quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Penedos de Góis e de Fajão

CUNHA, P. PROENÇA & REIS, R. PENA DOS (1991) - A etapa sedimentar pliocénica na região de Coimbra - Góis (Bacia Ocidental Portuguesa - Portugal Central). I Congreso del Grupo Español del Terciario (Comunicaciones), Vic, 18-20 de Marzo, pp. 271-274.



Abstract - The analysis of the Pliocene sedimentary record of the Coimbra - Góis region (Lusitanian Basin - Central Portugal) allowed the identification of the architecture and the interpretation of the depositional systems. The role of the tectonic, climate and eustasy is interpreted.

Resumen - El análisis del relleno sedimentar plioceno de la región entre Coimbra e Góis, ha permitido la identificación del modelo sedimentario y la interpretación del contexto tectónico, climático e eustático deste sector de la Cuenca Ocidental Portuguesa.

Introdução - Na região de Coimbra - Góis, podem distinguir-se três domínios geomorfológicos principais. São, respectivamente, de noroeste para sudeste (Fig. 1): _ A Orla Ocidental Portuguesa, separada da plataforma do Mondego por um relevo com orientação meridiana (Maciço Marginal de Coimbra). _ A plataforma do Mondego, inclinando suavemente e estreitando para SW. Estruturalmente, esta área corresponde a um enorme graben definido, a NW pela falha de Penacova-Vérin (direcção NNE-SSW) e a SE pela falha da Lousã (direcção NE-SW). Estes acidentes, de comportamento inverso, estabelecem o contacto tectónico dos sedimentos cretácicos e terciários com o soco antigo. _ O sistema montanhoso que integra as serras da Lousã, Açor e Estrela, com alongamento segundo SW-NE (Cordilheira Central Portuguesa). A unidade mais antiga da região é o "Complexo Cristalofílico", (de provável idade precâmbrica) aflorando a ocidente da falha de Porto-Coimbra segundo uma faixa meridiana; apresenta-se intensamente deformado e fracturado, sendo predominantemente constituído por xistos luzentes. Grande parte do soco é formado pelo "Complexo Xisto-grauváquico" que é constituído por alternâncias de xistos argilosos e grauvaques. As rochas paleozóicas (quartzitos e xistos argilosos) afloram no seio de sinclinais alongados segundo NW-SE, geralmente salientes na paisagem sob a forma de cristas. A nordeste, localizam-se extensas manchas de granitóides hercínicos ("granitos das Beiras"), predominando os calco-alcalinos; por metamorfismo de contacto, originaram auréolas de xistos mosqueados e corneanas. Na Orla Ocidental Portuguesa existe uma espessa sucessão carbonatada e terrígena, de idade triássica e jurássica. Ocorrem também sedimentos cretácicos (120 m de espessura máxima) e terciários (400 m de espessura máxima), que documentam várias etapas de enchimento.

Os depósitos da etapa sedimentar pliocénica Durante a última etapa sedimentar terciária — de provável idade pliocénica final — formaram-se depósitos fluviais culminantes, com composição essencialmente quartzítica e quartzosa, ricos em caulinite. Assentam sobre uma superfície de arrasamento, com valor de desconformidade ou de discordância angular. Na região de Góis (Fig. 1) apresentam 200 m de espessura e contactam inferiormente (aos 400 m de cota) com depósitos de sopé de composição essencialmente xistenta (de provável idade miocénica final) testemunhos das primeiras etapas de soerguimento e erosão dos relevos da Cordilheira Central Portuguesa. Um pouco mais para NW (nas serras da Atalhada e do Bidueiro), assentam sobre o Grupo do Buçaco (Reis & Cunha, 1989a) de idade cretácica. A ocidente, estes depósitos ainda se conservam no Maciço Marginal (assentando sobre sedimentos triássicos à cota 320 m) e estão amplamente representados na Orla Ocidental Portuguesa (Barbosa, 1983; Reis & Cunha, 1989b), podendo assentar sobre sedimentos cretácicos, paleogénicos e miocénicos. A área da Orla Ocidental Portuguesa que foi estudada detalhadamente no âmbito deste trabalho, localiza-se entre Coimbra e Cernache; nesta área, o registo desta etapa sedimentar é conhecido por "Complexo Cruz de Morouços" (Teixeira, 1952) e tem 40 m de espessura máxima. O estudo sedimentológico destes depósitos na região de Coimbra - Góis, permitiu distingir quatro associações de fácies aluviais: A) Espessos corpos de conglomerados heterométricos (constituídos por blocos que atingem quatro metros de diâmetro suportados por uma matriz lutítica) separados por níveis lutíticos; B) corpos decamétricos de conglomerados maciços de suporte clástico e mal calibrados; C) alternância de conglomerados maciços (em que são frequentes as imbricações de clastos) e de areão com estratificação oblíqua planar; D) corpos arenosos grosseiros com estratificação oblíqua planar e em ventre, associados inferiormente a pavimentos conglomeráticos; E) alternância de arenitos finos laminados e lutitos ricos em matéria orgânica. A associação de fácies A interpreta-se como depósitos de "mud-flow"; as associações B, C, D e E resultam de processos deposicionais aquosos, correspondendo a um sucessivo decréscimo na intensidade dos processos fluviais para jusante (Oeste). Acrecente-se que as fácies E sucedem gradualmente às fácies D e são geralmente ravinadas no tecto.

Discussão e conclusões- O modelo sedimentar, muito semelhante ao descrito por McGowen & Groat (1971), integra um sistema de leque aluvial com as fácies de àpex localizadas ao longo da falha da Lousã, particularmente na região de Góis. O bloco montanhoso a sudeste, compreendendo metassedimentos do CXG e dos sinclinais paleozóicos (cristas quartzíticas de Penedos de Góis e de Fajão) estaria a ser intensamente erodido. O sistema aluvial progradante para ocidente teria drenagem atlântica, passando gradualmente (a oeste e sudoeste de Coimbra) a depósitos marinhos transgressivos na base. Na área de Pombal - Leiria (a Sul de Coimbra), estes sedimentos marinhos são fossilíferos na base e estão datados do Plasenciano (Teixeira & Zbyszewski, 1951; Rocha & Ferreira, 1953). Idêntico contexto ocorreria também mais a NW, no sopé ocidental da Serra do Buçaco, pois depósitos fluviais passam para W (Chã da Mata) a depósitos com características litorais (Daveau et coll., 1986). A enorme espessura e as fácies presentes no sopé da Cordilheira Central Portuguesa, permitem admitir que o soerguimento e erosão dos relevos deste sistema montanhoso se continuou a verificar durante a etapa sedimentar pliocénica. O grande desenvolvimento espacial do sistema aluvial, as associações de fácies presentes testemunhando a persistencia de mecanismos aquosos, o predomínio de clastos (nos conglomerados e nas areias) mais resistentes à alteração, a intensa alteração argilosa ocre dos clastos de xisto e o cortejo argiloso com caulinite (predominante) e ilite, permite supor um clima húmido de tendência quente. Estes depósitos culminantes antecedem um último rejogo compressivo da falha da Lousã (foram cavalgados pelo soco do bloco montanhoso) e na região de Coimbra são afectados por vários sistemas de falhas. Também são anteriores ao encaixe da rede fluvial quaternária (bem expresso por vários níveis de terraço e depósitos vertente).
Referências bibliográficas

BARBOSA, B. (1983) , Estudos, Notas e Trabalhos do S.F.M., 25, 3-4, 193-213. DAVEAU, S. et coll. (1985) , Mem. Centro de Estudos Geográficos, 8, v. I, 232 p.

DAVEAU, S. et coll. (1986) , Mem. Centro de Estudos Geográficos, 8, v. II, p. 233-450

MCGOWEN & GROAT (1971) , Bureau of economic Geology, 72, 57 p.

REIS, R. PENA DOS & CUNHA, P. PROENÇA (1989a) , Com. Serv. Geol. Portug., 75

REIS, R. PENA DOS & CUNHA, P. PROENÇA (1989b) , Stvdia Geologica Salmanticensia, Vol. Esp. 5, p. 253-272

ROCHA, A. & FERREIRA, J. MARTINS (1953) , Rev. Fac. Ciências, 2ª Sec., C, III, 1

TEIXEIRA, C. (1952) , Mem. Ac. Ciências Lisboa, C - Ciências Naturais, VI

TEIXEIRA, C, & ZBYSZEWSKI, G. (1951) , Com. Serv. Geol. Portugal, 32, 1, p. 295-302


DCT / Pedro Proença

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