“Se um dia disserem que o seu trabalho não é de um profissional, lembre-se: A Arca de Noé foi construída por amadores; profissionais construíram o Titanic…“
terça-feira, 30 de setembro de 2008
de JC à Panasqueira, "caminho aéreo"
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
de JC à Panasqueira, pessoas
domingo, 28 de setembro de 2008
de JC à Panasqueira
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
de JC à Panasqueira
Casa de Janeiro & Carlos Gama de JC ao Ceiroquinho Organizações 2008-2009
Existem lugares espantosos, pequenas aldeias, casas de xisto, miradouros naturais, sítios lendários, relíquias até, a grandeza de um povo...Importa ressalvar as populações, as paisagens, o legado histórico. São locais de rara beleza.
27 de Setembro
de JC à Panasqueira
JC - Panasqueira (a caminho, quase) V
Partindo da cidade do Fundão deve seguir na direcção de Silvares. Depois de passar Silvares a cerca de 2 Km existe uma tabuleta com a indicação de Minas da Panasqueira. A estrada segue, por uma encosta que desce até ao Rio Zêzere. Vai encontrar um primeiro aglomerado de casas, antigas instalações mineiras e uma escombreira. Está a passar pela povoação designa de Rio, onde se encontram as antigas lavarias onde era tratado o minério.
A estrada tem algumas curvas perigosas, até se atravessar a ponte no rio Zêzere. Pare um pouco junto à ponte e desfrute da paisagem. Uma mistura de paisagem natural, o rio e as encostas, e uma paisagem humanizada em que se sobressaem as escombreiras, que provocam algum impacto visual.
Siga a estrada, que segue agora na margem esquerda de uma ribeira afluente do Zêzere. Vai passar pela aldeia de S. Francisco de Assis, até chegar à aldeia da Barroca Grande. É aqui que se localizam os escritórios da Beralt Tin and Wolfram Portugal, a empresa que explora as minas.
Vai certamente querer parar a meio caminho e tirar fotografias à paisagem e a certa altura, às surpreendentes escombreiras que se observam na paisagem.
O que observar
As escombreiras neste caso não são a melhor hipótese para o coleccionador. Pode solicitar com alguma antecedência uma visita às minas. Normalmente estas aceitam visitas de grupos desde que se justifique a vontade e o interesse na visita e haja disponibilidade por parte da empresa (Tlf: +351 275 659100; Fax: +351 275 659119). Pode igualmente solicitar para ver que minerais há para vender. Existe uma pequena sala em que os mineiros vendem alguns minerais.
Se puder organizar uma visita garantimos que se trata de uma experiência inesquecível, mesmo para quem já desceu a outras minas.
A mina explora um conjunto de filões quartzosos sub-horizontais com mineralização em Volframite, Cassiterite e Calcopirite. Estes minerais são tratados para fazer concentrados de tungsténio, estanho e cobre respectivamente.
Muitas vezes existem cavidades nos filões, que na gíria local são designados por “rotos” onde os cristais cresceram em espaço aberto. É nestas cavidades que os cristais se desenvolveram em formas perfeitas. Podem ser encontrados belos exemplares de quartzo, volframite, calcite, siderite, apatite, entre outros.
Um pouco de História
A história da mina da Panasqueira remonta aos finais do século XIX.
A partir de 1910 as Minas da Panasqueira foram exploradas pela empresa Wolfram Mining & Smelting Co. Ltd. Esta exploração durou até 1928, data em que foi criada Beralt Tin & Wolfram Limited que explorou as minas até 1973 em que com a incorporação de capitais nacionais passou a designar-se por Beralt Tin & Wolfram Portugal, S.A.
Pode-se considerar que o apogeu das minas foi durante a segunda guerra mundial, em que a procura do Volfrâmio era grande devido à sua utilidade como endurecedor de ligas metálicas para a construção de armas. Dai para cá a sua importância tem vindo a diminuir, porém, mais recentemente com a crise do urânio empobrecido, que estava a substituir o volfrâmio as minas ganharam novo alento.
Mas a utilidade do volfrâmio não se resume à indústria de armamento. Uma das suas utilizações mais nobres é na indústria eléctrica. Os filamentos das lâmpadas que nos iluminam são de volfrâmio.
A história da exploração de estanho nesta região é bastante mais antiga. Conhecido desde pelo menos a idade do Bronze este elemento químico que é extraído da Cassiterite é utilizada em conjugação com o cobre para formar o bronze, que é uma liga de cobre e estanho. A Península Ibérica a par da Cornualha, no Sul de Inglaterra eram os principais fornecedores deste elemento na antiguidade.
A Panasqueira a par de Neves-Corvo são actualmente as duas principais produtoras de concentrados de Cassiterite em Portugal.
Os métodos de exploração
A mineralização encontra-se em filões de quartzo sub-horizontais. Estes encontram-se encaixados nos xistos do Grupo das Beiras. Trata-se de um “enxame” de filões que se apresentam na periferia de um granito não aflorante (isto é, que não se pode observar à superfície).
A exploração actualmente é feita através do método de câmaras e pilares.
Primeiro é traçada uma rampa de acesso ao nível ou sub-nível que vai ser explorado. Depois são efectuados travessas num quadriculado de 11 por 11 metros. Cada travessa tem 5 metros de largura por 2 de altura. Nesta primeira fase ficam pilares de 11 por 11 metros. Depois caso os teores do minério sejam adequados, cada pilar destes é cortado por uma nova travessa de 5 por 2. Restando no final pilares de 3 por 3 metros.
