Arganil: um olhar sobre o passado.
A tese de Alexandre Herculano, segundo o qual os Lusitanos não só se teriam corrompido, mas, mesmo, desaparecido, devido, sobretudo, ao domínio romano (vidé Alexandre Herculano - História de Portugal, Vol. I, 1914, pág. 48 e segs.), opõem-se hoje numerosos investigadores, que, embora em sentido lato, os consideram como «o mais importante elemento etnológico dos Portugueses», no dizer do prof. Mendes Correia (vidé A. A. Mendes Correia - Raízes de Portugal, Lisboa, 1938, pág. 51 e segs.). Nem os Romanos - continua este investigador - eram multidão formidável que alastrasse «por todo o solo conquistado, substituindo, integralmente, as populações preexistentes», nem lhes era possível apressar a sua influência, necessariamente de absorção lenta pela massa indígena, «numericamente predominante, geograficamente adaptada e fisiologicamente enraízada». (vidé A. A. Mendes Correia - Os Povos Primitivos da Lusitânia, Porto, 1924, pág 371 e segs.).
Até que ponto sentiram os habitantes da nossa região a influência romana? - Que este alastrou através de algumas localidades da planície, naturalmente indicadas para centros administrativos e militares, não é possível pôr-se em dúvida, embora os testemunhos desta influência sejam bastante modestos. Enquadrados entre Conímbriga, Aeminium, Bobadela, Idanha, que uma bela via parece ter ligado, não repugna aceitar um contacto mais ou menos profundo entre dominadores e dominados. Que este contacto houvesse penetrado em profundidade na zona sertaneja, reduto difícil de atingir, e muito mais de defender, é que é caso para duvidar. Dizemos «em profundidade», visto ser de aceitar que, mesmo aqui, não deixasse de chegar, quer o cobrador de imposto, quer o funcionário adventício, sem que esta passagem fosse suficiente para alterar a fisionomia, modificar os costumes e corromper a raça dos vigorosos habitantes da montanha.
(...) Já vi afirmar, sem quaisquer provas, aliás, que Arganil, velha cidade romana, fora atacada e destruída peloa árabes em 716. Creio tratar-se de pura fantasia. Importante cidade romana não parece ter sido. Nada o documenta. Nem textos nem ruínas ou outros documentos arqueológicos. A romanização das Beiras foi muito superficial - ensina o dr. Sousa Soares. (vidé Torquato Brochado de Sousa Soares - Obra, cit., pág. 21, Nota 5. As suas principais povoações - Conimbriga e Aeminium - dotadas da importância que todos conhecem, foram, apesar apesar disso, cidades estipendiárias, «o que demonstra - diz este sábio professor - que os seus habitantes resistiram à conquista dos invasores romanos, e continuaram a regular-se pelas suas leis, mediante o pagamento de tributo». Se isto acontecia em aglomerados deste relevo, o que pensar das localidades da nossa região, muito mais difíceis de atingir, e, portanto, mais alheias à penetração romana?
Que esta aqui chegou, não pode ser posto em dúvida, como já afirmámos anteriormente. No ano de 138, antes de Cristo, logo a seguir à morte de Viriato, o cônsul Décio Juno Bruto, percorre a Estremadura e a Beira, onde destrói trinta povoações, e estabelece um campo fortificado em Viseu. Mais tarde organiza-se o acampamento de Antanhol, perto de Coimbra, só ultimamente descoberto. As sublevações, no entanto, nem por isso terminam. Diminuem apenas de intensidade, à medida que se intensifica o domínio romano, que vai alargando a sua influência, ajudado pela proximidade do centro da Lusitânia, onde as instituições romanas adquirem amplo desenvolvimento. Nestas condições, o que parece, talvez, mais conforme com a realidade, é que Arganil não passasse de humilde povoação aberta, tendo, como centro de refúgio e protecção, nos momentos graves, o velho castro da Lomba do Canho, onde o dr. Castro Nunes encontrou, num estrato com cerâmica datada dos primórdios da ocupação romana, mais de cem projécteis de catapulta. (vidé João de Castro Nunes - Obra cit., pág. 6.)
