domingo, 3 de agosto de 2008

Ceira no séc. XX

.../ Nos finais do séc. XIX, as estradas macadamizadas começaram a reduzir a importância do transporte fluvial. A produção industrial de tecidos tinha tornado obsoletos os pisões, que desapareceram sem deixar memória nas gentes que hoje ali vivem. A industrialização também veio a diminuir o trabalho dos moinhos. Apenas a agricultura familiar continuava a ser uma riqueza apreciável. Talvez tenha sido então que os serviços prestados aos habitantes da cidade de Coimbra se tornaram um dos principais meios de subsistência da população de Ceira.

No início do séc. XX, na obra Notas de Arqueologia e Etnografia do Concelho de Coimbra, a respeito de Ceira, Vergílio Correia refere a ausência de monumentos capazes de interessar os estudiosos. No entanto sublinha o pitoresco do local, descrevendo as inundações que transformam o vale num lago, os pinhais que formam "uma selva escura e densa" nas encostas da Joariça ou Aljuriça, as oliveiras que "laivam de cinzento o vermelho dos barros".

Em meados do séc. XX, a maior parte da população da freguesia de Ceira vivia do cultivo de leiras de terra, feito em grande parte pelas mulheres, já que a maior parte dos homens trabalhava na cidade em diversos ofícios.
Na mesma época, as mulheres ocupavam-se também da lavagem da roupa das senhoras de Coimbra, tarefa em que se tornaram famosas usando a sua antiga sabedoria popular.
A roupa era recolhida nas casas da cidade à Segunda-feira e trazida em grandes trouxas sobre um carro de bois. No dia seguinte, havia que fazer a barrela, tarefa que exigia uma noite passada ali, à beira-rio fizesse o tempo que fizesse. Não havia sujidade que resistisse à acção das cinzas e da água quente.
Durante o resto da semana, era preciso secar dezenas e dezenas de lençóis, toalhas, fronhas, guardanapos... Se o tempo fazia negaças, era um corrilório para os pinhais, onde faziam o estendal, ora a pôr, ora a tirar a roupa. E, na Segunda-feira seguinte, lá partiam de novo para Coimbra, a levar a roupa branquinha e a trazer novas trouxas de roupa suja.

As mulheres de Ceira ainda arranjavam tempo para ir à cidade e andar a vender, de casa em casa, os raminhos de carqueja que então era usada para acender os fogões das cozinhas.

Mas os tempos mudaram e as máquinas de lavar e os novos fogões fizeram desaparecer estes trabalhos, que hoje não são mais do que uma recordação.
Ceira foi elevada a Vila no mês de Junho de 1997.
Hoje, é povoada por pessoas que trabalham essencialmente em Coimbra, no comércio, na indústria e em serviços. São também célebres os seus viveiros de árvores de fruto.
Com o crescimento da cidade de Coimbra, tornou-se numa povoação de subúrbio./...

Histórias da História de Ceira
Agrupamento de Escolas de Ceira

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