Compreende-se assim que o maior equívoco seja aquele a que se chega no termo do processo, e que se pode sintetizar na questão formulada por M. Gauchet, quando pergunta se a introdução da democracia na escola não terá, na realidade, por efeito paradoxal, contribuído para a inviabilização da própria escola. Ou, dito de outro modo, que fazer quando todos reclamam educação, mas na realidade quase ninguém quer - e isso aparece cada vez mais como um direito - ser educado?
É que a possibilidade de ensinar depende estreitamente do estatuto, e da autoridade, que a sociedade reconhece não só aos saberes mas também aos professores, indispensáveis intermediários da mediação educativa, que nenhuma tecnologia consegue substituir (muito pelo contrário - sobre isto é confrangedor o que se diz por aí...).
A erosão daqueles factores deixa aos professores uma tarefa cada vez mais impossível. Daí que reconhecer neles os heróis do nosso tempo - no sentido em que eles enfrentam o que todos evitam - seja uma condição prévia para, simplesmente, tornar a educação viável. O que só acontecerá se ela assentar numa relação institucional, mas também pessoal, que por um lado garanta a efectiva transmissão de conhecimentos e, por outro, seja capaz de enquadrar as motivações pessoais num registo democrático que tem que ser reinventado.
HERÓIS DO NOSSO TEMPO
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