A tese de Alexandre Herculano, segundo o qual os Lusitanos não só se teriam corrompido, mas, mesmo, desaparecido, devido, sobretudo, ao domínio romano (vidé Alexandre Herculano - História de Portugal, Vol. I, 1914, pág. 48 e segs.), opõem-se hoje numerosos investigadores, que, embora em sentido lato, os consideram como «o mais importante elemento etnológico dos Portugueses», no dizer do prof. Mendes Correia (vidé A. A. Mendes Correia - Raízes de Portugal, Lisboa, 1938, pág. 51 e segs.). Nem os Romanos - continua este investigador - eram multidão formidável que alastrasse «por todo o solo conquistado, substituindo, integralmente, as populações preexistentes», nem lhes era possível apressar a sua influência, necessariamente de absorção lenta pela massa indígena, «numericamente predominante, geograficamente adaptada e fisiologicamente enraízada». (vidé A. A. Mendes Correia - Os Povos Primitivos da Lusitânia, Porto, 1924, pág 371 e segs.).
Até que ponto sentiram os habitantes da nossa região a influência romana? - Que este alastrou através de algumas localidades da planície, naturalmente indicadas para centros administrativos e militares, não é possível pôr-se em dúvida, embora os testemunhos desta influência sejam bastante modestos. Enquadrados entre Conímbriga, Aeminium, Bobadela, Idanha, que uma bela via parece ter ligado, não repugna aceitar um contacto mais ou menos profundo entre dominadores e dominados. Que este contacto houvesse penetrado em profundidade na zona sertaneja, reduto difícil de atingir, e muito mais de defender, é que é caso para duvidar. Dizemos «em profundidade», visto ser de aceitar que, mesmo aqui, não deixasse de chegar, quer o cobrador de imposto, quer o funcionário adventício, sem que esta passagem fosse suficiente para alterar a fisionomia, modificar os costumes e corromper a raça dos vigorosos habitantes da montanha.
(...) Já vi afirmar, sem quaisquer provas, aliás, que Arganil, velha cidade romana, fora atacada e destruída peloa árabes em 716. Creio tratar-se de pura fantasia. Importante cidade romana não parece ter sido. Nada o documenta. Nem textos nem ruínas ou outros documentos arqueológicos. A romanização das Beiras foi muito superficial - ensina o dr. Sousa Soares. (vidé Torquato Brochado de Sousa Soares - Obra, cit., pág. 21, Nota 5. As suas principais povoações - Conimbriga e Aeminium - dotadas da importância que todos conhecem, foram, apesar apesar disso, cidades estipendiárias, «o que demonstra - diz este sábio professor - que os seus habitantes resistiram à conquista dos invasores romanos, e continuaram a regular-se pelas suas leis, mediante o pagamento de tributo». Se isto acontecia em aglomerados deste relevo, o que pensar das localidades da nossa região, muito mais difíceis de atingir, e, portanto, mais alheias à penetração romana?
Que esta aqui chegou, não pode ser posto em dúvida, como já afirmámos anteriormente. No ano de 138, antes de Cristo, logo a seguir à morte de Viriato, o cônsul Décio Juno Bruto, percorre a Estremadura e a Beira, onde destrói trinta povoações, e estabelece um campo fortificado em Viseu. Mais tarde organiza-se o acampamento de Antanhol, perto de Coimbra, só ultimamente descoberto. As sublevações, no entanto, nem por isso terminam. Diminuem apenas de intensidade, à medida que se intensifica o domínio romano, que vai alargando a sua influência, ajudado pela proximidade do centro da Lusitânia, onde as instituições romanas adquirem amplo desenvolvimento. Nestas condições, o que parece, talvez, mais conforme com a realidade, é que Arganil não passasse de humilde povoação aberta, tendo, como centro de refúgio e protecção, nos momentos graves, o velho castro da Lomba do Canho, onde o dr. Castro Nunes encontrou, num estrato com cerâmica datada dos primórdios da ocupação romana, mais de cem projécteis de catapulta. (vidé João de Castro Nunes - Obra cit., pág. 6.)
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
Sem comentários:
Enviar um comentário