"Quando era a época das castanhas comia-mo-las assadas à lareira; por vezes a fome era tanta que eu engolia umas cruas, outras a escaldar, outras ainda com camisa, algumas até marchavam com casca, só com medo que os meus irmãos tirassem mais do que eu.
De vez em quando um deles berrava:
- Mãe, o Fernando está a comer as castanhas com camisa!
E, eu com a boca cheia, fazia que não. Entretanto ia enchendo os bolsos para depois".
(Fernando Pimenta, Cerdeira)
"Havia um velho do Vale Derradeiro que andava a regatear os preços na feira do Mont´Alto. Alguém viu e disse:
- Deixa lá o velho do Vale Derradeiro, que se lhe deres um pontapé no migalheiro chega para pagar a tenda e o tendeiro.
Ora, uns ladrões ouviram isto e logo resolveram ir a casa dele, mas revolveram tudo sem encontrar o dito dinheiro. Então, ameaçaram-no de morte e ele, coitado, teve de dizer que as suas poupanças estavam escondidas no corticito. Eles foram lá e levaram-lhe tudo, tudo, quanto tinha."
(História recolhida na Malhada Chã)
"Vira-se no Colmeal um que já morreu para o Padre que, coitado, também já morreu:
- Ó Senhor Padre, ficou-me um bocado de carne de porco espetada nos dentes desde o Entrudo até agora. Será pecado comê-la na Quaresma?
Responde-lhe o Padre:
- Bem, homem... se ela já lá está suponho que não será pecado...
Vai ele e atira-lhe:
- Então olhe, muito obrigado pelo indulto. É que eu tenho um presunto espetado nos dentes da forquilha e estou com umas ganas de comer nele..."
(História contada por Maria da Luz, da Aldeia Velha, Colmeal)
"Certo dia, na altura do racionamento (1945/46), vinha o Ti Alberto das bandas do Soeirinho com dois quilos de "açúcar ilegal" dentro da maleta de relojoeiro, eis senão quando topa com a Guarda, que logo o manda parar e pede para abrir aquela estranha mala metálica.
- Com que então açúcar! -Diz-lhe, triunfante, o cabo.
- Que, senhor guarda - responde ele logo. - É potassa!
E assim, por entre sorrisos cúmplices, se saiu o "Ti Alberto relojoeiro" desta embrulhada, continuando sem mais delongas o seu caminho."
(História recolhida nos Cepos)
Dr. Paulo Ramalho, Tempos Difíceis- Tradição e Mudança na Serra do Açor
De vez em quando um deles berrava:
- Mãe, o Fernando está a comer as castanhas com camisa!
E, eu com a boca cheia, fazia que não. Entretanto ia enchendo os bolsos para depois".
(Fernando Pimenta, Cerdeira)
"Havia um velho do Vale Derradeiro que andava a regatear os preços na feira do Mont´Alto. Alguém viu e disse:
- Deixa lá o velho do Vale Derradeiro, que se lhe deres um pontapé no migalheiro chega para pagar a tenda e o tendeiro.
Ora, uns ladrões ouviram isto e logo resolveram ir a casa dele, mas revolveram tudo sem encontrar o dito dinheiro. Então, ameaçaram-no de morte e ele, coitado, teve de dizer que as suas poupanças estavam escondidas no corticito. Eles foram lá e levaram-lhe tudo, tudo, quanto tinha."
(História recolhida na Malhada Chã)
"Vira-se no Colmeal um que já morreu para o Padre que, coitado, também já morreu:
- Ó Senhor Padre, ficou-me um bocado de carne de porco espetada nos dentes desde o Entrudo até agora. Será pecado comê-la na Quaresma?
Responde-lhe o Padre:
- Bem, homem... se ela já lá está suponho que não será pecado...
Vai ele e atira-lhe:
- Então olhe, muito obrigado pelo indulto. É que eu tenho um presunto espetado nos dentes da forquilha e estou com umas ganas de comer nele..."
(História contada por Maria da Luz, da Aldeia Velha, Colmeal)
"Certo dia, na altura do racionamento (1945/46), vinha o Ti Alberto das bandas do Soeirinho com dois quilos de "açúcar ilegal" dentro da maleta de relojoeiro, eis senão quando topa com a Guarda, que logo o manda parar e pede para abrir aquela estranha mala metálica.
- Com que então açúcar! -Diz-lhe, triunfante, o cabo.
- Que, senhor guarda - responde ele logo. - É potassa!
E assim, por entre sorrisos cúmplices, se saiu o "Ti Alberto relojoeiro" desta embrulhada, continuando sem mais delongas o seu caminho."
(História recolhida nos Cepos)
Dr. Paulo Ramalho, Tempos Difíceis- Tradição e Mudança na Serra do Açor
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