“Se um dia disserem que o seu trabalho não é de um profissional, lembre-se: A Arca de Noé foi construída por amadores; profissionais construíram o Titanic…“
segunda-feira, 31 de julho de 2006
da República do Cazaquistão
De Janeiro de Cima ao Cazaquistão Carla Gama vê a paisagem a mudar, a temperatura, a luz, o vento, um outro clima, a cor, a textura, a vegetação, os aromas, os cheiros fortes, a geografia, os olhares, as cordilheiras, a distância ENORME que deixou para trás, o tom da sua voz, a sua maneira de ser, as suas palavras, a sua família...
O importante é saber decifrar a sua força a sua vontade e a intensidade da sua viagem.
São 17.35 h em Janeiro de Cima, 22.35 h no Cazaquistão.
In 1991, new country - the Republic of Kazakhstan - appeared on the geopolitical map of the world.
O importante é saber decifrar a sua força a sua vontade e a intensidade da sua viagem.
São 17.35 h em Janeiro de Cima, 22.35 h no Cazaquistão.
In 1991, new country - the Republic of Kazakhstan - appeared on the geopolitical map of the world.
Cazaquistão
CAZAQUISTÃO (*) - O Cazaquistão é o maior país das repúblicas da Ásia Central e também um dos mais populosos (de acordo com o Comitê do Estado, a população está em torno de 14.892.500 em 2003). Só perdendo para o Uzbequistão (25.563.000 em 2003).
Outra característica do Casaquistão, que diretamente afeta a situação religiosa no país, é o fato de ser o único pais da Ásia Central com etnia russa, que é historicamente ortodoxa, compreende quase metade da população. Vale lembrar que os casaquis, que eram nômades até recentemente, não tendem a serem fiéis fervorosos.
O islã é praticado num nível superficial entre a etnia casaqui e está entrelaçado com os rituais pagaõs. Os muçulmanos mais devotos no Casaquistão são da etnia uzbeque, que estão concentrados na região super populosa do sudeste do país junto com o Uzbequistão. Isso faz com que a ameaça do fundamentalismo islâmico no Casaquistão seja menor que em outras repúblicas da Ásia central. De fato, nas características étnicas culturais é talvez mais lembrado na região norte – as regiões autônomas Altai e Tuva na Rússia, e Mongólia – do que nos outros países da Ásia central.
Outra característica específica do Casaquistão (que também, curiosamente, afeta a situação religiosa do país) é o seu relativo sucesso econômico . O maior padrão de vida tem levado a um fluxo de massa de trabalhadores ilegais dos outros países ao redor.
O Casaquistão é o único país na região que tem presenciado um crescimento de uma classe bem sucedida de empreendedores (cerca de 10% da população). Quase todos os que foram entrevistados pelo Forum18 dizem que as condições de vida estão melhorando. "Posso afirmar com certeza que nas grandes cidades pelo menos o padrão de vida está crescendo," informou ao Forum18 o presidente de uma sociedade protestante, Emmanuel Roman Dudnik no dia 28 de janeiro na capital comercial de Almaty. "Isso é como eu vejo, simplesmente observando a congregação da igreja. Vemos aqui um certo número de crentes com boa qualidade de vida e eu relaciono isso diretamente com o crescimento do padrão de vida."
Outra peculiaridade da situação econômica é o grande percentual de estrangeiros vivendo no país se comparado com outros países da região. Almaty é sem dúvida a cidade mais cosmopolita da Ásia Central. Dudnik acredita que são essas duas circunstâncias que determinam o melhoramento da situação das minorias religiosas. "As pessoas agora estão com mais dinheiro podendo viajar para o exterior cada vez mais," acrescentou ele. "No próprio Casaquistão existem cada vez mais estrangeiros. Os horizontes das pessoas estão alargando, consequentemente, as pessoas estão se tornando mais tolerantes com as religiões."
Outra característica do Casaquistão, que diretamente afeta a situação religiosa no país, é o fato de ser o único pais da Ásia Central com etnia russa, que é historicamente ortodoxa, compreende quase metade da população. Vale lembrar que os casaquis, que eram nômades até recentemente, não tendem a serem fiéis fervorosos.
O islã é praticado num nível superficial entre a etnia casaqui e está entrelaçado com os rituais pagaõs. Os muçulmanos mais devotos no Casaquistão são da etnia uzbeque, que estão concentrados na região super populosa do sudeste do país junto com o Uzbequistão. Isso faz com que a ameaça do fundamentalismo islâmico no Casaquistão seja menor que em outras repúblicas da Ásia central. De fato, nas características étnicas culturais é talvez mais lembrado na região norte – as regiões autônomas Altai e Tuva na Rússia, e Mongólia – do que nos outros países da Ásia central.
Outra característica específica do Casaquistão (que também, curiosamente, afeta a situação religiosa do país) é o seu relativo sucesso econômico . O maior padrão de vida tem levado a um fluxo de massa de trabalhadores ilegais dos outros países ao redor.
O Casaquistão é o único país na região que tem presenciado um crescimento de uma classe bem sucedida de empreendedores (cerca de 10% da população). Quase todos os que foram entrevistados pelo Forum18 dizem que as condições de vida estão melhorando. "Posso afirmar com certeza que nas grandes cidades pelo menos o padrão de vida está crescendo," informou ao Forum18 o presidente de uma sociedade protestante, Emmanuel Roman Dudnik no dia 28 de janeiro na capital comercial de Almaty. "Isso é como eu vejo, simplesmente observando a congregação da igreja. Vemos aqui um certo número de crentes com boa qualidade de vida e eu relaciono isso diretamente com o crescimento do padrão de vida."
Outra peculiaridade da situação econômica é o grande percentual de estrangeiros vivendo no país se comparado com outros países da região. Almaty é sem dúvida a cidade mais cosmopolita da Ásia Central. Dudnik acredita que são essas duas circunstâncias que determinam o melhoramento da situação das minorias religiosas. "As pessoas agora estão com mais dinheiro podendo viajar para o exterior cada vez mais," acrescentou ele. "No próprio Casaquistão existem cada vez mais estrangeiros. Os horizontes das pessoas estão alargando, consequentemente, as pessoas estão se tornando mais tolerantes com as religiões."
* Este país não se enquadra entre os 50 mais intolerantes ao cristianismo.
Artigo completo - Missão Portas Abertas
Kazakhstan
São 10.00 h em Janeiro de Cima e 15.00 h no Cazaquistão.
Kazakhstan in Brief
History
Culture and Traditions
Music of Kazakhstan
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Music of Kazakhstan
Astana - Kazakhstan
São 9:19 em Janeiro de Cima.
No Cazaquistão o relógio da minha prima Carla Gama marca 14:19.
Ela já almoçou, não tarda nada vai jantar e eu ainda não produzi nada para um país chamado Portugal!
Вашему вниманию предлагается подборка интересных снимков, полученных с различных природоресурсных спутников.
Изображения со спутников IRS-1C/1D, Ресурс-О1-3/4, Метеор-3М-1 и TERRA получены приемными станциями Байкалького регионального центра ДЗЗ
Представленные изображения являются фрагментами полученных сцен, обработанными для лучшего визуального восприятия и преобразованными в формат JPEG.
No Cazaquistão o relógio da minha prima Carla Gama marca 14:19.
Ela já almoçou, não tarda nada vai jantar e eu ainda não produzi nada para um país chamado Portugal!
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Изображения со спутников IRS-1C/1D, Ресурс-О1-3/4, Метеор-3М-1 и TERRA получены приемными станциями Байкалького регионального центра ДЗЗ
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domingo, 30 de julho de 2006
Um pouco de História / 4 - O passado de Arganil - conclusão
Assim parece, de facto. Realmente, em 25 de Dezembro de 1114, isto é, oito anos antes da data do diploma em questão, dá o mesmo bispo D. Gonçalo uma carta de povoação a Arganil. Se a vila lhe pertencia nesta data, como tal carta parece demonstrar, para que era necessária a doação de 1122? O que pode concluir-se é que seria mais do que duvidosa a sua posse pela mitra de Coimbra, e, para a legalizar, houvesse necessidade de documento autêntico. Inexistente este, forjou-se a interpolação, metida a picareta na doação de Coja.
(...) Quer lhe pertencesse quer não, a verdade é que D. Gonçalo, outorgou a Arganil, em 1114, uma carta que tem extraordinário valor para conhecermos a situação económica e social dos seus habitantes, neste começo do séc. XII. Resumindo o conteúdo deste documento, escreve Alexandre Herculano: «Dividia-se a população em jugadeiros e cavaleiros-vilãos. Especificavam-se... os direitos de caça, a parada ou colheita, e o serviço de caminheiros, não esquecendo declarar que os cavaleiros-vilãos ficavam isentos de jugada. Determinava-se a natureza que adquiriam os prédios passando da mão dos peões para a dos cavaleiros-vilãos, bem como as condições necessárias para qualquer ser incluído nessa categoria. Em todo o foral, porém, não há uma única circunstância que revele a existência, em Arganil, de magistraturas próprias, e sem uma como adição feita nesse diploma depois de expedido, ele não passaria de um simples contrato civil.» Esta adição, redigida em nome dos colonos, é a seguinte: - «Além de tudo, acrescentámos um sexteiro a cada boi para que nos não pusessem ninguém por alcaide senão a nosso contento».
A existência de um alcaide em Arganil - continua Alexandre Herculano - manifesta-nos que a povoação era um lugar forte, um castelo, e que os colonos dependiam do casteleiro, o qual, por isso, reunia, em si, cargo militar e magistratura civil. Mas até onde se estendia esta? Eis o que não é possível dizer. Todavia, é provável que as suas funções civis se limitassem às de exactor. O direito de intervir na sua eleição, que os moradores compram por um aumento de encargos, dá porém a Arganil um carácter de concelho rudimentar».
(...) Assim se explica que o verdadeiro foral de Arganil, datado de 1175, seja outorgado por D. Pedro Ubertiz, nos últimos anos do reinado de D. Afonso Henriques, falecido 1185. Dizemos «verdadeiro foral de Arganil», visto ser este que D. Dinis confirma e serve de norma a D. Manuel I, quando o «Venturoso», em 1514, dá novo foral a Arganil, encabeçadopor estas palavras: - «Foral da vila de Arganil, do bispado de Coimbra, dado por Pero Ubertiz, confirmado por El-Rei D. Dinis per as rendas de Arganil...».
Comparando este foral com a carta de povoação do bispo D. Gonçalo, verifica-se o seguinte: - mantêm-se as características rurais do concelho, agora mais acentuadas, devido às referências aos seus lavradores, caçadores e pastores. Não se fala em jugada nem no alcaide. Dão-se garantias especiais à herdade dos cavaleiros. Mencionam-se as penalidades a que ficam sujeitos os que praticam determinados crimes. Na formulação destes, sobressaem alguns casos curiosos: - Assim: O que encontrasse alguém a roubá-lo, não pagava multa pelos ferimentos que lhe causasse. À terceira vez, o ladrão eraaçoutado, tosquiado e expulso «para além do Alva», ou seja para fora do concelho, o que, aliás, já acontecia anteriormente, segundo dispõe a carta de D. Gonçalo. O que quisesse provar o seu direito com «bordão e escudo» pagava um bragal. tratava-se - nota o dr. Cabral Moncada - da velha prática do duelo judiciário, de influência germânica, garantem vários investigadores. Segundo este costume, com o qual a Igreja só conseguiu acabar no séc. XIV, os vizinhos dirimiam entre si os seus direitos pelas armas (no nosso concelho serviam-se do bordão e do escudo, como vimos), dando às suas contestações de direitos pessoais e familiares o carácter de verdadeiras formas de uma justiça privada. Era uma justiça bárbara, na verdade, mas reveladora de coragem e da honra de quem não temia recorrer a ela, na formulação das penas, aparece-nos agora, em Arganil, o conselho dos homens bons, ouvido sempre que têm de ser aplicadas algumas destas, as mais graves.
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
(...) Quer lhe pertencesse quer não, a verdade é que D. Gonçalo, outorgou a Arganil, em 1114, uma carta que tem extraordinário valor para conhecermos a situação económica e social dos seus habitantes, neste começo do séc. XII. Resumindo o conteúdo deste documento, escreve Alexandre Herculano: «Dividia-se a população em jugadeiros e cavaleiros-vilãos. Especificavam-se... os direitos de caça, a parada ou colheita, e o serviço de caminheiros, não esquecendo declarar que os cavaleiros-vilãos ficavam isentos de jugada. Determinava-se a natureza que adquiriam os prédios passando da mão dos peões para a dos cavaleiros-vilãos, bem como as condições necessárias para qualquer ser incluído nessa categoria. Em todo o foral, porém, não há uma única circunstância que revele a existência, em Arganil, de magistraturas próprias, e sem uma como adição feita nesse diploma depois de expedido, ele não passaria de um simples contrato civil.» Esta adição, redigida em nome dos colonos, é a seguinte: - «Além de tudo, acrescentámos um sexteiro a cada boi para que nos não pusessem ninguém por alcaide senão a nosso contento».
A existência de um alcaide em Arganil - continua Alexandre Herculano - manifesta-nos que a povoação era um lugar forte, um castelo, e que os colonos dependiam do casteleiro, o qual, por isso, reunia, em si, cargo militar e magistratura civil. Mas até onde se estendia esta? Eis o que não é possível dizer. Todavia, é provável que as suas funções civis se limitassem às de exactor. O direito de intervir na sua eleição, que os moradores compram por um aumento de encargos, dá porém a Arganil um carácter de concelho rudimentar».
(...) Assim se explica que o verdadeiro foral de Arganil, datado de 1175, seja outorgado por D. Pedro Ubertiz, nos últimos anos do reinado de D. Afonso Henriques, falecido 1185. Dizemos «verdadeiro foral de Arganil», visto ser este que D. Dinis confirma e serve de norma a D. Manuel I, quando o «Venturoso», em 1514, dá novo foral a Arganil, encabeçadopor estas palavras: - «Foral da vila de Arganil, do bispado de Coimbra, dado por Pero Ubertiz, confirmado por El-Rei D. Dinis per as rendas de Arganil...».
Comparando este foral com a carta de povoação do bispo D. Gonçalo, verifica-se o seguinte: - mantêm-se as características rurais do concelho, agora mais acentuadas, devido às referências aos seus lavradores, caçadores e pastores. Não se fala em jugada nem no alcaide. Dão-se garantias especiais à herdade dos cavaleiros. Mencionam-se as penalidades a que ficam sujeitos os que praticam determinados crimes. Na formulação destes, sobressaem alguns casos curiosos: - Assim: O que encontrasse alguém a roubá-lo, não pagava multa pelos ferimentos que lhe causasse. À terceira vez, o ladrão eraaçoutado, tosquiado e expulso «para além do Alva», ou seja para fora do concelho, o que, aliás, já acontecia anteriormente, segundo dispõe a carta de D. Gonçalo. O que quisesse provar o seu direito com «bordão e escudo» pagava um bragal. tratava-se - nota o dr. Cabral Moncada - da velha prática do duelo judiciário, de influência germânica, garantem vários investigadores. Segundo este costume, com o qual a Igreja só conseguiu acabar no séc. XIV, os vizinhos dirimiam entre si os seus direitos pelas armas (no nosso concelho serviam-se do bordão e do escudo, como vimos), dando às suas contestações de direitos pessoais e familiares o carácter de verdadeiras formas de uma justiça privada. Era uma justiça bárbara, na verdade, mas reveladora de coragem e da honra de quem não temia recorrer a ela, na formulação das penas, aparece-nos agora, em Arganil, o conselho dos homens bons, ouvido sempre que têm de ser aplicadas algumas destas, as mais graves.
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
sábado, 29 de julho de 2006
Um pouco de História / 3 - O passado de Arganil
(...) Embora não faltem documentos referentes a Arganil e outras localidades do seu actual concelho, parece-nos que só após a tomada de Seia, Viseu, Lamego e Coimbra, a nossa região se libertou definitivamente do jugo infiel. É natural, mesmo, que nem luta tivesse havido. Metida entre Seia, Viseu e Coimbra, que haviam sido tomadas pelos cristãos, e defendida dos muçulmanos da Beira Baixa pela barreira da Estrela, a sua defesa, confiada, por certo, a pequena guarnição militar, dado o facto da maioria dos seus habitantes serem moçárabes, como já vimos, não tinha a mínima possibilidade de se manter. De resto, a penetração cristã para montante de Mondego e seus afluentes, já vinha enfraquecendo, havia alguns anos, a resistência infiel, e preparando o caminho para continuar neste sentido.
É o que demonstra a acção do mosteiro do Lorvão, fundado no último quartel do século IX, pouco depois da tomada de Coimbra, em 878, por D. Afonso III de Leão. Dotado de enorme actividade, inicia, desde logo, uma valiosa obra de repovoamento que, só em volta da nossa região, se estende de Ceira, Serpins e Vilarinho, a Penacova e outras localidades vizinhas, passando a Gondelim, na foz do Alva, onde chega a viver o conde Diogo Fernandes, primeiro governador de Coimbra, após a conquistada cidade, em 878, e também senhor de Alquinícia, Louredo, Oliveira e outros lugares, até Miranda do Corvo. De Gondelim, a população cristã chega a Mucela e Sarzedo, Santa Comba Dão, Midões, Travanca, etc.
(...) uma vez novamente reconquistada Coimbra, em 1064, prossegue com intensidade crescente, sob a direcção do seu governador, o conde Sisnando. O território que administra abrange a zona que se estende até ao Douro, incluindo Lamego e Viseu, e confina, para Leste, com o distrito civil e militar de Seia, englobando, portanto, a nossa região, incluindo Arganil, onde a darmos crédito a Frei Nicolau de Santa Maria, já existiria o convento de S. Pedro de Arganil, segundo documento por este citado, datado de 1080, altura em que teria passado para Folques. (vidé Frei Nicolau de Santa Maria - Chronica da Ordem dos Conegos Regrantes do Patriarcha Santo Agostinho, Parte II, Lisboa, 1668, pág. 158 e segs.)
