"No início do séc. XX, na obra «Notas de Arqueologia e Etnografia do Concelho de Coimbra», a respeito de Ceira, Vergílio Correia refere a ausência de monumentos capazes de interessar os estudiosos. No entanto sublinha o pitoresco do local, descrevendo as inundações que transformam o vale num lago, os pinhais que formam "uma selva escura e densa" nas encostas da Joariça ou Aljuriça, as oliveiras que "laivam de cinzento o vermelho dos barros".
Em meados do séc. XX, a maior parte da população da freguesia de Ceira vivia do cultivo de leiras de terra, feito em grande parte pelas mulheres, já que a maior parte dos homens trabalhava na cidade em diversos ofícios.
Na mesma época, as mulheres ocupavam-se também da lavagem da roupa das senhoras de Coimbra, tarefa em que se tornaram famosas usando a sua antiga sabedoria popular.
A roupa era recolhida nas casas da cidade à Segunda-feira e trazida em grandes trouxas sobre um carro de bois. No dia seguinte, havia que fazer a barrela, tarefa que exigia uma noite passada ali, à beira-rio fizesse o tempo que fizesse. Não havia sujidade que resistisse à acção das cinzas e da água quente.
Durante o resto da semana, era preciso secar dezenas e dezenas de lençóis, toalhas, fronhas, guardanapos... Se o tempo fazia negaças, era um corrilório para os pinhais, onde faziam o estendal, ora a pôr, ora a tirar a roupa. E, na Segunda-feira seguinte, lá partiam de novo para Coimbra, a levar a roupa branquinha e a trazer novas trouxas de roupa suja.
As mulheres de Ceira ainda arranjavam tempo para ir à cidade e andar a vender, de casa em casa, os raminhos de carqueja que então era usada para acender os fogões das cozinhas."
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