terça-feira, 13 de maio de 2008

Os factos e a Mensagem de Fátima

FÁTIMA: HISTÓRIA E MENSAGEM


Texto extraído do Guia do Peregrino de Fátima, edição do Santuário, 1990, no qual se apresenta um apanhado das descrições de Lúcia das aparições e dos principais aspectos do que habitualmente se designa «Mensagem de Fátima»

Os factos e a Mensagem de Fátima formam uma unidade perfeita, constituída por três momentos: as aparições do Anjo em 1916, as Aparições de Nossa Senhora, em 1917, e as aparições complementares de Pontevedra (1925-26) e Tuy (1929).

1. AS APARIÇÕES DO ANJO

O anjo de Fátima, como os anjos bíblicos, preparou os caminhos do Senhor. A primeira aparição deu-se durante a primavera de 1916, no lugar chamado "Cabeço". Lúcia, Francisco e Jacinta viram "uma luz mais branca que a neve, com a forma de jovem transparente, mais brilhante que um cristal, atravessado pelos raios do sol".

- Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

Ajoelhando-se, mandou repetir às crianças três vezes:

- Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Depois, ergueu-se e disse:

- Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.

A segunda aparição teve lugar durante o Verão, junto do poço do quintal da casa de Lúcia.

- Que fazeis? Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.

- Como nos havemos de sacrificar?

- De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.

A terceira aparição deu-se no Outono, de novo na Loca do Cabeço. As crianças começaram a rezar "Meu Deus, eu creio, ..." quando deram conta que sobre elas brilhava uma luz desconhecida. Viram, então, o Anjo, que segurava na mão esquerda um cálice, sobre o qual estava suspensa uma hóstia. Desta caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue. O Anjo ajoelhou diante delas e convidou-as a repetir por três vezes a seguinte oração:

- "Santíssima Trindade, pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente, e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".

Em seguida, o Anjo ergueu-se, tomou de novo o cálice e a hóstia, que tinham ficado suspensos no ar e deu a hóstia à Lúcia e o que continha o cálice ao Francisco e à Jacinta, dizendo ao mesmo tempo:

- Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o Vosso Deus.

2. AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA

O dia 13 de Maio de 1917 era Domingo.Depois de terem ido à Missa à paróquia, as crianças tinham levado as ovelhas a pastar para um lugar a dois quilómetros de Aljustrel, chamado "Cova da Iria". O céu estava azul e claro, mas, a dado instante, pareceu-lhes ver um relâmpago. Receando tempestade, juntaram o gado para o conduzir para casa. De repente, viram outro clarão... e ali, a poucos passos deles, sobre uma pequena azinheira, apareceu a figura de "uma Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz, mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente".

- Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.

- Donde é Vossemecê?

- Sou do Céu.

- E que é que Vossemecê me quer?

- Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero.

- E eu também vou para o Céu?

- Sim, vais.

- E a Jacinta?

- Também.

- E o Francisco?

- Também, mas tem que rezar muitos terços.

Lúcia fez ainda mais algumas perguntas. Por fim, Nossa Senhora perguntou-lhes:

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?

- Sim, queremos.

- Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Ao dizer estas últimas palavras, Nossa Senhora abriu as mãos, num gesto acolhedor de Mãe, oferecendo o seu Coração. Um misterioso reflexo de luz desceu até às crianças penetrando-lhes a alma e fazendo-as verem-se envolvidas em Deus, "mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos", - diz Lúcia. Finalmente, Nossa Senhora acrescentou:

- Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.

No dia 13 de Junho, os pastorinhos, acompanhados de algumas pessoas, estavam a rezar o terço, quando, de novo, viram o misterioso clarão. Lúcia iniciou o diálogo:

- Vossemecê que me quer?

- Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.

Lúcia pediu a cura de um doente. Nossa Senhora respondeu:

- Se se converter, curar-se-á durante o ano.

- Queria pedir-lhe para nos levar para o Céu.

- Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação e serão queridas por Deus, como flores postas por mim a adornar o Seu trono.

- Fico cá sozinha?

- Não, filha. E tu sofre muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

No dia 13 de Julho foi já uma multidão a acompanhar os pastorinhos. Viu-se o costumado clarão. Lúcia começou o diálogo:

- Vossemecê que me quer?

- Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.

Lúcia apresentou a Nossa Senhora diversos pedidos e continuou:

- Queria pedir-lhe para nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que vossemecê nos aparece.

- Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que todos hão-de ver e acreditar. Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.

Neste momento o reflexo misterioso penetrou a terra. Os pastorinhos, assombrados, contemplaram a horrível visão do inferno. Assustados, e como que a pedir socorro, levantámos, - diz Lúcia - a vista para Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza:

- Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XII, começará outra pior. Quando virdes um noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé. Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco podeis dizê-lo.

Depois destas importantes declarações, Nossa Senhora continuou:

- Quando rezais o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.

No dia 13 de Agosto não houve aparição de Nossa Senhora porque o Administrador de Vila Nova de Ourém prendeu os pequenos e levou-os para a Vila. Ali os reteve injustamente durante três dias, submetendo-os a múltiplos interrogatórios e ameaçando-os com violentos castigos. Por fim, não tendo conseguido obter deles nem a retratação da veracidade das aparições, nem a revelação do segredo, entregou-os aos pais.

A multidão esperou em vão, nesse dia, pelos pastorinhos. Nosso Senhor, porém, realizou alguns prodígios extraordinários, que a todos consolaram e convenceram mais da veracidade das aparições.

No Domingo seguinte, 19 de Agosto, Nossa Senhora tornou a aparecer num lugar chamado "Valinhos".

- Que é que Vossemecê me quer?

- Quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias.

A Lúcia apresentou, depois, alguns pedidos que Nossa Senhora atendeu. E, tomando um aspecto mais triste, terminou dizendo:

- Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.

No dia 13 de Setembro, a multidão ultrapassava já as 25 mil pessoas. As crianças chegaram com dificuldade ao local das aparições. Pouco depois, a Santíssima Virgem manifestou-se e disse:

- Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, S.José com o Menino Jesus para abençoarem o mundo.

Como das outras vezes, Lúcia transmitiu a Nossa Senhora vários pedidos. Por fim, Nossa Senhora, refreando o espírito mortificado dos pastorinhos, acrescentou:

- Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.

No dia 13 de Outubro, não obstante a chuva torrencial que encharcara e enlameara os caminhos, dificultando a subida da serra, a multidão ultrapassou as 50.000 pessoas.

Era meio-dia solar, quando começou o

diálogo Senhora aparecida:

- Que é que Vossemecê me quer?

- Quero dizer-te que façam aqui uma capela em minha honram, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.

Depois, tomando um aspecto mais triste, disse:

- Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido!

Quando Lúcia viu que Nossa Senhora se elevava, e que o seu brilho continuava a projectar-se no sol, num movimento instintivo apontou para o sol, e, com um grito espontâneo, recomendou:

- Olhem para o sol!

Foi então que se realizou o milagre prometido por Nossa Senhora três meses antes. O Céu que, até então, tinha estado coberto de nuvens negras, rasgou-se, deixando ver o sol. Este tomou a forma e a cor de um disco prateado que não feria a vista. Ao mesmo tempo, começou a girar vertiginosamente sobre si mesmo, como uma roda de fogo de artifício. Por três vezes, desceu até à altura do horizonte, como que ameaçando cair sobre a terra. Brilharam no sol todas as cores do arco-íris que se reflectiram na paisagem, na terra, nas árvores e nas pessoas. O espectáculo durou cerca de um quarto de hora. A multidão assistia ao acontecimento atemorizada: chorava, gritava, invocava a misericórdia de Deus e da Santíssima Virgem, e pedia perdão para as suas culpas.

Lúcia, mergulhada no êxtase, não tinha contemplado o fenómeno solar, mas, imediatamente depois, pôde contemplar uma série de visões multiformes que ela descreve com sobriedade: "Desaparecida Nossa Senhora, na imensa distância do firmamento, vimos, ao lado do sol, S.José com o Menino, e Nossa Senhora vestida de branco com um manto azul. S.José com o Menino pareciam abençoar o mundo, com uns gestos que faziam com a mão, em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que S.José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ainda ver Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo".

Sem comentários: