Há muitos séculos que as verdes pastagens da Serra do Açor atraíam grupos de pastores que para aí levavam os seus rebanhos. Diz-se mesmo que esses pastores seriam os Lusitanos, hábeis criadores de cavalos que povoavam os Montes Hermínios (Estrela).
Ao longo dos tempos as populações foram criando condições para a sua subsistência, conquistando à Serra cada pequena leira cultivada em socalcos. A agricultura, a pastorícia e a apicultura constituíram assim as principais actividades das populações do Piódão.
Pelo alto da Serra do Açor, próximo do Piódão, passava a antiga estrada real que ligava Coimbra à Covilhã por onde circulavam caravanas de carros de bois que traziam do litoral o peixe e o sal para levarem no regresso a carne, o queijo e os lanifícios destas terras do interior. Por ali passavam mercadores e pastores e até salteadores. Diz-se também que terão sido os ataques dos salteadores que incentivaram a união dos solitários pastores, espalhados por aquelas agrestes penedias onde criavam éguas, cavalos, ovelhas e cabras.
Situado num vale profundo e isolado, escondido nas faldas da Serra do Açor, o Piódão foi considerado, desde tempos remotos, como o local de eleição para refúgio de muitos foragidos da justiça. Ali se terá acolhido o fidalgo Diogo Lopes Pacheco, o único dos assassinos de D. Inês de Castro que logrou escapar à fúria de D. Pedro, quando, em segredo, vinha de Espanha a Portugal. Também aqui se teria refugiado João Brandão, misto de herói e assassino. Diz-se dele que atacava os seus inimigos pela calada da noite para se refugiar durante o dia em casa do Pároco do Piódão. E fala-se ainda de outros salteadores, em tempos mais ou menos remotos, como José do Telhado ou o Oliveirão.
Na sua origem a população pode ter alguns fora-da-lei, mas tem também a fidalguia e abastança dos seus senhores, com direito a tribuna própria na Igreja da Lourosa. Foi desta memória que ficou uma conhecida quadra popular.
"Gente nobre do Piódão
Gente de grande tesouro
Vão à missa à Lourosa
Com as suas esporas de ouro."
A criação da freguesia do Piódão data de 1676 e há notícia de ter sido um curato de apresentação anual no cabido da Sé de Coimbra.
No final de Oitocentos o Piódão transformou-se no pólo cultural de uma vasta região beirã por obra do seu jovem pároco, o padre Manuel Fernandes Nogueira, ali colocado em 1885 quando tinha apenas 25 anos. A ele se ficou a dever a fundação do seminário-colégio em 1886 que preparava os jovens para os estudos universitários e, mais frequentemente, para a vida eclesiástica. E ali ensinava, quase sozinho, todas as disciplinas do curso preparatório do Seminário.
Tendo funcionado até l906, a qualidade do ensino do Colégio do Piódão ultrapassou os limites do seu isolamento, atraindo centenas de jovens oriundos das mais diversas terras dos concelhos de Coimbra, Guarda e Castelo Branco. Alguns dos seus alunos tornaram-se depois figuras de destaque na vida política e eclesiástica Portuguesa.
A acção do padre Manuel Fernandes Nogueira, actualmente homenageado por uma estátua no largo da aldeia, não se limitou ao aspecto académico e cultural da povoação. Incentivou o desenvolvimento da agricultura e da silvicultura, criando na população laços estreitos de vida comunitária, e participando activamente no desenvolvimento económico da freguesia. Com o encerramento do Colégio, retoma-se o antigo esquecimento, interrompido a breves espaços pelos esforços isolados dos seus povos.
Só na década de 70 é que o Piódão consegue enfim aceder, e se tornar acessível, ao resto do mundo, com a abertura da estrada até à aldeia, em 1972, e a instalação de energia eléctrica, em 1978. Até àquela data, a única estrada existente terminava a cerca de 12 Km do Piódão e a distância só podia ser ultrapassada a pé, por caminhos demasiado estreitos para permitir a passagem dos carros de bois.
Tempos difíceis ainda frescos na memória das suas gentes, amenizados todavia por uma vida comunitária de entreajuda. Tempos idos em o povo do Piódão moldava o destino com as próprias mãos.
Por todo o povoado nasce agora uma sensação de vazio: a estrada que lhes trouxe o conforto dos tempos modernos, quebra-lhes a solidariedade e a vontade, tira-lhes o destino das mãos e leva-lhes para longe os filhos da terra.
Ficam os mais velhos trabalhando os estreitos socalcos de terra pouco profunda onde a máquina não pode trabalhar.
E fica também, ainda, o sabor da chanfana, do cabrito assado ou do presunto e a imprescindível companheira das noites frias de inverno, a aguardente de mel ou de medronho.
