Luanda, 17 Abr (Lusa) - O Jornal de Angola (JA, estatal) acusa hoje em editorial o líder da UNITA, Isaías Samakuva, de ter ido a Portugal "prestar vassalagem" a "dois cadáveres políticos", referindo-se a Mário Soares e João Soares.
O texto, intitulado "A política errada no sítio errado", começa por afirmar que Samakuva, que vai permanecer em Portugal até domingo, "está a demonstrar que continua acantonado no espírito conspirativo da Jamba".
"Em vez de usar uma linguagem digna de um político com aspirações de poder, reproduz as atoardas, as mentiras e as calúnias tão caras à imprensa e aos círculos hostis a Angola", adianta o editorial do JA.
Referindo-se a declarações de Isaías Samakuva feitas em Portugal, onde este acusa o governo de Luanda, segundo o texto do JA, de ser "corrupto", de "limitar a liberdade de imprensa" e de "controlar a Justiça", o editorial diz que estes são "expressões caras ao clã soarista".
"Dizer estas coisas a uma corte de jornalistas escolhidos a dedo é muito grave, porque o líder da UNITA mostra que continua em guerra contra o seu próprio país e a tratar Angola e os angolanos como inimigos a abater", aponta ainda o Editorial.
O jornal afirma ainda que "é pouco digno e até imprudente usar os argumentos habitualmente usados por João Soares. Indigno porque o antigo presidente da câmara de Lisboa está permanentemente a denegrir o nosso país".
"E é imprudente porque seguir o seu pensamento ou usar os seus argumentos pode redundar em desastre eleitoral", refere o texto, lembrando que João Soares é um político gasto, sem chama(...) sem credibilidade e unanimemente detestado em Angola".
"Mário Soares, o chefe do clã de apoio a Samakuva, é um desastre mais grave", avança a mesma prosa, fazendo ainda considerações à derrota eleitoral do ex-Presidente português nas eleições presidenciais.
O Editorial do JA questiona ainda o porquê e o que ganha o líder da UNITA em "prestar vassalagem a dois cadáveres políticos".
"Com milhares de esqueletos no armário e de braço dado com dois políticos em acelerada decomposição, Samakuva parece correr para o desastre total", sublinha o JA ainda no seu Editorial de hoje.
"É curioso e sinto-me honrado", foram as palavras usadas pelo deputado João Soares quando reagiu, em declarações à Lusa, ao editorial.
"Não é a primeira vez que sou alvo de ataques nos editoriais do JA", disse João Soares, que é acusado de "permanentemente denegrir Angola".
João Soares refere que gosta muito de Angola e que nunca falou mal deste país, "mas isso não significa que deva gostar de José Eduardo dos Santos (Presidente angolano) e do MPLA".
A Lusa procurou falar com Mários Soares, mas o ex-Presidente da República encontra-se fora de Portugal e não esteve contactável ao longo do dia de hoje.
O JA defende ainda que Samakuva "escolheu mal" o local para "abrir uma campanha política" falando de corrupção em Angola, porque "é o próprio Presidente da República portuguesa a reconhecer que a corrupção é hoje um dos mais graves problemas que Portugal enfrenta".
No editorial, o jornal estatal angolano acusa ainda o presidente da UNITA de ter ido a Portugal dizer a "um grupo de jornalistas amigos" o que "deveria ir dizer ao procurador-geral da República de Angola" porque "se tem provas - da corrupção em Angola - tem que levar esses indícios ou essas provas a quem de direito".
"Os retornados de extrema direita e os beneficiários dos diamantes de sangue devem ter ficado felizes com o discurso de Samakuva, mas os angolanos que se prezam, que amam o seu país e que lutam pela sua grandeza, ficaram seguramente muito zangados com o líder da UNITA", entende o JA.
"O líder da UNITA disse em Lisboa que o seu partido está à esquerda do MPLA. Se assim fosse, o seu líder não estaria a usar hoje os mesmos métodos que a PIDE usava para denegrir e aniquilar os dirigentes nacionalistas que lutavam pela libertação da Pátria, sob a bandeira do MPLA, lançando campanhas caluniosas e difamatórias", afirma o jornal.
Antes do JA,na quarta-feira a agência estatal Angop divulgou um texto não assinado e colocado em manchete na sua página na internet reagindo às acuações do presidente da UNITA.
Não são são conhecidos comentários políticos de membros do Governo nem de dirigentes do MPLA a este respeito.
Reagindo a este editorial e também ao texto da Angop, Isaías Samakuva disse à Lusa que o seu partido está habituado a este tipo de "ataques".
"Estamos habituados a este tipo de ataques na imprensa oficial angolana, mas vamos continuar a dizer o que é verdade e naturalmente, em Angola, também haverá muitos que concordam com o que estamos a dizer", disse o digente partidário.
"Como Jesus Cristo disse, `Senhor, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem`", ironizou Samakuva.
Sobre as relações, apontadas pelo JA, com "o clã Soares", o presidente da UNITA adianta que, mais uma vez, "não há nada de novo".
"Cada pessoa, na sua existência, cada organização, na sua existência, tem as suas ligações. Nós temos as nossas e eles têm as deles", afirmou. "É uma questão de se respeitar as relações dos outros", concluiu.
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2008-04-17
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