Numa parada e num desfile pelas ruas de Santarém, a unidade militar despediu-se da cidade que a acolheu durante 50 anos, preparando-se para concretizar a transferência para Abrantes, no âmbito da remodelação orgânica do Exército.
Segundo o tenente-coronel Tiago Vasconcelos, comandante da EPC, a transferência deve-se à "mudança do modelo organizacional do exército" e à falta de recursos humanos provocada pelo fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO).
Esta situação "impôs a necessidade de uma nova estrutura orgânica do Exército" e com a "profissionalização do contingente", as hierarquias militares decidiram concentrar várias estruturas de formação do Exército na zona de Abrantes, perto do Polígono de Tancos e de Santa Margarida.
Numa cerimónia oficial agendada para segunda-feira, a direcção da EPC toma o seu lugar no quartel de Abrantes e a transferência dos equipamentos deverá estar concluída até ao final do ano.
No entanto, está prevista a assinatura para breve de um protocolo com a Câmara de Santarém, onde será deixado equipamento para o renovado museu Salgueiro Maia, que evoca a memória do 25 de Abril e o papel da coluna militar da EPC que era liderado por aquele "capitão de Abril".
"Será com grande tranquilidade que depositaremos em Santarém parte do nosso espólio e do nosso património simbólico" para "preservar a memória desse patriotismo", afirmou Tiago Vasconcelos.
Actualmente, existia um pequeno núcleo museológico na EPC de homenagem ao 25 de Abril, mas a autarquia quer aumentar significativamente esse património para honrar devidamente a memória desses militares.
Para Natércia Maia, viúva de Salgueiro Maia, a criação de um museu aberto ao público é bem-vinda, até porque "é importante para Santarém manter esses valores bem vivos".
Por seu turno, o presidente da Câmara local, Francisco Moita Flores, considerou que esta cerimónia de despedida se insere num "quadro de saudade", até porque "Santarém não gosta da partida" de uma instituição que é "parte da identidade" da própria cidade.
"Vivemos num tempo em que o economicismo" das instituições "vale mais do que uma multidão de afectos", afirmou.
No futuro, o museu Salgueiro Maia "será a aposta que une dois caminhos: o de Santarém e o da Escola Prática de Cavalaria", sublinhou Moita Flores.
Ao longo dos anos, a EPC "formou soldados", mas também "enformou a cidadania das gentes", seja durante a Guerra Colonial ou na madrugada de 25 de Abril, através da coluna de Salgueiro Maia.
A EPC deu um "contributo cívico" que o país não deve esquecer, também pela "honradez completa" dos militares que a serviram, acrescentou Moita Flores.
No seu discurso, o autarca agradeceu ainda "o pedaço de história que (os militares da EPC) ofereceram à cidade".
No que diz respeito aos usos futuros do quartel da EPC, várias informações apontam para a instalação em Santarém de uma unidade da GNR, após obras de adaptação dos edifícios.
No entanto, a autarquia não quer que os 30 hectares da EPC, localizados numa das zonas mais nobres da cidade, sejam alvo de qualquer tipo de especulação imobiliária.
"A Câmara tem uma palavra a dizer sobre o uso desta zona", afirmou Moita Flores.
A intenção de transferir a EPC de Santarém para Abrantes remontava ao ano 2000, no quadro de um projecto de reorganização das escolas práticas do Exército.
Criada em 1890, a EPC começou por ser instalada em Vila Viçosa, de onde saiu em 1900 para Torres Novas.
Só em 1955, o quartel foi transferido para Santarém, ocupando edifícios militares que já haviam servido para acolher estruturas de Infantaria, Caçadores e Cavalaria.
Agência LUSA
2006-11-17
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