Viver e trabalhar em cidades diferentes. A mobilidade no eixo Castelo Branco-Fundão-Covilhã-Guarda começa a ser uma realidade, que o futuro próximo promete acentuar. Hoje a região está mais próxima. Há novos dados em cima da mesa
A A23 pode estar a redesenhar e vir ainda a adensar uma nova realidade, em termos de mobilidade regional, no eixo Castelo Branco-Fundão-Covilhã-Guarda. Faltam ainda os estudos no terreno para avaliar o impacto deste eixo estruturante, mas os sinais começam a estar visíveis. Jorge Miguel Reis Silva, docente na Universidade da Beira Interior é o autor da primeira tese de doutoramento em Portugal sobre transportes, denominada “As Acessibilidades como factor de desenvolvimento de regiões periféricas. O caso da Beira Interior”, que irá ser em breve publicada em livro.
O investigador reflecte sobre a nova realidade que pode advir de uma via rápida que rasga uma região e que une rapidamente os principais eixos urbanos da região. Um novo paradigma de mobilidade pode estar a nascer, apesar de não haver estudos que ainda o confirmem. “Na prática, melhores acessibilidades querem dizer mais desenvolvimento. Mas uma das perversões deste sistema é também aumentar muito a bacia de emprego. Ou seja, se a Covilhã oferecer um parque habitacional mais caro do que o Fundão, com toda a certeza, as pessoas vão viver para o Fundão porque a mobilidade é muito maior. Antigamente, pela Estrada Nacional 18, demorava-se, em horas de ponta, meia hora para fazer a viagem. Hoje demora-se 15 minutos, no máximo”, o que significa que “posso viver no Fundão e ir trabalhar para a Covilhã” até porque “neste momento é mais barato viver no Fundão do que na Covilhã, em termos de compra de casa. Conheço várias pessoas que trabalham na Covilhã e que habitam no Fundão, ou que neste momento equacionaram a hipótese de irem viver para uma quinta”.
Jorge Miguel Reis Silva assegura que “está tudo em aberto para se proceder a um estudo, que será muito interessante”, apesar de prever que “não vamos ter grandes surpresas” porque “houve concelhos que apostaram mais na construção, não em massa, mas mais em qualidade e naqueles aspectos em que antigamente ninguém ligava nada: os aspectos ecológicos. Isso hoje é uma mais-valia porque muito provavelmente os fluxos vão dar-se em torno destas áreas suburbanas, onde, ao fim e ao cabo, estão as melhores condições de habitação e os empregos mais estáveis”.
A A23 pode ter vindo a abrir uma nova realidade de reordenamento social e de novos fluxos. Obrigatoriamente, trabalhar e morar no mesmo local será uma realidade esbatida, desde que a mobilidade esteja garantida. “Neste momento, eu não tenho dados para dizer isto, mas empiricamente nós já vimos noutros sítios: se eu tiver mais mobilidade, se estiver a meia hora de Castelo Branco e da Guarda, este pode ser um tempo razoável para eu ir trabalhar”, adiantando que hoje as famílias “têm que olhar também para o alargamento das bacias de emprego, onde está o emprego mais estável, mas também onde estão as melhores condições de habitabilidade”.
Mas para se criar uma dinâmica empresarial e a mobilidade entre cidades, o docente e investigador da UBI alerta que as cidades não podem copiarem-se mutuamente. A diferença de apostas empresariais, a especialização, a unicidade devem ser tomadas em conta. Um repto que vem de encontro de outros, que defendem que as cidades da Beira Interior devem definir rumos e identidades próprias, complementando-se entre si. “Se não forem criadas sinergias, valências complementares, acabamos por não ter fixação de muita população ou de uma dinâmica empresarial”. E para criar dinâmicas “temos que criar complementaridades” e aproveitar a força da A23, que não pode ter apenas um efeito túnel, um mero local de passagem de tráfego de longo-curso.
Nuno Francisco - Mobilidade eixo Castelo Branco-Fundão-Covilhã-Guarda
As cidades que se estão a aproximar - Jornal do Fundão online
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