domingo, 12 de outubro de 2008

o pensamento de cada um de nós

 
Amigos! 

 
Aqui vai a 'prosa' de uma colega nossa, que espelha o pensamento de cada um de nós.  Por favor, passem ao maior número de pessoas possíveis. A esperança de que as coisas mudem, deve ser a última coisa a morrer... 
É de Viana ...claro...

 

Subject: Exma. Senhora Ministra da Educação 


Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista dos 
nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente. 

Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que 
inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA. 

Sim, a minha nova categoria, professora! 

Que Querida! Obrigada! 

E o que é que fui até agora? 

Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física, 
escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria 
fazer o resto da minha vida. Ensinar a brincar, impor regras com jogos, 
fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos 
mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos, 
pretos, más companhias, bons ou maus alunos. Compreender que ganhar ou 
perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor. 
Aplicar tudo isto na vida quotidiana. 

Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu queria 
ensinar! Era nova, tinha sonhos... 

O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de 
Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a encaminhá-lo 
para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei orgulhosa! Agora, peço- te 
desculpa Mano, como me arrependo de te ter metido nisto, estou envergonhada! 

Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues, ainda não 
era professora, participava em visitas de estudo, promovia acampamentos, 
fazia questão de ter equipas a treinar aos fins-de-semana, entre muitas 
outras coisas. Os alunos respeitavam-me, os meus colegas admiravam-me, os 
pais consultavam-me. E eu era feliz. Saia de casa para trabalhar onde 
gostava, para fazer o que sempre sonhará, para ensinar como tinha aprendido! 

Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a cumprir 
35 horas de trabalho, agora que não tenho tempo nem dinheiro para educar os 
meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as regras a meio (Coisa 
que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou a adaptar-me, não tenho 
outro remédio: Entrego os meus filhos a trabalhadores revoltados na 
esperança que façam com eles o que eu tento fazer com os deles. Agora que me 
intitula professora eu não ensino a lançar ao cesto ou a rematar com 
precisão à baliza, não chego, sequer a vestir-lhes os coletes. 

Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar que 
enquanto um 'burro' mais velho fala os outros devem, pelo menos, nessa 
altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a mandar 
deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser prática) e a 
explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a pastilha não era para 
a cuspirem no chão do Pavilhão. E aqueles que se recusam a deita-la fora 
porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados, afinal acabaram de gastar o 
dinheiro no bar que fica em frente à Escola para tirarem o cheiro do cigarro 
que o mesmo bar lhes vendeu e nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao 
mascar uma pastilha enquanto praticam exercício físico). E os que não tomam 
banho? E os que roubam ou agridem os colegas no balneário? 

Falta disciplinar? 

Desculpe, não marco ! 

O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a 
participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas (E quem 
fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos obriga? Já viu 
o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu tempo não lhe fez bem o 
estalo na hora certa? 

Desculpe mas não me parece! 

Pois eu agradeço todos os que levei! 

Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar com quem 
está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que não é, com toda 
a certeza, o seu caso. 

Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC. Uma hora! E eu não precisava de ter 
escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma. Como a médica de 
família ,que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à qual devo estar 
agradecida porque há quem nem médico de família tenha - outro assunto) 
entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65 anos, porque é injusto 
o que ganho e o que congelou, porque pode sair a sexta e até a sétima versão 
do ECD que eu nunca fui nem serei tão boa professora como era antes de mo 
chamar! 

Lamento profundamente a verdade! 

Viana do Castelo 

Ana Luísa Esperança 

PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa

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