João Maria de Oliveira Matos era de S. Pedro de Alva. De origem humilde foi para Coimbra, muito novo ainda, a fim de ganhar a vida como empregado comercial. Inteligente, sensato e trabalhador, a pouco e pouco, foi-se impondo na vida até chegar a ser convidado, por determinado partido, para candidato a deputado pelo Círculo Eleitoral de Arganil, função que chegaria efectivamente a exercer. Fez muito pelo concelho. Nesta vila, por exemplo, foi ele que, mercê de aturadas negociações com alguns proprietários conseguiu dar a esta rua, que hoje tem o seu nome, (Aliás, após processo deveras polémico, que não dignificou a política: a Câmara, de uma determinada côr, atribuira esta rua (porque considerada rua principal da terra) o nome de Simões Dias (antes, portanto, da Praça ostentar este nome). Entretanto há eleições, que são ganhas por outra côr. E a nova Câmara não perde tempo: ignora aquela decisão e dá à rua o nome de Oliveira Matos...) o ar condigno de rua principal da terra.
Ora, quem entra na rua Oliveira Matos, vindo da Praça, encontra, logo à esquerda, as actuais instalações de A Comarca de Arganil, um jornal que ostenta a bonita particularidade de estar prestes a fazer cem anos (Isto em 1996, poquanto nesta altura (2001) já os fez.). E a observação que este facto imediatamente nos sugere é a estreita relação que neste período forçosamente existiu entre o desenvolvimento da vila e este jornal. Na verdade, por um lado, nada de importante se deve ter passado em Arganil, durante o século XX, que não ficasse registado nas colunas de "A Comarca"; por outro lado, é inegável que uma boa parte do desenvolvimento que a vila experimentou no mesmo período se ficou a dever à influência directa deste periódico.
Se nos lembrarmos a seguir que o Jornal de Arganil nasceu na década de 60, como semanário, (sendo "A Comarca", desde há anos, trissemanário(*) temos de reconhecer que Arganil constitui uma espécie de santuário da imprensa regionalista portuguesa. Esta realidade, de evidente significado social, tem ainda uma apreciável componente económica.
"A Comarca" e o "Jornal" são, como se compreende, duas peças valiosíssimas do património cultural arganilense.Ora, ainda em estreita ligação com a imprensa regional, depara-se-nos, um pouco mais à frente, também do lado esquerdo, o Memorial de João Castanheira Nunes, que foi director de "A Comarca" durante vários anos. O seu perfil fisionómico é recordado aí num medalhão do escultor Vasco Berardo. João Castanheira (1921-1986) foi um arganilense que, por intermédio do seu jornal, pôs toda a enorme capacidade de acção que possuia ao serviço do desenvolvimento da sua terra, que muito amava. O Grupo Desportivo Argus, o edifício do Teatro Alves Coelho, a corporação de Bombeiros Argus, o edifício da sede e quartel respectivos, são algumas das realidades arganilenses a que João Castanheira deixou o seu nome ligado de forma indelével.
Continuando, temos, à direita, em correspondência com o n.º 24, a casa em que Veiga Simões nasceu, passou a infância e parte da juventude. Em 1928, estava então no auge da carreira política, o povo de Arganil prestou-lhe uma expressiva homenagem, por ocasião duma sua vinda a esta terra. Na Fonte de Amandos, uma multidão recebeu-o entusiasticamente: ergueram-no aos ombros e assim o trouxeram até aqui. De uma das janelas desta casa proferiu então o discurso do seu agradecimento. À noite, os amigos ofereceram-lhe um lauto banquete. Tempo depois, porém, um tanto inesperadamente, abandonava a política activa, para se dedicar à vida diplomática. Foi a sua última aparição pública em Arganil.
A seguir, do lado esquerdo, fazendo esquina para a rua Bernardo José Simões, aparece-nos o edifício da antiga Pensão Canário, que havia de dar origem à actual Residencial Canário, no n.º 13. Como nota curiosa, lembrarei, a propósito, que este nome vem do simples facto do fundador da Pensão, Valentim Duarte Fernandes, na cerimónia do seu casamento, ter usado uma gravata amarela, facto que causou estranheza a alguns mirones. Alguém se lembrou então de fazer humor e diz: "parece um canarinho amarelo". Pois foi o bastante para o noivo ficar com a alcunha de "Canário" no resto da vida...
