A cigarra e a formiga
Comparando o discurso do Dia de Natal do Primeiro Ministro, com o do Presidente da República, no dia de Ano Novo, parece que ambos estão à frente de dois países diferentes. José Sócrates orgulha-se do trabalho feito a nível europeu e do país, orgulha-se dos 426 euros do ordenado mínimo, de ter vencido o difícil, do crescimento da nossa economia… apenas há um pequeno senão: a Batalha do desemprego que não foi possível vencer. Cavaco Silva mostra-se preocupado com o desemprego, com as desigualdades salariais nas empresas, com a desertificação do interior, com o que se passa na saúde, na justiça e na educação, com medos muito concretos para estes sectores.
Quem tem razão? Olhemos algumas realidades do princípio deste ano de 2008: O aumento dos ordenados dos funcionários públicos foi de 2,1% de acordo com a inflação prevista para este ano, segundo o senhor ministro das finanças. Na realidade, os aumentos verificados na água, luz, gaz, electricidade, transportes, bens alimentares, saúde, situa-se sempre acima desta percentagem, provando que a inflação vai ser acima deste valor previsto, e portanto com perda de compra para os funcionários públicos. Olhemos agora com o que se passa com os gestores das grandes empresas: fala-se em milhares de euros, muito acima dos 426 do ordenado mínimo, provocando o tal desiquilibrio de que falou com razão Cavaco Silva. Portugal tem os mais ricos do Mundo, e muitos maiores pobres da Europa.
Olhemos agora para a saúde: em vez de melhorarem os Centros de Saúde, SAP,S, e maternidades, continua-se a fechar, sem contrapartidas à vista; sobem-se as taxas moderadores, e o senhor ministro diz que o ovo ainda lhe vai agradecer pelo seu trabalho, pois são todos burros e só ele é esperto… pode explicar, mas as pessoas estão na rua a contestar… Passemos à justiça e vemos que a par da lentidão e de uma justiça feita para aqueles que têm bons advogados, bem paga, é rígida por um novo Código de Processo Penal e Código Penal que, até ver, não trazem qualquer benefício para o cidadão de bem. Pelos vistos até o sr. Procurador não sabe se tem o telefone sob escuta… Isto é de orgulhar os governantes?
Passemos à educação: há pelos vistos menos gente a desistir da Escola, mas só quem lá está sabem com que problemas se debatem a nível de presenças nas aulas, a nível de disciplina, a nível de violência; não é fechando os olhos a estes problemas que se educa, só porque os adolescentes e jovens estão na Escola. O próprio sistema de certificação de habilitações é muito duvidoso, quer nos adultos que voltam às Escolas, quer mesmo naqueles que as frequentam de modo normal: o medo aos exames, o modo como se certificam os conhecimentos adquiridos, faz com que tenhamos cada vez mais doutores, e mais ignorantes… Finalmente a desertificação do interior de que fala o Presidente da República está bem à vista: basta folhear as páginas dos semanários do interior, como o nosso, e verificar o que se passa. Deixemos os foguetes para a passagem de ano e vamos ao trabalho como pede Cavaco Silva, se queremos ser um país europeu igual aos outros.
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"Jornal Reconquista" online
Semanário Regionalista da Beira Baixa
Edição Nº: 3226 de 10-01-2008
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