..."Apesar das razões naturais para a cooperação entre jornalistas e políticos existem igualmente entre eles motivos naturais de conflitos. Como profissionais, os jornalistas pretendem tomar as suas próprias decisões e receiam ser manipulados por parte dos políticos ou dos seus assessores. Por seu turno, os políticos receiam que os jornalistas deturpem as suas mensagens ou as voltem contra eles.
O surgimento das relações públicas e a crescente conscientização do governos de que podem usar em seu proveito as notícias, paralelamente à também crescente conscientização da imprensa de que tem de lutar contra a manipulação das notícias, levaram os jornalistas a não se contentarem com a simples obtenção de notícias.
O papel dos media face ao poder político evoluiu de uma fase de reverência, sobretudo em algumas democracias ocidentais para outra, situada por alguns autores nos anos sessenta, em que os jornalistas deixaram de dar apenas cobertura aos líderes políticos para passarem a criticá-los e escrutinar as suas ações e atitudes. O modelo de um jornalismo crítico e ativo colocou sob constante vigilância os aspectos mais controversos da sociedade e o comportamento dos políticos. Os políticos, sobretudo os governantes, passaram a estar permanentemente sob o olhar do cidadãos. Os jornalistas interrogam-nos, as sondagens dão conta do seu grau de aceitação ou rejeição. O poder político é, assim, obrigado a gerir ao mesmo tempo o acontecimento e as reações múltiplas e cruzadas da opinião pública. [31]
Os jornalistas (e os institutos de sondagem) são atores políticos que nenhum político pode desprezar na sua atividade quotidiana. Eles desempenham a vários níveis um papel importante na atividade governamental pela capacidade que possuem de forçar a discussão de determinados temas que não seriam prementes se não surgissem como “temas quentes” nas manchetes dos jornais ou em reportagens televisivas. Os media interferem na atividade dos governos, marcam a agenda, colocando os políticos sobre pressão constante e obrigando-os a tratar com urgência determinadas questões que requerem aprofundamento e estudo. Contudo, apesar de os jornalistas serem, cada vez mais, atores políticos, [32] os seus valores são diferentes e colidem muitas vezes com os valores políticos. O tempo dos media e o tempo da política não são compatíveis. Os media precisam de boas “estórias” que enfatizem os aspectos fora do comum, controversos ou dramáticos do mundo e da política. Os media orientam-se para acontecimentos que possam constituir-se em oportunidades de notícias, não para valores de natureza política. Mas as sociedade evoluem lentamente e não ao ritmo dos media. Por isso, os problemas críticos e crônicos não são geralmente notícia. Pelo contrário, os acontecimentos abruptos têm cobertura garantida, embora na maioria dos casos os desenvolvimentos subseqüentes sejam esquecidos. Ocasionalmente, os media revisitam os assuntos a que deram primeira página mas raramente os acompanham sistematicamente.
De um modo geral, políticos, jornalistas e analistas não se entendem sobre o papel dos media no que se refere, por exemplo à instituição presidencial. No último ano, mercê dos escândalos que envolveram a presidência americana, foram inúmeros os debates sobre essa questão. James Carey, professor na Columbia Graduate School of Journalism considera que a imprensa e a presidência têm vindo a degradar-se mutuamente, e afirma que a imprensa não devia destruir a autoridade da instituição presidencial, porque os presidentes passam mas a instituição permanece. Por isso, diz ele, vale a pena preservá-la [33] .
Opinião diferente é manifestada por Maxwell King do Philadelphia Inquirer que afirma que não compete ao jornalista apoiar a instituição presidencial, sem prejuízo de manter com ela uma boa relação. "Como jornalista", diz ele, "sentir-me-ia desconfortável com a idéia de ter de tratar uma instituição ou uma pessoa de uma maneira especial". [34]
Outros, como David Laventhol do Times Mirror, afirmam que a imprensa trata o Presidente de uma maneira especial porque é destacada precisamente para cobrir os seus atos. O seu objetivo é, então, "apanhar" o Presidente. [35]
Em vez de uma dependência ou autonomia absolutas dos jornalistas relativamente às fontes, creio dever falar-se de uma interdependência que umas vezes torna uma das partes mais forte em relação à outra na influência e na definição daquilo que chega ao conhecimento do público, da maneira como chega e do momento em que chega."/...
uff.br - Jornalismo e Elites do Poder, Estrela Serrano
O surgimento das relações públicas e a crescente conscientização do governos de que podem usar em seu proveito as notícias, paralelamente à também crescente conscientização da imprensa de que tem de lutar contra a manipulação das notícias, levaram os jornalistas a não se contentarem com a simples obtenção de notícias.
