O dr. Augusto de Oliveira Coimbra (1868-1941), que era natural de Penacova, veio para Arganil a fim de fazer vida de advogado. Impôs-se ao meio, chegando a ser uma das pessoas mais influentes desta vila, na primeira metade do século XX. E o curioso é que conseguiu toda essa influência sem deixar de ser uma pessoa de quem, no íntimo, toda a gente gostava. Este largo é vulgarmente conhecido por Largo do Campanário.
O Largo do Campanário, ou Campanário, simplesmente, nó importante da rede viária da vila, é dominado, como o nome indica, pela presença da torre sineira da igreja de S. Gens, da qual aliás se encontra separada e em plano superior, para que o som das badaladas possa ser ouvido noutros pontos da terra.
Noutro tempo, o largo dispunha de bancos onde os moradores desta zona da vila, no tempo quente, gostavam de se sentar, à noite, depois do trabalho, em descontraída e agradável cavaqueira. Apareciam frequentemente figuras populares famosas, como a Júlia do Campanário e a Júlia Italiana, por exemplo. Terá perdido esse carácter de lugar privilegiado de convívio popular nos anos novecentos e quarenta, quando desapareceram os bancos que aqui havia, em consequência da transformação que o local sofreu devido a obras que visaram o seu embelezamento.
O prédio que tem o n.º 3 - a antiga "Casa da Torre" - pertenceu a uma família que teve grande presença em Arganil, a família Sá Nogueira. Nesta casa passou, portanto, a infância e parte da juventude, António Emydio Sá Nogueira, contemporâneo e émulo de Veiga Simões. Formado em direito, viria a ser, em Lisboa, nome grande da advocacia portuguesa, chegando mesmo a bastonário da respectiva Ordem. Posteriormente, no mesmo edifício viveu e teve escritório outro distinto advogado, o dr. Eduardo Ralha, que aí iniciou a sua vida profissional e chegaria a ser um dos mais brilhantes causídicos do Porto. Mais tarde, foi a Associação dos Bombeiros Voluntários Argus qu aí esteve instalada durante anos.
Dado ser este um Passei que se pretende cultural, é oportuno recordar nesta altura as condições em que nasceu esta benemérita instituição.
No final do primeiro quartel do século XX, a sociedade desta vila, quanto a formais associações de convívio existentes, podia caracterizar-se assim: havia o velho "Grémio" reservado, por assim dizer, à frequência dos notáveis da vila, e havia a, por essaa altura surgida, Sociedade Recreativa Argus, agremiação esta, por seu turno, de carácter francamente popular, criada por iniciativa de gente nova, ligada ao sector do trabalho; em suma: uma socieddae claramente constituída por dois estratos distintos. Este quadro iria manter-se até aos anos novecentos e trinta. E é então que na vila ocorre uma outra iniciativa, de que foram protagonistas o dr. Eduardo Ralha, Frederico Simões, António Dias Gouveia e Augusto Ferreira, liderados pelo dr. Fernando Valle, animados pelo propósito de porem de pé um projecto de solidarieddae social que passava pela fusão do "Grémio" e da Socieddae Recreativa Argus numa estrutura associativa única: - a Associação dos Bombeiros Voluntários Argus. Projecto, que em torno da criação dum "corpo de bombeiros", se propunha dar grande atenção igualmente à cultura física (e assim iriam surgir o "campo de jogos" e a equipa que está na origem do actual Grupo Desportivo Argus), à cultura intelectual (à música, ao teatro, ao fomento da leitura) e à cultura moral e cívica da gente moça da terra. Para remate deste apontamento, acrescentarei somente que o projecto da criação da Associação dos Bombeiros Voluntários Argus, no seu formato inicial, - pelo altruismo dos seus propósitos, pela onda de interesse que desencadeou na população da vila, constitui uma das páginas mais belas da história conhecida da cultura arganilense.
Do Campanário faz ainda parte a antiga "Eirinha", hoje reduzida ao Largo 25 de Abrl, e ao qual se tem acesso por uma pequena escada. Outora, aí se secavam cereais, na época própria, e daí se lançavam pregões relativos a disposiçõees das autoridades, na altura que iam entrar em vigor.
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