão.
Arganil passou desta forma, em 1394, para a posse dos Bispos de Coimbra, que passaram a ostentar o título de Condes de Arganil, tendo já nessa altura o de Senhores de Coja, Avô e Lourosa. A partir desta data Arganil manteve-se sob o domínio dos seus novos senhores até 27 de Setembro de 1829, quando nomearam para alcaide José António de Figueiredo.
D. Manuel I, aquando da reforma dos forais, concedeu, a 8 de Junho de 1514, «nova carta» a Arganil. Tal documento, ainda que sem folha de rosto, encontra-se ainda hoje, na Câmara Municipal e foi através dele que se regeu a vida da população local durante largo período de tempo.
Em 1550 foram reformulados os estatutos de uma colegiada, pertencente ao padroado real, e que provavelmente teria sido fundada nos finais do século XIV. Tal colegiada foi extinta em Dezembro de 1848, por falecimento do último dos quatro beneficiados que a formavam: o Rev. José António do Soito.
Em 1647 o rei aprova os estatutos de uma Misericórdia, na sequência da confraria de Nossa Senhora da Conceição. A última sobrevivente do primeiro provedor, Pedro da Fonseca, foi D. Maria Isabel de Melo Freire de Bulhões, Condessa das Canas, que ao falecer, em 1879, doou todos os seus bens de que era possuidora nesta zona, para que com o produto da sua venda, fosse fundado um hospital, no seu solar de Arganil. Assim nasce o Hospital Condessa das Canas da Misericórdia de Arganil.Este porém não foi o primeiro estabelecimento de assistência a existir em Arganil, dado que nas casas de hospedaria, outrora anexas à Capela da Senhora da Agonia, funcionou entre 1856 e 1890 um incipiente hospital, por iniciativa do Dr. Luís Caetano Lobo, à data reitor da paróquia de Arganil.
As invasões francesas, em 1809, deixaram a sua marca em Arganil. As tropas de Wellington estiveram aquarteladas na Capela da Misericórdia e dela fizeram local de guarida e de depósito de munições, tendo pilhado, destruído e devastado tudo o que puderam. As pratas das igrejas foram o seu principal alvo.
Na primeira metade do século XIX, com o conflito entre liberais e absolutistas, destaca-se a figura do P.e Manuel Vasconcelos da Costa Delgado, «homem inteligente e culto, liberal por actos e convicção», a quem Arganil muito deve do desenvolvimento que posteriormente veio a beneficiar.
Outra figura de destaque da mesma época é o Dr. Luís Caetano Lobo, que lutou pela instauração de uma escola feminina e por um curso de alfabetização nocturno para adultos e menores, tendo ele mesmo ensinado a ler e escrever, utilizando o método de Castilho. Foi também, juntamente com a Junta da Paróquia, em 1857, quem pressionou junto da Câmara no sentido desta vir a iluminar, durante a noite, com azeite, as principais ruas da vila. Nesta altura Arganil possuia certamente um elevado grau de cultura, pois só assim se compreende que já em 1810 existissem professores régios de primeiras letras e ainda de retórica, filosofia, geometria, grego e latim.
Breve Resenha Histórica do Concelho de Arganil
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