O papel dos media face ao poder político evoluiu de uma fase de reverência, sobretudo em algumas democracias ocidentais para outra, situada por alguns autores nos anos sessenta, em que os jornalistas deixaram de dar apenas cobertura aos líderes políticos para passarem a criticá-los e escrutinar as suas ações e atitudes. O modelo de um jornalismo crítico e ativo colocou sob constante vigilância os aspectos mais controversos da sociedade e o comportamento dos políticos. Os políticos, sobretudo os governantes, passaram a estar permanentemente sob o olhar do cidadãos. Os jornalistas interrogam-nos, as sondagens dão conta do seu grau de aceitação ou rejeição. O poder político é, assim, obrigado a gerir ao mesmo tempo o acontecimento e as reações múltiplas e cruzadas da opinião pública. [31]
Os jornalistas (e os institutos de sondagem) são atores políticos que nenhum político pode desprezar na sua atividade quotidiana. Eles desempenham a vários níveis um papel importante na atividade governamental pela capacidade que possuem de forçar a discussão de determinados temas que não seriam prementes se não surgissem como “temas quentes” nas manchetes dos jornais ou em reportagens televisivas. Os media interferem na atividade dos governos, marcam a agenda, colocando os políticos sobre pressão constante e obrigando-os a tratar com urgência determinadas questões que requerem aprofundamento e estudo. Contudo, apesar de os jornalistas serem, cada vez mais, atores políticos, [32] os seus valores são diferentes e colidem muitas vezes com os valores políticos. O tempo dos media e o tempo da política não são compatíveis. Os media precisam de boas “estórias” que enfatizem os aspectos fora do comum, controversos ou dramáticos do mundo e da política. Os media orientam-se para acontecimentos que possam constituir-se em oportunidades de notícias, não para valores de natureza política. Mas as sociedade evoluem lentamente e não ao ritmo dos media. Por isso, os problemas críticos e crônicos não são geralmente notícia. Pelo contrário, os acontecimentos abruptos têm cobertura garantida, embora na maioria dos casos os desenvolvimentos subseqüentes sejam esquecidos. Ocasionalmente, os media revisitam os assuntos a que deram primeira página mas raramente os acompanham sistematicamente.
De um modo geral, políticos, jornalistas e analistas não se entendem sobre o papel dos media no que se refere, por exemplo à instituição presidencial. No último ano, mercê dos escândalos que envolveram a presidência americana, foram inúmeros os debates sobre essa questão. James Carey, professor na Columbia Graduate School of Journalism considera que a imprensa e a presidência têm vindo a degradar-se mutuamente, e afirma que a imprensa não devia destruir a autoridade da instituição presidencial, porque os presidentes passam mas a instituição permanece. Por isso, diz ele, vale a pena preservá-la [33] .
Opinião diferente é manifestada por Maxwell King do Philadelphia Inquirer que afirma que não compete ao jornalista apoiar a instituição presidencial, sem prejuízo de manter com ela uma boa relação. "Como jornalista", diz ele, "sentir-me-ia desconfortável com a idéia de ter de tratar uma instituição ou uma pessoa de uma maneira especial". [34]
Outros, como David Laventhol do Times Mirror, afirmam que a imprensa trata o Presidente de uma maneira especial porque é destacada precisamente para cobrir os seus atos. O seu objetivo é, então, "apanhar" o Presidente. [35]
Em vez de uma dependência ou autonomia absolutas dos jornalistas relativamente às fontes, creio dever falar-se de uma interdependência que umas vezes torna uma das partes mais forte em relação à outra na influência e na definição daquilo que chega ao conhecimento do público, da maneira como chega e do momento em que chega."/...
uff.br - Jornalismo e Elites do Poder, Estrela Serrano
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