(...) Que se passava, por esta altura, na nossa região? Em 1111, nova investida dos Sarracenos leva-os à conquista de Santarém, Lisboa e Sintra. «Para lhes obstar a conquista de Coimbra - diz o historiador padre Gonzaga de Azevedo - dera o conde D. Henrique, no mesmo ano, foral a Soure; nesse, ou nalgum dos imediatos. Miranda da Beira, pelo lado de Leste, e Santa Eulália, a Poente, sobre o Mondego, receberam presídios e foram repovoadas. Este sistema defensivo, constituído por três fortes castelos, que cobriam e desafogavam a cidade (de Coimbra) dos primeiros assaltos, era completado por outros redutos, levantados na direcção Nordeste-Sudoeste, e apoiados nos contrafortes da Serra da Estrela - Coja, Arganil e Seia - formando todos como que uma nova fronteira contra os inimigos do Sul. (...) Os muçulmanos tomaram Miranda da Beira e Santa Eulália, destruiram Soure, cujos habitantes haviam fugido, e, no ano seguinte, investiram contra Coimbra, onde chegarama a entrar, mas da qual não conseguiram apoderar-se. «Soure - continua Gonzaga de Azevedo - ficou por sete anos ao abandono. Coja e Arganil foram doadas, com as terras dependentes, em 1121, a Fernão Perez de Trava, e, no ano seguinte, à Sé de Coimbra e seu bispo D. Gonçalo, recebendo aquele o forte de Santa Eulália, sobre o Mondego, e, em 1122, o castelo de Soure». Também lhe foi doada Seia, neste mesmo ano.
E quanto a Arganil? - Em relação a Arganil, creio que não podemos aceitar as conclusões de Gonzaga de Azevedo. Por um lado, contrariamente ao que assevera, na carta de escambo de que já falámos, trata-se apenas de Coja. Arganil não aparece ali mencionada. Não menciona, igualmente, tal doação o «Livro das Calendas da Sé de Coimbra», que só se refere a Coja. (vidé Livro das Kalendas, ed. Pierre David e Torquato de Sousa Soares, Vol. I, Coimbra, 1947, pág. 205). É certo que esta doação à Sé de Coimbra aparece juntamente com a doação de Coja, no documento de 1122. Mas trata-se - esclarece o dr. Rui de Azevedo - de uma «interpolação» certamente feita - diz este ilustre investigador - com «propósitos fraudulentos». (vidé In Documentos Medieviais Portugueses, cit. pág. 78 e segs.)
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
É o que demonstra a acção do mosteiro do Lorvão, fundado no último quartel do século IX, pouco depois da tomada de Coimbra, em 878, por D. Afonso III de Leão. Dotado de enorme actividade, inicia, desde logo, uma valiosa obra de repovoamento que, só em volta da nossa região, se estende de Ceira, Serpins e Vilarinho, a Penacova e outras localidades vizinhas, passando a Gondelim, na foz do Alva, onde chega a viver o conde Diogo Fernandes, primeiro governador de Coimbra, após a conquistada cidade, em 878, e também senhor de Alquinícia, Louredo, Oliveira e outros lugares, até Miranda do Corvo. De Gondelim, a população cristã chega a Mucela e Sarzedo, Santa Comba Dão, Midões, Travanca, etc.
(...) uma vez novamente reconquistada Coimbra, em 1064, prossegue com intensidade crescente, sob a direcção do seu governador, o conde Sisnando. O território que administra abrange a zona que se estende até ao Douro, incluindo Lamego e Viseu, e confina, para Leste, com o distrito civil e militar de Seia, englobando, portanto, a nossa região, incluindo Arganil, onde a darmos crédito a Frei Nicolau de Santa Maria, já existiria o convento de S. Pedro de Arganil, segundo documento por este citado, datado de 1080, altura em que teria passado para Folques. (vidé Frei Nicolau de Santa Maria - Chronica da Ordem dos Conegos Regrantes do Patriarcha Santo Agostinho, Parte II, Lisboa, 1668, pág. 158 e segs.)
(...) Que se passava, por esta altura, na nossa região? Em 1111, nova investida dos Sarracenos leva-os à conquista de Santarém, Lisboa e Sintra. «Para lhes obstar a conquista de Coimbra - diz o historiador padre Gonzaga de Azevedo - dera o conde D. Henrique, no mesmo ano, foral a Soure; nesse, ou nalgum dos imediatos. Miranda da Beira, pelo lado de Leste, e Santa Eulália, a Poente, sobre o Mondego, receberam presídios e foram repovoadas. Este sistema defensivo, constituído por três fortes castelos, que cobriam e desafogavam a cidade (de Coimbra) dos primeiros assaltos, era completado por outros redutos, levantados na direcção Nordeste-Sudoeste, e apoiados nos contrafortes da Serra da Estrela - Coja, Arganil e Seia - formando todos como que uma nova fronteira contra os inimigos do Sul. (...) Os muçulmanos tomaram Miranda da Beira e Santa Eulália, destruiram Soure, cujos habitantes haviam fugido, e, no ano seguinte, investiram contra Coimbra, onde chegarama a entrar, mas da qual não conseguiram apoderar-se. «Soure - continua Gonzaga de Azevedo - ficou por sete anos ao abandono. Coja e Arganil foram doadas, com as terras dependentes, em 1121, a Fernão Perez de Trava, e, no ano seguinte, à Sé de Coimbra e seu bispo D. Gonçalo, recebendo aquele o forte de Santa Eulália, sobre o Mondego, e, em 1122, o castelo de Soure». Também lhe foi doada Seia, neste mesmo ano.
E quanto a Arganil? - Em relação a Arganil, creio que não podemos aceitar as conclusões de Gonzaga de Azevedo. Por um lado, contrariamente ao que assevera, na carta de escambo de que já falámos, trata-se apenas de Coja. Arganil não aparece ali mencionada. Não menciona, igualmente, tal doação o «Livro das Calendas da Sé de Coimbra», que só se refere a Coja. (vidé Livro das Kalendas, ed. Pierre David e Torquato de Sousa Soares, Vol. I, Coimbra, 1947, pág. 205). É certo que esta doação à Sé de Coimbra aparece juntamente com a doação de Coja, no documento de 1122. Mas trata-se - esclarece o dr. Rui de Azevedo - de uma «interpolação» certamente feita - diz este ilustre investigador - com «propósitos fraudulentos». (vidé In Documentos Medieviais Portugueses, cit. pág. 78 e segs.)
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
sexta-feira, 28 de julho de 2006
De Janeiro de Cima para um país chamado Portugal
Um pouco de História / 2 - A tese de Alexandre Herculano
Arganil: um olhar sobre o passado.
A tese de Alexandre Herculano, segundo o qual os Lusitanos não só se teriam corrompido, mas, mesmo, desaparecido, devido, sobretudo, ao domínio romano (vidé Alexandre Herculano - História de Portugal, Vol. I, 1914, pág. 48 e segs.), opõem-se hoje numerosos investigadores, que, embora em sentido lato, os consideram como «o mais importante elemento etnológico dos Portugueses», no dizer do prof. Mendes Correia (vidé A. A. Mendes Correia - Raízes de Portugal, Lisboa, 1938, pág. 51 e segs.). Nem os Romanos - continua este investigador - eram multidão formidável que alastrasse «por todo o solo conquistado, substituindo, integralmente, as populações preexistentes», nem lhes era possível apressar a sua influência, necessariamente de absorção lenta pela massa indígena, «numericamente predominante, geograficamente adaptada e fisiologicamente enraízada». (vidé A. A. Mendes Correia - Os Povos Primitivos da Lusitânia, Porto, 1924, pág 371 e segs.).
Até que ponto sentiram os habitantes da nossa região a influência romana? - Que este alastrou através de algumas localidades da planície, naturalmente indicadas para centros administrativos e militares, não é possível pôr-se em dúvida, embora os testemunhos desta influência sejam bastante modestos. Enquadrados entre Conímbriga, Aeminium, Bobadela, Idanha, que uma bela via parece ter ligado, não repugna aceitar um contacto mais ou menos profundo entre dominadores e dominados. Que este contacto houvesse penetrado em profundidade na zona sertaneja, reduto difícil de atingir, e muito mais de defender, é que é caso para duvidar. Dizemos «em profundidade», visto ser de aceitar que, mesmo aqui, não deixasse de chegar, quer o cobrador de imposto, quer o funcionário adventício, sem que esta passagem fosse suficiente para alterar a fisionomia, modificar os costumes e corromper a raça dos vigorosos habitantes da montanha.
(...) Já vi afirmar, sem quaisquer provas, aliás, que Arganil, velha cidade romana, fora atacada e destruída peloa árabes em 716. Creio tratar-se de pura fantasia. Importante cidade romana não parece ter sido. Nada o documenta. Nem textos nem ruínas ou outros documentos arqueológicos. A romanização das Beiras foi muito superficial - ensina o dr. Sousa Soares. (vidé Torquato Brochado de Sousa Soares - Obra, cit., pág. 21, Nota 5. As suas principais povoações - Conimbriga e Aeminium - dotadas da importância que todos conhecem, foram, apesar apesar disso, cidades estipendiárias, «o que demonstra - diz este sábio professor - que os seus habitantes resistiram à conquista dos invasores romanos, e continuaram a regular-se pelas suas leis, mediante o pagamento de tributo». Se isto acontecia em aglomerados deste relevo, o que pensar das localidades da nossa região, muito mais difíceis de atingir, e, portanto, mais alheias à penetração romana?
Que esta aqui chegou, não pode ser posto em dúvida, como já afirmámos anteriormente. No ano de 138, antes de Cristo, logo a seguir à morte de Viriato, o cônsul Décio Juno Bruto, percorre a Estremadura e a Beira, onde destrói trinta povoações, e estabelece um campo fortificado em Viseu. Mais tarde organiza-se o acampamento de Antanhol, perto de Coimbra, só ultimamente descoberto. As sublevações, no entanto, nem por isso terminam. Diminuem apenas de intensidade, à medida que se intensifica o domínio romano, que vai alargando a sua influência, ajudado pela proximidade do centro da Lusitânia, onde as instituições romanas adquirem amplo desenvolvimento. Nestas condições, o que parece, talvez, mais conforme com a realidade, é que Arganil não passasse de humilde povoação aberta, tendo, como centro de refúgio e protecção, nos momentos graves, o velho castro da Lomba do Canho, onde o dr. Castro Nunes encontrou, num estrato com cerâmica datada dos primórdios da ocupação romana, mais de cem projécteis de catapulta. (vidé João de Castro Nunes - Obra cit., pág. 6.)
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
A tese de Alexandre Herculano, segundo o qual os Lusitanos não só se teriam corrompido, mas, mesmo, desaparecido, devido, sobretudo, ao domínio romano (vidé Alexandre Herculano - História de Portugal, Vol. I, 1914, pág. 48 e segs.), opõem-se hoje numerosos investigadores, que, embora em sentido lato, os consideram como «o mais importante elemento etnológico dos Portugueses», no dizer do prof. Mendes Correia (vidé A. A. Mendes Correia - Raízes de Portugal, Lisboa, 1938, pág. 51 e segs.). Nem os Romanos - continua este investigador - eram multidão formidável que alastrasse «por todo o solo conquistado, substituindo, integralmente, as populações preexistentes», nem lhes era possível apressar a sua influência, necessariamente de absorção lenta pela massa indígena, «numericamente predominante, geograficamente adaptada e fisiologicamente enraízada». (vidé A. A. Mendes Correia - Os Povos Primitivos da Lusitânia, Porto, 1924, pág 371 e segs.).
Até que ponto sentiram os habitantes da nossa região a influência romana? - Que este alastrou através de algumas localidades da planície, naturalmente indicadas para centros administrativos e militares, não é possível pôr-se em dúvida, embora os testemunhos desta influência sejam bastante modestos. Enquadrados entre Conímbriga, Aeminium, Bobadela, Idanha, que uma bela via parece ter ligado, não repugna aceitar um contacto mais ou menos profundo entre dominadores e dominados. Que este contacto houvesse penetrado em profundidade na zona sertaneja, reduto difícil de atingir, e muito mais de defender, é que é caso para duvidar. Dizemos «em profundidade», visto ser de aceitar que, mesmo aqui, não deixasse de chegar, quer o cobrador de imposto, quer o funcionário adventício, sem que esta passagem fosse suficiente para alterar a fisionomia, modificar os costumes e corromper a raça dos vigorosos habitantes da montanha.
(...) Já vi afirmar, sem quaisquer provas, aliás, que Arganil, velha cidade romana, fora atacada e destruída peloa árabes em 716. Creio tratar-se de pura fantasia. Importante cidade romana não parece ter sido. Nada o documenta. Nem textos nem ruínas ou outros documentos arqueológicos. A romanização das Beiras foi muito superficial - ensina o dr. Sousa Soares. (vidé Torquato Brochado de Sousa Soares - Obra, cit., pág. 21, Nota 5. As suas principais povoações - Conimbriga e Aeminium - dotadas da importância que todos conhecem, foram, apesar apesar disso, cidades estipendiárias, «o que demonstra - diz este sábio professor - que os seus habitantes resistiram à conquista dos invasores romanos, e continuaram a regular-se pelas suas leis, mediante o pagamento de tributo». Se isto acontecia em aglomerados deste relevo, o que pensar das localidades da nossa região, muito mais difíceis de atingir, e, portanto, mais alheias à penetração romana?
Que esta aqui chegou, não pode ser posto em dúvida, como já afirmámos anteriormente. No ano de 138, antes de Cristo, logo a seguir à morte de Viriato, o cônsul Décio Juno Bruto, percorre a Estremadura e a Beira, onde destrói trinta povoações, e estabelece um campo fortificado em Viseu. Mais tarde organiza-se o acampamento de Antanhol, perto de Coimbra, só ultimamente descoberto. As sublevações, no entanto, nem por isso terminam. Diminuem apenas de intensidade, à medida que se intensifica o domínio romano, que vai alargando a sua influência, ajudado pela proximidade do centro da Lusitânia, onde as instituições romanas adquirem amplo desenvolvimento. Nestas condições, o que parece, talvez, mais conforme com a realidade, é que Arganil não passasse de humilde povoação aberta, tendo, como centro de refúgio e protecção, nos momentos graves, o velho castro da Lomba do Canho, onde o dr. Castro Nunes encontrou, num estrato com cerâmica datada dos primórdios da ocupação romana, mais de cem projécteis de catapulta. (vidé João de Castro Nunes - Obra cit., pág. 6.)
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
quinta-feira, 27 de julho de 2006
Um pouco de História / 1
O concelho de Arganil, subordinado ao distrito de Coimbra e enquadrado na Beira Litoral, compõe-se actualmente, das freguesias de Anseriz, Arganil, Barril de Alva, Benfeita, Celavisa, Cepos, Cerdeira, Coja, Folques, Piódão, Pomares, Pombeiro da Beira, S. Martinho da Cortiça, Sarzedo, Secarias, Teixeira e Vila Cova do Alva.
Esta organização data de 1936, embora se possa dizer mais ou menos fixada a partir da reforma administrativa de 1832, seguida das modificações que surgiram posteriormente - 1835, 1836, 1842, 1878, 1886, 1895, 1896 e outras.
Convém lembrar que Arganil, durante muito tempo pertenceu à comarca ou correição da Beira, passou em seguida, para a da Estremadura, e, em 1533, para a de Coimbra. Também da Procuradoria desta cidade se manteve dependente até 1647. Fernando Falcão Machado - O «Mapa dos Direitos do Foral de Coimbra em 1824», in «Coimbra» (Colectânea de Estudos organizados pelo Instituto de Coimbra e dedicada à memória do seu consócio honorário Dr. Augusto Mendes Simões de Castro), Coimbra, 1943, pág. 530.
O verdadeiro foral de Arganil, datado de 1175, seja outorgado por D. Pedro Ubertiz, nos últimos anos de reinado de D. Afonso Henriques, falecido em 1185. Dizemos «verdadeiro foral de Arganil» visto ser este que D. Dinis confirma e serve de norma a D. Manuel I, quando o «Venturoso», em 1514, dá novo foral a Arganil, encabeçado por estas palavras: - «Foral da vila de Arganil, do bispado de Coimbra, dado por Pero Ubertiz, confirmado por El-Rei D. Dinis per as rendas de Arganil...
(...) quando enquadramos o nosso concelho nas divisões mais amplas, quer se trate dos primitivos distritos, ou «terras», quer das «comarcas» e «procuradorias», variáveis em extensão no suceder das idades.. Bastará, como exemplo, lembrar que Arganil, durante muito tempo pertenceu à comarca ou correição da Beira, como atrás já se mencionou.
Estes factos obrigam-nos mais a olhar mais para a região do que para o edifício concelhio que aqui veio a formar-se, e, dentro da região, para as diversas localidades, a que a dubadoira do tempo deu vida e fisionomia especial.
Verdade seja que, analisadas estas, erguido ficará o corpo da nossa «pequena pátria», animado pela alma que os laços do sangue e da terra modelaram. Para tanto, importa, primeiro, conhecer o lastro humano aqui lançado, amorosamente preso ao solo, e por este amamentado na luta pela vida e na resistência ao invasor.
Vem do fundo das idades, de tão longe que mal ousamos descortiná-la na névoa da distância, a lembrança dos avós de nossos avós, aqui estabelecidos. As investigações de do dr. Castro Nunes não nos deixam hoje dúvidas a esse respeito. (vidé João de Castro Nunes - Novos elementos para o estudo da arte castreja em Portugal, Guimarães, 1958, pág.6 e segs. O castro da Lomba do Canho, vizinho da anta dos Moinhos de Vento, apesar de ainda incompletamente explorado, revelou-se tão rico de testemunhos, que já não nos é possível negar a existência desses nossos remotíssimos antepassados, possivelmente pertencentes à raça vigorosa dos construtores dos dólmens, genealogicamente relacionados com os Lusitanos, seus não menos vigorosos descendentes.
Olhando para o mapa das campanhas viriatinas, elaborado pelo prof. Schulten, (vidé Adolfo Schulten - Viriato, trad. de Alfredo de Ataíde, Porto, 1940, fim), que dedicou toda a vida de sábio investigador e arqueólogo a este trabalho ardoroso, fácil é verificar que, através das serranias da nossa região, deviam ter soado muitas vezes os ecos da buzina de Viriato, chamando os seus homens à peleja contra os Romanos invasores. E, se compararmos as qualidades que lhes atribui Estrabão com as que ainda hoje distinguem os nossos conterrâneos - a sobriedade, a persistência, a fragilidade, a resistência física e moral, a força de vontade, o amor entranhado pela terra - não resta dúvida de que nos há-de parecer ver ressuscitados os velhos partidários da independência lusitana na alma e no corpo dos vizinhos das nossas aldeias.
