terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Uma visita a Dornes

Dornes: a redenção, o verde, a albufeira e o rio como esperança... Blog: um poema deserto. Esta é a madrugada que eu esperava (sophia)

Quanto à origem desta aldeia, não faltam lendas de que alguns autores têm feito eco. Sabemos que já nos primeiros anos do séc. XII havia uma povoação chamada " Dornas" e que mais tarde se tornou sede de uma das comendas da Ordem de Cristo.
Conta a tradição mais antiga que, sendo esta terra dote da Rainha Santa Isabel, na altura em que a corte se instalou em Coimbra, nela habitava o feitor Guilherme de Paiva, de quem o pai grande temente a Deus , em criança o educou com todos os bons costumes e "santos exercícios". Sendo este ainda jovem, e não o podendo obrigar a jejuar e para que forçosamente o fizesse, obrigava-o a passar o dia num barco no meio do Zêzere.
Habitavam junto da ermida de S. Guilherme, a qual era contígua à estrada de Dornes e ribeira do mesmo nome. Sucedeu que durante alguns dias, na outra banda do rio ( na freguesia de Sernache), se ouvia gemidos "muy dolorosos", que se fizeram ouvir durante alguns dias a fio. Guilherme de Paiva foi a Coimbra dar conta do sucedido à Rainha Santa desta novidade. Esta que "por revelação divina já sabia", disse-lhe que procurasse o lugar dos gemidos e que ali acharia uma imagem da Virgem Maria com outra do Santíssimo Filho Morto em seus braços. Tal facto confirmou-se e a Rainha mandou construir sobre um penhasco e junto a uma torre antiga que aí também se encontrava, uma pequena igreja onde a admirável imagem foi colocada , a quem deram a invocação de "Nossa Senhora das Dores", e a qual ainda hoje, pode ser apreciada por todos quantos a visitem, sob o nome de "Nossa Senhora do Pranto" como é mais conhecida.

Segundo a narração , é esta Igreja que tem influenciado o desenvolvimento e até assegurado o que por ali se faz. O misticismo que envolve a Senhora do Pranto chegou a ser motivo de disputas entre Dornes e Sernache. Segundo os habitantes do outro lado do Rio (Sernache), a santa pertencia-lhes, porque fora ali que ela aparecera. Posição não compartilhada pelos deste lado (Dornes), que contrapunham com o facto de ser ali a sua Igreja. A verdade é que durante muito tempo a santa era repartida, estava uns tempos em Sernache e outros em Dornes, situação que viria a terminar, segundo a lenda, quando pela vontade própria da Santa quando desapareceu de dentro de uma dorna que era transportada por uma junta de bois, indo aparecer na capela que deu lugar à Igreja.

E ainda hoje essa crença faz correr a Dornes alguns milhares de pessoas durante o ano, para cumprirem as suas promessas e venerarem a Santa.

São várias as romarias que ali se fazem em honra da Senhora do Pranto. Mas a maior, aquela que para os cristãos envolve mais significado, é a festa do Espírito Santo.

Alguns meses antes, toda a população do concelho começa a trabalhar à volta do seu círio para levarem à festa nos carros maravilhosamente engalanados as fogaças, as bandeiras alusivas e também o maior número de pessoas.

O colorido multicolor dos trajes civis e das irmandades, os acordes das bandas, a procissão em volta da Igreja e dos cruzeiros da via-sacra, que se estendem até ao lagar de S. Guilherme.

Diz-se que aquela Igreja é uma das sete construídas no cume de outros tantos cabeços com a finalidade de recolher no seu silêncio os reis e suas cortes.
(terravista, documento)


Sem comentários: