segunda-feira, 24 de abril de 2006

Piódão - Arquitectura

Subindo pela escarpa abrupta em forma de anfiteatro, humildemente entalhada na paisagem que a envolve, a aldeia do Piódão mantém ainda o traçado antigo e irregular, tão característico das aldeias medievais.

A sensação de harmonia e integração no meio é de tal forma intensa, que tudo parece ter sido concebido de uma só vez, numa genial composição urbanística.

Ruas estreitas e sinuosas abrem-se aqui e além em recantos diversificados. Solta-se a vista do chão de xisto, quando do fundo se ouvem as águas da ribeira do Piódão, entrecruzadas pelo chilrear cristalino da passarada.

Ou esbarra então o olhar, nas paredes escuras do casario, para enfim se elevar pela montanha que o domina, até ao cume quase coberto pelas nuvens.

No chão, nas paredes das casas, e nas lousas que lhes servem de cobertura, o xisto impera par toda a aldeia, pontilhada pelo azul forte das portas e dos frisos das janelas. A unidade da cor é explicada como consequência do isolamento a que o Piódão esteve sujeito: a loja do Píodão só vendia tinta de uma cor, tal era a inacessibilidade do lugar.

0 interior das casas era geralmente dividido em dois pisos: em baixo um piso amplo, a loja, destinado a guardar os produtos de uma bem organizada agricultura de subsistência; e em cima, a madeira de castanho formava as divisões que constituíam a habitação da família.
Por cima de muitas das portas da aldeia vêem-se ainda algumas pequenas cruzes, diz-se, para afastar a trovoada. No domingo de Ramos os fiéis levam um ramo de oliveira para benzer e, nas noites de tempestade, fazem com ele uma cruz que é posta em cima das brasas da lareira ou na porta principal, invocando assim a protecção de Santa Bárbara para afastar a trovoada.

As casas descem de socalco em socalco ao sabor do monte, para se alargarem então na vasta praça que constitui o centro, a sala de visitas do Piódão, onde se ergue, orgulhosamente imaculada, a pequena Igreja Matriz.


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À noite, quando os candeeiros despejam a sua luz suave e amarelecida, toda a Aldeia parece metamorfosear-se num presépio iluminado e vivo, merecendo bem a designação de Aldeia Presépio.

É provável que a primitiva igreja do Piódão, dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição, tenha sido construída no decurso do séc. XVII, conforme apontam algumas referências. Conta-se que um dia os habitantes juntaram todo o ouro disponível e mandaram um velho pastor pedir ao Bispo de Coimbra autorização para construir a igreja. Perante tão dispendiosa solicitação, preparava-se o Bispo para recusar o pedido, quando o velho pastor, abrindo o seu barrete serrano, lhe mostrou as luzidias moedas de ouro necessárias a tal empreitada,

A existência de uma escultura em calcário dedicada a Nossa Senhora da Conceição da segunda metade desse século e anterior a 1676, data da criação da freguesia, poderá também ser contemporânea da edificação da Igreja.

No final do séc. XIX a fachada da Igreja Matriz ameaçava ruir e foi reconstruida ao sabor do gosto neo-barroco, ecléctico e romântico da época, por iniciativa do cónego Manuel Fernandes Nogueira.

As quatro finas torres cilíndricas rematadas em cones, parecem conferir movimento à frontaria, enquanto a torre sineira de planta quadrada se encosta a meio da fachada sul da Igreja.

Os três retábulos que alberga datam do séc. XVIII, originariamente em talha dourada. A restauração a que foi submetida há alguns anos, retirou do seu interior os belos azulejos oitocentistas com motivos florais azuis e de fabrico coimbrão.

Perto da Igreja podem-se ainda descobrir as ruínas de um mosteiro dos monges de Cister, ordem religiosa reformada por S. Bernardo de Clairvaux. Os monges brancos de S. Bernardo construíam sempre os seus mosteiros em estreitos vales - Benedictus montes, Bernardus valles - tal como fizeram no Piódão, e a enorme influência que exerceram em todas as vertentes da cultura portuguesa, remonta já aos tempos da Reconquista.

Aldeia do Piódão/Turismo Rural/C.M.C.

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