Uma psicóloga, vinda directamente de Marte, procurou «entender» o comportamento dos rapazes: menores com «famílias desestruturadas» e com sérias «carências afectivas» acabam por desenvolver comportamentos «desviantes». Sem dúvida, senhora doutora. Direi mais: quando as famílias não funcionam e as carências nos comem por dentro, torturar, queimar e até matar não são apenas uma opção. São até uma obrigação: uma forma possível de descarregar a neura. Mas curioso é ouvir a ciência a propor «soluções» para os menores. Eu, na minha rudeza, julgava que o lugar destas crianças era numa jaula. A psicóloga discorda e, num tempo em que o crime virou doença, aconselha: mais actividades desportivas para ocupar os tempos livres. E, se possível, uma certa educação para a cidadania. A educação para a cidadania eu ainda percebo: alguém devia dizer às crianças que torturar, queimar e matar um ser humano não contribui para uma cidadania responsável. É como não saber o hino ou andar a brincar com a bandeira pátria. Mas actividades desportivas parecem uma redundância, na medida em que torturar, queimar e matar envolve um esforço físico apreciável. Melhor seria despejar estas 13 crianças na casa da senhora psicóloga e esperar para ver. Às vezes, a ciência faz milagres.
Estado Crítico, João Pereira Coutinho, Civilização ou Selva
Expresso - Edição Semanal Paga
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