ELEIÇÕES FRANCESAS
Disputa por votos na mídia segmentada
Por Jean-Michel Normand
Reproduzido Mídia&Política (nº 31, 20/4/2007) sobre matéria do Le Monde;
tradução de Fábio Pereira
A eleição presidencial não é somente o encontro entre um homem ou uma mulher e o conjunto dos franceses. É também uma confrontação entre um candidato e toda uma série de eleitores marcados, sobriamente designados pelo vocábulo "públicos específicos". Como testemunho, a massa de entrevistas e questionários dirigidos pelas publicações especialziadas e revistas, abordando ocasionalmente assuntos bastante precisos, e que são respondidos pelos protagonistas na corrida pelo Elysée. No caso dos candidatos François Bayrou, Ségolène Royal et Nicolas Sarkozy, as estimativas variam entre 160 e 300 intervenções nessas mídias. "Com relação a 2002, nós dobramos esse tipo de intervenção, assegura um conselheiro de François Bayrou.
"Formadores de opinião bastante importantes". Se a candidata socialista – diferente dos seus dois principais rivais – não viu interesse em responder à Echecs Magazine (sobre xadrez), François Bayrou nunca diz não. Ele também exprimiu suas convicções centristas na L’Essor, de associação de condomínios e na Funérarium magazine (revista funerária).
Assuntos voláteis
No QG de Nicolas Sarkozy, onde dizem receber cerca de vinte solicitações por dia, toda a equipe trabalha "para responder a essas mídia que se constituem em formadores de opinião extremamente importantes". Os candidatos não respondem pessoalmente à solicitações "setoriais", mais dizem controlar as respostas feitas em seu nome.
A multiplicação dessas iniciativas dirigidas a públicos específicos se inscreve na lógica de uma campanha eleitoral sem tema central dominante, onde os assuntos da confrontação são voláteis e que vê cada candidato desenvolver seu próprio argumento independentemente dos concorrentes. Para as revistas destinatárias dessas invervenções, trata-se frequentemente de realizar um lobby. Architecture, Bois et Dépendance (Arquitetura, Madeira e Dependência), uma revista que defende a causa das casas de madeira, se alegrou por ter recolhido declarações – todas muito favoráveis – de sete candidatos, incluindo os três principais. "Isso terá igualmente um impacto sobre os governantes, notadamente aqueles que se recusarem a conceder as permissões para construir habitações em madeira", assegura um dos responáveis pela revista.
Ségolène Royal nega-se a a reconhecer que cedeu a uma prática corporatista. "Na realidade, as questões muito especializadas que nos são dirigidas não são tão numerosas. Essas entrevistas permitem à candidata a ampliar o tema abordado", insiste um assessor que vê na multiplicação dos questionários aplicados pelas revistas especializadas a consequência de um tipo de "effet-Hulot", como um eco à constituição para o meio ambiente submetida aos políticos pelo apresentador do canal TF1
Uma colaboradora de François Bayrou destaca igualmente o que ele designa como um dos paradoxos deste escrutínio presidencial. "A forte frequentação dos comícios traduz uma busca de sentido em torno dos grandes debates mas, em paralelo, as pessoas querem que os candidatos se dirijam também a seus centros de interesse individual, incluindo os mais específicos"
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