Aos ataques dos Romanos souberam eles opor resistência tão forte e prolongada que, só após dezenas e dezenas de anos de lutas sangrentas, conseguiram dominá-los. Apesar das baixas sofridas, não podemos, porém, acreditar que raça tão vigorosa desaparecesse para sempre. Embora inclementes, os Romanos não queriam o seu extermínio, nem dispunham de colonizadores que pudessem substituí-los. Interessava-lhes a submissão, não a ruína. E a política que vieram a adoptar, mostra isto perfeitamente, visto se saber que, em lugar de os votar ao abandono, uma vez subjugados, tentaram, pelo contrário, comunicar-lhes os seus costumes, dar-lhes a sus civilização, trazê-los ao seu convívio pacífico graças à fundação de cidades, à construção de monumentos, à abertura de estradas, à adopção de instituições administrativas, militares, judiciárias e educativas, destinadas a apagar a lembrança da sua rebeldia orgulhosa.
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
Esta organização data de 1936, embora se possa dizer mais ou menos fixada a partir da reforma administrativa de 1832, seguida das modificações que surgiram posteriormente - 1835, 1836, 1842, 1878, 1886, 1895, 1896 e outras.
Convém lembrar que Arganil, durante muito tempo pertenceu à comarca ou correição da Beira, passou em seguida, para a da Estremadura, e, em 1533, para a de Coimbra. Também da Procuradoria desta cidade se manteve dependente até 1647. Fernando Falcão Machado - O «Mapa dos Direitos do Foral de Coimbra em 1824», in «Coimbra» (Colectânea de Estudos organizados pelo Instituto de Coimbra e dedicada à memória do seu consócio honorário Dr. Augusto Mendes Simões de Castro), Coimbra, 1943, pág. 530.
O verdadeiro foral de Arganil, datado de 1175, seja outorgado por D. Pedro Ubertiz, nos últimos anos de reinado de D. Afonso Henriques, falecido em 1185. Dizemos «verdadeiro foral de Arganil» visto ser este que D. Dinis confirma e serve de norma a D. Manuel I, quando o «Venturoso», em 1514, dá novo foral a Arganil, encabeçado por estas palavras: - «Foral da vila de Arganil, do bispado de Coimbra, dado por Pero Ubertiz, confirmado por El-Rei D. Dinis per as rendas de Arganil...
(...) quando enquadramos o nosso concelho nas divisões mais amplas, quer se trate dos primitivos distritos, ou «terras», quer das «comarcas» e «procuradorias», variáveis em extensão no suceder das idades.. Bastará, como exemplo, lembrar que Arganil, durante muito tempo pertenceu à comarca ou correição da Beira, como atrás já se mencionou.
Estes factos obrigam-nos mais a olhar mais para a região do que para o edifício concelhio que aqui veio a formar-se, e, dentro da região, para as diversas localidades, a que a dubadoira do tempo deu vida e fisionomia especial.
Verdade seja que, analisadas estas, erguido ficará o corpo da nossa «pequena pátria», animado pela alma que os laços do sangue e da terra modelaram. Para tanto, importa, primeiro, conhecer o lastro humano aqui lançado, amorosamente preso ao solo, e por este amamentado na luta pela vida e na resistência ao invasor.
Vem do fundo das idades, de tão longe que mal ousamos descortiná-la na névoa da distância, a lembrança dos avós de nossos avós, aqui estabelecidos. As investigações de do dr. Castro Nunes não nos deixam hoje dúvidas a esse respeito. (vidé João de Castro Nunes - Novos elementos para o estudo da arte castreja em Portugal, Guimarães, 1958, pág.6 e segs. O castro da Lomba do Canho, vizinho da anta dos Moinhos de Vento, apesar de ainda incompletamente explorado, revelou-se tão rico de testemunhos, que já não nos é possível negar a existência desses nossos remotíssimos antepassados, possivelmente pertencentes à raça vigorosa dos construtores dos dólmens, genealogicamente relacionados com os Lusitanos, seus não menos vigorosos descendentes.
Olhando para o mapa das campanhas viriatinas, elaborado pelo prof. Schulten, (vidé Adolfo Schulten - Viriato, trad. de Alfredo de Ataíde, Porto, 1940, fim), que dedicou toda a vida de sábio investigador e arqueólogo a este trabalho ardoroso, fácil é verificar que, através das serranias da nossa região, deviam ter soado muitas vezes os ecos da buzina de Viriato, chamando os seus homens à peleja contra os Romanos invasores. E, se compararmos as qualidades que lhes atribui Estrabão com as que ainda hoje distinguem os nossos conterrâneos - a sobriedade, a persistência, a fragilidade, a resistência física e moral, a força de vontade, o amor entranhado pela terra - não resta dúvida de que nos há-de parecer ver ressuscitados os velhos partidários da independência lusitana na alma e no corpo dos vizinhos das nossas aldeias.
Aos ataques dos Romanos souberam eles opor resistência tão forte e prolongada que, só após dezenas e dezenas de anos de lutas sangrentas, conseguiram dominá-los. Apesar das baixas sofridas, não podemos, porém, acreditar que raça tão vigorosa desaparecesse para sempre. Embora inclementes, os Romanos não queriam o seu extermínio, nem dispunham de colonizadores que pudessem substituí-los. Interessava-lhes a submissão, não a ruína. E a política que vieram a adoptar, mostra isto perfeitamente, visto se saber que, em lugar de os votar ao abandono, uma vez subjugados, tentaram, pelo contrário, comunicar-lhes os seus costumes, dar-lhes a sus civilização, trazê-los ao seu convívio pacífico graças à fundação de cidades, à construção de monumentos, à abertura de estradas, à adopção de instituições administrativas, militares, judiciárias e educativas, destinadas a apagar a lembrança da sua rebeldia orgulhosa.
Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil". Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.
quarta-feira, 26 de julho de 2006
Registo gráfico
A região serrana, mercê da inóspita topografia e da ancestral modéstia de recursos, manteve níveis de analfabetismo invulgares até há poucos anos, pelo que a tradição oral constituiu o modo de transmissão da cultura local predominante, patente nos contos, provérbios, fábulas, "lengalengas ", superstições e fórmulas mágico-religiosas de medicina popular, que marcaram de forma indelével o percurso cultural de todos quantos tiveram o privilégio de viver uma infância embalada por essas magnificas expressões de conhecimento puro e ingénuo.
Janeiro de Cima
"A Minha Águia"
Não podem honestamente estar em dois campos ao mesmo tempo. As classes trabalhadoras passaram, muito bem sem os senhores, e, acreditem-me, continuarão a dispensá-los. Além disso, podem passar muito melhor sem os senhores do que com os senhores.
pp 23 London, Jack - o Tacão de Ferro - A Minha Águia
pp 23 London, Jack - o Tacão de Ferro - A Minha Águia
terça-feira, 25 de julho de 2006
um homem não se rende, não seria bonito
O quadrado
30.07.2005
Expresso, 30.07.05
Não sei ao certo em que guerra estou. Todos os dias a esta hora, seis da tarde, começo a ser cercado por tropas que não vejo. Sinto-as perto de mim, sei que estão à minha volta, mas não vejo ninguém. Só os tiros, as rajadas, os rockets. Por vezes pegam no megafone e dão-me ordem de rendição:
- Estás sozinho, dizem. És um soldado sozinho numa guerra que há muito está perdida.
O problema é que não sei sequer que guerra é. Não sei quem me vestiu esta farda, nem quem me mandou para aqui e me pôs uma arma nas mãos. Munições não me faltam, nem rações de combate, nem água. Todos os dias sou reabastecido. Mas também não sei por quem. Não sei tão pouco quem são os meus, nem por que país ou causa estou a combater, se é que combato pelo que quer que seja. Defendo este reduto. É o meu quadrado. Talvez não tenha sentido estar aqui a defendê-lo, mas se o perdesse eu próprio me perderia. O único sentido, que talvez não tenha grande sentido, é defender este quadrado. Até à última gota de sangue, como há muito, na recruta, me ensinaram. Por isso não me rendo. Por mais que me intimem e me intimidem continuarei a resistir. Não propriamente por razões militares ou morais. Digamos que por razões estéticas. Um homem não se rende. Talvez seja por isso que estou aqui, não sei ao certo onde nem desde quando, talvez desde sempre, no meio de um quadrado, cercado e sozinho, mas não vencido.
Algures alguém me reabastece. Algures sabe que não me rendo.
Todos os dias, pelas seis da tarde, aperta-se o cerco. Todos os dias, à mesma hora, me coloco em posição. É estranho que não me acertem, verdade seja que também não sei se alguma vez atingi o inimigo, se assim lhe posso chamar. Chego a perguntar-me se não é sonho, se tudo não é apenas um pesadelo e se de repente não vou acordar.
Seja como for, a guerra continua. Em sonhos ou não, continua. São quase seis da tarde e sinto que eles se aproximam. Todos os dias é assim, todos os dias defendo o meu quadrado.
- És um homem sozinho e a tua guerra está perdida, gritam eles.
Sei muito bem que estou sozinho. Mas enquanto me bater a guerra não está perdida, ainda que se me perguntassem que guerra é eu não soubesse ao certo responder. Diria talvez que é a guerra de um homem no meio do seu quadrado. Um homem que se bate, talvez em sonho, porque tudo se calhar é sonho. Sonho de um sonho, lembro-me de ter lido algures. Que importa? Sonho ou não, eles aí estão, tenho de defender o meu quadrado, não há outro sentido senão este, lutar até ao fim, um homem não se rende, não seria bonito, seria, aliás, se me permitem, uma falta de educação, uma grande falta de educação.
Este texto faz parte do novo livro do contos editado em Setembro de 2005
30.07.2005
Expresso, 30.07.05
Não sei ao certo em que guerra estou. Todos os dias a esta hora, seis da tarde, começo a ser cercado por tropas que não vejo. Sinto-as perto de mim, sei que estão à minha volta, mas não vejo ninguém. Só os tiros, as rajadas, os rockets. Por vezes pegam no megafone e dão-me ordem de rendição:
- Estás sozinho, dizem. És um soldado sozinho numa guerra que há muito está perdida.
O problema é que não sei sequer que guerra é. Não sei quem me vestiu esta farda, nem quem me mandou para aqui e me pôs uma arma nas mãos. Munições não me faltam, nem rações de combate, nem água. Todos os dias sou reabastecido. Mas também não sei por quem. Não sei tão pouco quem são os meus, nem por que país ou causa estou a combater, se é que combato pelo que quer que seja. Defendo este reduto. É o meu quadrado. Talvez não tenha sentido estar aqui a defendê-lo, mas se o perdesse eu próprio me perderia. O único sentido, que talvez não tenha grande sentido, é defender este quadrado. Até à última gota de sangue, como há muito, na recruta, me ensinaram. Por isso não me rendo. Por mais que me intimem e me intimidem continuarei a resistir. Não propriamente por razões militares ou morais. Digamos que por razões estéticas. Um homem não se rende. Talvez seja por isso que estou aqui, não sei ao certo onde nem desde quando, talvez desde sempre, no meio de um quadrado, cercado e sozinho, mas não vencido.
Algures alguém me reabastece. Algures sabe que não me rendo.
Todos os dias, pelas seis da tarde, aperta-se o cerco. Todos os dias, à mesma hora, me coloco em posição. É estranho que não me acertem, verdade seja que também não sei se alguma vez atingi o inimigo, se assim lhe posso chamar. Chego a perguntar-me se não é sonho, se tudo não é apenas um pesadelo e se de repente não vou acordar.
Seja como for, a guerra continua. Em sonhos ou não, continua. São quase seis da tarde e sinto que eles se aproximam. Todos os dias é assim, todos os dias defendo o meu quadrado.
- És um homem sozinho e a tua guerra está perdida, gritam eles.
Sei muito bem que estou sozinho. Mas enquanto me bater a guerra não está perdida, ainda que se me perguntassem que guerra é eu não soubesse ao certo responder. Diria talvez que é a guerra de um homem no meio do seu quadrado. Um homem que se bate, talvez em sonho, porque tudo se calhar é sonho. Sonho de um sonho, lembro-me de ter lido algures. Que importa? Sonho ou não, eles aí estão, tenho de defender o meu quadrado, não há outro sentido senão este, lutar até ao fim, um homem não se rende, não seria bonito, seria, aliás, se me permitem, uma falta de educação, uma grande falta de educação.
Este texto faz parte do novo livro do contos editado em Setembro de 2005
Qualquer coisa está podre no reino do Manuel
Ser ou não ser
Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?
Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
Manuel Alegre
Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?
Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
Manuel Alegre
uma pessoa impoluta
...Sebastião agradece-lhe a lealdade e diz-lhe que pode contar com a dele.
Jornada de África - Manuel Alegre, pp 51
Manuel Alegre reformado com três mil euros por três meses na RDP
Jornada de África - Manuel Alegre, pp 51
Manuel Alegre reformado com três mil euros por três meses na RDP
Testemunhos
"Quando era a época das castanhas comia-mo-las assadas à lareira; por vezes a fome era tanta que eu engolia umas cruas, outras a escaldar, outras ainda com camisa, algumas até marchavam com casca, só com medo que os meus irmãos tirassem mais do que eu.
De vez em quando um deles berrava:
- Mãe, o Fernando está a comer as castanhas com camisa!
E, eu com a boca cheia, fazia que não. Entretanto ia enchendo os bolsos para depois".
(Fernando Pimenta, Cerdeira)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor
"Havia um velho do Vale Derradeiro que andava a regatear os preços na feira do Mont´Alto. Alguém viu e disse:
- Deixa lá o velho do Vale Derradeiro, que se lhe deres um pontapé no migalheiro chega para pagar a tenda e o tendeiro.
Ora, uns ladrões ouviram isto e logo resolveram ir a casa dele, mas revolveram tudo sem encontrar o dito dinheiro. Então, ameaçaram-no de morte e ele, coitado, teve de dizer que as suas poupanças estavam escondidas no corticito. Eles foram lá e levaram-lhe tudo, tudo, quanto tinha."
(História recolhida na Malhada Chã)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor
"Vira-se no Colmeal um que já morreu para o Padre que, coitado, também já morreu:
- Ó Senhor Padre, ficou-me um bocado de carne de porco espetada nos dentes desde o Entrudo até agora. Será pecado comê-la na Quaresma?
Responde-lhe o Padre:
- Bem, homem... se ela já lá está suponho que não será pecado...
Vai ele e atira-lhe:
- Então olhe, muito obrigado pelo indulto. É que eu tenho um presunto espetado nos dentes da forquilha e estou com umas ganas de comer nele..."
(História contada por Maria da Luz, da Aldeia Velha, Colmeal)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor
"Estas salas (...) eram caiadas e nessas paredes já muito antigas havia sempre muitos buracos, que davam sempre um aspecto de penúria, pelo que as pessoas, em especial nas quadras festivas, usavam forrar as paredes com papel de jornais que se iam pedir a uns senhores que eram assinantes da Comarca de Arganil, que sempre os guardavam, para esse fim. Assim as paredes eram vestidas com esses jornais, tornando-se limpas e airosas, mas não por muito tempo, uma vez que os jornais eram colados com farinha amassada, que também servia de alimento para os ratos, que logo se encarregavam de destruir toda essa decoração."
(António Santos Vicente in "Vida e Tradições das Aldeias Serranas")
(...) "Ia a passar coberto de suor, dei as boas tardes a uma vaga forma feminina sentada à entrada da sua furna de troglodita, e recebo, juntamente com o troco de salvação, este juro imprevisto:
- O senhor vai alagado! Quer beber uma pinga? Ele é arreganhado, mas para um remedeio...
- Bem haja...
- Prove, ao menos. Nós achamo-lo bom, porque não temos outro...
Azedo como rabo-de gato, realmente, mas dado com a infinita doçura deste santo povo (...) a quem nenhum desterro, nenhum abandono, nenhuma incultura, nenhuma pobreza consegue avinagrar o coração."
(Miguel Torga, in "Diário IX" (Piódão, 16 de Dezembro de 1962)
"O quarto tinha as paredes forradas com jornais velhos, luxo com que distinguiam o hóspede... Deitei-me, e passado pouco tempo, qualquer coisa a mexer entre a parede e os jornais produzia uns ruídos que não me deixavam adormecer.
Chamei o meu anfitrião (...) e contei-lhe o que se passava.
Veio e descobriu: - São os ratos, que querem furar os papéis.
Saiu, foi agarrar um gato e deixou-o fechado no quarto de sentinela."
(Vasco de Campos in "Serra! Caminhos de um Médico")
"Certo dia, na altura do racionamento (1945/46), vinha o Ti Alberto das bandas do Soeirinho com dois quilos de "açúcar ilegal" dentro da maleta de relojoeiro, eis senão quando topa com a Guarda, que logo o manda parar e pede para abrir aquela estranha mala metálica.
- Com que então açúcar! -Diz-lhe, triunfante, o cabo.
- Que, senhor guarda - responde ele logo. - É potassa!
E assim, por entre sorrisos cúmplices, se saiu o "Ti Alberto relojoeiro" desta embrulhada, continuando sem mais delongas o seu caminho."
(História recolhida nos Cepos)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis- Tradição e Mudança na Serra do Açor
De vez em quando um deles berrava:
- Mãe, o Fernando está a comer as castanhas com camisa!
E, eu com a boca cheia, fazia que não. Entretanto ia enchendo os bolsos para depois".
(Fernando Pimenta, Cerdeira)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor
"Havia um velho do Vale Derradeiro que andava a regatear os preços na feira do Mont´Alto. Alguém viu e disse:
- Deixa lá o velho do Vale Derradeiro, que se lhe deres um pontapé no migalheiro chega para pagar a tenda e o tendeiro.
Ora, uns ladrões ouviram isto e logo resolveram ir a casa dele, mas revolveram tudo sem encontrar o dito dinheiro. Então, ameaçaram-no de morte e ele, coitado, teve de dizer que as suas poupanças estavam escondidas no corticito. Eles foram lá e levaram-lhe tudo, tudo, quanto tinha."
(História recolhida na Malhada Chã)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor
"Vira-se no Colmeal um que já morreu para o Padre que, coitado, também já morreu:
- Ó Senhor Padre, ficou-me um bocado de carne de porco espetada nos dentes desde o Entrudo até agora. Será pecado comê-la na Quaresma?
Responde-lhe o Padre:
- Bem, homem... se ela já lá está suponho que não será pecado...
Vai ele e atira-lhe:
- Então olhe, muito obrigado pelo indulto. É que eu tenho um presunto espetado nos dentes da forquilha e estou com umas ganas de comer nele..."
(História contada por Maria da Luz, da Aldeia Velha, Colmeal)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor
"Estas salas (...) eram caiadas e nessas paredes já muito antigas havia sempre muitos buracos, que davam sempre um aspecto de penúria, pelo que as pessoas, em especial nas quadras festivas, usavam forrar as paredes com papel de jornais que se iam pedir a uns senhores que eram assinantes da Comarca de Arganil, que sempre os guardavam, para esse fim. Assim as paredes eram vestidas com esses jornais, tornando-se limpas e airosas, mas não por muito tempo, uma vez que os jornais eram colados com farinha amassada, que também servia de alimento para os ratos, que logo se encarregavam de destruir toda essa decoração."
(António Santos Vicente in "Vida e Tradições das Aldeias Serranas")
(...) "Ia a passar coberto de suor, dei as boas tardes a uma vaga forma feminina sentada à entrada da sua furna de troglodita, e recebo, juntamente com o troco de salvação, este juro imprevisto:
- O senhor vai alagado! Quer beber uma pinga? Ele é arreganhado, mas para um remedeio...
- Bem haja...
- Prove, ao menos. Nós achamo-lo bom, porque não temos outro...
Azedo como rabo-de gato, realmente, mas dado com a infinita doçura deste santo povo (...) a quem nenhum desterro, nenhum abandono, nenhuma incultura, nenhuma pobreza consegue avinagrar o coração."
(Miguel Torga, in "Diário IX" (Piódão, 16 de Dezembro de 1962)
"O quarto tinha as paredes forradas com jornais velhos, luxo com que distinguiam o hóspede... Deitei-me, e passado pouco tempo, qualquer coisa a mexer entre a parede e os jornais produzia uns ruídos que não me deixavam adormecer.
Chamei o meu anfitrião (...) e contei-lhe o que se passava.
Veio e descobriu: - São os ratos, que querem furar os papéis.
Saiu, foi agarrar um gato e deixou-o fechado no quarto de sentinela."
(Vasco de Campos in "Serra! Caminhos de um Médico")
"Certo dia, na altura do racionamento (1945/46), vinha o Ti Alberto das bandas do Soeirinho com dois quilos de "açúcar ilegal" dentro da maleta de relojoeiro, eis senão quando topa com a Guarda, que logo o manda parar e pede para abrir aquela estranha mala metálica.
- Com que então açúcar! -Diz-lhe, triunfante, o cabo.
- Que, senhor guarda - responde ele logo. - É potassa!
E assim, por entre sorrisos cúmplices, se saiu o "Ti Alberto relojoeiro" desta embrulhada, continuando sem mais delongas o seu caminho."
(História recolhida nos Cepos)
Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis- Tradição e Mudança na Serra do Açor
segunda-feira, 24 de julho de 2006
Zé sapatilhas de prevenção
A espiral do tempo
"A gente se quiser até com os olhos vê."
Sr. André, Aldeia Velha
Na serra todos os relógios pararam, mas o mecanismo das horas não se deteve. A espiral do tempo arrastou-nos até ao fim do milénio.
Olhemos para trás antes de começar uma nova era.
O Passado
Do passado restam-nos apenas velhos objectos com as suas histórias cruzadas e algumas recordações numa gaveta qualquer. E no entanto, no recanto puro da memória, guardamos saudade a esses tempos que foram difíceis.
Alguém sabe que lembrança guardarão os nossos filhos destes dias desvairados que lhes damos a viver?
A nossa civilização chegou à sua última encruzilhada: agora, ou consumimos o que resta do planeta ou reciclamos quase todos os nossos hábitos e atitudes.
Olhemos de novo para trás, a colher os últimos ensinamentos, antes de nos aventurarmos para lá da curva da estrada.
O passado não é uma história de encantar. Houve miséria, por vezes fome; e aos filhos da Serra sempre coube, nas alturas da crise, o ingrato papel de espelho onde se reflectiam, ampliadas, as agruras e injustiças do Mundo
Mas a vida simples das gentes serranas encerra uma lição de harmonia, sóbria dignidade e utilização comedida dos recursos, que pode ser o ponto de partida para uma reflexão sobre as características mais perversas da nossa própria Sociedade de Consumo.
Reparemos, por exemplo, no modo como todos os utensílios eram remendados, reaproveitados ou reutilizados em novos contextos. Nada se desperdiçava ou deitava fora; não havia tanto lixo nem se acumulavam objectos supérfluos.
A Arte de Remendar
Cada utensílio era um bem raro, feito com suor do rosto ou comprado à custa de grandes sacrifícios; seria por isso normal que durasse uma vida.
Os sarrões, as gamelas e os funis remendados, a louça quebrada e depois reparada com gatos - estes objectos, depois de passarem de mão em mão, falam-nos agora de um tempo em que poupar era tão normal quanto, hoje em dia, gastar e consumir indiscriminadamente.
A Arte de Improvisar
Por vezes havia que improvisar, com grande dose de imaginação, os utensílios que faltavam ou as ferramentas a que a bolsa não chegava - um serrote, uma escumadeira, um fumigador, um funil, etc.
Assim se cumpria, com bastante mais eficiência do que nos dias de hoje, uma das principais leis do universo.
Objectos com Múltiplas Utilizações
A alenterna de ir regar o milho à noite era a mesma com que se aluminavam as casas; na panela de ferro em que se fazia comida do porco, coziam-se depois as farinheiras; o balde de transportar a vianda do animal também servia para tirar a água do poço; no banco onde se matava o bicho, se mandava sentar o padre pela Páscoa; a cesta onde se acartava esterco servia às vezes de berço a um filho recém-nascido; com a sertã de fritar as filhós faziam-se candeias de quatro torcidas, nos lagares; a gaveta da broa era usada como assento na cozinha; um garfo de ferreiro fazia também as vezes de palito e de arpão para as enguias; com uma bilha de carvoeiro se aquecia a cama no Inverno; numa mala de carpinteiro se guardavam os tarecos para emigrar; os gasómetros das minas também aluminavam as casas dos mineiros; no "cesto de romaria" se enviavam encomendas para Lisboa; a gamela da broa era a mesma da migadura para a sopa ou para as galinhas.
O Futuro
Terras de pão que só dão silvas; levadas atulhadas de cascalho; muros derrubados; portas que dão para casas vazias; telhados que caem para dentro; varandas que apodrecem, debruçadas sobre ruas desertas; pinheiros onde antes havia mato para gado; fogos; eucaliptos depois dos fogos; ribeiras secas; erosão - cresceu um enorme deserto nos escombros da nossa memória colectiva e paira sobre ele a recordação de tempos que foram difíceis.
Mas a Serra é um segredo bem guardado pelas suas gentes. O seu coração ainda bate em todos estes objectos e fotografias que balançam em frente aos nossos olhos. Há neles uma lógica que se esconde e revela, um jogo contraditório de sombras e de luzes; há, já não miséria, mas beleza e harmonia à espera do novo século que se aproxima.
Saberemos nós construir os alicerces desses dias futuros sobre as raízes sãs dos dias passados? As próximas gerações comerão o pão que nós amassarmos.
Dr. Paulo Ramalho, in "Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor"
Sr. André, Aldeia Velha
Na serra todos os relógios pararam, mas o mecanismo das horas não se deteve. A espiral do tempo arrastou-nos até ao fim do milénio.
Olhemos para trás antes de começar uma nova era.
O Passado
Do passado restam-nos apenas velhos objectos com as suas histórias cruzadas e algumas recordações numa gaveta qualquer. E no entanto, no recanto puro da memória, guardamos saudade a esses tempos que foram difíceis.
Alguém sabe que lembrança guardarão os nossos filhos destes dias desvairados que lhes damos a viver?
A nossa civilização chegou à sua última encruzilhada: agora, ou consumimos o que resta do planeta ou reciclamos quase todos os nossos hábitos e atitudes.
Olhemos de novo para trás, a colher os últimos ensinamentos, antes de nos aventurarmos para lá da curva da estrada.
O passado não é uma história de encantar. Houve miséria, por vezes fome; e aos filhos da Serra sempre coube, nas alturas da crise, o ingrato papel de espelho onde se reflectiam, ampliadas, as agruras e injustiças do Mundo
Mas a vida simples das gentes serranas encerra uma lição de harmonia, sóbria dignidade e utilização comedida dos recursos, que pode ser o ponto de partida para uma reflexão sobre as características mais perversas da nossa própria Sociedade de Consumo.
Reparemos, por exemplo, no modo como todos os utensílios eram remendados, reaproveitados ou reutilizados em novos contextos. Nada se desperdiçava ou deitava fora; não havia tanto lixo nem se acumulavam objectos supérfluos.
A Arte de Remendar
Cada utensílio era um bem raro, feito com suor do rosto ou comprado à custa de grandes sacrifícios; seria por isso normal que durasse uma vida.
Os sarrões, as gamelas e os funis remendados, a louça quebrada e depois reparada com gatos - estes objectos, depois de passarem de mão em mão, falam-nos agora de um tempo em que poupar era tão normal quanto, hoje em dia, gastar e consumir indiscriminadamente.
A Arte de Improvisar
Por vezes havia que improvisar, com grande dose de imaginação, os utensílios que faltavam ou as ferramentas a que a bolsa não chegava - um serrote, uma escumadeira, um fumigador, um funil, etc.
Assim se cumpria, com bastante mais eficiência do que nos dias de hoje, uma das principais leis do universo.
Objectos com Múltiplas Utilizações
A alenterna de ir regar o milho à noite era a mesma com que se aluminavam as casas; na panela de ferro em que se fazia comida do porco, coziam-se depois as farinheiras; o balde de transportar a vianda do animal também servia para tirar a água do poço; no banco onde se matava o bicho, se mandava sentar o padre pela Páscoa; a cesta onde se acartava esterco servia às vezes de berço a um filho recém-nascido; com a sertã de fritar as filhós faziam-se candeias de quatro torcidas, nos lagares; a gaveta da broa era usada como assento na cozinha; um garfo de ferreiro fazia também as vezes de palito e de arpão para as enguias; com uma bilha de carvoeiro se aquecia a cama no Inverno; numa mala de carpinteiro se guardavam os tarecos para emigrar; os gasómetros das minas também aluminavam as casas dos mineiros; no "cesto de romaria" se enviavam encomendas para Lisboa; a gamela da broa era a mesma da migadura para a sopa ou para as galinhas.
O Futuro
Terras de pão que só dão silvas; levadas atulhadas de cascalho; muros derrubados; portas que dão para casas vazias; telhados que caem para dentro; varandas que apodrecem, debruçadas sobre ruas desertas; pinheiros onde antes havia mato para gado; fogos; eucaliptos depois dos fogos; ribeiras secas; erosão - cresceu um enorme deserto nos escombros da nossa memória colectiva e paira sobre ele a recordação de tempos que foram difíceis.
Mas a Serra é um segredo bem guardado pelas suas gentes. O seu coração ainda bate em todos estes objectos e fotografias que balançam em frente aos nossos olhos. Há neles uma lógica que se esconde e revela, um jogo contraditório de sombras e de luzes; há, já não miséria, mas beleza e harmonia à espera do novo século que se aproxima.
Saberemos nós construir os alicerces desses dias futuros sobre as raízes sãs dos dias passados? As próximas gerações comerão o pão que nós amassarmos.
Dr. Paulo Ramalho, in "Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor"
domingo, 23 de julho de 2006
Piódão - Arquitectura
Subindo pela escarpa abrupta em forma de anfiteatro, humildemente entalhada na paisagem que a envolve, a aldeia do Piódão mantém ainda o traçado antigo e irregular, tão característico das aldeias medievais. A sensação de harmonia e integração no meio é de tal forma intensa, que tudo parece ter sido concebido de uma só vez, numa genial composição urbanística. Ruas estreitas e sinuosas abrem-se aqui e além em recantos diversificados. Solta-se a vista do chão de xisto, quando do fundo se ouvem as águas da ribeira do Piódão, entrecruzadas pelo chilrear cristalino da passarada. Ou esbarra então o olhar, nas paredes escuras do casario, para enfim se elevar pela montanha que o domina, até ao cume quase coberto pelas nuvens. No chão, nas paredes das casas, e nas lousas que lhes servem de cobertura, o xisto impera par toda a aldeia, pontilhada pelo azul forte das portas e dos frisos das janelas. A unidade da cor é explicada como consequência do isolamento a que o Piódão esteve sujeito: a loja do Píodão só vendia tinta de uma cor, tal era a inacessibilidade do lugar. 0 interior das casas era geralmente dividido em dois pisos: em baixo um piso amplo, a loja, destinado a guardar os produtos de uma bem organizada agricultura de subsistência; e em cima, a madeira de castanho formava as divisões que constituíam a habitação da família. Por cima de muitas das portas da aldeia vêem-se ainda algumas pequenas cruzes, diz-se, para afastar a trovoada. No domingo de Ramos os fiéis levam um ramo de oliveira para benzer e, nas noites de tempestade, fazem com ele uma cruz que é posta em cima das brasas da lareira ou na porta principal, invocando assim a protecção de Santa Bárbara para afastar a trovoada.
As casas descem de socalco em socalco ao sabor do monte, para se alargarem então na vasta praça que constitui o centro, a sala de visitas do Piódão, onde se ergue, orgulhosamente imaculada, a pequena Igreja Matriz. À noite, quando os candeeiros despejam a sua luz suave e amarelecida, toda a Aldeia parece metamorfosear-se num presépio iluminado e vivo, merecendo bem a designação de Aldeia Presépio. É provável que a primitiva igreja do Piódão, dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição, tenha sido construída no decurso do séc. XVII, conforme apontam algumas referências. Conta-se que um dia os habitantes juntaram todo o ouro disponível e mandaram um velho pastor pedir ao Bispo de Coimbra autorização para construir a igreja. Perante tão dispendiosa solicitação, preparava-se o Bispo para recusar o pedido, quando o velho pastor, abrindo o seu barrete serrano, lhe mostrou as luzidias moedas de ouro necessárias a tal empreitada, A existência de uma escultura em calcário dedicada a Nossa Senhora da Conceição da segunda metade desse século e anterior a 1676, data da criação da freguesia, poderá também ser contemporânea da edificação da Igreja. No final do séc. XIX a fachada da Igreja Matriz ameaçava ruir e foi reconstruida ao sabor do gosto neo-barroco, ecléctico e romântico da época, por iniciativa do cónego Manuel Fernandes Nogueira. As quatro finas torres cilíndricas rematadas em cones, parecem conferir movimento à frontaria, enquanto a torre sineira de planta quadrada se encosta a meio da fachada sul da Igreja. Os três retábulos que alberga datam do séc. XVIII, originariamente em talha dourada. A restauração a que foi submetida há alguns anos, retirou do seu interior os belos azulejos oitocentistas com motivos florais azuis e de fabrico coimbrão. Perto da Igreja podem-se ainda descobrir as ruínas de um mosteiro dos monges de Cister, ordem religiosa reformada por S. Bernardo de Clairvaux. Os monges brancos de S. Bernardo construíam sempre os seus mosteiros em estreitos vales - Benedictus montes, Bernardus valles - tal como fizeram no Piódão, e a enorme influência que exerceram em todas as vertentes da cultura portuguesa, remonta já aos tempos da Reconquista. Aldeia do Piódão/Turismo Rural/C.M.C.
As casas descem de socalco em socalco ao sabor do monte, para se alargarem então na vasta praça que constitui o centro, a sala de visitas do Piódão, onde se ergue, orgulhosamente imaculada, a pequena Igreja Matriz. À noite, quando os candeeiros despejam a sua luz suave e amarelecida, toda a Aldeia parece metamorfosear-se num presépio iluminado e vivo, merecendo bem a designação de Aldeia Presépio. É provável que a primitiva igreja do Piódão, dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição, tenha sido construída no decurso do séc. XVII, conforme apontam algumas referências. Conta-se que um dia os habitantes juntaram todo o ouro disponível e mandaram um velho pastor pedir ao Bispo de Coimbra autorização para construir a igreja. Perante tão dispendiosa solicitação, preparava-se o Bispo para recusar o pedido, quando o velho pastor, abrindo o seu barrete serrano, lhe mostrou as luzidias moedas de ouro necessárias a tal empreitada, A existência de uma escultura em calcário dedicada a Nossa Senhora da Conceição da segunda metade desse século e anterior a 1676, data da criação da freguesia, poderá também ser contemporânea da edificação da Igreja. No final do séc. XIX a fachada da Igreja Matriz ameaçava ruir e foi reconstruida ao sabor do gosto neo-barroco, ecléctico e romântico da época, por iniciativa do cónego Manuel Fernandes Nogueira. As quatro finas torres cilíndricas rematadas em cones, parecem conferir movimento à frontaria, enquanto a torre sineira de planta quadrada se encosta a meio da fachada sul da Igreja. Os três retábulos que alberga datam do séc. XVIII, originariamente em talha dourada. A restauração a que foi submetida há alguns anos, retirou do seu interior os belos azulejos oitocentistas com motivos florais azuis e de fabrico coimbrão. Perto da Igreja podem-se ainda descobrir as ruínas de um mosteiro dos monges de Cister, ordem religiosa reformada por S. Bernardo de Clairvaux. Os monges brancos de S. Bernardo construíam sempre os seus mosteiros em estreitos vales - Benedictus montes, Bernardus valles - tal como fizeram no Piódão, e a enorme influência que exerceram em todas as vertentes da cultura portuguesa, remonta já aos tempos da Reconquista. Aldeia do Piódão/Turismo Rural/C.M.C.
A Agricultura na Serra do Açor
A difícil subsistência das populações serranas esteve sempre dependente da relação estreita entre uma agricultura pobre, de cômbaros e pequenos lameiros, e a criação de gado. De tal modo tudo estava tão intimamente ligado, que a criação do porco ou das cabras se cruzava e confundia a todo o momento com as fainas do milho e do centeio ou com o cultivo da batata, do feijão e das botelhas (abóboras).
O milho era o principal sustento: quando faltava o milho faltava tudo. A ele se juntava o feijão, a couve, a batata, o azeite, o vinho, a castanha, o porco, a cabra e pouco mais.
O estrume das lojas era essencial para o sucesso das sementeiras. Por isso, havia que ir ao mato para a cama das cabras, uma dura tarefa quotidiana que muitas vezes se realizava antes do sol nascer.
Agora, com as serras despovoadas de gentes e de gado, há mato em excesso, mas antes, para se encontrar uma boa malha tinham de se percorrer grandes distâncias nos baldios.
Um molho de mato pode ser uma obra de arte quando se sabe enfeixar e depois apertar bem, passando a corda pelo gancho do ervedeiro.
Em Dezembro começava-se a tirar o esterco das lojas e a transportá-lo para os bocados - um trabalho pesado, feito à força de braços e às costas, nas cestas. Por vezes, quando os acessos o permitiam, os carros de bois davam uma ajuda no transporte.
Depois de Fevereiro, as terras começavam a ser voltadas ao encino, de modo a serem preparadas para a sementeira. Como os solos eram magros e quase sempre inclinados, a cava exigia uma técnica especial - começava-se por tirar a terra, abrindo uma vala na parte mais baixa do terreno e acartando a terra às cestas (nas costas, claro) para a parte mais alta, onde era espalhada. Compensava-se, deste modo, o progressivo deslizamento dos solos devido às regas, à chuva e às próprias cavas. Cavada a terra, o esterco era então espalhado nos regos com um encino mais pequeno.
Em Março semeava-se o milho, muitas vezes misturado com feijão, em regos pouco fundos.
Depois, o milho era arralado. Com um metro era feito o empalhado com mato, para conservar a humidade do solo. Estava-se então em Junho - era a altura da primeira rega.
Seguidamente escanava-se (ou tirava-se a bandeira), quando a barba da espiga estava praticamente seca e desfolhava-se a planta quando a espiga começava a aloirar. As folhas e as bandeiras, depois de secas, eram guardadas como alimento de inverno para as cabras, assim se pagando com boa forragem o bom estrume antes recebido.
A rega realizava-se com regularidade até a espiga estar quase madura.
Finalmente, em Setembro, as espigas já secas eram cortadas do canoco e transportadas para casa. Aí, ao serão, eram descamisadas (ou escalpeladas e depois debulhadas.
As descamisadas e as degulhas, em que os grãos de milho eram descasulados (retirados do casulo), eram uma ocasião de entreajuda e convívio: à luz das candeias de azeite desfolhavam-se as maçarocas e depois os homens malhavam, com paus curtos ou manguais, o grande monte de espigas - uma, duas, três vezes, até a maior parte do grão se soltar do casulo.
Sentadas em semi-círculo, as mulheres retiravam dos casulos, com as mãos, os grãos que ainda restavam.
Cantava-se, falava-se da vida deste e daquele e, quer encontrassem ou não o "milho-rei" os rapazes e raparigas solteiros arranjavam um pretexto para namoriscarem.
Depois, vieram as debulhadoras manuais, a seguir as debulhadoras mecânicas, novas qualidades de milho híbrido (já sem "milho-rei") e, por fim, até a mocidade casadoira começou a debandar para as cidades, à cata de outro grão para o seu sustento.
Dr. Paulo Ramalho, in "Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor"
O milho era o principal sustento: quando faltava o milho faltava tudo. A ele se juntava o feijão, a couve, a batata, o azeite, o vinho, a castanha, o porco, a cabra e pouco mais.
O estrume das lojas era essencial para o sucesso das sementeiras. Por isso, havia que ir ao mato para a cama das cabras, uma dura tarefa quotidiana que muitas vezes se realizava antes do sol nascer.
Agora, com as serras despovoadas de gentes e de gado, há mato em excesso, mas antes, para se encontrar uma boa malha tinham de se percorrer grandes distâncias nos baldios.
Um molho de mato pode ser uma obra de arte quando se sabe enfeixar e depois apertar bem, passando a corda pelo gancho do ervedeiro.
Em Dezembro começava-se a tirar o esterco das lojas e a transportá-lo para os bocados - um trabalho pesado, feito à força de braços e às costas, nas cestas. Por vezes, quando os acessos o permitiam, os carros de bois davam uma ajuda no transporte.
Depois de Fevereiro, as terras começavam a ser voltadas ao encino, de modo a serem preparadas para a sementeira. Como os solos eram magros e quase sempre inclinados, a cava exigia uma técnica especial - começava-se por tirar a terra, abrindo uma vala na parte mais baixa do terreno e acartando a terra às cestas (nas costas, claro) para a parte mais alta, onde era espalhada. Compensava-se, deste modo, o progressivo deslizamento dos solos devido às regas, à chuva e às próprias cavas. Cavada a terra, o esterco era então espalhado nos regos com um encino mais pequeno.
Em Março semeava-se o milho, muitas vezes misturado com feijão, em regos pouco fundos.
Depois, o milho era arralado. Com um metro era feito o empalhado com mato, para conservar a humidade do solo. Estava-se então em Junho - era a altura da primeira rega.
Seguidamente escanava-se (ou tirava-se a bandeira), quando a barba da espiga estava praticamente seca e desfolhava-se a planta quando a espiga começava a aloirar. As folhas e as bandeiras, depois de secas, eram guardadas como alimento de inverno para as cabras, assim se pagando com boa forragem o bom estrume antes recebido.
A rega realizava-se com regularidade até a espiga estar quase madura.
Finalmente, em Setembro, as espigas já secas eram cortadas do canoco e transportadas para casa. Aí, ao serão, eram descamisadas (ou escalpeladas e depois debulhadas.
As descamisadas e as degulhas, em que os grãos de milho eram descasulados (retirados do casulo), eram uma ocasião de entreajuda e convívio: à luz das candeias de azeite desfolhavam-se as maçarocas e depois os homens malhavam, com paus curtos ou manguais, o grande monte de espigas - uma, duas, três vezes, até a maior parte do grão se soltar do casulo.
Sentadas em semi-círculo, as mulheres retiravam dos casulos, com as mãos, os grãos que ainda restavam.
Cantava-se, falava-se da vida deste e daquele e, quer encontrassem ou não o "milho-rei" os rapazes e raparigas solteiros arranjavam um pretexto para namoriscarem.
Depois, vieram as debulhadoras manuais, a seguir as debulhadoras mecânicas, novas qualidades de milho híbrido (já sem "milho-rei") e, por fim, até a mocidade casadoira começou a debandar para as cidades, à cata de outro grão para o seu sustento.
Dr. Paulo Ramalho, in "Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor"
sábado, 22 de julho de 2006
"Sem dúvida, senhora Doutora"
Uma psicóloga, vinda directamente de Marte, procurou «entender» o comportamento dos rapazes: menores com «famílias desestruturadas» e com sérias «carências afectivas» acabam por desenvolver comportamentos «desviantes». Sem dúvida, senhora doutora. Direi mais: quando as famílias não funcionam e as carências nos comem por dentro, torturar, queimar e até matar não são apenas uma opção. São até uma obrigação: uma forma possível de descarregar a neura. Mas curioso é ouvir a ciência a propor «soluções» para os menores. Eu, na minha rudeza, julgava que o lugar destas crianças era numa jaula. A psicóloga discorda e, num tempo em que o crime virou doença, aconselha: mais actividades desportivas para ocupar os tempos livres. E, se possível, uma certa educação para a cidadania. A educação para a cidadania eu ainda percebo: alguém devia dizer às crianças que torturar, queimar e matar um ser humano não contribui para uma cidadania responsável. É como não saber o hino ou andar a brincar com a bandeira pátria. Mas actividades desportivas parecem uma redundância, na medida em que torturar, queimar e matar envolve um esforço físico apreciável. Melhor seria despejar estas 13 crianças na casa da senhora psicóloga e esperar para ver. Às vezes, a ciência faz milagres.
Estado Crítico, João Pereira Coutinho, Civilização ou Selva
Expresso - Edição Semanal Paga
Estado Crítico, João Pereira Coutinho, Civilização ou Selva
Expresso - Edição Semanal Paga
Contrastes Regionais
A trilogia beirã contida na anterior divisão provincial - Beira Alta, Beira Baixa e Beira Litoral - ainda permanece bem viva no espírito de muitos portugueses, com a qual se mantêm identificados apesar de a nova divisão territorial do continente apenas estabelecer duas Beiras, a Litoral e a Interior. A redução resultou essencialmente da fragmentação da Beira Alta. A maior parte dos concelhos do distrito de Viseu passou a integrar a Beira Litoral, do mesmo modo que a quase totalidade dos restantes, pertencentes ao distrito da Guarda, foi associada à Beira Baixa, passando a constituir a Beira Interior.
A actual região agro-florestal da Beira Litoral compreende uma área com 11.725 km2, englobando as seguintes cinco unidades de nível III da NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos). Baixo Vouga - Doze municípios: Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos; Baixo Mondego - Oito municípios: Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Mira, Montemor-o-velho, Penacova e Soure; Pinhal Litoral - Cinco municípios: Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós; Pinhal Interior Norte - Catorze municípios: Arganil, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penela, Tábua, Vila Nova de Poaires, Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande; Dão-Lafões - Quinze municípios: Aguiar da Beira, Carregal do Sal, Castro Daire, Mangualde, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, Santa Comba Dão, São Pedro do Sul, Sátão, Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu e Vouzela.
Esta região, apesar da sua posição litoral, apresenta acentuados contrastes entre a sua fachada mais litoral e a área mais interior. Esses contrastes identificam-se a vários níveis de análise, nomeadamente no que diz respeito aos aspectos geológicos. Desde logo o facto de estarem presentes, lado a lado, duas unidades morfoestruturais muito diferentes - Orla Sedimentar Mesocenozóica e Maciço Antigo Ibérico - faz com que, além de idade, as rochas apresentem sobretudo litologias diferenciadas. Assim, enquanto na Orla predominam as formações sedimentares, essencialmente constituídas por grés, conglomerados, calcários, calcários dolomíticos, calcários mais ou menos margosos, margas, arenitos e areias, pelo contrário, no Maciço Antigo predominam as formações cristalinas, constituídas essencialmente por rochas magmáticas à base de granitóides e por rochas metamórficas, constituídas por xistos, grauvaques, quartzitos e corneanas, estas nas auréolas de metaformismo de contacto.
Naturalmente que histórias geológicas diferentes, associadas a rochas tão distintas em cada uma destas unidades, vão proporcionar formas de relevo bem diversas. Como consequência, a separação entre estas duas unidades é muito nítida, segundo uma linha que, grosso modo, se inicia a norte de Espinho, passa por S. João da Madeira, Albergaria-a-Velha, Águeda, Anadia, Coimbra, Penela, Alvaiaázere e prossegue em direcção a Tomar. A nascente situa-se o Maciço Antigo e a poente a Orla Sedimentar.
E se, do ponto de vista geológico, esta linha divisória encerra um profundo significado, não é menos importante do ponto de vista topográfico, pois também faz o contraponto entre as formas de relevo suaves, aplanadas, em que se destacam as serras calcárias de baixa altitude, e as formas de relevo mais movimentadas, correspondentes às serras de Lousã (1205 m), Açor (S. Pedro do Açor, 1342 m, Cebola 1418 m) e Caramulo (1075 m), para mencionar apenas as mais elevadas.
O contraste altitudinal entre as duas unidades morfoestruturais é particularmente marcado em toda a área situada a norte de Coimbra, onde se regista um verdadeiro degrau topográfico entre essas unidades.
Nas imediações de Coimbra, para nascente, além do Maciço Marginal de Coimbra, designação local para o rebordo montanhoso do Maciço Antigo Ibérico, individualizam-se outras formas de relevo, de direcção geral NW-SE, correspondentes aos afloramentos de quartzito, que, pela sua dureza, se destacam na paisagem, imprimindo-lhe um vigor ímpar, traduzido pelas majestáticas cristas topográficas que proporcionam: serras do Buçaco (549 m), de S. Pedro Dias (438 m) e penedo de Góis (1040 m); penedos de Fajão (902 m), serra do Vidual (1119 m), penedos de Unhais (885 m) e serra do Maxialinho (836 m); serras do Espinhal (853 m) e de S. Neutel (550 m).
Além disso, também impressionam as magníficas formas de pormenor constituídas por vales em garganta, sempre que os afloramentos de quartzito são atravessados por rios, cuja grandiosidade é proporcional à importância dos cursos de água. De entre estas formas de pormenor referimos a mais conhecida, denominada Livraria do Mondego, que, como o próprio nome indica, se situa no local onde este rio corta os quartzitos, entre Penacova e a Barragem da Aguieira.
Situações análogas, mas com vales mais apertados, ocorrem na Senhora da Candosa, quando o Ceira atravessa o afloramento de quartzito na Pena, quando a ribeira de Pena franqueia os penedos de Góis, na barragem de Santa Luzia, no local onde o rio Unhais, com aparente facilidade mas um tanto enigmaticamente, transpõe um obstáculo gigantesco constituído pelas serras de Vidual-Penedo, e, por último, as fragas de S. Simão, local onde a ribeira de Alge atravessa a crista do Espinhal.
Mais a norte, a serra do Caramulo, de constituição geológica predominantemente granítica, faz a transição entre as formas aplanadas da Orla e do Maciço Antigo, estas conhecidas pela designação genérica de planalto beirão (A. Fernandes Martins, 1940) ou Plataforma do Mondego (A. Brum Ferreira, 1978) e aquelas globalmente designadas por Baixo Vouga e Baixo Mondego.
A serra do Caramulo dispõe-se segundo uma direcção NE-SW, constituindo um bloco tectónico dissimétrico, balançado para ocidente e limitado por uma importante falha a leste. Deste modo, do lado oriental a serra é limitada por uma importante escarpa, enquanto a vertente ocidental desce progressivamente até dominar a plataforma litoral (A. Brum Ferreira, 1978, pág. 204).
A norte do rio Vouga destaca-se ainda a serra da Arada (1072 m), que já faz parte do maciço da Gralheira.
Entre os principais conjuntos montanhosos apresentados, serra do Caramulo e cordilheira Central, na base dos quais se situam, respectivamente, as depressões do Borralhal-Campo de Besteiros (A. Brum Ferreira, 1978) e as bacias da Lousã-Arganil (s. Daveau, et al., 1985/6), desenvolve-se a plataforma do Mondego, que inclina suavemente para SE e na qual a principal movimentação se deve ao encaixe da rede hidrográfica e à existência de alguns relevos residuais.
Na Orla Sedimentar, entre Mondego e Vouga, predominam áreas aplanadas ou de relevo pouco movimentado, respectivamente formadas pelas planícies aluviais construídas por estes rios e pelas dunas litorais (A. C. Almeida, 1995).
A cortar esta platitude, mesmo junto ao mar, ergue-se a serra da Boa Viagem, que, tanto dos miradouros da Vela (202 m) como da Bandeira (258 m), permite desfrutar de boas vistas panorâmicas, aliás uma característica comum a muitos outros lugares não só do Baixo Mondego (F. Rebelo, et al., 1990) mas de toda a Beira Litoral (A. Fernandes Martins, 1949a e O. Ribeiro, 1949).
A sul do rio Mondego destacam-se dois conjuntos de serras calcárias. Mais a norte, as serras do Rabaçal (532 m), de Sicó (553 m) e de Alvaiázere (618 m), estudadas pormenorizadamente por Lúcio Cunha (1990), e mais a sul, as serras de Aire (679 m) e Candeeiros (613 m), alvo de análise de Fernandes Martins (194 b).
Também do ponto de vista climático se verificam alguns contrastes entre as duas unidades morfoestruturais mencionadas, determinados quer pela proximidade ou afastamento (e abrigo) do oceano e das suas influências que pela variação da altitude.
Se esses efeitos são sensíveis ao nível da temperatura do ar não serão menos significativos no que concerne à distribuição da precipitação, onde também se regista de modo muito nítido a influência da variação da latitude.
Com efeito, a maior proximidade do mar e a latitude mais elevada das serras da Arada e Caramulo permitem que, apesar da sua menor altitude, os valores de precipitação aí registados sejam superiores aos que se verificam nas serras da Lousã-Açor, pese embora a sua maior elevação.
Entre estes dois conjuntos montanhosos, numa situação de abrigo, a plataforma do Mondego regista quantitativos de precipitação bem inferiores. Do mesmo modo, na plataforma litoral também se verificam valores de precipitação relativamente baixos. Apenas nas serras calcárias são ligeiramente superiores, pelo que também em termos de precipitação existe um nítido contraste entre os valores registados na Orla Sedimentar e no Maciço Antigo.
Os contrastes de natureza física existentes entre duas unidades vão certamente condicionar a ocupação humana, pelo que não é de admirar que seja a faixa mais litoral aquela que se apresenta mais densamente povoada. Com efeito, apenas os municípios coincidentes com áreas predominantemente calcárias é que apresentam densidades inferiores a 100 hab./km2, contrariamente ao que sucede na faixa mais inferior, onde só quatro municípios (Viseu, Nelas, Santa Comba Dão e Lousã) ultrapassam esse valor. Este situação agrava-se à medida que avançamos em direcção à fronteira, pelo que esta faixa constitui uma área de transição para a Beira Interior.
Luciano Lourenço in "Guia Expresso de Portugal"
Docente do Instituto de Estudos Geográficos da Fac. de Letras da Universidade de Coimbra
A actual região agro-florestal da Beira Litoral compreende uma área com 11.725 km2, englobando as seguintes cinco unidades de nível III da NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos). Baixo Vouga - Doze municípios: Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos; Baixo Mondego - Oito municípios: Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Mira, Montemor-o-velho, Penacova e Soure; Pinhal Litoral - Cinco municípios: Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós; Pinhal Interior Norte - Catorze municípios: Arganil, Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penela, Tábua, Vila Nova de Poaires, Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande; Dão-Lafões - Quinze municípios: Aguiar da Beira, Carregal do Sal, Castro Daire, Mangualde, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, Santa Comba Dão, São Pedro do Sul, Sátão, Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu e Vouzela.
Esta região, apesar da sua posição litoral, apresenta acentuados contrastes entre a sua fachada mais litoral e a área mais interior. Esses contrastes identificam-se a vários níveis de análise, nomeadamente no que diz respeito aos aspectos geológicos. Desde logo o facto de estarem presentes, lado a lado, duas unidades morfoestruturais muito diferentes - Orla Sedimentar Mesocenozóica e Maciço Antigo Ibérico - faz com que, além de idade, as rochas apresentem sobretudo litologias diferenciadas. Assim, enquanto na Orla predominam as formações sedimentares, essencialmente constituídas por grés, conglomerados, calcários, calcários dolomíticos, calcários mais ou menos margosos, margas, arenitos e areias, pelo contrário, no Maciço Antigo predominam as formações cristalinas, constituídas essencialmente por rochas magmáticas à base de granitóides e por rochas metamórficas, constituídas por xistos, grauvaques, quartzitos e corneanas, estas nas auréolas de metaformismo de contacto.
Naturalmente que histórias geológicas diferentes, associadas a rochas tão distintas em cada uma destas unidades, vão proporcionar formas de relevo bem diversas. Como consequência, a separação entre estas duas unidades é muito nítida, segundo uma linha que, grosso modo, se inicia a norte de Espinho, passa por S. João da Madeira, Albergaria-a-Velha, Águeda, Anadia, Coimbra, Penela, Alvaiaázere e prossegue em direcção a Tomar. A nascente situa-se o Maciço Antigo e a poente a Orla Sedimentar.
E se, do ponto de vista geológico, esta linha divisória encerra um profundo significado, não é menos importante do ponto de vista topográfico, pois também faz o contraponto entre as formas de relevo suaves, aplanadas, em que se destacam as serras calcárias de baixa altitude, e as formas de relevo mais movimentadas, correspondentes às serras de Lousã (1205 m), Açor (S. Pedro do Açor, 1342 m, Cebola 1418 m) e Caramulo (1075 m), para mencionar apenas as mais elevadas.
O contraste altitudinal entre as duas unidades morfoestruturais é particularmente marcado em toda a área situada a norte de Coimbra, onde se regista um verdadeiro degrau topográfico entre essas unidades.
Nas imediações de Coimbra, para nascente, além do Maciço Marginal de Coimbra, designação local para o rebordo montanhoso do Maciço Antigo Ibérico, individualizam-se outras formas de relevo, de direcção geral NW-SE, correspondentes aos afloramentos de quartzito, que, pela sua dureza, se destacam na paisagem, imprimindo-lhe um vigor ímpar, traduzido pelas majestáticas cristas topográficas que proporcionam: serras do Buçaco (549 m), de S. Pedro Dias (438 m) e penedo de Góis (1040 m); penedos de Fajão (902 m), serra do Vidual (1119 m), penedos de Unhais (885 m) e serra do Maxialinho (836 m); serras do Espinhal (853 m) e de S. Neutel (550 m).
Além disso, também impressionam as magníficas formas de pormenor constituídas por vales em garganta, sempre que os afloramentos de quartzito são atravessados por rios, cuja grandiosidade é proporcional à importância dos cursos de água. De entre estas formas de pormenor referimos a mais conhecida, denominada Livraria do Mondego, que, como o próprio nome indica, se situa no local onde este rio corta os quartzitos, entre Penacova e a Barragem da Aguieira.
Situações análogas, mas com vales mais apertados, ocorrem na Senhora da Candosa, quando o Ceira atravessa o afloramento de quartzito na Pena, quando a ribeira de Pena franqueia os penedos de Góis, na barragem de Santa Luzia, no local onde o rio Unhais, com aparente facilidade mas um tanto enigmaticamente, transpõe um obstáculo gigantesco constituído pelas serras de Vidual-Penedo, e, por último, as fragas de S. Simão, local onde a ribeira de Alge atravessa a crista do Espinhal.
Mais a norte, a serra do Caramulo, de constituição geológica predominantemente granítica, faz a transição entre as formas aplanadas da Orla e do Maciço Antigo, estas conhecidas pela designação genérica de planalto beirão (A. Fernandes Martins, 1940) ou Plataforma do Mondego (A. Brum Ferreira, 1978) e aquelas globalmente designadas por Baixo Vouga e Baixo Mondego.
A serra do Caramulo dispõe-se segundo uma direcção NE-SW, constituindo um bloco tectónico dissimétrico, balançado para ocidente e limitado por uma importante falha a leste. Deste modo, do lado oriental a serra é limitada por uma importante escarpa, enquanto a vertente ocidental desce progressivamente até dominar a plataforma litoral (A. Brum Ferreira, 1978, pág. 204).
A norte do rio Vouga destaca-se ainda a serra da Arada (1072 m), que já faz parte do maciço da Gralheira.
Entre os principais conjuntos montanhosos apresentados, serra do Caramulo e cordilheira Central, na base dos quais se situam, respectivamente, as depressões do Borralhal-Campo de Besteiros (A. Brum Ferreira, 1978) e as bacias da Lousã-Arganil (s. Daveau, et al., 1985/6), desenvolve-se a plataforma do Mondego, que inclina suavemente para SE e na qual a principal movimentação se deve ao encaixe da rede hidrográfica e à existência de alguns relevos residuais.
Na Orla Sedimentar, entre Mondego e Vouga, predominam áreas aplanadas ou de relevo pouco movimentado, respectivamente formadas pelas planícies aluviais construídas por estes rios e pelas dunas litorais (A. C. Almeida, 1995).
A cortar esta platitude, mesmo junto ao mar, ergue-se a serra da Boa Viagem, que, tanto dos miradouros da Vela (202 m) como da Bandeira (258 m), permite desfrutar de boas vistas panorâmicas, aliás uma característica comum a muitos outros lugares não só do Baixo Mondego (F. Rebelo, et al., 1990) mas de toda a Beira Litoral (A. Fernandes Martins, 1949a e O. Ribeiro, 1949).
A sul do rio Mondego destacam-se dois conjuntos de serras calcárias. Mais a norte, as serras do Rabaçal (532 m), de Sicó (553 m) e de Alvaiázere (618 m), estudadas pormenorizadamente por Lúcio Cunha (1990), e mais a sul, as serras de Aire (679 m) e Candeeiros (613 m), alvo de análise de Fernandes Martins (194 b).
Também do ponto de vista climático se verificam alguns contrastes entre as duas unidades morfoestruturais mencionadas, determinados quer pela proximidade ou afastamento (e abrigo) do oceano e das suas influências que pela variação da altitude.
Se esses efeitos são sensíveis ao nível da temperatura do ar não serão menos significativos no que concerne à distribuição da precipitação, onde também se regista de modo muito nítido a influência da variação da latitude.
Com efeito, a maior proximidade do mar e a latitude mais elevada das serras da Arada e Caramulo permitem que, apesar da sua menor altitude, os valores de precipitação aí registados sejam superiores aos que se verificam nas serras da Lousã-Açor, pese embora a sua maior elevação.
Entre estes dois conjuntos montanhosos, numa situação de abrigo, a plataforma do Mondego regista quantitativos de precipitação bem inferiores. Do mesmo modo, na plataforma litoral também se verificam valores de precipitação relativamente baixos. Apenas nas serras calcárias são ligeiramente superiores, pelo que também em termos de precipitação existe um nítido contraste entre os valores registados na Orla Sedimentar e no Maciço Antigo.
Os contrastes de natureza física existentes entre duas unidades vão certamente condicionar a ocupação humana, pelo que não é de admirar que seja a faixa mais litoral aquela que se apresenta mais densamente povoada. Com efeito, apenas os municípios coincidentes com áreas predominantemente calcárias é que apresentam densidades inferiores a 100 hab./km2, contrariamente ao que sucede na faixa mais inferior, onde só quatro municípios (Viseu, Nelas, Santa Comba Dão e Lousã) ultrapassam esse valor. Este situação agrava-se à medida que avançamos em direcção à fronteira, pelo que esta faixa constitui uma área de transição para a Beira Interior.
Luciano Lourenço in "Guia Expresso de Portugal"
Docente do Instituto de Estudos Geográficos da Fac. de Letras da Universidade de Coimbra
país de ares pedantes!
o sr doutor é uma pessoa legalmente autorizada (maldita lei da democracia) a exercer a... medicina.
o sr doutor é uma pessoa que tem o título universitário de doutorado.
DOUTOR - é uma Pessoa que obteve numa Universidade um Diploma de Licenciatura.
QUE RAIO DE PAÍS este que assume ares pedantes e pretensamente superiores!
o sr doutor é uma pessoa que tem o título universitário de doutorado.
DOUTOR - é uma Pessoa que obteve numa Universidade um Diploma de Licenciatura.
QUE RAIO DE PAÍS este que assume ares pedantes e pretensamente superiores!
sexta-feira, 21 de julho de 2006
"a elegância intelectual"
Fiquei fascinado com a elegância intelectual do último artigo na Sábado do insigne Pacheco Pereira, que citava várias frases sobre o Médio Oriente que não lhe agradavam, e acrescentava, em jeito de sentença inapelável, a palavra: "tretas".
Como ando ofendido por ser o único português que não vê o "falso" abrupto, só consigo ver o verdadeiro, aqui vai um artigo "à lá Pacheco".
1.Israel não cumpriu uma única das resoluções das Nações Unidas sobre a Palestina. - Tretas!!!
2.Israel expulsou das suas casas milhões de palestinianos. - Tretas!!!!
3. Israel usa o terrorismo como arma, matando indiscriminadamente civis nas suas acções militares. - Tretas!!!
4. Israel foi cumplice de massacres abjectos, comos os dos campos de refugiados palestinianos no Líbano. -Tretas!!!
5. Existe uma duplicidade linguística, por parte da comunicação social, Israel nunca mata, "elimina"; Israel nunca "rapta", "prende". - Tretas!!!!
6. Se um outro país qualquer matasse 600 pessoas nas suas fronteiras e num país vizinho, já seria considerado, tal como o Hezbollah, "terrorista" pela comunidade internacional. -Tretas!!!
8. É difícil perceber para quê que Israel deu cabo das centrais electricas palestinianas, se o que pretende é salvar um "soldado raptado" : estará convencida que os tipos do Hamas não o conseguem matar às escuras? - Tretas!!!
7. A resolução desta situação passa pelo estabelecimento de um estado Palestinianos nas fronteiras e nos termos reconhecidos pela a ONU. - Tretas!!!
NUNO RAMOS DE ALMEIDA
Copiado AQUI
Como ando ofendido por ser o único português que não vê o "falso" abrupto, só consigo ver o verdadeiro, aqui vai um artigo "à lá Pacheco".
1.Israel não cumpriu uma única das resoluções das Nações Unidas sobre a Palestina. - Tretas!!!
2.Israel expulsou das suas casas milhões de palestinianos. - Tretas!!!!
3. Israel usa o terrorismo como arma, matando indiscriminadamente civis nas suas acções militares. - Tretas!!!
4. Israel foi cumplice de massacres abjectos, comos os dos campos de refugiados palestinianos no Líbano. -Tretas!!!
5. Existe uma duplicidade linguística, por parte da comunicação social, Israel nunca mata, "elimina"; Israel nunca "rapta", "prende". - Tretas!!!!
6. Se um outro país qualquer matasse 600 pessoas nas suas fronteiras e num país vizinho, já seria considerado, tal como o Hezbollah, "terrorista" pela comunidade internacional. -Tretas!!!
8. É difícil perceber para quê que Israel deu cabo das centrais electricas palestinianas, se o que pretende é salvar um "soldado raptado" : estará convencida que os tipos do Hamas não o conseguem matar às escuras? - Tretas!!!
7. A resolução desta situação passa pelo estabelecimento de um estado Palestinianos nas fronteiras e nos termos reconhecidos pela a ONU. - Tretas!!!
NUNO RAMOS DE ALMEIDA
Copiado AQUI
Hey You
Estou em PALMA de MAIORCA. Algum Problema, companheiro!
http://www.previdi.it/palma/AUT_0764.JPG
WISH YOU WERE HERE, SHINE ON YOU CRAZY DIAMOND!
carlos gama
É possível que não saiba
Ulrich Lamsfuß
Mutter und Kind im Krankenhaus, Somalia 1992
[Christ Steele-Perkins, Magnum
http://www.saatchi-gallery.co.uk/imgs/artists/lamsfub_ulrich/ulrich_lamsfub_somalia1.jpg
Médio Oriente
Steve Israel • Henry A. Waxman • Richard Cohen • Paul Krugman • Michael Kinsley • Condoleezza Rice • Mark Steyn • Ehud Olmert • John Boehner • Evan Bayh
Middle East Crisis: Israel, Hamas, and Hezbollah • Fatah / Al Aksa Martyrs Brigades • United Nations • European Union • Google • immigration • Independence Day • U.S. Supreme Court •
Israel • Lebanon • Syria • Cyprus • Estonia • Liberia • Iran • Bahrain • Indonesia • Saudi Arabia
Save the Lebanese Civilians Petition
Please go to http://julywar.epetition.net and sign the Save the Lebanese Civilians Petition and forward this invitation to your friends.
Lebanese civilians have been under the constant attack of the state of Israel for several days. The State of Israel, in disregard to international law and the Geneva Convention, is launching a maritime and air siege targeting the entire population of the country. Innocent civilians are being collectively punished in Lebanon by the state of Israel in deliberate acts of terrorism as described in Article 33 of the Geneva Convention.
http://julywar.epetition.net
Lebanese civilians have been under the constant attack of the state of Israel for several days. The State of Israel, in disregard to international law and the Geneva Convention, is launching a maritime and air siege targeting the entire population of the country. Innocent civilians are being collectively punished in Lebanon by the state of Israel in deliberate acts of terrorism as described in Article 33 of the Geneva Convention.
http://julywar.epetition.net
Janeiro de Cima
Freguesia situada junto ao rio Zêzere, Janeiro de Cima dista 45 quilómetros da sede do concelho. Está localizada num dos extremos do município e confina com o concelho de Pampilhosa da Serra. Ocupa uma área de 11,92 quilómetros quadrados.
Há alguns anos, no “Boletim Municipal” do Fundão, lia-se sobre Janeiro de Cima: “Inserida na zona do Pinhal e banhada pelo rio Zêzere, é uma pequena e bonita povoação de difícil acesso, cujo principal encanto reside na permanência de um cariz primitivo de grande interesse e na paisagem que proporciona a quem dela se aproxima. Rodeada de cabeços nus e de alguns penhascos, torna-se difícil distinguir as serras propriamente ditas de entre uma grande profusão de colinas, lombas, barrancos, cabeços e valeiros, numa estranha sucessão de curvas suaves e graciosas, onde o rio e a montanha se unem”.
União foi o que existiu durante séculos entre Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo, freguesia pertencente ao vizinho concelho de Pampilhosa da Serra. Estas duas freguesias andaram ligadas durante muito tempo e ambas fizeram parte integrante do mesmo concelho até aos meados do século XIX. A mais antiga é Janeiro de Baixo, que já existia ao tempo do arrolamento paroquial de 1320, aparecendo a sua igreja taxada em 80 libras. Esta freguesia viria a tornar-se um importante centro religioso de uma extensa área de aquém e além Zêzere, do qual por desagregações sucessivas se constituíram as freguesias de Janeiro de Cima, Bogas de Baixo e Orvalho.
Janeiro de Cima foi um curato anexo à vigairaria de Janeiro de Baixo e da apresentação do vigário. O cura, como o próprio escrevia nas “Memórias Paroquiais” de 1758, tinha “de renda todos os anos vinte e sete alqueires de pão, metade centeio e metade trigo, quinze almudes de vinho, dois alqueires de azeite, nove mil réis em dinheiro e o pé de altar”. A freguesia não tinha donatários, sendo da coroa, e fazia parte da comenda de S. Domingos de Janeiro de Baixo e Santa Maria da Covilhã.
Sobre a sua igreja, relatava o Pe. José Pereira: “tem quatro altares: o da capela-mor, aonde está colocada a Senhora da Assunção, e Santa Rita e o Santíssimo Sacramento; e os outros três é um do santo Cristo, outro de Santo Amaro, outro da Senhora do Rosário. E não tem mais do que a Irmandade das benditas Almas”. E continuava: Tem uma ermida do Divino Espírito Santo longe do dito lugar cinco ou seis tiros de uma bala, e pertence ao mesmo povo. Não acode a ela romagem em tempo algum do ano, só o mesmo povo costuma todos os anos em domingos desde a Páscoa e até ao dia do mesmo Espírito Santo fazer-lhe sua festa cantada a leigal, e no mesmo dia do Espírito Santo dar um bodo a quem se acha presente, que vem a ser dois bolos, quatro copos de vinho, dois covilhetes de tremoços”.
Notáveis são as diversas informações que fornece sobre o “rio desta terra”. A começar pelo nome do mesmo, que faz derivar de Júlio César, por este general romano “ter habitado” ou acampado nalgum ponto estratégico do rio. Também “é certo que em algum tempo se tirou ouro ou outros metais de suas areias e voltas deste rio, e a razão é por ainda se conhecerem as levadas que vêm do mesmo rio por penhas e terras fragosas mais de duas léguas e estarem muitos sítios cavados e demolidos, as quais minas dizem alguns que foram feitas pelos mouros, outros dizem que pelos romanos, e ainda no tempo presente costumam algumas pessoas tirar fagulhas de ouro do mesmo rio, digo, de suas areias”.
Janeiro de Cima tem nos últimos tempos exercido uma grande atracção turística. Um dos principais pólos de interesse é a sua arquitectura típica com ruas muito estreitas, calcetadas com pedras do rio. Conservam-se ainda muitas casas de pedra nua, sem reboco.
O outro forte atractivo desta terra gira em torno de velhas tradições que vai mantendo, especialmente as relacionadas com a preparação do linho. Tradição multissecular destas gentes, a cultura do linho encontra-se novamente bem viva, depois de um longo período de adormecimento. Assim, o linho voltou a ser amaçado, tascado, assedado, estripado, fiado, dobado, corado, enovelado, pesado, urdido e tecido para dar origem a lindíssimas colchas e outras peças de linho. Mas, muito mais há para descobrir por parte de quem se deslocar a Janeiro de Cima e, como alguém disse, puder “aproveitar, enquanto é tempo, os arquivos vivos, autênticos e fidedignos, depositários deste tesouro simples e rústico, natural e verdadeiro, profundo e surpreendente que é a nossa aldeia entre o pinhal e o rio”. Uma aldeia onde ainda há pouco os moradores usavam “barca de passagem” para atravessar o rio. Uma aldeia onde, a cada passo, deparamos com saudações como “Bom dia, Deus te guarde” e “A paz do Senhor seja contigo”.
Actividades económicas: Agricultura, apicultura, pecuária, serralharia civil, construção civil, carpintaria, mobiliário, panificação, comércio e serviços
Festas e Romarias: S. Sebastião (20 de Janeiro), Senhora da Saúde (Maio - móvel), Divino Espírito Santo (Junho - móvel), Senhora do Livramento (domingo seguinte a 15 de Agosto) e Senhora da Assunção (15 de Agosto)
Património: Igrejas matriz (nova e antiga), Capelas de N. S. do Livramento, do Divino Espírito Santo e Martir S. Sebastião,Cruzeiro e diversas Alminhas
Outros Locais: Praia fluvial natural e parque de merendas na margem do rio Zêzere, lugares do Alto da Quinta e Peixoto, Cabeço de S. Sebastião com o seu bosque e parque de merendas
Gastronomia: Maranhos, cabrito estufado, bogas, bordais, percas e trutas.
Artesanato: Tratamento e tecelagem do linho, toalhas, passadeiras, mantas, rendas e bordados regionais
Colectividades: Clube Desportivo “Tigres do Zêzere”, Assoc. do Emigrante e Rancho Folclórico Juvenil de Janeiro de Cima
Orago: N. Sra. da Assunção
(ANAFRE / em movimento pelas freguesias)
Foto http://perso.orange.fr/janeirodecima/images/jdc/Vista_JCbis.jpg
quinta-feira, 20 de julho de 2006
Terras do Xisto - Janeiro de Cima
Ruas de Janeiro de Cima, casas. Ao fundo o varandim do Bar O Passadiço
http://perso.orange.fr/janeirodecima/images/fotos/uma_rua_jc.JPG
http://perso.orange.fr/janeirodecima/images/fotos/uma_rua_jc.JPG
viagem pelas paisagens das Minas da Panasqueira, através do olhar do fotógrafo João Margalha
As minhas imagens procuram reflectir sobre os lugares da transformação, paisagens criadas ou modificadas pela acção do homem. Sempre dependemos da natureza para melhorar os nossos padrões de vida. No entanto colocamos em risco o equilíbrio de uma parte importante dos sistemas naturais e da nossa própria sociedade. Os actuais modos de produção e consumo determinam uma crescente e ineficiente utilização de recursos e energia. Assistimos a uma progressiva transformação e artificialização do território.
Com as imagens que crio pretendo representar as contradições da sociedade contemporânea. Modernidade e obsolescência; fascínio e medo; qualidade de vida e degradação ambiental. Assinalar o contraste e a complementaridade do natural e do artificial, “extrair” objectos do seu contexto e revelar coisas comuns escondidas pelo quotidiano, são outras das minhas pesquisas.
Procuro que o meu trabalho fotográfico seja uma extensão do que sou, das minhas preocupações e do meu modo de ver o mundo. As minhas origens e o meu trajecto de vida e profissional podem explicar em parte a atenção que dedico aos modos de utilização e transformação do território e às suas implicações ambientais e sociais.
As Minas da Panasqueira, objecto do presente trabalho, são uma das maiores áreas de extracção de volfrâmio da Europa, com cerca de 3.000 quilómetros de galerias. Durante muitos anos deram a muitas pessoas um modo de vida e a muitas outras um maior conforto, tendo chegado a empregar mais de 10.000 pessoas no período da 2ª Guerra Mundial. Tiraram também a vida a outras pessoas e degradaram uma parte do rio Zêzere. Actualmente poucos lhe dão atenção mas muitos têm beneficiado da sua existência. Uma parte das instalações estão desactivadas, mas continua por resolver o destino das enormes escombreiras.
João Margalha
Com as imagens que crio pretendo representar as contradições da sociedade contemporânea. Modernidade e obsolescência; fascínio e medo; qualidade de vida e degradação ambiental. Assinalar o contraste e a complementaridade do natural e do artificial, “extrair” objectos do seu contexto e revelar coisas comuns escondidas pelo quotidiano, são outras das minhas pesquisas.
Procuro que o meu trabalho fotográfico seja uma extensão do que sou, das minhas preocupações e do meu modo de ver o mundo. As minhas origens e o meu trajecto de vida e profissional podem explicar em parte a atenção que dedico aos modos de utilização e transformação do território e às suas implicações ambientais e sociais.
As Minas da Panasqueira, objecto do presente trabalho, são uma das maiores áreas de extracção de volfrâmio da Europa, com cerca de 3.000 quilómetros de galerias. Durante muitos anos deram a muitas pessoas um modo de vida e a muitas outras um maior conforto, tendo chegado a empregar mais de 10.000 pessoas no período da 2ª Guerra Mundial. Tiraram também a vida a outras pessoas e degradaram uma parte do rio Zêzere. Actualmente poucos lhe dão atenção mas muitos têm beneficiado da sua existência. Uma parte das instalações estão desactivadas, mas continua por resolver o destino das enormes escombreiras.
João Margalha
De Lisboa a Janeiro de Cima
...Que linda aldeia é Janeiro de Cima! Ainda tem casas de boa traça, com belas pedras que rolaram no rio ao longo de séculos. E vá lá que não deitaram abaixo a igreja velha, construção com certa nobreza, mas a caminho de ruínas. O prior que deixou fazer, se calhar até promoveu, o novo templo, bem pode limpar as mãos à parede. Não é que a igreja nova seja feia. Nem bonita. É igual a centenas, milhares delas, que invadiram as aldeias católicas de quase toda a Europa. Vá lá que às vezes ainda se respeitaram os velhos santinhos.
Nuno Jorge JF 16/06/95
sonhos perdidos
A beleza natural da Barragem de Santa Luzia, associado ao sossego da paisagem rural, eram os atractivos utilizados para a promoção de um centro turístico para as Minas da Panasqueira. Com a concretização deste projecto, da responsabilidade de um grupo luso-belga, podia nascer uma nova luz ao fundo do túnel daquela região que estava mergulhada numa crise socioeconómica. Jorge Patrão, actual presidente da RTSE e na altura vereador da Câmara da Covilhã, empenhou-se na divulgação daquele centro turístico que, por enquanto, está longe de vir a ser uma realidade.
Um ano depois da crise nas Minas da Panasqueira, em 1994, uma nova esperança surge para a região. Os jornais noticiavam que estava projectado um centro turístico para rentabilizar as condições naturais de uma vertente da Serra da Estrela ainda por explorar. O anúncio era feito por Jorge Patrão, o actual presidente da RTSE e, na altura, vereador na Câmara da Covilhã. Convicto do sucesso do projecto da responsabilidade de um grupo luso-belga, o autarca não teve mesmo pejo em dizer que este empreendimento ía ser uma «pedrada no charco na realidade socioeconómica que se vive na região».
A ideia deste projecto turístico teria surgido de um empresário português radicado na Bélgica e natural do couto mineiro. Como na altura noticiava o «Público», pretendia-se, assim, rentabilizar as condições naturais de uma vertente da Serra da Estrela, assim como a área envolvente da barragem de Santa Luzia. O grupo pretendia igualmente aproveitar alguns imóveis da Beralt para instalar as infra-estruturas e disponibilizar apartamentos para arrendamento ou venda a famílias que desejem passar férias em Portugal. Na região poderia ainda vir a ser construído um museu das minas. Para o arranque do projecto, foram iniciados contactos com a Beraltin.
Contactado pelo TB, Correia de Sá, administrador da empresa mineira, confirmou que chegaram mesmo a ser vendidas «uma grande parte das casas da Panasqueira, a preços relativamente baixos. As cerca de cinquenta casas não chegaram a atingir a soma de dois mil contos». Algumas chegaram mesmo a ser adquiridas por belgas. Desta forma a Beraltin pretendia colaborar, «na medida do possível, com o desenvolvimento turístico da região».
Os cartazes que na altura foram colocados em vários locais da freguesia, pelo grupo luso-belga, anunciando a venda de uma variedade de casas, era oferecida a «possibilidade de desportos náuticos: barcos de recreio, motonáutica, vela, ski, surf». Como se não bastasse para convencer, era referido que o empreendimento, que «ficaria a 12 quilómetros do rio» e «a 18 quilómetros da Barragem de Santa Luzia.», tinha «todo o esplendor e sossego da paisagem rural». No fundo, este era «o local ideal para as férias merecidas!».
Grupo luso-belga admite não haver «nada de concreto»
Desconhecendo tudo o que se estava a passar, o então presidente da Junta de Freguesia de S. Jorge da Beira, José Alves Pacheco, deslocou-se à Câmara da Covilhã para obter informações detalhadas sobre o complexo turístico divulgado por Jorge Patrão mas pouco mais ficou a saber. O vereador ter-lhe-á mesmo dito que «não estava autorizado a falar desse empreendimento, uma vez que estava no maior sigilo», salientou o autarca no decorrer de uma reunião da Assembleia Municipal da Covilhã, realizada em finais de 1994.
Prosseguindo a sua intervenção, José Alves Pacheco acrescentou que só depois de se dirigir à empresa Beraltin foi finalmente informado do que se estava a passar. Mas as dúvidas persistiram e ainda hoje continua céptico quanto à concretização deste aldeamento turístico.
O TB já conseguiu saber junto da administração da empresa responsável pelo projecto, que «nunca houve qualquer intenção de pôr de lado o presidente da Junta de Freguesia de S. Jorge da Beira». Esse contacto não veio a verificar-se porque, argumenta um dos responsáveis do grupo luso-belga, «as coisas não correram como esperávamos» e, para além disso, «ainda não havia, tal como hoje, nada de concreto quanto ao projecto turístico».
Este viria a ser, aliás, o motivo que levou a empresa «a recusar o pedido de Jorge Patrão para marcar uma conferência de imprensa para divulgar o projecto». Curiosamente, o então vereador da Câmara da Covilhã e actualmente presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, assim não entendeu e decidiu ele anunciar aos quatro ventos a boa nova e, segundo noticiou na altura o Notícias da Covilhã, a assumir mesmo que «o projecto estava com grandes avanços, faltando apenas a assinatura das escrituras».
O que é certo é que, passados quase quatro anos, tudo ainda não passou de meras intenções. Um dos administradores já confirmou ao TB que «neste momento» não vão avançar porque «ainda não conseguiram os apoios necessários para o projecto desejado». Não se poderá, no entanto, falar de desistência. Tanto que, salientou, continuam a promover o projecto «lá fora» e a ser «desenvolvidos alguns contactos para poder avançar».
Em declarações ao TB, Jorge Patrão rejeita que se tenha envolvido em demasia neste «projecto», argumentando que «é preciso não esquecer que se estava a viver uma altura muito difícil naquela região e era preciso dar alguma motivação para o futuro». E como o grupo luso-belga tinha intenção de «promover a venda e a recuperação das casas da aldeia», o recém eleito presidente da RTSE considerou que era necessário «acarinhar aqueles que mostravam vontade em remar contra a maré e promover algum tipo de investimento numa zona que estava totalmente carenciada». Jorge Patrão entendeu também que não devia manter em segredo tudo isto e achou por bem divulgar o projecto que hoje não passa ainda de um «sonho» de alguns.
Diferente sorte para as minas
Diferente futuro parece terem as minas da Panasqueira. Cem anos depois do início da sua laboração, apresentam hoje uma situação, considerada pelo administrador da empresa, Correia de Sá, de «normal». A crise em que esteve envolvida entre 1993 e 1995 parece estar ultrapassada. Emprega actualmente cerca de 250 trabalhadores e todos os meses são extraídos 170 toneladas de concentrado de volfrâmio.
A boa situação da empresa levou já a administração a fazer investimentos, nomeadamente a construção de uma nova lavaria, abertura do terceiro nível de extracção e a construção de um novo poço, garantindo mais dez anos de vida da mina.
Desconhece-se quem terá descoberto as minas da Panasqueira, sabendo-se que há registos de exploração mineira naquela zona durante a ocupação romana. Mas o registo da mina teria sido feita apenas a 15 de Abril de 1886, na Câmara Municipal da Covilhã, por Manuel dos Santos e Boaventura Borrel, que seriam mesmo reconhecidos como tendo sido os descobridores do volfrâmio da Panasqueira. Em 1894, o próprio rei D. Carlos I de Bragança concendia o alvará.
Dezasseis anos depois, a mina viria a ser arrendada a uma empresa inglesa, a Wolfram Mining and Smelting Company, que mais tarde se viria a fundir na Baralt Tin Limited.
Os anos de crise começaram a partir de 1928 e, desde então, as lutas foram-se sucedendo. Até que, em Janeiro de 1993, a empresa paralisa, alegadamente por haver dificuldades no escoamento do produto. Mas, passados dois anos, a exploração volta a estar em expansão. Adiado está a concretização do sonho de um dia surgir ali muito próximo um centro turístico. A continuar assim será mais a juntar-se ao que uma empresa norte-americana projectou, há alguns anos atrás, para a albufeira da Barragem de Santa Luzia. Por agora, aldeamentos, estalagem, restaurantes, campos de ténis, clube náutico, marina... tudo não passou de um «sonho americano».
Gustavo Brás
Terras da Beira
Um ano depois da crise nas Minas da Panasqueira, em 1994, uma nova esperança surge para a região. Os jornais noticiavam que estava projectado um centro turístico para rentabilizar as condições naturais de uma vertente da Serra da Estrela ainda por explorar. O anúncio era feito por Jorge Patrão, o actual presidente da RTSE e, na altura, vereador na Câmara da Covilhã. Convicto do sucesso do projecto da responsabilidade de um grupo luso-belga, o autarca não teve mesmo pejo em dizer que este empreendimento ía ser uma «pedrada no charco na realidade socioeconómica que se vive na região».
A ideia deste projecto turístico teria surgido de um empresário português radicado na Bélgica e natural do couto mineiro. Como na altura noticiava o «Público», pretendia-se, assim, rentabilizar as condições naturais de uma vertente da Serra da Estrela, assim como a área envolvente da barragem de Santa Luzia. O grupo pretendia igualmente aproveitar alguns imóveis da Beralt para instalar as infra-estruturas e disponibilizar apartamentos para arrendamento ou venda a famílias que desejem passar férias em Portugal. Na região poderia ainda vir a ser construído um museu das minas. Para o arranque do projecto, foram iniciados contactos com a Beraltin.
Contactado pelo TB, Correia de Sá, administrador da empresa mineira, confirmou que chegaram mesmo a ser vendidas «uma grande parte das casas da Panasqueira, a preços relativamente baixos. As cerca de cinquenta casas não chegaram a atingir a soma de dois mil contos». Algumas chegaram mesmo a ser adquiridas por belgas. Desta forma a Beraltin pretendia colaborar, «na medida do possível, com o desenvolvimento turístico da região».
Os cartazes que na altura foram colocados em vários locais da freguesia, pelo grupo luso-belga, anunciando a venda de uma variedade de casas, era oferecida a «possibilidade de desportos náuticos: barcos de recreio, motonáutica, vela, ski, surf». Como se não bastasse para convencer, era referido que o empreendimento, que «ficaria a 12 quilómetros do rio» e «a 18 quilómetros da Barragem de Santa Luzia.», tinha «todo o esplendor e sossego da paisagem rural». No fundo, este era «o local ideal para as férias merecidas!».
Grupo luso-belga admite não haver «nada de concreto»
Desconhecendo tudo o que se estava a passar, o então presidente da Junta de Freguesia de S. Jorge da Beira, José Alves Pacheco, deslocou-se à Câmara da Covilhã para obter informações detalhadas sobre o complexo turístico divulgado por Jorge Patrão mas pouco mais ficou a saber. O vereador ter-lhe-á mesmo dito que «não estava autorizado a falar desse empreendimento, uma vez que estava no maior sigilo», salientou o autarca no decorrer de uma reunião da Assembleia Municipal da Covilhã, realizada em finais de 1994.
Prosseguindo a sua intervenção, José Alves Pacheco acrescentou que só depois de se dirigir à empresa Beraltin foi finalmente informado do que se estava a passar. Mas as dúvidas persistiram e ainda hoje continua céptico quanto à concretização deste aldeamento turístico.
O TB já conseguiu saber junto da administração da empresa responsável pelo projecto, que «nunca houve qualquer intenção de pôr de lado o presidente da Junta de Freguesia de S. Jorge da Beira». Esse contacto não veio a verificar-se porque, argumenta um dos responsáveis do grupo luso-belga, «as coisas não correram como esperávamos» e, para além disso, «ainda não havia, tal como hoje, nada de concreto quanto ao projecto turístico».
Este viria a ser, aliás, o motivo que levou a empresa «a recusar o pedido de Jorge Patrão para marcar uma conferência de imprensa para divulgar o projecto». Curiosamente, o então vereador da Câmara da Covilhã e actualmente presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, assim não entendeu e decidiu ele anunciar aos quatro ventos a boa nova e, segundo noticiou na altura o Notícias da Covilhã, a assumir mesmo que «o projecto estava com grandes avanços, faltando apenas a assinatura das escrituras».
O que é certo é que, passados quase quatro anos, tudo ainda não passou de meras intenções. Um dos administradores já confirmou ao TB que «neste momento» não vão avançar porque «ainda não conseguiram os apoios necessários para o projecto desejado». Não se poderá, no entanto, falar de desistência. Tanto que, salientou, continuam a promover o projecto «lá fora» e a ser «desenvolvidos alguns contactos para poder avançar».
Em declarações ao TB, Jorge Patrão rejeita que se tenha envolvido em demasia neste «projecto», argumentando que «é preciso não esquecer que se estava a viver uma altura muito difícil naquela região e era preciso dar alguma motivação para o futuro». E como o grupo luso-belga tinha intenção de «promover a venda e a recuperação das casas da aldeia», o recém eleito presidente da RTSE considerou que era necessário «acarinhar aqueles que mostravam vontade em remar contra a maré e promover algum tipo de investimento numa zona que estava totalmente carenciada». Jorge Patrão entendeu também que não devia manter em segredo tudo isto e achou por bem divulgar o projecto que hoje não passa ainda de um «sonho» de alguns.