Segue-se a rua Bernardo José Simões, que foi pessoa importante de Arganil.
Bernardo José Simões (falecido em 1893) era natural do concelho de Poiares, mas veio para esta vila ainda novo, aqui estabeleceu com oficina de serralharia que viria a ter grande reputação, aqui casou e aqui ficou para sempre. Considerava de resto Arganil a sua verdadeira terra. Mercê da sua inteligência, competência, sentido de realização prática, esteve ligado à direcção da maioria dos melhoramentos levados a cabo em Arganil no seu tempo: construção do edifício do Hospital, construção da estrada do Mont'Alto, obras de restauro da Capela da Misericórdia, obras da igreja matriz. Chegou a ser recebedor da comarca judicial. Era avô paterno de Veiga Simões.
A seguir entra-se numa zona da rua em que a antiga Empresa Automobilista Arganilense teve, durante anos, o seu "terminal" (como hoje se diria), nos nºs 21 e 23, em correspondência com uma loja hoje ocupada pela Farmácia Moderna: era o "escritório da Empresa". Daqui resultava que este sítio, às horas de chegada e partida dos carros, ganhava uma animação especial; isto era visível, sobretudo, à noite, por volta das oito, quando chegava a camioneta de Coimbra (que prosseguia viagem até Pomares). Pelas ruas da vila, que se preparava para jantar, começava então a ouvir-se o "rapaz dos jornais".
Mais à frente, do lado direito, no rés-do-chão do n.º 36, existiu, na década de novecentos e trinta, o "bar do Lafões", ou seja, de João Jorge Ribeiro, que foi talvez o boémio mais famoso que Arganil jamais teve. Quando desistiu dos estudos que tentara, sem êxito, em Coimbra, João Lafões resolveu estabelecer-se na própria terra, com negócio de mercearia e bar (anexo): era a Havanesa-Bar. Aí, no bar, passaram a marcar encontro todas as noites os representantes dum grupo boémio arganilense, quase todos ex-estudantes de Coimbra, grupo que o próprio "barman" acabava sempre por integrar de forma muito participada... Foram noites memoráveis de estúrdia que ali aconteceram. Só que o negócio, como se compreenderá, não tardaria a saldar-se por um desastre completo...
Roteiro Cultural do Centro Histórico de Arganil
Ora, quem entra na rua Oliveira Matos, vindo da Praça, encontra, logo à esquerda, as actuais instalações de A Comarca de Arganil, um jornal que ostenta a bonita particularidade de estar prestes a fazer cem anos (Isto em 1996, poquanto nesta altura (2001) já os fez.). E a observação que este facto imediatamente nos sugere é a estreita relação que neste período forçosamente existiu entre o desenvolvimento da vila e este jornal. Na verdade, por um lado, nada de importante se deve ter passado em Arganil, durante o século XX, que não ficasse registado nas colunas de "A Comarca"; por outro lado, é inegável que uma boa parte do desenvolvimento que a vila experimentou no mesmo período se ficou a dever à influência directa deste periódico.
Se nos lembrarmos a seguir que o Jornal de Arganil nasceu na década de 60, como semanário, (sendo "A Comarca", desde há anos, trissemanário(*) temos de reconhecer que Arganil constitui uma espécie de santuário da imprensa regionalista portuguesa. Esta realidade, de evidente significado social, tem ainda uma apreciável componente económica.
"A Comarca" e o "Jornal" são, como se compreende, duas peças valiosíssimas do património cultural arganilense.Ora, ainda em estreita ligação com a imprensa regional, depara-se-nos, um pouco mais à frente, também do lado esquerdo, o Memorial de João Castanheira Nunes, que foi director de "A Comarca" durante vários anos. O seu perfil fisionómico é recordado aí num medalhão do escultor Vasco Berardo. João Castanheira (1921-1986) foi um arganilense que, por intermédio do seu jornal, pôs toda a enorme capacidade de acção que possuia ao serviço do desenvolvimento da sua terra, que muito amava. O Grupo Desportivo Argus, o edifício do Teatro Alves Coelho, a corporação de Bombeiros Argus, o edifício da sede e quartel respectivos, são algumas das realidades arganilenses a que João Castanheira deixou o seu nome ligado de forma indelével.
Continuando, temos, à direita, em correspondência com o n.º 24, a casa em que Veiga Simões nasceu, passou a infância e parte da juventude. Em 1928, estava então no auge da carreira política, o povo de Arganil prestou-lhe uma expressiva homenagem, por ocasião duma sua vinda a esta terra. Na Fonte de Amandos, uma multidão recebeu-o entusiasticamente: ergueram-no aos ombros e assim o trouxeram até aqui. De uma das janelas desta casa proferiu então o discurso do seu agradecimento. À noite, os amigos ofereceram-lhe um lauto banquete. Tempo depois, porém, um tanto inesperadamente, abandonava a política activa, para se dedicar à vida diplomática. Foi a sua última aparição pública em Arganil.
A seguir, do lado esquerdo, fazendo esquina para a rua Bernardo José Simões, aparece-nos o edifício da antiga Pensão Canário, que havia de dar origem à actual Residencial Canário, no n.º 13. Como nota curiosa, lembrarei, a propósito, que este nome vem do simples facto do fundador da Pensão, Valentim Duarte Fernandes, na cerimónia do seu casamento, ter usado uma gravata amarela, facto que causou estranheza a alguns mirones. Alguém se lembrou então de fazer humor e diz: "parece um canarinho amarelo". Pois foi o bastante para o noivo ficar com a alcunha de "Canário" no resto da vida...
Segue-se a rua Bernardo José Simões, que foi pessoa importante de Arganil.
Bernardo José Simões (falecido em 1893) era natural do concelho de Poiares, mas veio para esta vila ainda novo, aqui estabeleceu com oficina de serralharia que viria a ter grande reputação, aqui casou e aqui ficou para sempre. Considerava de resto Arganil a sua verdadeira terra. Mercê da sua inteligência, competência, sentido de realização prática, esteve ligado à direcção da maioria dos melhoramentos levados a cabo em Arganil no seu tempo: construção do edifício do Hospital, construção da estrada do Mont'Alto, obras de restauro da Capela da Misericórdia, obras da igreja matriz. Chegou a ser recebedor da comarca judicial. Era avô paterno de Veiga Simões.
A seguir entra-se numa zona da rua em que a antiga Empresa Automobilista Arganilense teve, durante anos, o seu "terminal" (como hoje se diria), nos nºs 21 e 23, em correspondência com uma loja hoje ocupada pela Farmácia Moderna: era o "escritório da Empresa". Daqui resultava que este sítio, às horas de chegada e partida dos carros, ganhava uma animação especial; isto era visível, sobretudo, à noite, por volta das oito, quando chegava a camioneta de Coimbra (que prosseguia viagem até Pomares). Pelas ruas da vila, que se preparava para jantar, começava então a ouvir-se o "rapaz dos jornais".
Mais à frente, do lado direito, no rés-do-chão do n.º 36, existiu, na década de novecentos e trinta, o "bar do Lafões", ou seja, de João Jorge Ribeiro, que foi talvez o boémio mais famoso que Arganil jamais teve. Quando desistiu dos estudos que tentara, sem êxito, em Coimbra, João Lafões resolveu estabelecer-se na própria terra, com negócio de mercearia e bar (anexo): era a Havanesa-Bar. Aí, no bar, passaram a marcar encontro todas as noites os representantes dum grupo boémio arganilense, quase todos ex-estudantes de Coimbra, grupo que o próprio "barman" acabava sempre por integrar de forma muito participada... Foram noites memoráveis de estúrdia que ali aconteceram. Só que o negócio, como se compreenderá, não tardaria a saldar-se por um desastre completo...
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