Sem dúvida, os países ricos, industriais, podem defender-se (aliviar mas não eliminar o sofrimento) permanecendo na vanguarda da pesquisa, mudando para novos e crescentes ramos (criando novos empregos), aprendendo de outros, descobrindo os nichos certos, cultivando e usando talento, competência e conhecimento. Podem percorrer um longo caminho mantendo um ritmo constante e seguro e contando com redes de segurança, ajudando os perdedores a aprender novas técnicas e qualificações, a obter novos empregos, ou simplesmente a se aposentarem. Muito dependerá do seu espírito de iniciativa, senso de identidade e compromisso com o bem-estar comum, de sua auto-estima e da capacidade de transmitir esses predicados a sucessivas gerações. Enquanto isso, o que fazer com os pobres, os atrasados, os desfavorecidos? Por fim de contas, os países industriais ricos encontram-se numa situação tão confortável, por mais pressionados que sejam pela nova concorrência, que fica muito difícil provocarem preocupação e simpatia. Apesar de todos os seus problemas, eles têm uma obrigação contínua moral ainda mais do que previdente, para com os menos afortunados. Devem dar pelo prazer de dar? Dar somente quando faz sentido (compensa) dar? Dar, como fazem os banqueiros, de preferência àqueles que não necessitam de ajuda? Amor egoísta, amor altruísta? Ambos? Faço essas perguntas, não porque saiba as respostas (só os verdadeiros crentes pretendem conhecê-las), mas porque se deve estar cônscio do inextricável emaranhado de motivos conflitantes e efeitos contraditórios. A navegação através dessas corredeiras exige constantes ajustes e correcções, tanto mais difícil porquanto qualquer plano ou programa de acção é condicionado por políticas internas. E os pobres, o que fazem? A história nos ensina que os mais bem sucedidos tratamentos para a pobreza vêm de dentro. A ajuda externa pode ser útil, mas, como a fortuna inesperada, também pode ser prejudicial. Pode desencorajar o esforço e plantar uma sensação paralizante de incapacidade. Como diz um aforismo africano: "A mão que recebe está sempre por baixo da mão que dá." Não, o que conta é trabalho, parcimónia, honestidade, paciência, tenacidade. Para gente acossada pelo infortúnio e a fome, isso pode contribuir para uma indiferença egoísta. Mas, no fundo, nenhuma acção é tão eficaz, tão efectiva, quanto aquela que as próprias pessoas se habilitam para realizar por si mesmas, sem a ajuda alheia. Algumas destas coisas podem soar a uma colecção de lugares-comuns - o género de lições que se costumava aprender em casa e na escola, quando pais e professores pensavam ter a missão de criar e educar seus filhos. Hoje, dignamo-nos condescender com tais verdades, deixamo-las de lado como desenxabidas banalidades. Mas por que considerar obsoleta a sabedoria? Estamos vivendo, sem dúvida, numa época de sobremesa. Queremos que as coisas sejam doces; muitos de nós trabalhamos para viver e vivemos para ser felizes. Nada há de errado nisso; só que isso não promove uma alta produtividade. Queremos alta produtividade? Então deveremos viver para trabalhar e obter a felicidade como um subproduto. Não é fácil. As pessoas que vivem para trabalhar são uma pequena e afortunada elite. Mas é uma elite aberta aos recém-chegados, aos autoselecionados, a espécie de gente que destaca e enaltece o positivo. Neste inundo, os optimistas vencem, não porque estejam sempre certos, mas porque são positivos. Mesmo quando erram, são positivos, e esse é o caminho da realização, correcção, aperfeiçoamento e sucesso. O optimismo educado, de olhos abertos, compensa; o pessimismo só pode oferecer a consolação vazia de estar certo. A única lição que se destaca é a necessidade de continuar sempre tentando. Nada de milagres. Nada de perfeição. Nenhum milénio. Nenhum apocalipse. Devemos cultivar uma fé céptica, evitar dogmas, ouvir e observar bem, procurar esclarecer e definir metas, os melhores que escolham os meios. »Eu vos propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida, para que vivas, tu e a tua posteridade.» Deuteronômio, XXX: 19
David S. Landes
Riqueza e a Pobreza das Nações
3ª ed.- Rio de Janeiro- Campus -1999 -pp. 592-593
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