Por volta do século XVI, XVII, (desconhece-se a data precisa), um senhor, talvez nobre, possuidor de grandes bens e terras nas duas margens do rio Zêzere, resolveu ao morrer, legar os seus bens aos dois filhos de nome januários, entregou a um, as terras da margens direita do rio, ao outro, as da margem esquerda, assim nasceu Janeiro de Cima, na margem esquerda e Janeiro de Baixo na margem direita.
A formação de Janeiro de Cima não começou no local onde hoje se encontra. A primeira pedra foi lançada numa pequena elevação ainda hoje chamada esmouroços, local onde construiram a sua primeira igreja, uma capela em honra do Divino Espírito Santo. No entanto, e segundo reza a lenda, nos esmouroços as formigas eram muitas e atacavam os berços das crianças, principalmente no verão. Foi então que os antigos, que eram muito sabidos, decidiram soltar os muitos animais que possuiam (burros e vacas) por uma noite e no local onde esses animais fossem pernoitar construiriam eles as suas casas, a sua nova morada. Ora esses animais apareceram ao amanhacer num pequeno vale denominado cabeço do vale, onde se construíram as primeiras casas feitas de gogos de quartzite amarela tiradas do rio, entremeadas com xisto negro e argamassadas com barro da região.
União foi o que existiu durante séculos entre Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo, freguesia pertencente ao concelho vizinho da pampilhosa da serra. Estas duas freguesias andaram ligadas durante muito tempo e ambas fizeram parte integrante do mesmo concelho, até meados do séc. XIX. A mais antiga é Janeiro de Baixo, que já existia ao tempo do arrolamento paroquial de 1320. Esta freguesia viria a tornar-se um importante centro religioso de uma extensa área de aquém e além Zêzere, do qual por desagregações sucessivas se constituíram as freguesias de Janeiro de Cima, Bogas de Baixo e Orvalho.
Janeiro de Cima foi um curato anexo à vigairaria de Janeiro de Baixo e da apresentação do vigário. O cura, como o próprio escrevia nas memórias paroquiais de 1758, tinha de "renda todos os anos vinte e sete alqueires de pão, metade centeio e metade trigo, quinze almudes de vinho, dois alqueires de azeite, nove mil réis em dinheiro e o pé de altar".
A freguesia não tinha donatários, sendo da coroa, e fazia parte da comenda de S. Domingos de Janeiro de Baixo, e Santa Maria da Covilhã.
Notáveis são as diversas informações que fornece sobre o "rio desta terra". A começar pelo nome do mesmo que faz derivar de Júlio César, por este general romano "ter habitado" ou acampado nalgum ponto estratégico do rio. Também "é certo que em algum tempo se tirou ouro e outros metais de suas areias e voltas deste rio, e a razão é por ainda se conhecerem as levadas que vêm do mesmo rio por penhas e terras fragosas mais de duas léguas e estarem muitos sítios cavados e demolidos, as quais minas dizem alguns que foram feitas pelos mouros, outros dizem que pelos romanos, e ainda em tempo presente costumam algumas pessoas tirar fagulhas de ouro do mesmo rio, digo, de suas areias".
eb1-Janeiro de Cima
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