Aldeia do Piódão / Turismo Rural / C.M.C.
Ao longo dos tempos as populações foram criando condições para a sua subsistência, conquistando à Serra cada pequena leira cultivada em socalcos. A agricultura, a pastorícia e a apicultura constituíram assim as principais actividades das populações do Piódão.
Pelo alto da Serra do Açor, próximo do Piódão, passava a antiga estrada real que ligava Coimbra à Covilhã por onde circulavam caravanas de carros de bois que traziam do litoral o peixe e o sal para levarem no regresso a carne, o queijo e os lanifícios destas terras do interior. Por ali passavam mercadores e pastores e até salteadores. Diz-se também que terão sido os ataques dos salteadores que incentivaram a união dos solitários pastores, espalhados por aquelas agrestes penedias onde criavam éguas, cavalos, ovelhas e cabras.
Situado num vale profundo e isolado, escondido nas faldas da Serra do Açor, o Piódão foi considerado, desde tempos remotos, como o local de eleição para refúgio de muitos foragidos da justiça. Ali se terá acolhido o fidalgo Diogo Lopes Pacheco, o único dos assassinos de D. Inês de Castro que logrou escapar à fúria de D. Pedro, quando, em segredo, vinha de Espanha a Portugal. Também aqui se teria refugiado João Brandão, misto de herói e assassino. Diz-se dele que atacava os seus inimigos pela calada da noite para se refugiar durante o dia em casa do Pároco do Piódão. E fala-se ainda de outros salteadores, em tempos mais ou menos remotos, como José do Telhado ou o Oliveirão.
Na sua origem a população pode ter alguns fora-da-lei, mas tem também a fidalguia e abastança dos seus senhores, com direito a tribuna própria na Igreja da Lourosa. Foi desta memória que ficou uma conhecida quadra popular.
"Gente nobre do Piódão
Gente de grande tesouro
Vão à missa à Lourosa
Com as suas esporas de ouro."
A criação da freguesia do Piódão data de 1676 e há notícia de ter sido um curato de apresentação anual no cabido da Sé de Coimbra.
No final de Oitocentos o Piódão transformou-se no pólo cultural de uma vasta região beirã por obra do seu jovem pároco, o padre Manuel Fernandes Nogueira, ali colocado em 1885 quando tinha apenas 25 anos. A ele se ficou a dever a fundação do seminário-colégio em 1886 que preparava os jovens para os estudos universitários e, mais frequentemente, para a vida eclesiástica. E ali ensinava, quase sozinho, todas as disciplinas do curso preparatório do Seminário.
Tendo funcionado até l906, a qualidade do ensino do Colégio do Piódão ultrapassou os limites do seu isolamento, atraindo centenas de jovens oriundos das mais diversas terras dos concelhos de Coimbra, Guarda e Castelo Branco. Alguns dos seus alunos tornaram-se depois figuras de destaque na vida política e eclesiástica Portuguesa.
A acção do padre Manuel Fernandes Nogueira, actualmente homenageado por uma estátua no largo da aldeia, não se limitou ao aspecto académico e cultural da povoação. Incentivou o desenvolvimento da agricultura e da silvicultura, criando na população laços estreitos de vida comunitária, e participando activamente no desenvolvimento económico da freguesia. Com o encerramento do Colégio, retoma-se o antigo esquecimento, interrompido a breves espaços pelos esforços isolados dos seus povos.
Só na década de 70 é que o Piódão consegue enfim aceder, e se tornar acessível, ao resto do mundo, com a abertura da estrada até à aldeia, em 1972, e a instalação de energia eléctrica, em 1978. Até àquela data, a única estrada existente terminava a cerca de 12 Km do Piódão e a distância só podia ser ultrapassada a pé, por caminhos demasiado estreitos para permitir a passagem dos carros de bois.
Tempos difíceis ainda frescos na memória das suas gentes, amenizados todavia por uma vida comunitária de entreajuda. Tempos idos em o povo do Piódão moldava o destino com as próprias mãos.
Por todo o povoado nasce agora uma sensação de vazio: a estrada que lhes trouxe o conforto dos tempos modernos, quebra-lhes a solidariedade e a vontade, tira-lhes o destino das mãos e leva-lhes para longe os filhos da terra.
Ficam os mais velhos trabalhando os estreitos socalcos de terra pouco profunda onde a máquina não pode trabalhar.
E fica também, ainda, o sabor da chanfana, do cabrito assado ou do presunto e a imprescindível companheira das noites frias de inverno, a aguardente de mel ou de medronho.
Aldeia do Piódão / Turismo Rural / C.M.C.
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