O minério é carregado por pás carregadoras até poços de descarga que servem também de silos. Estes poços têm a sua saída num piso de rolagem, onde vagonetas levam o minério até a um poço que através de um elevador leva o minério para o piso onde existe uma câmara de fragmentação. Desta câmara o minério segue por uma rampa até à superfície, onde é tratado na lavaria (local onde os minérios são concentrados).
http://cebola.net/
JC - Panasqueira (a caminho, quase) IV
Minas da Panasqueira, demografia e modo de vida (Anselmo |
Pampilhosa700 | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Demografia e modos de vida “Emigrou tudo e então foram buscar os caboverdianos. Os de cá foram ver de vida. Eu tenho cinco no Canadá. Trabalhavam aqui, também, mas como isto não dava, abalaram”. Daniel REIS et al (1979, p. 22)Por: Anselmo Gonçalves A actividade mineira que, desde os finais do século XIX, se desenvolveu nesta região, provocou profundas alterações no modo de vida das populações que por aqui residiam e residem. Despertos os interesses económicos das comunidades, a alucinação pela mina provocam no seu início uma euforia sem limites. A mão-de-obra destas freguesias, habituada à dureza do trabalho agrícola, foi facilmente adaptada às técnicas da exploração mineira e rapidamente transformados em operários. A evolução sócio – demográfica das freguesias confinantes com o Couto Mineiro da Panasqueira (Dornelas-do-Zêzere, Unhais – o – Velho, S. Jorge da Beira, Aldeia de S. Francisco de Assis e Barroca do Zêzere), (figura 2, e quadro 1) tem a ver com a actividade mineira, por um lado (1895 – 1960), e com a emigração (período pós 1960), para os países da Europa Ocidental – França e Alemanha, e para a América do Norte, essencialmente para o Canadá, por outro. A verdade é que a exploração mineira constituiu uma oportunidade de trabalho, porém limitada pela dureza e riscos físicos envolvidos, que em determinadas situações revoltavam os trabalhadores rurais. A dinâmica demográfica nestas freguesias (figura e quadro 1), teve a ver com o notável movimento pendular entre as aldeias e as Minas, e fez mesmo crescer a população destas. Este movimento local foi associado a vinda de homens de outros locais do país, que veio fornecer mão-de-obra para o trabalho mineiro, mas também acrescentar outras profissões necessárias nesta região, como por exemplo: alfaiates, sapateiros e pessoal técnico inglês e português. Este movimento obrigou a empresa a desenvolver uma forte aposta na abertura de estradas entre a Portela de Unhais (concelho de Pampilhosa da Serra) e a Barroca Grande, além de construção de pontes como foi o caso da construída sobre o rio Zêzere, inaugurada em 26 de Outubro de 1930, a primeira feita em betão armado em Portugal, e que ainda hoje é utilizada. Quadro 1 – Evolução da População nas Freguesias confinantes com a Mina da Panasqueira
[1] ) Não consta do Censos de 1890 como freguesia, nessa data, estava com o nome de Bodelhão e anexada à freguesia da Barroca do Zêzere. Em 1895, o Bodelhão é desanexado da Barroca e passa para a jurisdição do Ourondo, até 19.07.1901, nesse dia separou-se do Ourondo tornando-se Freguesia civil, tendo-se realizado a primeira eleição para a Junta de Freguesia em 25.08.1901.
Como podemos observar no quadro 2 e gráfico 2, este movimento de pessoas está perfeitamente ligado ao período áureo das minas da Panasqueira, 1934 - 1944 . Mesmo depois de as minas terem reaberto em 1946 nunca mais se manteve a mesma dinâmica, pois a partir dessa data, passaram estas minas a estar dependentes do preço do volfrâmio, no mercado internacional.
BARROQUEIRO, Mário Luís Gaspar (2005) – O Declínio de Centros Mineiros Tradicionais no Contexto de uma Geografia Industrial em Mudança. As Minas de Aljustrel e da Panasqueira. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. CARNEIRO, Fernando Soares (1961) – “A silicose e as minas”. Estudos Notas e Trabalhos do Serv. Fom. Mineiro. Vol XV, fasc. 1-2. DIAS, J. L. (1969) – “Volfrâmio e Estanho na Vida e Costumes da Beira Baixa”. Separata da Revista Etnografia, 23, Museu de Etnografia e História. DUARTE, João Mateus (1988) - “Implicações Históricas no Meio Comunitário Periférico ao Couto Mineiro da Panasqueira”. Actas das II Jornadas da Beira Interior, Jornal do Fundão, vol. 2º, pp. 199 - 203. MATOS, J. X. (2001) – “Património mineiro português: estado actual da herança cultural de um país mineiro”. Actas do Congresso Internacional Sobre Património Geológico e Mineiro, IGM, Lisboa. MÓNICA, Maria Filomena e BARRETO, António (coord) (2000) – DICIONÁRIO DA HISTÓRIA DE PORTUGAL, Livraria Figueirinhas, vol. 9, p. 601 – 604. NAMORA, Fernando (2003) – MINAS DE SAN FRANCISCO. PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA, Mem Martins. NUNES, João Paulo Avelãs (2000) – “Volfrâmio português e ouro do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial (1938 – 1947)”, Vértice, II Série, n.º 94, Março / Abril, p.42 – 59. NUNES, João Paulo Avelãs (2000) – “ Portugal, Espanha, o volfrâmio e os beligerantes durante e após a Segunda Guerra Mundial”, População e Sociedade, n.º 6, p. 211 – 241. NUNES, João Paulo Avelãs (2005) – O Estado Novo e o volfrâmio (1933-1947). Projecto de Sociedade e opções Geoestratégicas em Contextos de Recessão e de Guerra Económica. Dissertação de Doutoramento em História, Especialidade em História Contemporânea, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. REIS, Daniel; NEVES, Fernando Paulouro (1979) - A GUERRA DA MINA E OS MINEIROS DA PANASQUEIRA, A Regra Do Jogo Edições, Lisboa.
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