"E depois fui pesquisar o que queriam ao certo fazer à minha velha gramática, companheira de tantos milhares e milhares de páginas produzidas não sei bem para quê. E declaro que descobri coisas fantásticas, sem dúvida impressionantes, todavia incompreensíveis, pelo menos sem uma acção de formação radical. Descobri que o simples artigo, o velho artigo definido, é promovido a “determinante artigo”: não percebo a vantagem, mas até aí ainda vou. O pior é quando me propõem designações como a “coerência pragmática ou funcional”, o “modificador”, o “designador rígido”, o “anafórico”, a “catáfora”, a “meronímia”, o “ataque da sílaba”, a “coda da sílaba”, o “agentivo”, ou uma coisa entre todas misteriosa chamada “ordem OVS”. Isto para já não falar do “género epiceno”, que tem a particularidade de se poder dividir em “variantes comuns” ou “comuns de dois”. Caramba, importam-se de falar português?"
Miguel Sousa Tavares - Reflexões sobre o futuro do meu cão - Jornal EXPRESSO, edição online paga
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