"Conhece as minhas origens, sabe que durante muitos anos não precisei de calçadeira, pela simples razão de que não tinha calçado."
Tempos Difíceis / Charles Dickens
"Porque o amor das coisas no seu tempo futuro é terrívelmente profundo, é suave, devastador."
Herberto Helder / Poesia Toda
Tempos Difíceis / Charles Dickens
"Porque o amor das coisas no seu tempo futuro é terrívelmente profundo, é suave, devastador."
Herberto Helder / Poesia Toda
A criação do Museu Etnográfico de Arganil obedeceu a um objectivo principal: salvar do esquecimento e do pó, para benefício das gerações futuras, as raízes culturais desta região, os hábitos e os objectos que formam a memória colectiva dos povos da Beira Serra e, em especial, da Serra do Açor. Só assim, afirmando nos tempos que hão-de vir uma identidade que já vem de longe, um passado com tradições de que todos nos orgulhamos, será possível construir um futuro com memória e, simultaneamente, reforçar a nossa diferença e especificidade neste Mundo em acelerada globalização.
Inaugurado a 6 de Julho de 1997, depois de um exaustivo trabalho de campo que levou à recolha de cerca de 90% das peças do seu actual espólio, o Museu Etnográfico de Arganil só foi possível devido à colaboração estreita e empenhada das populações serranas. Ele constitui por isso uma justa homenagem às gentes simples que, desde tempos imemoriais, habitam as pequenas aldeias perdidas na Serra do Açor. A reconstituição dos seus hábitos e tradições, da sua cultura serrana, da sua vida dura, difícil, por vezes miserável, revela-nos homens e mulheres de grande honestidade e dignidade, pessoas de carácter sóbrio e comportamento austero, habituadas a sobreviver a tempos de muita escassez.
A vida despojada destes povos, em estreita relação com a natureza, traduzia-se em objectos que, sendo normalmente simples e rústicos, não deixavam de possuir intensa harmonia (ainda que durante longo tempo oculta pela pobreza endémica).
As últimas décadas foram de rápida desagregação social, económica e ecológica--actualmente a serra agoniza. No entanto, estamos às portas de um novo século e o futuro repousa nas nossas mãos. Talvez à serra esteja reservado, nestes tempos difíceis de mudança e de crise de identidade, um novo papel: fazer-nos olhar o passado para melhor reflectirmos sobre o futuro.
Ao completar um ano e meio de abertura ao público, o Museu Etnográfico de Arganil, encerra também, com a edição deste livro, um ciclo da sua existência--concluído o processo de instalação, há agora que proceder à consolidação do trabalho efectuado, ampliando o seu já exíguo espaço e direccionando a sua actividade para novos pólos de intervenção etnográfica. Entretanto, aqui fica, nestas páginas, o registo escrito e fotográfico de uma exposição; e com ele a memória dilacerada de um século de enormes mudanças na Serra do Açor.
De referir que os textos apresentados remetem sempre para situações passadas, mesmo quando se referem a práticas que se mantêm quase inalteradas ou a objectos que continuam a ser utilizados no momento presente. Tal opção permite sublinhar a contigência e inconsistência do funcionamento isolado das partes (a apanha da azeitona, por exemplo) num contexto de acelerada mudança global.
Janeiro de 1999
Inaugurado a 6 de Julho de 1997, depois de um exaustivo trabalho de campo que levou à recolha de cerca de 90% das peças do seu actual espólio, o Museu Etnográfico de Arganil só foi possível devido à colaboração estreita e empenhada das populações serranas. Ele constitui por isso uma justa homenagem às gentes simples que, desde tempos imemoriais, habitam as pequenas aldeias perdidas na Serra do Açor. A reconstituição dos seus hábitos e tradições, da sua cultura serrana, da sua vida dura, difícil, por vezes miserável, revela-nos homens e mulheres de grande honestidade e dignidade, pessoas de carácter sóbrio e comportamento austero, habituadas a sobreviver a tempos de muita escassez.
A vida despojada destes povos, em estreita relação com a natureza, traduzia-se em objectos que, sendo normalmente simples e rústicos, não deixavam de possuir intensa harmonia (ainda que durante longo tempo oculta pela pobreza endémica).
As últimas décadas foram de rápida desagregação social, económica e ecológica--actualmente a serra agoniza. No entanto, estamos às portas de um novo século e o futuro repousa nas nossas mãos. Talvez à serra esteja reservado, nestes tempos difíceis de mudança e de crise de identidade, um novo papel: fazer-nos olhar o passado para melhor reflectirmos sobre o futuro.
Ao completar um ano e meio de abertura ao público, o Museu Etnográfico de Arganil, encerra também, com a edição deste livro, um ciclo da sua existência--concluído o processo de instalação, há agora que proceder à consolidação do trabalho efectuado, ampliando o seu já exíguo espaço e direccionando a sua actividade para novos pólos de intervenção etnográfica. Entretanto, aqui fica, nestas páginas, o registo escrito e fotográfico de uma exposição; e com ele a memória dilacerada de um século de enormes mudanças na Serra do Açor.
De referir que os textos apresentados remetem sempre para situações passadas, mesmo quando se referem a práticas que se mantêm quase inalteradas ou a objectos que continuam a ser utilizados no momento presente. Tal opção permite sublinhar a contigência e inconsistência do funcionamento isolado das partes (a apanha da azeitona, por exemplo) num contexto de acelerada mudança global.
Janeiro de 1999
Museu Etnográfico de Arganil
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