quinta-feira, 2 de julho de 2009

O caçador das montanhas

"‑ Velho lobo do Hermínio, aproxima‑te - disse Pelágio em tom de gracejo, como que tentando afastar as tristes idéias que lhe oprimiam o espírito. ‑ Que buscas a tais desoras? Tiveste, acaso, em sonhos saudades das barrocas das tuas serras nevadas, e creste que Covadonga era o antro de teu irmão, o javali?

‑ O caçador das montanhas ‑ replicou o lusitano, na sua linguagem pinturesca de bárbaro ‑ não estaria aqui, se a saudade dos lugares em que nasceu lhe morasse no coração. Os homens de além do mar mataram‑lhe ou cativaram‑lhe mulher e filhos quando estes, por seu mal, num dia em que ele perseguia nos cimos da serra os lobos ferozes, ousaram descer com o rebanho aos vales do Munda. Por isso te segui eu, ó godo: tu derramas o sangue dos homens de além do mar, e eu quero derramá‑lo também.

Eurico, o Presbítero - Alexandre Herculano
Fonte: HERCULANO, Alexandre. Eurico, o presbítero. 7ed. São Paulo : Ática, 1988 .
Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa
Texto-base digitalizado por: Paula Regina Cícero Yort

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