HÁ UM novo historiador da Covilhã. O seu nome é Assunção. Ele vive ali para os lados da antiga ponte Mártir- im- Colo e leva uma vida pacata de professor e de investigador mas durante dez anos viveu com os nossos operários do princípio do século XX. Há cem anos os operários morriam de fome na Covilhã. Trabalhavam 18 a 19 horas por dia e diante das máquinas estavam também as crianças de 6 a 10 anos, de noite e de dia. Era também o tempo das greves. Um jornal da época, “A Estrela”, conta a crise: “O chefe da casa, rapaz novo e robusto, não trabalhava há muito. No meio da casa a mulher arde em febre iludindo o estômago com água de café... as três crianças aconchegam-se em volta da bruxa...”. Assunção viveu estas lutas contra a miséria e contra os patrões e depois lá esteve na famosa greve de 1909 contra Thoratier. Este alemão irascível, que tratava os operários de burros e saloios, director técnico da firma “Campos Mello“, despedira o tecelão José Bernardo Gíria por defeitos encontrados no seu trabalho de tecelagem e isto deu origem a uma das maiores greves de que há memória na Covilhã... É desta odisseia extraordinária e de outras de que nos fala o professor Assunção no seu meritório livro “O Movimento Operário da Covilhã “, que saiu agora e que nós todos devemos ter em casa... Se encontrarem na rua o Professor alto e ruço falem-lhe... É que há uma continuação... O professor Assunção sabe e nós também sabemos: os filhos de Adão sempre pecaram, os filhos da Covilhã sempre cardaram...
CRÓNICA - A génese ensanguentada - Manuel da Silva Ramos
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