Apresentação do Plano Tecnológica para a Educação. À primeira vista, tudo o que foi anunciado parece bom e útil. Computadores, impressoras, videoprojectores, quadros interactivos, videovigilância e muitos objectivos e metas para atingir em curto espaço de tempo. Mas nada disto pode ser lido fora do contexto global onde se inscreve. E qual é o contexto? O descalabro mais completo de que há memória no âmbito da Educação.
Há dias, Santana Castilho, professor do ensino superior, escrevia no Público: "Analiso as políticas educativas, na imprensa portuguesa, de forma permanente e regular, desde 1981. Digo, pesando o que digo, que este é o pior Governo para a área educativa não superior de que guardo memória. Tudo o que seria importante para promover a qualidade do sistema de ensino ou não foi realizado ou foi objecto de medidas que degradaram ainda mais o que já era mau". Depois, Santana Castilho refere uma a uma as medidas que fabricaram este triste descalabro. Não vale a pena retomá-las aqui. Saliente-se apenas o enorme conflito com os professores, com os pais e os alunos. Não tenho memória de um governo onde alunos, pais e professores tenham recorrido tanto, e ganho, aos tribunais como com este. Eis o contexto do Plano Tecnológico para a Educação.
Mas as medidas não são em si mesmas boas? Depende. Hoje, nos Estados Unidos, sabe-se que as tecnologias de informação e comunicação não acrescentam nada às aprendizagens. Podem até, e há escolas que o confirmam, ser factor adverso à formação dos alunos. Uma medida boa, como a anunciada, num contexto mau pode gerar efeitos absolutamente perversos. Não haja ilusões sobre a melhoria das aprendizagens que este monumental investimento possa trazer. O problema do ensino em Portugal não está na falta de tecnologia. Reside na pouca importância dada pelo Ministério às áreas científicas, à falta de rigor e exigência nas aprendizagens e à cultura dos alunos composta por uma mistura de ódio ao trabalho e desinteresse mais absoluto por tudo o que faça pensar.
Por trás do espectáculo de apresentação do plano está a convicção de que os alunos não aprendem por falta de um ensino que seja ele mesmo espectacular. Gastem-se então milhões de euros em salas de aula bem preparadas para a animação escolar. O problema, porém, é que a aprendizagem é uma coisa muitas vezes aborrecida e trabalhosa. Exige tempo e paciência e não há computador que substitua o trabalho.
O símbolo desta triste política é a encenação que o Governo proporcionou, contratando uma espécie de "alunos" para representarem o maravilhoso mundo novo que vem aí. Sob a batuta de Eng.º Sócrates, Lurdes Rodrigues e Valter Lemos transformaram as escolas portuguesas num imenso palco onde se finge que se estuda. A criançada vai ficar feliz, isso é que importa. Aprender? Meus Deus, isso dá trabalho e the show must go on.
Jorge Carreira Maia
A VER O MUNDO http://averomundo-jcm.blogspot.com/
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