JÁ MUITAS vezes escrevi sobre o Diamantino Gonçalves e a forma como faz da fotografia uma arte superior. Já muitas vezes fizémos da aventura de descobrir territórios surpreendentes, numa navegação que logo se fixa nas coisas de parar e ver, na gente comum que abre sempre o coração à amizade, nos lugares e nos instantes que depois ajeitamos no bornal da memória, para melhor seguirmos caminho sem perder nada. Às vezes, a paisagem parece abarcar o infinito, feita de azuis que se desfazem à medida que a imagem se amplifica, tão longe que ele diz só parar no Coscorinho, e, se calhar, a oferta é tão grande que melhor seria pedir, como Goethe, que o tempo se imobilizasse ali, por momentos, para lentamente saborearmos o milagre; mas já ele, com a sua máquina, caminha noutras direcções, como se uma bússola interior o guiasse, à procura de outras realidades, que ele fixa para nos fazer sonhar. Intacta a realidade, ainda sem feridas do bicho homem, o pequeno fio de água no cimo da montanha, a árvore, as árvores seculares que às vezes se agigantam na planura, a pedra do muro, as pedras pintadas por musgos milenares, a grafologia rupestre que ele retirou de um silêncio de 25 mil anos. Às vezes, caminhamos sobre uma rua e lá está a sua sagacidade, o seu olho de lince a descobrir o detalhe de uma pedra assim, uma janela ou um portal, um telhado de estranha geometria, um algeroz de fino acabamento ou um cata- -vento que não precisa de palavras para legenda. O Diamantino Gonçalves, ainda por cima, sendo artista de eleição, não se esconde na redoma, e está sempre disponível para ...ir buscar a máquina. Daí que os projectos que tenho podido compartilhar com ele acabam por ser momentos exaltantes de um prazer superior, decerto igual àquele que um mortal pode ganhar quando vence mais um dia olhando um fantástico pôr-do-sol... Em Agosto de 2003, foi esta fotografia do Diamantino Gonçalves que fez a primeira página do “Jornal do Fundão”. Uma fotografia que tinha dentro todo o drama dos incêndios florestais, desde a perplexidade humana do pai com os dois meninos até à fragilidade dos meios no seu combate, como se o avião estivesse a caminho de uma bruma feita de chamas e de fumos. É, de facto, um documento excepcional. Foi essa qualidade que a prestigiadíssima revista de fotografia PHOTO reconheceu. Entre 50 mil fotos, enviadas dos mais variados pontos do mundo, a revista francesa deu à foto de Diamantino Gonçalves o maior destaque – uma página inteira – numa distinção merecidíssima. Falo-lhe no êxito que isso representa, e já ele parte para outra, como se a glória, mesmo efémera, já não valesse a pena ser festejada.– Isso foi ontem!
Jornal do Fundão. Edição on-line paga. Secção Opinião - Uma Fotografia
Fernando Paulouro Neves
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