Estamos na era da comunicação. Aí estão a afirmá-lo nas auto-estradas da informática que permitem aos humanos comunicar a toda a velocidade a nível global. Aí está a afirmá-lo o “projecto Galileu que permitirá no futuro localizar qualquer pessoa em qualquer parte do Mundo, com um erro inferior a um metro. Faz-se questão em afirmar que o projecto tem fins civis e não militares! Aí está a afirmá-lo o facto de em Portugal há praticamente tantos telemóveis, quantos os habitantes, coisa que não acontecia há vinte anos quando entrámos na Comunidade Europeia, em que este artefacto era um objecto desconhecido dos portugueses.Alguém me contou que na noite da Consoada de determinada família, às tantas toda a gente deixou de falar e comunicar com quem estava ao seu lado, para fazer parte do grupo que pelo telemóvel mandava as tais milhões de mensagens, que enriquecem as empresas de telemóveis; foi preciso uma criança pequena, a única que ainda não tinha este aparelho, começar a berrar por ninguém lhe dar atenção, para todas se lembrarem que afinal foram para ali comunicarem uns com os outros em família.As empresas que então ligadas a esta comunicação electrónica estão fora da crise, e há uma que até se dá ao luxo de utilizar o hino nacional na sua publicidade… Vão atirando novas gerações de telemóveis, novos serviços, novas propostas de utilização para sua fortuna. Depois vem o reverso da medalha que são as escutas telefónicas. O Presidente dos Estados Unidos aparece a fazer escutas ilegais para se defender do terrorismo. Em Portugal o Ministério Público é acusado de pôr inúmeros telefones sob escuta. Depois há as fugas de informação que acabam por ir parar aos jornais e televisões. Há ainda a pirataria informática, a pornografia infantil que circula pelas internetes, os fabricantes de vírus que não param de atrapalhar… Há ainda os telemóveis que toca, continuadamente nos sítios menos convenientes: igreja, congressos, aulas ou conferências… O pior de tudo é que nesta era da comunicação continua a haver muitos casais que se divorciam porque não conseguem comunicar e dialogar entre si. Há ainda o insucesso escolar que é explicado pela falta de comunicação entre professores e alunos, apesar de as escolas estarem quase todas equipadas com internete. Há o fosso entre gerações que se agrava por não se conseguir a comunicação entre pais e filhos, entre jovens adultos. Há até os namorados que não sabem comunicar por outra linguagem que não seja a de procura de sensações, “curtir” com eles dizem, o que impede qualquer compromisso sério e definitivo. Comunica-se muito à distância por palavras e sinais electrónicos, mas a comunicação pessoal dos corações, das vidas, essa que pode fazer um futuro melhor, revela-se cada vez mais difícil e rara. É preciso cultivá-la.
A.D. 05-01-2006 Ideias e Factos Jornal Reconquista
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