A mente da Al-Qaeda (final)
Harald Doornbos
Resumo: Na parte final de seu artigo, o jornalista holandês Harald Doornbos demonstra que o objetivo dos fanáticos islâmicos ligados a Bin Laden é a destruição do mundo ocidental e o massacre completo dos judeus.
© 2004 MidiaSemMascara.org
O General Mirza Aslam Beg tem setenta e dois anos e é um antigo chefe do exército paquistanês. Ele não é membro da Al-Qaeda, mas um simpatizante. O velho general, que foi considerado suspeito, pelas autoridades, do tráfico de urânio para o Irã, mora em Rawalpindi. Isso é muito longe para caminhar a partir de Islamabad, mas com um carro chega-se lá em 15 minutos. O presidente Musharraft odeia Aslam Beg e o intitula um “pseudo-intelectual”. Aslam Beg, por sua vez, nada quer saber de Musharaaft. «Um amigo dos americanos», diz ele. Então o general ataca. «Muito se fala das conseqüências negativas do 11 de setembro. Mas eu só vejo desenvolvimentos positivos. Pela primeira vez o unilateralismo americano é desafiado. A tática americana de usar violência para alcançar fins políticos tem sido usada com sucesso pela Al-Qaeda contra eles. O 11 de setembro foi uma benção, porque isso levou a uma renascença dentro do mundo islâmico. Onde quer que os muçulmanos vivam, há problemas. Isso nos enche de orgulho. Muçulmanos no Iraque e no Afeganistão contra os americanos e os anglo-saxões, muçulmanos na Chechênia contra os russos, muçulmanos na Bósnia contra os sérvios, muçulmanos na Cachemira contra os indianos, muçulmanos na Palestina contra os judeus. Para onde quer que olhes, os muçulmanos desempenham um papel essencial. Precisas voltar muitos séculos para presenciar algo parecido. O Ocidente nada pode fazer. O Paquistão tem armas atômicas. Se vocês forem tão estúpidos para nos atacar, jogaremos todas as bombas atômicas que temos na Índia. Isso todos sabem, por isso não podem nos atacar." Analistas ocidentais explicam em termos simplistas o surgimento do fenômeno Al-Qaeda. A América abandonou o Afeganistão no fim dos anos oitenta após a derrota dos comunistas russos. Por isso os guerreiros árabes e afegãos se sentiram usados. A frustração teria crescido quando os americanos atacaram, em 1991, pela primeira vez o Iraque e enviaram tropas para a Arábia Saudita, continuaram a apoiar Israel e por último atacaram mais uma vez o Iraque em 2003. Ou seja, podem esperar o troco, não é verdade? Diversos ministros europeus têm dito em alto tom depois de Madri: nós não devemos nos ocupar apenas com a luta contra o terrorismo, mas também erradicar as suas causas. Mas as causas do terror da Al-Qaeda são bem maiores, mais complicadas e mais incompreensíveis e bem menos políticas. A Al-Qaeda, segundo o doutor Jean E. Rosenfeld, associado ao departamento de religião comparada da universidade de Los Angeles e um dos poucos pesquisadores que têm estudado seriamente o grupo, pode ser comparado a uma seita. «Eles se encontram no ambiente dos movimentos milenaristas revolucionários no qual tudo é uma conspiração e o Estado secular é visto como o seu maior inimigo, contra o qual todas as formas de violência são lícitas». Um exemplo seriam os recentes atentados em Madrid. A Espanha é escolhida sem sombra de dúvida como alvo pela Al-Qaeda, porque o premier Aznar executaria uma política pró-americana. Mas se alguém se der ao trabalho de ler os discursos de Bin Laden, salta aos olhos que a Al-Qaeda já tinha a Espanha na mira. No seu pronunciamento em 8 de outubro de 2001, logo após os americanos começarem a bombardear o Afeganistão, mas bem antes de o governo espanhol apoiar claramente a política americana quanto ao Iraque, começa Bin Laden com as seguintes palavras: «Deixem o mundo saber que jamais aceitaremos que a tragédia de Andaluzia seja repetida na Palestina». Não, ela apenas começa. Madrid, Sevilla e Córdoba assim como Jerusalém e Bagdá são pontos de encruzilhada e de tensão na luta entre cruzados, os infiéis, e os escravos e servos de Deus. Pegue a tragédia de Andaluzia sob a perspectiva de um ocidental comum e ele provavelmente pensará no acirrado embate durante a Guerra Civil Espanhola entre sindicalistas-anarquistas e as tropas de Franco. Mas sobre a perda dos Mouros no século quinze? Tente explicar isso na praia de Torremolinos. Não muito longe do general Aslam Beg, o tenente-coronel Hamid Gul possui uma pequena casa. Gul é ex-chefe do serviço secreto paquistanês ISI. Como ex-líder de um clube de cientistas nucleares paquistaneses, que no Afeganistão queriam construir uma bomba para a Al-Qaeda, tornou-se Gul o Senhor Maligno para os seus adversários. Gul é membro da Al-Qaeda e seu ideólogo. «Os americanos bem que pediram ao invadirem o Iraque. Estúpidos, estúpidos, estúpidos. Todos os jihadi’s (combatentes da guerra santa) têm agora uma guerra na esquina. Nós não temos mais que ir para a América; vá ao Iraque e lá temos centenas de milhares de alvos. Um guerrilheiro não tem que vencer, mas apenas cuidar para que não perca. Há quanto tempo já dura a batalha na Palestina? Através de todas as vitórias que alcançamos, o mundo islâmico irá se tornar ainda mais forte. Eu já estive uma vez em Nova York, e lá escalei o centro mundial do comércio. Bela vista foi aquela. Nós muçulmanos temos um guia divino que nos traz a vitória. Nós reconhecemos todos os ancestrais e profetas dos judeus e cristãos, mas vocês se recusam a reconhecer os nossos profetas.Sistema de vocês cairá. O fim da civilização ocidental está no forno. Se eu fosse você, estaria bastante preocupado”. Antes as coisas eram diferentes. Um terrorista ainda telefonava para a polícia para dizer que uma bomba iria explodir, ou se dava ao trabalho de escrever um longo comunicado. Um terrorista ainda se desculpava pelo excessivo número de inocentes mortos: “Desculpe, mais uma vez; essa não foi a nossa intenção”. Terroristas ainda tinham um objetivo mais ou menos realista. Se a nação basca se tornar amanhã independente, o ETA cessará seus ataques. Com a Al-Qaeda esse tempo está definitivamente acabando para nós. A lista de Osama bin Laden não conhece fim. Se você se tornar um muçulmano, então é fato que beber álcool ainda é razão suficiente para morrer. Se parar de beber, então retire todas as fotos de tua casa. Todos os álbuns de fotos foram jogados fora, então faça os mesmo com os seus cd’s. E assim vai. Não, a Al-Qaeda não avisa a polícia por causa de um atentado. O propósito é precisamente que muitas vítimas venham a morrer. Porque elas são escravas de Satanás, então não há o conceito de inocentes. Quanto mais inocentes caiam entre os infiéis, mas ódio sente Satanás contra os escravos de Deus. Mais atentados são exigidos, porque nos fazem ainda mais furiosos e levam a uma divisão mundial, à uma suprema guerra de civilizações. Bin Laden é bastante explícito nesse ponto. Numa justificativa do ataque em 11 de setembro de 2001 o líder da Al-Qaeda fez, no começo de outubro, no Afeganistão, um discurso para os seus seguidores. Ele disse: «Esses acontecimentos dividiram o mundo em dois campos: o dos fiéis e o dos infiéis; que Deus vos separe deles. Cada muçulmano deve se apressar para ajudar na vitória de sua religião. O vento da fé chegou, o vento da mudança chegou, que destruirá os opressores na Ilha do profeta Maomé (Arábia Saudita), que a paz esteja com ele”. Khalid Kawaja, o homem do bolo, concorda plenamente. “Aonde estivermos», diz ele, «irão acontecer muitos atentados, que farão os cristãos expulsarem os muçulmanos da Europa e dos Estados Unidos. Isto é muito importante para nós, porque não queremos que muçulmanos se misturem com Satanás ou sejam governados por ele. Muçulmanos que estiverem a serviço de infiéis não podem ser enterrados e vão direto para o inferno. Todos os muçulmanos no Ocidente devem morar no califado”. Hamid Gul concorda, mas acrescenta que os judeus devem ser, paralelamente a tudo isso, eliminados. “Eu criei um fantástico sistema para matar judeus”, diz Gul todo contente. “Nós estamos fazendo tanta agitação no Iraque que os americanos não conseguirão mais controlar a situação. A América irá abandonar o barco, mas isso Israel não tolerará, porque então o Iraque cairá nas mãos dos santos guerreiros. Então Israel irá criar mais tensão no Oriente Médio a fim de manter os americanos lá. Assim, o mundo verá que Israel é um jogador desonesto, um obstáculo à paz. Talvez seja o desejo do pai do pensamento, mas acontecerão novamente pogroms na Europa contra os judeus. Os europeus têm uma tradição no que tange à morte de judeus. Israel será, portanto, tão isolado que todas as nações árabes o cercarão e o expulsarão. Os judeus têm uma quedinha para cometerem, enquanto nação, suicídio coletivo”. Isso poderia ser diferente. Se Osama bin Laden ao invés de estar numa gruta no Afeganistão fosse encontrado pela polícia em Amersfoort, na auto-pista, alucinado e seminu, ele seria certamente internado num instituto psiquiátrico e poderia, depois de alguns anos de tratamento psiquiátrico, voltar a conviver dentro da sociedade. Mas a realidade é essa. Bin Laden está numa posição forte. Sociedades abertas não possuem nenhuma resposta. A cada atentado os europeus e americanos se sentem mais dispostos a trocarem as suas liberdades por mais segurança. Mais câmeras, mais polícia, mais desconfiança, mais ódio. Mas se nós simplesmente nos retirarmos da guerra contra o terrorismo e esperarmos que Osama não consiga achar uma terra como a Holanda, então enfraquecemos outras nações democráticas e fazemos tudo mais fácil para a vitória da Al-Qaeda. O dado está lançado. A guerra sem fim já começou.
Publicado originalmente por groene.nl
Tradução: Marcus Pinheiro de Castro.
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