segunda-feira, 7 de agosto de 2006

O insucesso Escolar

Ideias e factos
O insucesso Escolar
Chegou ao fim mais um ano escolar. Concluídos os exames do secundário, prepara-se já o próximo ano lectivo com as candidaturas ao Ensino Superior, e com a organização dos horários e turmas do novo ano; a própria colocação de professores será acabada em breve. É altura de fazer o balanço do ano que agora terminou.
O insucesso escolar foi grave: nas provas do 9º. Ano de Português a percentagem de negativas cresceu em relação ao ano anterior, ficando bem negativo; na matemática continua negativo como nos anos anteriores. No 12º. Ano o insucesso na física e química provocou a celeuma da repetição dos exames com acesso à primeira fase das candidaturas do Ensino Superior; muito se discutiu se as provas estavam com erros, se o novo programa não tinha sido bem compreendido, se o exame era difícil, se era um pouco de tudo…
O relatório intitulado “Eu não desisto – Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar, 2004”, elaborado pelos Ministérios da Educação e Segurança Social, aponta como causas deste insucesso vários factores relacionados com o indivíduo, a família, a escola e a sociedade. Dizer que a Escola é a única responsável é reduzir o problema. O sucesso escolar dos alunos começa na qualidade do apoio que recebem na família ao longo de todas as fases do ciclo de vida. Uns pais que saem de casa às 7H00 e que regressam às 19H00 para lidar com todos os problemas da vida doméstica, que apoio podem dar ao seu filho? É preciso deixar a estes pais mais tempo e recursos financeiros para que eles se possam dedicar aos seus filhos. Esta é uma primeira medida essencial para o sucesso escolar. Reparemos como a situação está invertida: a família fica aflita quando a escola não toma conta dos filhos, pois não sabem a quem os entregar…
Depois é preciso repensar a instituição escolar; a aprendizagem faz-se sobretudo com o estudo individual do aluno, e não com 8 horas de aulas por dia, um bloco de 90 minutos. As aulas são necessárias para orientar o estudo e a reflexão individual, para disciplinar o raciocínio e o estudo, para tirar dúvidas, para indicar caminhos e balizas. Depois de 8 horas de aulas, algumas de “seca”, sobretudo quando há substituições de professor, que vontade tem o aluno de fazer trabalho individual, reflectir e investigar matérias propostas? Reparemos que há alunos que além das 8 horas de aulas, ainda fazem 1 hora de viagem pela manhã e outra pela tarde. Há que repensar os horários das aulas, e os tempos de estudo individual, para que possa haver rendimento escolar…
Depois há a situação individual de cada aluno. Uns precisam de mais acompanhamento, outros precisam de mais tempo para a reflexão individual; uns têm mais tendência para o ensino científico, outros para o literário, outros para o técnico. Porque alinhá-los todos em turmas de 28 alunos, com excepção de casos especiais que ficam em turmas de 20, todos com o mesmo programa curricular e com as mesmas exigências? À partida são sempre alguns que já estão condenados ao insucesso… Muitos deles nem sequer têm liberdade de escolher a Escola que querem, mas têm de aceitar aquela em que os colocam…
Penso que esta reflexão tem de ser feita por quem de direito, caso contrário, para o próximo ano estaremos de novo a lamentar o insucesso escolar do ano que agora estamos a preparar.
Não adianta culpabilizar os professores pelo insucesso; é preciso encarar os problemas.
A.D.

Jornal Reconquista - Castelo Branco

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