Diferente sorte para as minas
Diferente futuro parece terem as minas da Panasqueira. Cem anos depois do início da sua laboração, apresentam hoje uma situação, considerada pelo administrador da empresa, Correia de Sá, de «normal». A crise em que esteve envolvida entre 1993 e 1995 parece estar ultrapassada. Emprega actualmente cerca de 250 trabalhadores e todos os meses são extraídos 170 toneladas de concentrado de volfrâmio.
A boa situação da empresa levou já a administração a fazer investimentos, nomeadamente a construção de uma nova lavaria, abertura do terceiro nível de extracção e a construção de um novo poço, garantindo mais dez anos de vida da mina.
Desconhece-se quem terá descoberto as minas da Panasqueira, sabendo-se que há registos de exploração mineira naquela zona durante a ocupação romana. Mas o registo da mina teria sido feita apenas a 15 de Abril de 1886, na Câmara Municipal da Covilhã, por Manuel dos Santos e Boaventura Borrel, que seriam mesmo reconhecidos como tendo sido os descobridores do volfrâmio da Panasqueira. Em 1894, o próprio rei D. Carlos I de Bragança concendia o alvará.
Dezasseis anos depois, a mina viria a ser arrendada a uma empresa inglesa, a Wolfram Mining and Smelting Company, que mais tarde se viria a fundir na Baralt Tin Limited.
Os anos de crise começaram a partir de 1928 e, desde então, as lutas foram-se sucedendo. Até que, em Janeiro de 1993, a empresa paralisa, alegadamente por haver dificuldades no escoamento do produto. Mas, passados dois anos, a exploração volta a estar em expansão. Adiado está a concretização do sonho de um dia surgir ali muito próximo um centro turístico. A continuar assim será mais a juntar-se ao que uma empresa norte-americana projectou, há alguns anos atrás, para a albufeira da Barragem de Santa Luzia. Por agora, aldeamentos, estalagem, restaurantes, campos de ténis, clube náutico, marina... tudo não passou de um «sonho americano».
Gustavo Brás
Terras da Beira
quarta-feira, 19 de julho de 2006
Lugares
As minhas imagens procuram reflectir sobre os lugares da transformação, paisagens criadas ou modificadas pela acção do homem.
da Apresentação
Casa da Pedra Rolada
Casa da Pedra Rolada - Rua do Jogo da Bola, 6185 Janeiro de Cima
Telefone: +351 969 339 830
e-mail: reservas@casadejaneiro.com
da "Apresentação"
Sempre dependemos da natureza para melhorar os nossos padrões de vida. No entanto colocamos em risco o equilíbrio de uma parte importante dos sistemas naturais e da nossa própria sociedade. Os actuais modos de produção e consumo determinam uma crescente e ineficiente utilização de recursos e energia. Assistimos a uma progressiva transformação e artificialização do território.
João Margalha
João Margalha
terça-feira, 18 de julho de 2006
Save the Lebanese Civilians Petition
Via o sexo dos anjos Um blogue destro em tempos sinistros para:
To The Concerned Citizen of The World:
"Killing innocent civilians is NOT an act of self-defense. Destroying a sovereign nation is NOT a measured response."
A formação de Janeiro de Cima
Por volta do século XVI, XVII, (desconhece-se a data precisa), um senhor, talvez nobre, possuidor de grandes bens e terras nas duas margens do rio Zêzere, resolveu ao morrer, legar os seus bens aos dois filhos de nome januários, entregou a um, as terras da margens direita do rio, ao outro, as da margem esquerda, assim nasceu Janeiro de Cima, na margem esquerda e Janeiro de Baixo na margem direita.
A formação de Janeiro de Cima não começou no local onde hoje se encontra. A primeira pedra foi lançada numa pequena elevação ainda hoje chamada esmouroços, local onde construiram a sua primeira igreja, uma capela em honra do Divino Espírito Santo. No entanto, e segundo reza a lenda, nos esmouroços as formigas eram muitas e atacavam os berços das crianças, principalmente no verão. Foi então que os antigos, que eram muito sabidos, decidiram soltar os muitos animais que possuiam (burros e vacas) por uma noite e no local onde esses animais fossem pernoitar construiriam eles as suas casas, a sua nova morada. Ora esses animais apareceram ao amanhacer num pequeno vale denominado cabeço do vale, onde se construíram as primeiras casas feitas de gogos de quartzite amarela tiradas do rio, entremeadas com xisto negro e argamassadas com barro da região.
União foi o que existiu durante séculos entre Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo, freguesia pertencente ao concelho vizinho da pampilhosa da serra. Estas duas freguesias andaram ligadas durante muito tempo e ambas fizeram parte integrante do mesmo concelho, até meados do séc. XIX. A mais antiga é Janeiro de Baixo, que já existia ao tempo do arrolamento paroquial de 1320. Esta freguesia viria a tornar-se um importante centro religioso de uma extensa área de aquém e além Zêzere, do qual por desagregações sucessivas se constituíram as freguesias de Janeiro de Cima, Bogas de Baixo e Orvalho.
Janeiro de Cima foi um curato anexo à vigairaria de Janeiro de Baixo e da apresentação do vigário. O cura, como o próprio escrevia nas memórias paroquiais de 1758, tinha de "renda todos os anos vinte e sete alqueires de pão, metade centeio e metade trigo, quinze almudes de vinho, dois alqueires de azeite, nove mil réis em dinheiro e o pé de altar".
A freguesia não tinha donatários, sendo da coroa, e fazia parte da comenda de S. Domingos de Janeiro de Baixo, e Santa Maria da Covilhã.
Notáveis são as diversas informações que fornece sobre o "rio desta terra". A começar pelo nome do mesmo que faz derivar de Júlio César, por este general romano "ter habitado" ou acampado nalgum ponto estratégico do rio. Também "é certo que em algum tempo se tirou ouro e outros metais de suas areias e voltas deste rio, e a razão é por ainda se conhecerem as levadas que vêm do mesmo rio por penhas e terras fragosas mais de duas léguas e estarem muitos sítios cavados e demolidos, as quais minas dizem alguns que foram feitas pelos mouros, outros dizem que pelos romanos, e ainda em tempo presente costumam algumas pessoas tirar fagulhas de ouro do mesmo rio, digo, de suas areias".
eb1-Janeiro de Cima
A formação de Janeiro de Cima não começou no local onde hoje se encontra. A primeira pedra foi lançada numa pequena elevação ainda hoje chamada esmouroços, local onde construiram a sua primeira igreja, uma capela em honra do Divino Espírito Santo. No entanto, e segundo reza a lenda, nos esmouroços as formigas eram muitas e atacavam os berços das crianças, principalmente no verão. Foi então que os antigos, que eram muito sabidos, decidiram soltar os muitos animais que possuiam (burros e vacas) por uma noite e no local onde esses animais fossem pernoitar construiriam eles as suas casas, a sua nova morada. Ora esses animais apareceram ao amanhacer num pequeno vale denominado cabeço do vale, onde se construíram as primeiras casas feitas de gogos de quartzite amarela tiradas do rio, entremeadas com xisto negro e argamassadas com barro da região.
União foi o que existiu durante séculos entre Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo, freguesia pertencente ao concelho vizinho da pampilhosa da serra. Estas duas freguesias andaram ligadas durante muito tempo e ambas fizeram parte integrante do mesmo concelho, até meados do séc. XIX. A mais antiga é Janeiro de Baixo, que já existia ao tempo do arrolamento paroquial de 1320. Esta freguesia viria a tornar-se um importante centro religioso de uma extensa área de aquém e além Zêzere, do qual por desagregações sucessivas se constituíram as freguesias de Janeiro de Cima, Bogas de Baixo e Orvalho.
Janeiro de Cima foi um curato anexo à vigairaria de Janeiro de Baixo e da apresentação do vigário. O cura, como o próprio escrevia nas memórias paroquiais de 1758, tinha de "renda todos os anos vinte e sete alqueires de pão, metade centeio e metade trigo, quinze almudes de vinho, dois alqueires de azeite, nove mil réis em dinheiro e o pé de altar".
A freguesia não tinha donatários, sendo da coroa, e fazia parte da comenda de S. Domingos de Janeiro de Baixo, e Santa Maria da Covilhã.
Notáveis são as diversas informações que fornece sobre o "rio desta terra". A começar pelo nome do mesmo que faz derivar de Júlio César, por este general romano "ter habitado" ou acampado nalgum ponto estratégico do rio. Também "é certo que em algum tempo se tirou ouro e outros metais de suas areias e voltas deste rio, e a razão é por ainda se conhecerem as levadas que vêm do mesmo rio por penhas e terras fragosas mais de duas léguas e estarem muitos sítios cavados e demolidos, as quais minas dizem alguns que foram feitas pelos mouros, outros dizem que pelos romanos, e ainda em tempo presente costumam algumas pessoas tirar fagulhas de ouro do mesmo rio, digo, de suas areias".
eb1-Janeiro de Cima
Fiado
Restaurante FIADO de Leonel Barata na Rua Espírito Santo n.º10 Telef. 938938803 - 914863230 - Janeiro de Cima.
segunda-feira, 17 de julho de 2006
Terras do Xisto - Janeiro de Cima
Volto à estrada, para Janeiro de Cima e só irei parar na Sarnadela para respirar o ar mais puro que há no mundo. O viajante gosta de natureza pura mas ficava aqui muito bem um miradouro. Frente a frente com o aguilhão, aquele pedaço de terra transformado em indústria de extracção de areias. Quem dera aos pescadores, de algum dia, este lago da míni hídrica para dar largas às suas pescarias. Conheci um desses pescadores que manobrava as tarrafas como ninguém, fazia ele próprio esses artefactos. Um dia perguntei como aprendeu o Sr. Joaquim Martins, a arte da construção das tarrafas. — Isso é uma história muito triste para mim, um dia o guarda-rios agarrou-me aos peixes, como o meu pai não tinha dinheiro para pagar a multa fiquei um mês na cadeia da Pampilhosa da Serra e aprendi lá, com outro preso, que sabia fazer estas tarrafas.
Bom é uma história triste mas dá para pensar nas leis e nos rios. Não encontro maneira de dizer que nasci aqui, a ouvir a música que o rio canta mais alto no açude da Quinta do Canal.
Mais tarde segui as pedras que o rio traz até ao recreio da escola de Janeiro de Cima. Ai, os meninos do meu tempo ensinaram-me o jogo do fito. Nesse jogo tudo é xisto e pontaria. Aprendem cedo a brincar com pedras os meninos de Janeiro de Cima. Na descida dos Carritos, lanço o olhar ao vale do Zêzere. Lá ao longe a serra mãe, Serra da Estrela. Só lhe viro as costas para mergulhar na rua da volta. Este anel de casas em volta da igreja velha, foi salva a velha igreja pela iniciativa de um pequeno grupo, ao qual se juntou mais tarde toda a população. Esta aliança do velho com o novo torna esta aldeia a jóia, das jóias do xisto.
Hoje Janeiro de Cima impôs-se como uma jóia. Para isso foi determinante a contribuição dos técnicos do Gabinete Técnico Local. Das aldeias no concelho do Fundão. Desenvolve um trabalho único de classificação, projectando a recuperação do casario destas aldeias. Tenho o prazer de acompanhar alguns desses técnicos em algumas acções. Sinto que só com uma vontade imperturbável, a energia estampada no rosto da Arq. Ana Cunha, para referir um nome. Se pode lutar na defesa e contra alguma incompreensão por vezes chocante dos próprios interessados. É que aqui os técnicos são confrontados com uma luta desigual, precisam de inovar com opções técnicas novas adaptadas ao património existente. Alargar largos e ruas. Convencendo quem determina a obra; os proprietários.
Já não tange a guitarra o Sr. António Almeida. Mais uns meses e fazia os cem anos de vida. Imortalizou a sua música, o musicólogo Dr. José Alberto Morais Sardinha, ao incluir na colectânea de música popular “Portugal Raízes Musicais”, duas cantigas do saudoso António Almeida Brito Cardoso. Em boa hora o viajante o denunciou ao Dr. Sardinha. No dia 20 de Janeiro de cada ano, sobe este povo e convidados ao alto do cabeço de São Sebastião, para se cumprir a tradição de dar pão e vinho, a quem ali vier. Depois da missa na aldeia os mordomos carregam os sacos de pão até ao alto do monte, sempre a subir. O autor destas linhas já isso fez. Teve a honra de transportar um saco de linho cheio de merendas. Pois os meus pais apesar de não viverem na freguesia há muitos anos, os outros mordomos têm a amabilidade de nos convidar, a dar as merendas quando chega a nossa vez.
Em tempos a tradição era outra: segundo o cura, Joseph Pereyra. Maio de 1758. ─ No dia do espírito santo há festa cantada, dá-se um bodo a quem se acha presente, que vem a ser dois bolos, e quatro copos de vinho, duas cuvetes de tremoços.
Que encanto terá tido o professor Agostinho da Silva, por Janeiro de Cima? um dos maiores pensadores portugueses, percorreu o mundo, fundou universidades no Brasil. De seu nome completo Jorge Agostinho Batista da silva, nasceu no Porto em 1906, sabe-se que visitava Janeiro de Cima, e fez por cá amizade.
Gosta o viajante de dar a volta ao cabeço do mártir S. Sebastião. Está convencido de que este cabeço foi desbastado pela milenar exploração mineira dos romanos; toda a aldeia está sobre essa exploração. Ir à Folha de Cima e visitar a Horta das Covas, tirar água com uma das picotas, já o fez sem que o dono o visse. O dono da horta Sr. Américo, é mestre na arte da pedra e esta horta é prova disso mesmo, um lugar fantástico. Apetece dar duas varadas na barca serrana, ali na praia fluvial. Esta barca feita cá na terra, o mestre Eduardo Gil, já não precisa de montar estaleiro como antigamente que a construção de um barco destes era obra de meses, tudo era pensado a tempo de seleccionar parte das madeiras ainda na árvore, é que não se faz um Galaripo de um pau qualquer.
Terras do Xisto
“Apontamentos do viajante” D.B.Gonçalves
Bom é uma história triste mas dá para pensar nas leis e nos rios. Não encontro maneira de dizer que nasci aqui, a ouvir a música que o rio canta mais alto no açude da Quinta do Canal.
Mais tarde segui as pedras que o rio traz até ao recreio da escola de Janeiro de Cima. Ai, os meninos do meu tempo ensinaram-me o jogo do fito. Nesse jogo tudo é xisto e pontaria. Aprendem cedo a brincar com pedras os meninos de Janeiro de Cima. Na descida dos Carritos, lanço o olhar ao vale do Zêzere. Lá ao longe a serra mãe, Serra da Estrela. Só lhe viro as costas para mergulhar na rua da volta. Este anel de casas em volta da igreja velha, foi salva a velha igreja pela iniciativa de um pequeno grupo, ao qual se juntou mais tarde toda a população. Esta aliança do velho com o novo torna esta aldeia a jóia, das jóias do xisto.
Hoje Janeiro de Cima impôs-se como uma jóia. Para isso foi determinante a contribuição dos técnicos do Gabinete Técnico Local. Das aldeias no concelho do Fundão. Desenvolve um trabalho único de classificação, projectando a recuperação do casario destas aldeias. Tenho o prazer de acompanhar alguns desses técnicos em algumas acções. Sinto que só com uma vontade imperturbável, a energia estampada no rosto da Arq. Ana Cunha, para referir um nome. Se pode lutar na defesa e contra alguma incompreensão por vezes chocante dos próprios interessados. É que aqui os técnicos são confrontados com uma luta desigual, precisam de inovar com opções técnicas novas adaptadas ao património existente. Alargar largos e ruas. Convencendo quem determina a obra; os proprietários.
Já não tange a guitarra o Sr. António Almeida. Mais uns meses e fazia os cem anos de vida. Imortalizou a sua música, o musicólogo Dr. José Alberto Morais Sardinha, ao incluir na colectânea de música popular “Portugal Raízes Musicais”, duas cantigas do saudoso António Almeida Brito Cardoso. Em boa hora o viajante o denunciou ao Dr. Sardinha. No dia 20 de Janeiro de cada ano, sobe este povo e convidados ao alto do cabeço de São Sebastião, para se cumprir a tradição de dar pão e vinho, a quem ali vier. Depois da missa na aldeia os mordomos carregam os sacos de pão até ao alto do monte, sempre a subir. O autor destas linhas já isso fez. Teve a honra de transportar um saco de linho cheio de merendas. Pois os meus pais apesar de não viverem na freguesia há muitos anos, os outros mordomos têm a amabilidade de nos convidar, a dar as merendas quando chega a nossa vez.
Em tempos a tradição era outra: segundo o cura, Joseph Pereyra. Maio de 1758. ─ No dia do espírito santo há festa cantada, dá-se um bodo a quem se acha presente, que vem a ser dois bolos, e quatro copos de vinho, duas cuvetes de tremoços.
Que encanto terá tido o professor Agostinho da Silva, por Janeiro de Cima? um dos maiores pensadores portugueses, percorreu o mundo, fundou universidades no Brasil. De seu nome completo Jorge Agostinho Batista da silva, nasceu no Porto em 1906, sabe-se que visitava Janeiro de Cima, e fez por cá amizade.
Gosta o viajante de dar a volta ao cabeço do mártir S. Sebastião. Está convencido de que este cabeço foi desbastado pela milenar exploração mineira dos romanos; toda a aldeia está sobre essa exploração. Ir à Folha de Cima e visitar a Horta das Covas, tirar água com uma das picotas, já o fez sem que o dono o visse. O dono da horta Sr. Américo, é mestre na arte da pedra e esta horta é prova disso mesmo, um lugar fantástico. Apetece dar duas varadas na barca serrana, ali na praia fluvial. Esta barca feita cá na terra, o mestre Eduardo Gil, já não precisa de montar estaleiro como antigamente que a construção de um barco destes era obra de meses, tudo era pensado a tempo de seleccionar parte das madeiras ainda na árvore, é que não se faz um Galaripo de um pau qualquer.
Terras do Xisto
“Apontamentos do viajante” D.B.Gonçalves
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