sábado, 9 de janeiro de 2010

O palhaço

O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões,
vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que
não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que
rendam 147,5 por cento. E acha bem.

O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O
palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O
palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou
escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca
notícias nos jornais.

O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a
outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o
lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às
escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho
transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a
instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído
de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por
isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde.

É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou
quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou
pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que
tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos
outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no
Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas
entrevistas.

O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais também. O
palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o
género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com
qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz
mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para
desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre.

E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes.
Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços
pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer
que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.

Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes
ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da
natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir
estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito
barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por
comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e
presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando
porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir
violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada
vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido
nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês
dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que
estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A
escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço.

Mário Crespo



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