Neste sítio, e como porventura se está à espera, o motivo de maior interesse cultural reside no edifício da igreja da freguesia, que é dedicada a S. Gens. Ignora-se a data da sua fundação; sabe-se no entanto (embora sem grande segurança, adverte o historiador arganilense A. Nogueira Gonçalves) que foi coligiada instituída nos finais do século XIV. A inscrição mais antiga nela existente refere-se a uma campa datada de 1583.
O edifício actual, que estamos a ver, vem dos fins do século XVII. É um edifício amplo, de boa construção, porém desprovido de interesse estético. A escada exterior que temos em frente dá acesso ao coro alto. O edifício apresenta a curiosidade de não ter torre sineira acoplada. Esta, como já vimos, está separada e localizada a nível superior. No interior da igreja há coisas provenientes de origens diversas, que o padre Delgado, depois de 1834, conseguiu trazer para aqui. Todavia, em termos culturais, nem todas essas aquisições terão encontrado o melhor enquadramento.
No tempo deste sacerdote - padre Vasconcelos Delgado - tinham lugar neste templo (como atrás aludimos) cerimónias que chegaram a revestir-se de inegável interesse cultural. Ora, a este respeito, o autorizado historiador e professor universitário António Ribeiro de Vasconcelos (ligado por vínculos familiares a esta vila) disse um dia, a fim de realçar a acção educativa que aquele seu antepassado exercera em Arganil no campo da música: que constituía um verdadeiro regalo espiritual ver toda uma paróquia - homens e mulheres, novos e velhos, adultos e adolescentes - afluir à igreja e cantar com harmonia, compasso e elevado sentido religioso. Neste largo dá-se o encontro de duas ruas que recordam mais duas figuras importantes da cultura arganilense: o visconde de Sanches de Frias e o dr. Alberto Moura Pinto.
O Visconde era natural de Pombeiro. Frequentou aqui a "aula" de Ribeiro de Campos, como já se viu; porém, dificuldades financeiras da família, te-lo-aõ impedido de prosseguir estudos e levado, ainda adolescente, a tentar vida no Brasil. Dedicando-se aí à vida comercial, acabaria por garantir a independência financeira da família. Com vocação para as Letras, cultivou a escrita com algum êxito. Escreveu, além de ficção, literatura de viagens, e ensaio, tendo deixado uma excelente monografia sobre Pombeiro, bem como um estudo sobre Simões Dias, de quem era amigo. Dirigiu, com o filólogo Cândido de Figueiredo uma revista literária. Foi homem de sólida formação moral. Marcello Caetano, que o conheceu, referiu-se-lhe nestes termos: "Na aldeia (Pombeiro) residia ao tempo o Visconde de Sanches de Frias a cuja casa muitas vezes fui. Era o mais visconde de todos os viscondes que jamais conheci na vida e a minha retentiva infantil fixou a sua figura erecta e pomposa, de bigode e pera e farta cabeleira, num halo de imponência cuja grandeza e intensidade estão muito para além do que caberia à sua hierarquia nobiliárquica!" (Citação de José Caldeira em "o Visconde de Sanches de Frias, Vida, Obra e Ascendência", na revista Arganília N.º 3).
No n.º 5 desta rua nasceu e residiu outro dedicado filho de Arganil que muito fez pelo desenvolvimento da cultura dos seus patrícios: Carlos Ribeiro, que, há pouco, nos deixou.
Quanto ao dr. Alberto de Moura Pinto (1883-1960) era de Coimbra, onde se formou em Direito. A sua ligação a concelho de Arganil começaria, porém, cedo e seria para sempre. Foi administrador deste concelho em 1908 e voltaria a sê-lo em 1910, poucos dias depois da implantação da República. Por outra banda, foi deputado pelo Círculo de Arganil em três legislaturas, como militante do partido de Brito Camacho. Dotado de dom da palavra e de boa formação jurídica - também foi magistrado - , rapidamente se impondo no parlamento como deputado brilhante e activo. Teve papel relevante, por exemplo, nas diligências legislativas do seu partido que visaram amenizar as relações da Igreja com o Estado, deterioradas com a "Lei da Separação". Depois de 1926 afirmou-se como ardoroso defensor da liberdade e da democracia, pelo que teve de se exilar em Espanha. Com a vitória de Franco refugiou-se em França; e com a invasão deste país pelas tropas de Hitler, na Segunda Guerra Mundial, passou-se para o Brasil, onde continuaria a batalhar contra o fascismo salazarista. Já velho e doente, sentindo aproximar o fim, regressou, clandestinamente, a Portugal, com vista e refugiar-se na sua Quinta dos Vales (freguesia de Vila Cova do Alva) onde desejava acabar os seus dias - como de facto aconteceu, pouco tempo depois.
No prédio com o n.º 6 viveu uma distinta senhora que muito fez também pela cultura em Arganil - Viscondessa de Sanches de Frias, filha do Visconde atrás referido, que foi casada com o dr. Augusto de Oliveira Coimbra (de quem igualmente já falámos).
Na elaboração do texto, o autor, nado e criado em Arganil, valeu-se da sua memória pessoal e de trabalhos de arganilistas (entenda-se: de estudiosos das coisas de Arganil) que consultou, e que foram sobretudo:
Artigos insertos em diversos números de A Comarca de Arganil. (Arganil).
Diversos números de Jornal de Arganil. (Arganil).
Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Coimbra, de Virgílio Correia e A. Nogueira Gonçalves. (Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1952, pp. 5, 5 e 7).
Arganil, de Regina Anacleto. (Editorial Presença, Lisboa, 1996).
O edifício actual, que estamos a ver, vem dos fins do século XVII. É um edifício amplo, de boa construção, porém desprovido de interesse estético. A escada exterior que temos em frente dá acesso ao coro alto. O edifício apresenta a curiosidade de não ter torre sineira acoplada. Esta, como já vimos, está separada e localizada a nível superior. No interior da igreja há coisas provenientes de origens diversas, que o padre Delgado, depois de 1834, conseguiu trazer para aqui. Todavia, em termos culturais, nem todas essas aquisições terão encontrado o melhor enquadramento.
No tempo deste sacerdote - padre Vasconcelos Delgado - tinham lugar neste templo (como atrás aludimos) cerimónias que chegaram a revestir-se de inegável interesse cultural. Ora, a este respeito, o autorizado historiador e professor universitário António Ribeiro de Vasconcelos (ligado por vínculos familiares a esta vila) disse um dia, a fim de realçar a acção educativa que aquele seu antepassado exercera em Arganil no campo da música: que constituía um verdadeiro regalo espiritual ver toda uma paróquia - homens e mulheres, novos e velhos, adultos e adolescentes - afluir à igreja e cantar com harmonia, compasso e elevado sentido religioso. Neste largo dá-se o encontro de duas ruas que recordam mais duas figuras importantes da cultura arganilense: o visconde de Sanches de Frias e o dr. Alberto Moura Pinto.
O Visconde era natural de Pombeiro. Frequentou aqui a "aula" de Ribeiro de Campos, como já se viu; porém, dificuldades financeiras da família, te-lo-aõ impedido de prosseguir estudos e levado, ainda adolescente, a tentar vida no Brasil. Dedicando-se aí à vida comercial, acabaria por garantir a independência financeira da família. Com vocação para as Letras, cultivou a escrita com algum êxito. Escreveu, além de ficção, literatura de viagens, e ensaio, tendo deixado uma excelente monografia sobre Pombeiro, bem como um estudo sobre Simões Dias, de quem era amigo. Dirigiu, com o filólogo Cândido de Figueiredo uma revista literária. Foi homem de sólida formação moral. Marcello Caetano, que o conheceu, referiu-se-lhe nestes termos: "Na aldeia (Pombeiro) residia ao tempo o Visconde de Sanches de Frias a cuja casa muitas vezes fui. Era o mais visconde de todos os viscondes que jamais conheci na vida e a minha retentiva infantil fixou a sua figura erecta e pomposa, de bigode e pera e farta cabeleira, num halo de imponência cuja grandeza e intensidade estão muito para além do que caberia à sua hierarquia nobiliárquica!" (Citação de José Caldeira em "o Visconde de Sanches de Frias, Vida, Obra e Ascendência", na revista Arganília N.º 3).
No n.º 5 desta rua nasceu e residiu outro dedicado filho de Arganil que muito fez pelo desenvolvimento da cultura dos seus patrícios: Carlos Ribeiro, que, há pouco, nos deixou.
Quanto ao dr. Alberto de Moura Pinto (1883-1960) era de Coimbra, onde se formou em Direito. A sua ligação a concelho de Arganil começaria, porém, cedo e seria para sempre. Foi administrador deste concelho em 1908 e voltaria a sê-lo em 1910, poucos dias depois da implantação da República. Por outra banda, foi deputado pelo Círculo de Arganil em três legislaturas, como militante do partido de Brito Camacho. Dotado de dom da palavra e de boa formação jurídica - também foi magistrado - , rapidamente se impondo no parlamento como deputado brilhante e activo. Teve papel relevante, por exemplo, nas diligências legislativas do seu partido que visaram amenizar as relações da Igreja com o Estado, deterioradas com a "Lei da Separação". Depois de 1926 afirmou-se como ardoroso defensor da liberdade e da democracia, pelo que teve de se exilar em Espanha. Com a vitória de Franco refugiou-se em França; e com a invasão deste país pelas tropas de Hitler, na Segunda Guerra Mundial, passou-se para o Brasil, onde continuaria a batalhar contra o fascismo salazarista. Já velho e doente, sentindo aproximar o fim, regressou, clandestinamente, a Portugal, com vista e refugiar-se na sua Quinta dos Vales (freguesia de Vila Cova do Alva) onde desejava acabar os seus dias - como de facto aconteceu, pouco tempo depois.
No prédio com o n.º 6 viveu uma distinta senhora que muito fez também pela cultura em Arganil - Viscondessa de Sanches de Frias, filha do Visconde atrás referido, que foi casada com o dr. Augusto de Oliveira Coimbra (de quem igualmente já falámos).
Na elaboração do texto, o autor, nado e criado em Arganil, valeu-se da sua memória pessoal e de trabalhos de arganilistas (entenda-se: de estudiosos das coisas de Arganil) que consultou, e que foram sobretudo:
Artigos insertos em diversos números de A Comarca de Arganil. (Arganil).
Diversos números de Jornal de Arganil. (Arganil).
Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Coimbra, de Virgílio Correia e A. Nogueira Gonçalves. (Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1952, pp. 5, 5 e 7).
Arganil, de Regina Anacleto. (Editorial Presença, Lisboa, 1996).
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